terça-feira, 29 de novembro de 2011

Despir

Despida pela
brisa do Mar,
caminha tua nudez
em lúcida insensatez.

O cheiro da noite molhada
ladeia a passarela
em que desfilas
a pós-tarde amarela;

e, depois, só vestida
de chuva ligeira
recolhe-se ao abrigo
do novo amor antigo.

Então, reclinas a alma
e abandonas-te
ao carinho que te aguarda,
na cama enluarada.

                       

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Call Center

Como fazia,
Alice
não nos disse;
e adentrar o espelho
é o grande mistério
que levou para
o cemitério.

Pena que assim foi,
pois vivemos a
Era da Superficie,
a de conceitos ordinários
e de tosca mesmice.

Teleguiados pelo
mitico "Sistema"
(Sr. o "Sistema" não permite...)
reduzimo-nos a meros
componentes
de "Sistemas" pleno-abrangentes.

Cativos despercebidos
rolamos a rocha
pressentindo ser inútil
Platão e a tocha,
nessa caverna
eterna.

Gado de gente
perdemos o diferente.
Uniformizamos
o que resta viver,
sem achar quem
possa responder:
de que lado da vida,
fica a realidade escondida?

                        Para Carla, "porque vejo gênios entre as acácias".

domingo, 27 de novembro de 2011

Pacífico

Cavalguei o Pacífico,
enfrentei o tirano
terrífico
e amei as virgens
montanhas
ao deflorar suas
entranhas;
mas nada vi ali
que não houvesse aqui.
Exceto, talvez, a cor
de que se abusa
ao se amar
uma nova Musa.
Com Bete caminhei
a Revolução
que pouca houve
(e da qual já nem
se ouve).
Ousamos sonhar
entre sonos aferrados
das burguesas panças
saciadas de
churrasco e cerveja
(e de igual, seja).
Com outras,
ousei pensar
entre cérebros atrofiados
e nunca desconfiados
de serem títeres manipulados
por capachos violentos
de deuses sangrentos.
Se filosofia existiu,
entre dois nas camas,
foram só breves chamas.
Porém de uma dessas alcovas,
eis que sugiu alguém que eu
gostaria de ter sido.
Eis, vivo de repente,
o gênio afetuoso
que chamo de filho.
Gajo de garbo,
desfila pela vida
a elegância de seu
pensar sutil,
e por ora ostenta
o fecho de ouro
que lhe guarda
como tesouro.
Assim, as vidas passadas
em camas desarrumadas,
levaram-me meio-século
da vida que herdei,
de quem não sei.

Agora, vejo que o Pacífico
que um dia montei,
foi apenas um cavalinho
de carrossel
circulando num só eixo.
Que as montanhas
que deflorei, eram apenas
a irmãs-putas que me
saciaram algum desejo
e, certo dia, roubaram-me
um beijo.
Que Bete e a Revolução
forma quimeras
desterradas de outras
Primaveras.
E que eu uso a caneta,
como um bêbado a sarjeta.
Nelas dormimos,
tentando não acordar.

             Para Bete, saudades.

Macio

Quero sempre a delícia
de saber-te em minha vida.
De saber-te riso colorido
em cada minuto acontecido,
em cada carinho havido
e em todo dia amanhecido.

A delícia de sentir-te
em meu abraço:
saber-te a distância
de um passo,
na certeza de sermos
um só espaço.

A delícia de sentir-te
em meu beijo.
De sentir-me em
teu orgasmo
e de poder pressentir
que ainda há tanto
por vir.

Saber-te,
moça do Rio,
Razão e desvario
desse tempo
tão macio.

                    

sábado, 26 de novembro de 2011

Jardins

Como gerânio
recém regado,
aspiro
a úmida esperança
no chão renovado.

Vislumbro outros jardins
a serem caminhados
e novos Girassóis
a serem semeados.

Que lá, as velhas inocências
sejam descartadas
e que diferentes messes
sejam buscadas.

Que bem-vindos canteiros
abriguem nossas rosas
e que um seguro Recanto
seque nosso pranto
e aninhe teu encanto.

                           

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Protocolos

Frios votos protocolares
não saciam a fome
que de ti eu tenho.

Eu deveria, bem sei,
sufocar o amor que
por ti eu sinto,
mas não consigo
trair essa verdade.
Nem saberia
mentir-te.
Mentir-me.

Não te desejo amiga,
pois o que te sinto
espalha-se pelos
"Quatro-Cantos"
e reverbera
em outros tantos.

Quero-te mulher.
Quero-te Lua.
Quero-te mesa crua.
Quero-te cama nua.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Semi

Fez-se a descoberta
pela janela semi aberta:
o amor já não é
uma rota certa.

Semi silêncio
de indecisas situações
permeiam
essa quadra e meia;
e a angústia
de um fim anunciado,
ainda que não proclamado,
antecipa o funesto ensejo
do vazio
que não desejo.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Past Time

Tempo em que
saudade havia,
na noite
que não amanhecia.

Tempo em que
tudo se dividia,
pois a cumplicidade
nos percorria.
E de coração se cria
que de nada se
lamentaria.

Tempo hospedeiro
do querer derradeiro
e do único sentido,
amor verdadeiro.

Tempo de crença
na paz que chegaria,
como se fosse
a próxima poesia.

Tempo...tempo...
Porque o Tempo
substitui a dor pela saudade.

Ceia

Não consigo engolir
esse bolo de angústia
que me sufoca.
O cinza que chove
aumenta a apnéia
e sinto que cresce
a inapetência
pela vida.
A gorda mulher diz
estar sem calcinha
para não marcar o
vestido. Que importância
teria sua roliça sugestão
nessa orgia sem sentido?
Banquete mal servido
por anfitriões carrancudos.
Pratos disformes
acompanham vinhos ordinários.
E desde a Entrada
até a Sobremesa,
impera uma rudeza
que nunca se pensou.
Acepipes da semana
que passou ja se deterioram,
sugerindo os venenos
que tomam os comensais,
ainda iludidos
que à mesa,
afetos serão servidos
(e os ódios esquecidos).

A sopa cinzenta,
de horrores cozida,
jaz à minha frente
como lembrança funesta
de tudo que não presta.
Ceia fatídica
de tristeza impudíca
que avança
em minha solidão.
Apenas eu insisto
em salvar a aparência,
sem pensar o porquê
dessa inconveniência.

"La nave que vá..."

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Elementais

Matas encantadas
por gnomos e fadas
contem-me uma história
cujo fim seja a glória.

Preciso ser iludido;
qualquer fantasia
será o bastante
para que eu esqueça
o restante.

Preciso ser seduzido
para de novo acreditar
que o Mundo que se diz
não está por um triz.

Reunam-se bruxas e feitiços
e operem algum prodigio
que me convença
de que a vida compensa.

Então, sem que se veja,
despirei toda incerteza
e verei com clareza
a realidade que me escapava
por ultrapassar a tosca racionalidade
que eu endeusava.

Verei, assim, a outra vida.
A que nem sempre é percebida,
mas que preenche o cotidiano
com a dose necessária
do Supra Humano.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Movimento

A tudo
a vida alude,
buscando, talvez,
alguma virtude
no afeto
que se nega amiúde.

Mas ainda
que vigore
o elogio
do fastio,
alguma relutância,
em alguma instância,
resiste
à medíocre circunstância
e brada
a ternura dada.

Sim! O amor
refaz-se do nada.
E em cada
madrugada
alguma rosa
será ofertada,
uma música
cantada
e uma carícia
trocada.

Uma jura
sem usura
vencerá
a incerteza
e
a paúra;
e
o amor,
em pleno conjugar
haverá de ficar,
pois todo Sentimento
transcende o movimento.

                

Motivo

Talvez Bete soubesse
que viver
não seria em vão,
ainda que a rua
fosse contra-mão.

Tanto girou
a Roda,
a faca e
a Poda...

E eis-me sobrevivente
sem saber
porque diferente.

Destinos desiguais,
sinas surreais
em Tempos imorais.
Caminhos num Brasil,
que pouco se viu.

Talvez Bete soubesse
o quanto é belo
morrer por um motivo.
Enxergar outra luz
num Círio votivo.

                    Para Beth, porque o Tempo substitui a dor pela saudade.

domingo, 20 de novembro de 2011

Ventos

Vento
que invento,
para alisar
tua face
no duro momento.

Vento
que invento
para te cessar
todo lamento.

Vento
que invento
para te beijar
novo alento.

Vento
que invento
para te assoprar
meu pensamento:
é teu, meu sentimento.

                   

sábado, 19 de novembro de 2011

Poesia Concreta

Cantam os Campos
a Concreta Poesia
do rude asfalto
de só sobressalto;

e se a poeira
apaga as estrelas,
como disse Caetano*,
o verso desenhado
acende o Céu insano;

e se a dura poesia
esquadrinha a realidade,
há que ser ler
uma lirica quadrinha
em cada entrelinha;

e se por ambos e mais um**,
o Parnasiano recolheu-se
à arca do Passado,
há que se saber
que nesse Concreta Via,
ainda se ouve
a Quinta Sinfonia.

* da poética de Caetano Veloso.
** Os irmãos Augusto e Haroldo Campos e Décio Pignatari, criadores do Movimento Concretista. A eles, essa pouca homenagem.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Amores Acabados

Amores acabados
são barcos separados
que navegam
em rios isolados.

Talvez levem
a incerta esperança
de que noutro cais
a corrente volte atrás.

Talvez nada levem,
sentindo o alivio
de carga nenhuma,
mesmo que a dor seja alguma.

Talvez, em outro
tabuleiro de xadrez
cada qual refaça
o rumo outra vez.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Lâmina

Dias inúteis
arrastam-se no
Tempo vão.
As barras
que me conteriam
perderam as trancas,
mas a prisão permanece
como se dela
eu relutasse sair
por temer a liberdade
da lâmina que me tenta.
Mas a cada resfolegar
do comensal à frente,
como loas a Pantagruel,
eu sei que uma das mortes
seria o renascer
de quem sobreviver.

"Inautênticos",
chamou-os Sartre.
"Homens sem Arte",
outro sábio diria.
Personagens do eterno
"Dejà Vú" que Truffault
embutiria nos dias inúteis
que se arrastam no
Tempo vão.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Niilista

A falsidade
da risada me irrita;
pressinto o capacho
que riu.
Sinto pena do
soldado morto,
mas dizem
que ser herói
era apenas
o seu trabalho.
Ofende-me a gorda
flacidez da
mulher que repete
sua sobremesa
burguesa.
Porque pressinto
um Sol além da Porta,
sei da inutilidade
da noite que passou.
Dizem que ali
existe um tesouro
enterrado.
Seria bom ter o
suficiente
para comprar um
bocado de solidão.
Aqui, nessa toca,
estou livre do Armagedon.
Testemunharei os últimos
dias e as mortes
das jovens consortes.
Talvez, então, eu
descubra algum sentido
para o fato
de ter sido parido.

Orvalho

É suave o
orvalho que
substitui a
chuva recem finda.
Estão livres
as passarelas
onde desfilam
as esperanças
das novas estrelas.

Talvez o gênio
do Bem
povoe esse tempo
e afaste as mágoas
que não se quis
e que tudo
colocam por um triz.

Uma rosa
exala essa noite fresca.
e as sombras
que ainda se avistam
já não ameaçam
a Paz do Mundo.
São apenas sombras
que alguma luz futura
apagará desse cenário.

Como se todo mau
contexto,
findasse por graça
de um novo
texto.

Noite de Promessa
renovada,
em cada Estrela
avistada
e em toda busca
retomada.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Escorrida

Vida escorrida,
do relógio caída
sem outra parede
em que se segurar.

Pinga uma
chuva insistente.
Fina como os fios
em que me seguro.
Incerta como o Futuro.

O cinza de ontem
repete-se no Céu
que pouco se ilumina.
Alguém haverá
de blasfemar
e outrém se resignará
cônscio da marionete
que a vida lhe fez
nesse teatro
de fantoches
em que a liberdade
é só um deboche.

Mas escorrido do relógio
eis que nasce
o novo dia.
Alguma calma
vem a reboque
e, talvez, no
último carro
chegue alguma
Esperança.
Oxalá a brisa do Mar
faça uma moça suspirar;
à outra faça sonhar.
E aos demais, delirar.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Ameixeira

Ameixeira de antes
no semi silêncio igual.
Pretendo o mesmo
sabiá
aninhando-se nessas
árvores
que já foram minhas,
ainda que outro muro
delas me separasse.
Ruídos de folhas caídas
repetem os sons
que embalavam
o que eu sonhava.
Repetem a cantiga
que Nana cantava
enquanto o aconchego
de seus braços
afastava o que
eu temia (e tanto eu
preciso desse canto
que nunca mais ouvi)
.
Mandala da vida
em eterno ir e vir.
Sons, cores, cantigas
de tantos anos
no momento agora.
No verde, ali fora.

domingo, 13 de novembro de 2011

Árvore

A mangueira
que se esquecera,
derrama-se pelo muro.
Andanças de meio século
para o reencontro
do verde
e de um cinza inesperado
no Rio que sempre se pensa
azul.
Coisas de antes
regressam com a manga
despreendida no chão.
Despreendida do Passado.
O que aconteceu
com os círculos andados?
Que fim tiveram
as ruas percorridas?
Em quais paradas
desse trem
ficaram os rostos,
os corpos e as vozes
que viajaram comigo?
Até onde irá
esse trecho do caminho
que caminho?

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Deus, o Homem e o vinho


Deus, o Homem e a Uva.

É um engano imaginar que a maior dificuldade que Deus experimentou foi criar o Homem. Um simples amontoado de elementos químicos. O “barro primordial” para os crédulos, ou a “sopa de moléculas” para os céticos. Um punhado aqui, outro ali, uma remexida, um acerto, um retoque e o seu indispensável Sopro. E pronto! Eis a criatura!
O que foi complicado mesmo foi definir como seria o invólucro que envolveria cada uma das criaturas. Sim, porque tão logo as terminou, Ele viu que errara na proporção entre o poder dos mesmos e o tamanho das dificuldades que eles enfrentariam. Era preciso que fossem protegidos. Que cada um deles fosse recoberto e tivesse ao seu redor um “Mundo” em escala mínima. Que ele, então, “vivesse no seu Mundo”. O “outro Mundo”, o inteiro, era muito grande e muito complicado. Era excessivo para a fragilidade humana.
E como Ele é pensamento e ação, assim pensou e assim fez. Porém (já existia o porém, então), o resultado não ficou de seu agrado. Acontece que ao fazer os Homens, não se sabe por que, a receita com as medidas dos elementos primordiais foi perdida, mas Ele continuou mesmo assim e no fim viu espantado que ao contrário do que pretendia, nenhum dos Homens ficou à Sua imagem e semelhança, pois havia aquele que era alto, o que era baixo, o que era magro e o que era gordo. Uma completa miscelânea.
Quanto à questão da Imagem e Semelhança Ele logo encontrou a solução, pois Ele também era multifacetado e a variedade dos formatos e de Suas criaturas simbolizaria a sua variedade de faces. Além, disso, pensou, cada um deles me verá de um jeito e naturalmente associarão a sua imagem comigo, portanto, não devo preocupar-me com isto.
O diabo (Ele teria pensado se não fosse quem Ele é) são os malditos invólucros. Para alguns ficará muito largo, para outro muito apertado, ou curto, ou comprido. Maldita pressa! Por que Eu não pude refrear a minha ansiedade? Tinha que terminar tudo em seis dias?
O incipiente Universo ressoou com aquela fúria. Estava colocado: o problema do tamanho. A angústia dos Homens com o tamanho. Todos querem um nariz de tamanho pequeno, mas . . .
Por fim, aquele que tudo perdoa, perdoou a Si mesmo e achou por bem deixar de histeria e encontrar uma solução. E não é que a Solução foi mesmo Divinal? Ele inventou o material elástico. Assim, estava resolvido o problema do ajuste, pois cada qual teria o seu invólucro protetor conforme a respectiva estatura. Muito bem, Pensou, mãos às obras e num misero instante dotou a todos os Homens de seu “mundo particular”.
E dessa vez satisfez-se com o resultado. Achou muito bonitinho. Aquele amontoado de cápsulas escurinhas e juntinhas. Tão grudadinhas. Uma gracinha . . . aquilo lhe pareceu alguma coisa, mas foi inútil tentar lembrar o que seria. E para não perder tempo com alguma coisa do passado (que para Ele não existe, pois é Eterno) transformou o que seria uma lembrança em uma inspiração e criou assim o:

Distinta platéia, com vocês, from to Big Bang, o sensacional e inédito: Cacho de Uvas!

Em várias partes as Sagradas Escrituras fazem referência às uvas, mas ao contrário do que as traduções (ah, esses copistas) nos fizeram acreditar, elas não foram tão citadas por suas simbologias de fartura, doçura ou outros signos menores. Não senhor. A leitura correta é aquela que nos indica que são tão reverenciadas por sua simbologia maior: a Humanidade é um Cacho de Uvas, todas juntas, mas cada qual contido em seu compartimento. Ali vivem e com os demais competem pela luz.
É preciso ter mais luz que os outros concorrentes, pois é através dela que se aumenta de sabor e é preciso ter mais sabor para que se atinja a finalidade que se espera das uvas e dos Homens: agradar.
A carência essencial. Querer ser amado. A consciência de não ser nada além daquilo que os outros avistam. A tragédia dos Homens: apenas existir graças à retina do outro.
Todavia, Ele não se importou com esses questionamentos e tampouco se preocupou em aprimorar os casulos que, dessa forma, ficaram opacos e aderentes. Uma situação estranha: embora sem vislumbre do mundo inteiro, as criaturas pressentiam as suas iguais e a elas se iam unindo. Um magnetismo invencível. Por contatos de casulos procriaram e cada nova criatura herdava o seu próprio invólucro e a mediocridade do mundo ancestral.
Assim foi. E como já era o Sexto Dia daquele trabalho imenso (ou insano?), Ele sentiu-se esgotado, cansado, estafado e (conforme os dias atuais, que segundo Einstein já acontecia) estressado.

Não!
Eu não quero livros de auto-ajuda!
Não! Eu não quero ansiolíticos ou antidepressivos!
Eu quero a paz! A paz da paz, como diria Drumonnd.

Na próxima segunda-feira eu retomarei o trabalho de criar o Mundo. Se . . . Eu. . . quiser! Está claro?
Mas como para Ele não existe a próxima segunda-feira, pois Ele é atemporal, não voltou para concluir a Sua obra. Ele nunca mais voltou.

Ficaram os Homens e as Uvas.

As uvas logo criaram uma maneira de exercitar a sua libertação e se transformaram em vinho. Os Homens seguiram os seus passos e comemoraram a liberdade em relação ao Pai e sugaram o vinho da Mãe. Esbórnia terrível! Devassidão inenarrável! Um horror! Porém, Freud explica.
O vinho da “Mãe Uva”, sua forma original, despertou-os para o fato de que haveria um mundo além do que lhes fora dado. Uma minoria insignificante descobriu (Ave Platão!) que além do vinho, lustrando o seu compartimento, poder-se-ia vislumbrar o que se chamou de “Mundo Maior”. E esta minoria avocou a pretensão de ser a vanguarda da Humanidade. E desde então um escreveu sobre o outro que lhe era igual. Surgiram as “cavernas”, as “gaivotas incansáveis” que voavam sempre para mais longe; as lagartas que se transformaram em borboletas e todos os textos que glorificam a busca, o arrojo e o descortino.
Tal qual as uvas, a Humanidade também se dividiu: a minoria que lustra os casulos e consegue enxergar além assumiu a identidade dos vinhos nobres, reservados ao Supra Sumo da vida. A esmagadora maioria contentou-se com o papel de vinagre que tempera a rotina dos dias iguais.
Tratados de enealogia proliferaram. Biografias ilustres também. Retrata-se o “Mundo Maior” e com alguma insistência a vanguarda iluminada tenta relatar o que enxerga para a patuléia que nada vê.
Os primeiros insistem pois sabem que essa tentativa lhes poupará o desgosto de ter que trabalhar. Os segundos resistem porque intuem que é um desperdício escutar alguém que, nessa crise toda, venha lhes falar de Humanidade, vinhos e uvas. Ora, vá trabalhar! Eu quero lá saber se há outro mundo? Eu quero é Grana. Eu quero é Poder. Eu quero é Segurança. Eu quero ser doce . . .  eu quero que me queiram.
E finalizando essas mal traçadas linhas devo dizer-lhe, caro Rousseau, que nos explicou que entre a Liberdade ou a Segurança optamos pela segunda, que você também não pôde sorver o Champanhe, pois nas seguranças dos casulos não há espaço para a garrafa e sequer para a fantasia que dela se desprende.
A segurança do casulo, do cacho, da videira. O que haverá em cada um desses casulos? Será que a Alma que ali está aprisionada voa?

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Desfecho

Sinto o fogo do desejo
percorrer a insônia
que carrego, mas só
abraço o vazio que se
deita comigo.

O vento morno que adentra
esse quarto estranho
não refresca a febre
dessa saudade.
Sou apenas vontade.

Logo a "Máquina do Mundo"
despertará os Cérberos
que a todos mutilam.
E as burocráticas Hydras
e os venenos que destilam.

Ainda cumpro
um pouco de exílio
e pago uma andança
por outro trecho,
mas já te sei
doce desfecho.

             

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

CORES

Quero-te em
cada insônia,
e em devasso
desejo,
como rito
da antiga Babilônia.

Quero-te fogo
que me percorre,
saudade que numa
lágrima escorre
e o verso
que me socorre.

Quero-te
chegada sem partida
e branca folha,
de amor preenchida.
Quero-te Papillon
Quero-te vida.

             

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Fronteiras

Tu caminhas
em meu Tempo
e trazes o
próximo momento.

Preenches meu
Espaço e alargas as
fronteiras
em que habito.

Sei-te vento,
sei-te alento.

Sei-te presença
de que necessito,
pois está em ti
a certeza de que
existo.
                      

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Tristes Belezas

O quê se pensou
derradeiro,
afunda
nesse espinheiro
de saudades doídas
e lágrimas caídas;

são as tristes belezas
que agora só refletem
as dores mal disfarçadas
e multifacetadas.

Tristes belezas,
caladas pelas armas
de infelizes Karmas.

Entretanto, tua chegada
repõe a Estrela quebrada;
e de novo iluminada
a Noite mostra
que até a angústia
é bela,
se nela
houver teu carinho
desenhando
o novo caminho.

                 

domingo, 6 de novembro de 2011

A Vanissima Senhora *

Alguém haverá
de gostar
do longo Poema
do Negro poeta.

Prolixo e superficial,
outros dirão (mais
o poeta que sua obra)
enquanto mastigam
a última sobra.

Eu nada direi;
e por pura
covardia
nenhum juízo farei.

Eu só quero
a lanhosa paz
de quando se diz "Sim".
Meu tempo correu
e meu "Não" está
semi extinto.

Abstenho-me
do Absinto,
do Absoluto
e do "Ab (SUS) penso".

Sou apenas
a sombra que vaga,
assustando os incautos
e quem ainda divaga.

Minha antiga insolência
já nada deflagra
e só me resta aguardar:
alguém num Domingo;
Elza, que logo virá fingir
que me banha;
Madalena, depois, que
finge alimentar-me e,
por fim, Helena. Não a
de Troia, "off course".

A todas e a todos
eu espero.
E, também, a quem mais
eu quero: a "Vaníssima Senhora"
que canta o Negro poeta.

Já tenho tantos anos,
que o meu ofício é  só esperar.
Meu tempo é aguardar.

* da poética de Fausto Antonio - Ed. Quilombhoje - Coleção "Cadernos Negros - volume 28"

sábado, 5 de novembro de 2011

Anti-Versos

Versos mancos
declamam
vazios brancos.

Algebra inexata
do tempo
sem data.

Versos tortos
escrevem
poemas mortos.

Gramática maculada
e poesia violada.
Tudo, fez-se nada.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Quem me dera

Quem dera,
o momento
fosse mais
que uma
quimera.
Quem dera
eu pudesse
ofertar-te
meu desejo,
liberto em
cada beijo.
Quem dera
eu sentisse
o calor
de tua vontade
e soubesse
da querência
que nos une,
como amantes
que Tânatos
não pune.
Quem dera
a saudade
nunca fosse
pequena
e cada
reencontro
fosse uma
fúria serena.
Quem dera
não findasse
o Canto,
não se quebrasse
o encanto
e a Poesia
replicasse
o acalanto;
quem dera...

              

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Rosa dos ventos

Que a Rosa dos ventos
aponte meu norte
e que lá eu aporte
livre das incertezas
que me sobraram
das camas e mesas.

Que lá os amores
sejam constantes
ainda que distantes;
e que eu ache
a paz que procuro
e a saída
desse triste
labirinto escuro.

Que haja suavidade
que haja verdade
e que se junte
cada metade.

     

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Voar

Voo caminhos
em busca de novo ninho.
Pedágios e adágios
em vias e sinfonias
Na rota retorta
que a vida
comporta.

Voo caminhos em
busca da minima amada.
Talvez numa esquina alada
Eu lhe sonhe madrugada.


   

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Reality Show

Simão Bacamarte,
alienista de Assis
(e alienado por um triz)
junta Loucura e Arte
e eis Napoleão, montado a giz,
cortejando Josefina sem nariz.

E Homens da Lua
e Mulheres de Marte
esparramam doidice por toda parte,
pois o pouco juízo não se reparte.

É dom de Deus,
exceto para os Ateus
que arderão na Eternidade
a descrença na Cristandade.

E segue Assis,
nossa flor do Lácio, ou de Liz;
que tudo conta e tudo condiz,
pois vê abaixo do verniz.

Pena de maior talento
desse Pindorama sonolento
que assiste "O Grande Irmão" iletrado
ficar no lugar de Mestre Machado.

E continua Assis Machado,
bem antes do austríaco,
a expor o Inconsciente; que de rico,
virou palco de jerico.

Coisa de Alienista Alienado
que ruge alucinado
ao comando que lhe é dado:
- como assim?
Pergunta a mulher
à massa qualquer.

É o fim...