sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Cerejas


As cerejeiras floriram depois de Outubro.
Estão renovados os maduros amores
e renovadas, as maduras cerejas.
Eis retornadas as brisas benfazejas
e decretada a inutilidade das proezas,
pois é tempo de pura leveza,
de saudade menos doída,
de vontade mais atrevida
e de um novo brinde
à vida.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

A Estrela e a Mulher



A mulher
que volta do Passado
repõe a estrela perdida.
De novo completa,
a noite repõe a vida.




La Vie


O tempo nunca é curto
enquanto mede uma ausência.
Mas eis que me visitam
amores que vivi
e Piaf ressurge 
em todos os tons e sons.
E se por ti eu soube
que a saudade tem nome,
por ti eu sei como renascem
os sonhos.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Chuva




Cai uma chuva tão suave
que se pensa
que Deus nos acaricia.
Tudo existe
para findar o que é triste.
O cheiro de terra molhada
preenche todo vazio
e de todo sede há o sacio.
O tempo passeia no relógio
e a tarde se estende até onde se compreende.
A vida, aos poucos, a gente entende.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Amores Maduros


E sem que se perceba
um mediterrâneo azul olhar
devolve-me o sonho de sonhar.

Amores maduros
talvez indevidos,
talvez atrevidos,
talvez heroicos
nesses tempos Minóicos
de gregos labirintos.

Maduros amores
que tornam menores
os anos que trazemos
e melhores os que queremos.

Maduros amores
que dispensam os verbos
e acolhem os versos não ditos.
Silêncios falam.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

A Negra Poetisa


Negra Graça poetisa 
mostre a tua santa ira e a tua doce lira.
Que teu canto voe, que teu verso ecoe
e que tais sejam ante a bruta ferocidade,
que não reste sombra da maldade.

Negra poetisa, por ti a luta se suaviza
e todo contrário se harmoniza.
Reviva o Baobá natal,
 reconte os mitos, os ritos,
e os gritos da África ancestral.
Cá te ouviremos,
pois de lá, todos viemos.

Ave Graça, da negra alegria!
Que nenhuma mordaça
cale a tua valentia
e nem nos roube a tua poesia.


Homenagem pouca à poetisa GRAÇA GOMES e ao poeta moçambicano MPIOSSO - YE- KONGO

Produção e divulgação de TANIA BITENCOURT, rien limitée, do Rio de Janeiro, no dia em que se celebra A Consciência Negra.

domingo, 17 de novembro de 2013

Promessa



Quantos versos te restarão
quando as estrelas se apagarem?
Em busca de qual promessa
tu ainda rezará as mandingas?
Quem haverá de desenhar as rendas
por onde voava o colibri?
Quem, de ti restará?

E tudo por quê?
De onde ressuscitastes esse medo?
Lembrança de tantos amores em vão?

E no entanto, poeta, é preciso reviver.
Dispa-se da paúra e descalce o que dirão.
Nada sabem do que se passa em teu peito
e é tempo de renascer.

Nada escute, além da voz da amada.
Nada veja, além do brilho de seus olhos.
Nada temas.
Aperte a mão estendida,
afaste a mágoa sentida,
esqueça a decepção havida
e siga este outro lado da vida.

           



Produção e divulgação de TANIA BITENCOURT, rien limitée, Indaiatuba SP, na Primavera de 2013.

sábado, 16 de novembro de 2013

A Cidade e o Feriado


A avenida vazia expõe o silêncio das ausências.
Velhos edifícios espiam vagos passos largos
e pausas consentidas desfilam nuas vidas.

Como amante sem recato a cidade se dá
em leitos improváveis.
E a vastidão despovoada 
a faz tão íntima
quanto mulher recém amada.


quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Manchetes


Porque a vida se repete,
os jornais são inúteis.
Personagens mudadas repetem velho atos,
velhos fatos e iguais retratos.
 E porque só há o que já houve,
presente está sempre o Passado 
e a dor nem muda de lado.



Produção e divulgação de TANIA BITENCOURT, rien limitée, do Rio de Janeiro, na Primavera de 2013.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Gnomos

Obra de Li Sakamoto

Será inútil descobrir
o pote de ouro
no fim do arco-íris,
se no caminho
perdemos a crença
nos gnomos que lá
o deixaram.


Homenagem pouca à Artista Plástica e Fotógrafa Li Sakamoto.

Produção e divulgação de TANIA BITENCOURT, rien limitée, desde Aquidauana, na Primavera de 2013.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Tanto há


Há muito porque te amar.
E não só a suave porcelana de tua pele,
a elegância de teu porte majestoso,
a beleza sensual de teus lábios,
a sinuosidade de tuas curvas
e a seda que recobre os teus cabelos.
Muito mais existe para te amar.
Há a grandiosidade de tua inteligência,
a profundidade de teu saber,
a ternura de tua carícia
e a graciosidade com que tu desfila a modéstia
de quem se sabe além da ostentação.
Muito há, porque te amar.

à Musa

Produção e divulgação de TANIA BITENCOURT, desde Campo Grande MS, para rien limitée, na Primavera de 2013.

domingo, 10 de novembro de 2013

Poderia ter sido


A vida que não foi, mestre Bandeira,
abre caminho para a angústia de ser só.
Hoje, a brisa não me trouxe o sorriso da Musa
e nem me chegou o voo do colibri.

A dor dos amores que foram breves
e que nem sei porque se foram
tinge de cinza a tarde finda.
O amor que imaginei maduro chegado,
fez-se silêncio um dia e ausência depois.
O amor que um dia curou as minhas dores
e escreveu a minha poesia,
morreu como quem nunca viveu.
E no ataúde em que se enterrou
não coube a última rosa que lhe guardei.

Já não brilha a estrela do leste, 
agora perdida no escuro sem fim.
A noite não compensa o Sol perdido
e a luz da Lua que um dia vestiu
as minhas fantasias 
estragou-se em realidade.

E pensar, mestre Bandeira, que a vida poderia ter sido...


                    
Homenagem pouca ao Mestre Manuel Bandeira.


Produção e divulgação de TANIA BITENCOURT, rien limitée, do Rio de Janeiro, na Primavera de 2013.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

A Psicografia



As palavras chegam
não se sabe de onde
e entre saudades e dores
avivam presenças 
que se julgavam perdidas.
Por instantes, quase se escuta:
mãe, apronta o meu jantar...


Produção e divulgação de TANIA BITENCOURT, rien limitée, do Rio de Janeiro, na Primavera de 2013.

domingo, 3 de novembro de 2013

O Naiff





As cores de um Naiff
compensavam a usura do cinza.
Entre um vermute
e uma Crônica de Costumes,
momentos se fizeram.

Nem sempre 
a aspereza do amor ausente,
esteve à mesa comigo.



sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Érika



Se a bala foi perdida,
ou se foi indevida,
o que importa agora?

A boca do forno
crema primeiro
a pouca fantasia que viveu 
e a morte
que antes lhe ocorreu.
Dupla morte
para o sonho
de consorte.

Depois, o ramo de jasmim
desce à barca de Caronte,
ao rés do horizonte.

Acima ficamos nós.
Acima, ficamos sós.
Quem nos devolverá
a doçura de Érika?


               Para a Sra. Gertrudes e Sr. Christopheer. Saudades de Érika que partiu há dois anos.


Produção e divulgação de TANIA BITENCOURT, rien limitée, do Rio de Janeiro na Primavera de 2013.