sexta-feira, 26 de junho de 2015

Idades



Idades

Lembra-se?
Sim, fazem quarenta anos...
E..?
Sim, lá se vão mais de cinquenta e cinco...


Talvez, seja esse distanciamento de tudo
o que mais dói na velhice.

Guardamos um baú de fantasias
em que não cabemos mais. 


Lettré, l´art et la Culture. Rio de Janeiro, inverno de 2015.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

As Separações


A cama que ainda te aquece,
já não me amanhece.
Nossas noites divorciaram-se.

Saibamos caminhar em busca de outro portos,
sem que nos pese
os rancores dos amores mortos.

E não nos apaguemos da memória,
pois houve em cada felicidade provisória
um pouco da nossa história.

Mas, agora, é tempo de ir.
Cumprir o Dharma
do nosso Devir.



Lettré, l´art et la Culture. Rio de Janeiro, inverno de 2015.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

K., onze anos, apedrejada - Poema declamado por FELIPE CAMPOS DE MELO.

Extremamente honrado e lisonjeado, apresento orgulhosamente aos queridos leitores e leitoras o meu poema, "K., onze anos, apedrejada" declamado pelo maior poeta português vivo, FELIPE CAMPOS MELO, a quem deixo um sincero e afetuoso agradecimento.







Lettré, l´art et la Culture. Rio de Janeiro, inverno de 2015.

sábado, 20 de junho de 2015

K., onze anos, apedrejada.



Acautelem-se! É preciso!
Pois eis que de novo ruge
o Minotauro da Inquisição,
pelos labirintos da estupidez humana.

Acautelem-se! É preciso,
pois eis que de novo as harpias berram
maldições eternas e castigos celestes.

Acautelem-se! Pois eis que pseudos salvadores,
de mentes e almas sujas, pelo mais sujo cinza,
temem as cores do mundo e do Arco-Íris
e burlam, despudorados, os pobres de espírito.

Acautelem-se! Pois eis que a legião
dos falsos arautos da santa hipocrisia
(a quem nenhum dízimo sacia)
ladram e urram pela posse do sagrado,
como se apenas deles,
fosse o Verbo falado.

Acautelem-se, todos!

Pois eis que em breve,
das palavras, às fogueiras passarão.
Como César, ao atravessar o Rubicão.



Homenagem pouca à menina K, 11 anos de idade, apedrejada no Rio de Janeiro, por evangélicos fundamentalistas, por estar vestida conforme a tradição de sua religião, o Candomblé.

Gravura - "Melancolia" de Albrecht Durer - Foto de Staatliche Graphische Sammlung - Munique, Alemanha.

Lettre la Art et la Culture
Enviado por Lettre la Art et la Culture em 20/06/2015

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Sax



Habito o hábito da nostalgia
e, às vezes, até me visto de melancolia
quando ouço a dor da negra sinfonia
que de um Sax escorre
como lágrima de amor perdido
ou que, talvez,
nem tenha acontecido.


Para Bibiana, cujo Sax embala as noites de Santa Tereza, em São Sebastião do Rio de Janeiro.


Lettre la Art et la Culture
Enviado por Lettre la Art et la Culture em 19/06/2015

terça-feira, 16 de junho de 2015

Matem


Então, o chefe religioso,
o general das armas,
o grande capitalista,
o político oportunista,
o áulico servil
e tantos outros do covil,
decretaram:

Matem o sabiá!
A sua liberdade de voar é insuportável.


Lettré, l´art et la Culture. Rio de Janeiro, outono de 2015.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Óperas, guia para iniciantes - EUGEN ONEGIN - Tchaikovsky - Ensaio Completo


Autoria – Tchaikovsky (Piotrl Ilitch – 1840-1893 – Russia)

Libreto – Idem e Konstantin S. Shilovsky.


Personagens:


Eugen Onegin – Protagonista, um rico herdeiro. Interpretado por um Barítono.

Tatiana – Protagonista. Interpretada por uma Soprano.

Olga – irmã de Tatiana. Interpretada por uma Mezzo Soprano.

Madame Larina – mãe de Tatiana e de Olga. Interpretada por uma Mezzo Soprano.

Ana Filipievna – aia de Tatiana. Idem.

Lenski – noivo de Olga e amigo de Eugen. Interpretado por um Tenor.

Príncipe Gremin – futuro marido de Tatiana. Interpretado por um Baixo.

Zaretski – interpretado por um Baixo.

Monsieur Triquet – interpretado por um Tenor.

Época e local

São Petersburgo, final do século XVIII.


Enredo

O primeiro ato é encenado na representação do jardim de uma suntuosa dacha russa, pré-revolução, pertencente à madame Larina.
Com a ajuda da serviçal Ana Filipievna, a matriarca toma algumas providências rotineiras enquanto as suas filhas, Tatiana e Olga, conversam animadamente no interior da bela “casa de campo”.
Após alguns instantes, adentra a cena um colorido grupo de camponeses entoando alegres cantos e executando divertidos passos de dança. Depois, em clara sinalização para o público, do bom caráter daquela “proprietária de almas” e de suas filhas, eles ofertam-lhes flores e frutas majestosas, em sinal de respeito e de gratidão.
Atraídas pela dança e pelo alarido das cantorias, Olga e Tatiana saem para o jardim para assistirem à cena. O temperamento extrovertido de Olga a leva a participar das danças e dos cânticos, enquanto que a introvertida Tatiana limita-se a assistir ao evento, comparando-o com as suas lembranças dos românticos livros que lê com avidez. Sua natural tendência à melancolia, também a predispõe a certa tristeza, sem que ela possa identificar um motivo específico para tanto. É como se fosse assaltada por maus pressentimentos.
Contudo, essa incipiente nostalgia logo se desfaz com a chegada de Lenski, o noivo de Olga, e de um amigo seu, Eugen Onegin, um jovem de bela estampa e de facilmente presumível inteligência e cultura.
Nesse momento a plateia tem a primeira mostra do esplendor melódico da obra ao ouvir a bela ária que Olga canta, sobre o seu amor pelo noivo.
Entrementes, Tatiana sente-se cada vez mais interessada pela beleza, inteligência e gentileza de Onegin. Como se fosse por encanto, esquece-se completamente de qualquer má sensação e se entrega com prazer a uma animada conversa com o recém-conhecido.
Por fim, os quatro jovens se despedem entoando um belo Quarteto e encerrando a primeira cena.
A segunda cena é ambientada no interior da casa, no quarto de Tatiana.
Ainda impressionada com Eugen Onegin, ela não consegue relaxar e, então, pede à aia, Ana Filipievna, que lhe conte coisas de sua vida, de seus romances, de seu casamento etc., esperando que tal distração ajude-a a conciliar o sono.
E a serva não se faz de rogada, apimentando as suas narrativas; porém, logo percebe que Tatiana nem a escuta, pois o seu pensamento voa em direção ao novo amor, pois, apesar de terem tido apenas um conhecimento inaugural e rápido, ela já se sente completamente apaixonado pelo belo Eugen Onegin. Sente-se a “perfeita vitima do Cupido cruel”, cujas setas do “amor à primeira vista” atingiram-na em cheio.
E tamanha é a sua ausência, que Ana Filipievna percebe que as suas histórias são inúteis e se cala. Então, além dos suspiros apaixonados da jovem, ouvem-se apenas os acordes da orquestra sublinhando o clima romântico.
E esse clima emotivo acaba instalando-se por todo o teatro, envolvendo até a plateia, que, por momentos, abstrai-se da realidade cotidiana e revive as suas próprias emoções.
Nesse ínterim, Ana Filipievna termina os preparativos e se retira do aposento. Sozinha, Tatiana sente que os sentimentos se avolumam de tal maneira, que será impossível reter-lhes no peito e decide escrever uma longa e amorosa carta ao seu novo bem amado, confessando-lhe, sem qualquer censura racional, o seu amor por ele.
Mas nem a exteriorização de sua paixão consegue acalmá-la e, assim, as luzes do novo dia encontram-na desperta e visivelmente aflita. Logo na primeira hora chama a aia e lhe pede que remeta a carta a Eugen o mais rapidamente possível.
Ana Filipievna sai para fazer o despacho e Tatiana sente-se esperançosa de que sua confissão seja bem aceita, mas, por outro lado, recrimina-se por tê-la feito, imaginando que Eugen poderá considerá-la vulgar, volúvel, fácil. Será que se oferecer daquele modo não o fará desinteressar-se dela?
São dúvidas que, em verdade, assaltam todos os amantes ainda hoje e, mormente, aquelas que viveram em uma época cuja moralidade e regras sociais impunham verdadeiras “camisas de força” às mulheres.
Desse modo, o amor de Tatiana foi logo ensombrecido e de certa forma perdeu um pouco do colorido das jovens paixões.
E esse tom cinzento encerra a segunda cena.
A terceira cena volta a ser encenada nos jardins do casarão
Jovens servas entoam um Coro alegre enquanto colhem morangos. O dia de Sol e o límpido céu, no entanto, contrastam com o semblante fechado de Tatiana, que ainda se ressente de suas dúvidas acerca da carta confessional. O aperto em seu coração parece antecipar a amargura que experimentará em breve.
Pouco depois, Eugen Onegin adentra a cena e dirigindo-se à Tatiana entoa uma dura ária, na qual lhe diz que não quer desiludi-la do amor, mas ele não tem a menor intenção de lhe namorar e, menos ainda, de se casar com ela.
A tristeza e o desapontamento de Tatiana encerram a melancólica cena e, também, o primeiro ato.

§§§

O segundo ato é ambientado na réplica do salão de festas da mansão Larina, em São Petersburgo.
Um suntuoso baile, encenado por um grande numero de dançarinos, comemora o aniversário de Tatiana. Baila-se ao som da famosíssima valsa do compositor, que ao contrário do habitual, também é cantada pelo Coral da Ópera.
A festa resplandece em luxo e a alegria é geral. Em meio aos vários convidados, Eugen Onegin dança com a aniversariante por seguidas vezes, provocando comentários desairosos de outros convivas, que, também, o acusam de ser um estroina, viciado em jogos, conquistador barato e outros adjetivos de cunho pejorativo, que normalmente são aplicados aos jovens e ricos herdeiros hedonistas.
E alguns desses comentários são ditos em tom tão alto que Eugen não pode deixar de ouvir-lhes, fato que o transtorna e o leva a vingar-se, primeiramente do amigo Lenski, que o levou à festa, e que, por isso, ele julga ser o maior culpado.
Assim, ele começa a flertar acintosamente com Olga, a noiva do amigo, que voluvelmente sente-se envaidecida e passa a corresponder-lhe. Em seguida ele parte para os galanteios e a toma como parceira em tantas danças que Lenski, não suportando mais, exige que ele pare com aquele comportamento debochado e agressivo.
Apesar de serem amigos de longa data, a discussão é aceita por Onegin e a tensão entre ambos se avoluma a tal ponto que um embate físico só não acontece graças à intervenção de Monsieur Triquet, que inicia uma longa série de canções em louvor a aniversariante, conseguindo, com isso, acalmar os ânimos exaltados.
Porém, tão logo o francês encerra a sua participação, tem início o “Cotilhão*” e Onegin, de novo, toma Olga como sua parceira, acirrando propositalmente a ira de Lenski. E como se isso não bastasse, para mais agastá-lo, finge ignorar o motivo da raiva que o amigo não esconde e lhe pergunta o que tanto o aborrece naquela linda noite.
É o limite para Lenski e uma ríspida discussão acontece entre ambos, preocupando a anfitriã, Madame Larina, que só a muita custa consegue evitar o pior.
Então, Lenski entoa uma sentida ária com a qual recorda os bons momentos que já passou naquela mesma casa e que, agora, só lhe deixará recordações de discórdias, traições e rancores, por culpa de quem ele sempre considerou um amigo fraterno.
Eugen Onegin, por seu lado, arrepende-se de seu mau comportamento, mas como os dois trocaram ofensas e insultos tão duros há poucos instantes, apenas um duelo poderá reparar os danos à honra de ambos.
É o fim da primeira cena.
A segunda cena acontece na reprodução de um campo, às margens de um rio e na proximidade de um moinho. A iluminação indica que os primeiros raios de Sol de um novo dia já aquecem o mundo e o prelúdio que a orquestra executa antecipa que uma tragédia está prestes a acontecer.
Lenski, acompanhado por seu padrinho Zaretski, que prima pela observância das regras do duelo clássico espera por seu oponente entoando uma melancólica ária, na qual relembra o tempo em era feliz e lamenta a amargura da hora presente, que não lhe deixa interessar-se nem pela vida.
Logo depois, Onegin chega acompanhado de um empregado que lhe assistirá como padrinho. É um homem de baixa condição social e ele teme que Zaretski não o aceite para aquela função, mas em face das circunstâncias, o padrinho de Lenski não se opõe e ambos começam a estipular as regras para o combate mortal.
Enquanto isso, Eugen e Lenski entoam um Cânon**, indicando que apesar de nem trocarem um mero olhar, os ex-amigos ainda comungam ideias e sentimentos. Porém, a ruptura entre os dois chegou a tal nível que qualquer reconciliação é impossível, como, aliás, fica bem marcado pela repetição do termo “Nyet (não)” nas estrofes finais.
Assim, nada pode impedir o duelo de acontecer e que dele resulte a morte de Lenski, abatido pelo disparo de Eugen.
É o fim do segundo ato.

§§§

O cenário do terceiro ato é a representação de um suntuoso salão de baile, no interior do Palácio do Príncipe Gremin, primo de Eugen.
Seis anos se passaram desde o duelo fatal, cujas emoções levaram Eugen Onegin a viajar por muito tempo, em busca de paz e de esquecimento. Agora, mais velho e maduro, participa da festa de seu primo, com a sobriedade que caracteriza o seu comportamento atual.
A alegria de todos os convidados é contagiante; e mais aumenta com a execução das famosas “Polonaise” e “Escocesa” que a orquestra executa em sequência. Músicas que se repetem intercaladamente e que só cessam com a entrada no salão do Príncipe e da Princesa anfitriões, recebidos pela orquestra com uma valsa lenta e cadenciada.
Gremin tão logo avista Onegin vem ao seu encontro e o saúda amistosa e fraternalmente. Eugen retribui-lhe o apreço e indaga quem é a bela jovem que o acompanhou à entrada, dando azo para que o Príncipe fale da mesma, de seus encantos físicos e, principalmente de suas enormes virtudes morais e éticas. Por fim, diz ser o homem mais feliz do mundo, porque tal criatura é a sua esposa.
Em seguida, requisita-a do grupo de admiradores que a cercava (e a quem ela perguntava sobre Onegin) e a apresenta ao primo, sem imaginar que entre ambos já houvera um princípio de relacionamento malsucedido.
Perturbados, ambos procuram não demonstrar que já se conheciam e se cumprimentam conforme os ditames.
Eugen, só a muita custa consegue disfarçar o seu nervosismo, ao se dar conta da beleza e da graciosidade de Tatiana e se lamenta por tê-la desprezado outrora. Tatiana, por sua vez, alega estar sentindo um mal estar súbito e pede que a levem para o seu quarto.
E enquanto a orquestra volta a tocar uma nova “Escocesa”, a primeira cena se encerra.
A segunda cena é ambientada na reprodução da sala de recepção do Palácio Gremin, onde Tatiana aguarda a chegada de Eugen Onegin, que lhe pediu o encontro no dia anterior, através de uma carta em que confessa o seu amor por ela.
Ostentando a maturidade que alcançou com o tempo, a nobre dama o recebe, mas ao contrário dela, Onegin não consegue conter-se e demonstra estar totalmente confuso. Faltam-lhe as palavras e os seus gestos são quase ridículos. Por fim, tentando em vão se dominar, ele se joga aos pés de Tatiana e confessa o amor que lhe tem.
Contudo, a Princesa, serena e segura, não dá mostras de lhe acreditar e responde lembrando que outrora fora ela quem lhe escrevera confessando o seu amor, sendo que em troca só recebeu o mais duro desprezo. Agora, pergunta-lhe, ele não estaria apenas interessado em ter uma aventura romântica com uma nobre dama da mais alta sociedade?
Eugen retruca e protesta sinceridade absoluta. E como, de fato, ele aparenta estar, realmente, apaixonado, ela se emociona e chega a derramar algumas lágrimas, demonstrando que ainda sente certa atração por ele.
Em seguida os dois cantam um lindo dueto, no qual dizem que poderiam ter sido felizes, mas, agora, tudo ficou no passado.
Com efeito, pois, embora ainda tenha certa ternura por ele, Tatiana é inflexível e faz com que ele compreenda que ela nunca trairia ao seu marido com nenhum outro homem.
A ele nada mais resta senão lamentar-se por não ter sabido reconhecer o valor de Tatiana e sair de sua vida em definitivo. Um triste adeus encerra o ato.
É o fim da Ópera.

Histórico

A novela poema, Eugen Onegin, escrita pelo genial Pushkin, sempre foi um dos textos russos mais aclamados pela Crítica e pelo público.
A história que junta amor, arrogância, virtude, honra etc. cobre com maestria o painel dos sentimentos humanos e isso a faz ser um clássico, no sentido mais extenso do termo, em todos os tempos.
E essa grandiosidade não escapou ao talento de Tchaikovsky que, em 1877, decidiu transformá-la em Ópera.
Na época, o compositor tinha apenas trinta e sete anos de idade, mas já estava maduro o suficiente para saber da magnitude do desafio que estava prestes a enfrentar, pois a consideração que o texto de Pushkin desfrutava, exigia-lhe nada menos que uma composição perfeita. Uma verdadeira obra-prima.
E o resultado de seu trabalho foi exatamente esse: uma obra-prima que engrandeceu ainda mais o prestígio da obra, em todos os setores da sociedade russa e mundial.
Atualmente, pode-se dizer que Eugen Onegin está para a Ópera russa assim como as obras de Verdi estão para a Itália e as de Wagner para a Alemanha. Um verdadeiro tesouro nacional.


Nota do Autor* - Cotilhão – antiga dança, com muitos pares de dançarinos e muitas músicas que, em geral, encerrava os bailes.

Nota do Autor – Cânon** – dueto em que a linha melódica segue um só desenho.

Lettré, l´art et la Culture. Rio de Janeiro, outono de 2015.

sábado, 13 de junho de 2015

A Beleza


Porque a beleza do jasmim
não cabe em versos,
deixemos 
que o colibri a traduza.


Lettré, l´art et la Culture. Rio de Janeiro, outono de 2015.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Negra Calíope



Dê-me, soberana Calíope,
a antiga coragem
para lutar contra os novos Minotauros
que revivem nos novos homens velhos.
Dê-me a antiga ânsia por justiça
e afaste-me dos doces caminhos
do lirismo arrebatado.
É tempo, Musa!
Pois, eis que os dragões
já não nos permitem sonhar.
Refaça as minhas penas e tintas,
pois eis que novos tiranos
roubam as cenas e os pobres devotos.
Dê-me, Ninfa, a verve de antes,
ainda que por breves instantes,
pois urge enfrentar a besta-fera
que assalta os caminhantes
e assombra todos os caminhos.
Dê-me, Tágide, o ímpeto de Aquiles
e a trágica precisão de Eurípedes,
pois eis que rondam os cenários,
as maldades consorciadas
e as harpias das ilusões devastadas.
Dê-me, Musa, o gosto antigo
e a antiga crença de esperar no verso
a redenção do universo.

E, por fim, dai-me Calíope
o negro Canto etíope!


Homenagem pouca ao amigo querido e grande poeta africano Mpiosso-ye-Kongo.


Lettre la Art et la Culture

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Os Enigmas


Disse-me Candice,
da infinitude do tempo
e da imensurabilidade do espaço.

E outros tantos arcanos,
disse-me Candice.

Grandes revelações,
mas incapazes de curar
um coração partido.

Melhor deixar que os decifre 
essa
majestosa Lua do Recife.



Lettré, l´art et la Culture. Rio de Janeiro, outono de 2015.

sábado, 6 de junho de 2015

Minas Ainda


Talvez sejam os ventos da Inconfidência
que ainda arrepiam a minha pele.

À frente, a Serra das Moças
esconde a noiva-fantasma
que ainda me assombra.

E ainda ouço o grito antigo dos velhos escravos
que aos poucos se transforma
nas dolentes cadências
que embalaram as minhas tantas inocências.

Fomos heróis, enforcados e retalhados.
Morremos por sonhos e vivemos por ideais.
E ainda seguimos, em busca de versos.

Minas me habita, ainda que eu
esteja sempre de partida.


Lettré, l´art et la Culture. Rio de Janeiro. Outono de 2015.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

A Dor


Sim, bem sei que um dia
as lágrimas secarão,
mas não se esquece da dor,
apenas se acostuma.



Lettré, l´art et la Culture. Rio de Janeiro, outono de 2015.