domingo, 27 de novembro de 2011

Pacífico

Cavalguei o Pacífico,
enfrentei o tirano
terrífico
e amei as virgens
montanhas
ao deflorar suas
entranhas;
mas nada vi ali
que não houvesse aqui.
Exceto, talvez, a cor
de que se abusa
ao se amar
uma nova Musa.
Com Bete caminhei
a Revolução
que pouca houve
(e da qual já nem
se ouve).
Ousamos sonhar
entre sonos aferrados
das burguesas panças
saciadas de
churrasco e cerveja
(e de igual, seja).
Com outras,
ousei pensar
entre cérebros atrofiados
e nunca desconfiados
de serem títeres manipulados
por capachos violentos
de deuses sangrentos.
Se filosofia existiu,
entre dois nas camas,
foram só breves chamas.
Porém de uma dessas alcovas,
eis que sugiu alguém que eu
gostaria de ter sido.
Eis, vivo de repente,
o gênio afetuoso
que chamo de filho.
Gajo de garbo,
desfila pela vida
a elegância de seu
pensar sutil,
e por ora ostenta
o fecho de ouro
que lhe guarda
como tesouro.
Assim, as vidas passadas
em camas desarrumadas,
levaram-me meio-século
da vida que herdei,
de quem não sei.

Agora, vejo que o Pacífico
que um dia montei,
foi apenas um cavalinho
de carrossel
circulando num só eixo.
Que as montanhas
que deflorei, eram apenas
a irmãs-putas que me
saciaram algum desejo
e, certo dia, roubaram-me
um beijo.
Que Bete e a Revolução
forma quimeras
desterradas de outras
Primaveras.
E que eu uso a caneta,
como um bêbado a sarjeta.
Nelas dormimos,
tentando não acordar.

             Para Bete, saudades.

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