quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Mapa Cultural Paulista - Prêmio pela 1ª Colocação




Extremamente honrado, agradeço aos amigos (as) leitores (as) pelo incentivo de sempre. Dedico esse prêmio  a todos (as) e especialmente ao meu filho Thyago Marão Villela.


Produção e divulgação de TANIA BITENCOURT, rien limitée, do Rio de Janeiro, no inverno de 2013.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Indicação para o 5º Prêmio TOP BLOG


Agradeço aos organizadores pela honra que me é concedida e aos meus queridos (as) leitores (as) e amigos (as) pelo apoio de sempre. Muito obrigado a todos, sinceramente.

Fabio.


Produção e divulgação de TANIA BITENCOURT, rien limitée, do Rio de Janeiro, no inverno de 2013.

sábado, 24 de agosto de 2013

Lua de Botafogo


É o conhaque, Carlos,
e essa Lua de Botafogo
que machucam o coração da gente.

Da varanda, eu ouço o mar.
Por onde terá andado cada onda?
Que mensagem algum outro naufrago
terá me enviado?
Em qual porto ficaram
os barcos e os amores
não retornados?

O homem abandonado, do andar de baixo,
logo ouvirá a Quinta Sinfonia.
Antecipo os acordes e a dor.
Apenas a saudade, 
fez-se promessa cumprida.

               


Homenagem pouca ao gênio de Carlos Drummond de Andrade.   

LYOTARD, Jean-François - Filósofos Modernos e Contemporâneos.


LYOTARD, Jean-François.
1924 – 1998

A Metanarrativa e o Pós-Modernismo
O Conhecimento é Produzido para ser Vendido.

Sumário

  1. A tecnologia do Computador transformou o “Conhecimento” em “Informação” que é,
  2. arquivada em “Bancos de Dados”, pertencentes às grandes Corporações.
  3. Essa informação é julgada por seu valor comercial e Não por sua verdadeira utilidade, profundidade, correção, etc..
  4. Sendo assim, tem-se que o “Conhecimento” é produzido para ser vendido, como se fosse uma simples mercadoria qualquer.
Notas biográficas e obras literárias

Jean-François LYOTARD nasceu em 1924, na França. Graduou-se em Filosofia e em Literatura pela Sorbonne, onde desfrutou da amizade de vários intelectuais importantes, como, por exemplo, GILLES DELEUZE.

Após a formatura, lecionou em várias escolas francesas e na década de 1950 filiou-se à Esquerda radical e se tornou um célebre defensor da “Revolução Argelina” de 1954 a 1962.

Contudo, desiludiu-se do Marxismo na marcha do tempo e na década de 1970 iniciou a sua carreira como professor universitário de filosofia na própria Sorbonne e, depois, prosseguiu seu trabalho em outros países, inclusive no Brasil.

Por fim aposentou-se como “Professor Emérito” da universidade de Paris VIII e em 1998 morreu de Leucemia.

LYOTARD não foi um autor prolifico, mas algumas de suas obras tornaram-se clássicas com o correr do tempo. Abaixo, citamos algumas das mais conhecidas:

1.      Discurso, figura – 1971
2.      Economia Libidinal – 1974
3.      A Condição Pós-Moderna – 1979
4.      O Diferendo – 1983

O ideário. As Metanarrativas

Em 1953 o filósofo LUDWIG WITTGENSTEIN lançou a sua obra mais afamada, “Investigações Filosóficas”, onde trata do que chamou de “Jogos da Linguagem”.

LYOTARD serviu-se dessa ideia para desenvolver sua primeira tese filosófica abordando as Metanarrativas”, que podem ser definidas como: histórias abrangentes, singulares ou individuais, que buscam resumir a totalidade da história humana. Ou, em outros termos, as narrativas que buscam incluir todo o conhecimento da humanidade em um único sistema como, por exemplo, o Marxismo; que, como se sabe, afirma que a história pode ser vista como “apenas” uma série de lutas entre as Classes Sociais.

Outro exemplo de Metanarrativa é a ideia de que a história do homem é, ao cabo, o “relato do progresso tecnológico e cientifico” que, conforme a crença de alguns, haverá de proporcionar aos Seres humanos uma sabedoria mais sólida e profunda, com o consequente aumento na Justiça Social.

As Metanarrativas são otimistas em essência, mas também são utópicas e, portanto, irrealizáveis. E justamente por esse motivo, é que LYOTARD desiludiu-se das mesmas e voltou seus esforços analíticos para investigar o “Mercantilismo” que campeia na atual seara do conhecimento.

O pós-modernismo

Suas primeiras lucubrações acerca do tema apareceram em sua obra de 1979, “A Condição Pós-Moderna”. Esse texto foi feito originalmente para o Conselho de Universidades de Quebec, Canadá, e o uso da expressão Pós-Moderno, no titulo, foi deveras importante por situar cronologicamente o assunto e as suas idiossincrasias.

É certo que esse nome não foi inventado por LYOTARD e que já era de uso corriqueiro entre vários críticos de Artes desde a década de 1960, mas foi a sua obra a responsável pelo aumento em sua abrangência e pela sua disseminação geral.

Por isso, com relativa frequência, ainda se diz que o uso do mesmo pelo Filósofo representou o efetivo marco inicial do chamado Pensamento Pós-Modernista.

Mas qual é o real significado deste titulo?

É difícil precisar com exatidão, haja vista que seu uso foi tão amplo e variado, que o seu significado original se perdeu e, por isso, nesse Ensaio adotaremos apenas a definição que LYOTARD lhe deu: Pós-Moderno é a incredulidade ante as Metanarrativas.

Ou seja, é o ato e a disposição de duvidar e de recusar a afirmação de que todo conhecimento humano esteja contido em apenas um sistema de pensamento. Logo, ter uma atitude “pós-moderna” será duvidar das “verdades” proclamadas pelas religiões, pelas ideologias politicas e/ou filosóficas.

Essa incredulidade acarreta um novo Ceticismo, o qual, para LYOTARD, é o resultado de uma mudança no modo de como nos relacionamos com o Saber. Mudança nascida com o fim da 2ª Guerra Mundial e por exigência do inédito avanço tecnológico que experimentamos.

Segundo ele, os computadores, em sua faceta positiva, transformaram as nossas atitudes de tal modo que é quase proibido ter a “ingenuidade” de acreditar que um só sistema (ou uma Metanarrativa) possa dar conta de todos os aspectos do conhecimento, do saber e, por consequência, das questões Sociopolíticas.

As mentiras e os segredos que antes eram possíveis deixaram de ser. Microcâmaras e a WEB denunciam tiranos, pervertidos, torturadores, patifes, corruptos e o restante da escória, que antes se aproveitava do escuro ocasionado pela falta de acesso à informação.

De todos os indivíduos se exige uma nova postura e dos governantes, exige um comportamento mais decente e eficiente.

Exige, ao cabo, que todos exerçam a saudável descrença em fábulas de que um só sistema ou um só indivíduo sejam capazes de resolver todas as questões do mundo.

NOTA do AUTOR – um exemplo típico do atraso no pensamento politico que assola o Brasil e grande parte dos países subdesenvolvidos, pôde ser visto recentemente quando vários indivíduos ocuparam espaço nas “Redes Sociais” da Internet e “elegeram” o senhor ministro presidente do Supremo Tribunal como a “tábua de salvação nacional” ou como “o último dos dignos”. Ser pós-moderno exigiria que esses mesmos indivíduos tivessem a honradez de saberem que o futuro do país depende da atuação de cada um e não da messiânica intervenção de um sujeito, ou de um grupo.

Se antes, na “Modernidade” e até na “Contemporaneidade”, primaram os grandes esquemas filosóficos, sociais e políticos (o Existencialismo, o Fascismo, o Nazismo, o Marxismo etc.), na Era hodierna ­­­­­­reina (ou deveria reinar) a Pós Modernidade, que além do salutar ceticismo, devolve ao individuo o direito de crer no que lhe convém e não mais no que os grandes sistemas lhe ditam. O direito de saber, de conhecer, para, só então, escolher.

Porém, alerta LYOTARD que a profusão de conhecimento acessível não foi totalmente benéfica, haja vista que também trouxe alguns pontos negativos, dentre os quais se devem citar, pela importância, a banalização do próprio conhecimento e a sua consequente superficialização.

Como se fosse uma reles mercadoria, o Conhecimento atendeu à “Lei da Oferta e da Procura”; ou seja, quanto mais ofertado, menos valorizado. Tornou-se, salvo as honrosas exceções, um produto de livre acesso, mas de qualidade inferior.

Nas palavras do filósofo, o “Saber” se tornou “Informação”, a qual é enviada para os “Bancos de Dados” das grandes corporações, onde pode ser apagada, editada, modificada, vendida e comprada. Tem-se, pois, a mercantilização do conhecimento.

E tal mercancia acarreta várias implicações negativas. A primeira é que o Conhecimento se exterioriza; ou seja, deixa de ser algo que nos auxilia no desenvolvimento intelectual, já que inexistindo maiores dificuldades para obter os seus atuais simulacros, o cérebro se atrofia, a exemplo do que acontece com os músculos do homem sedentário.

Ademais, o conhecimento deixou de ser avaliado segundo a sua veracidade, solidez e profundidade, passando a ser medido apenas por sua utilidade menor para as aplicações do cotidiano. Configurou-se de certo modo o sonho dos filósofos estadunidenses que sempre se bateram pelo Utilitarismo e/ou Pragmatismo.

Perdeu-se a noção de grandeza verdadeira e tudo é feito para aplacar o insaciável apetite do “monstro do imediatismo”; do resultado a qualquer custo; do lucro a qualquer preço.

Quando deixamos de perguntar “isso é verdadeiro?” e passamos a indagar “como isso pode ser vendido?”, fazemos do conhecimento, da sabedoria um mero produto.

Além disso, LYOTARD também alerta para outro perigo no horizonte, ou seja, que esse malfadado processo mercantil, orquestrado pelas grandes corporações privadas, seja usado para controlar o próprio fluxo de conhecimentos, decidindo quem pode acessar o quê; qual o tipo de Saber que tal indivíduo terá acesso e até quando e quanto cada qual poderá conhecer.

É verdade que esse risco sempre existiu. Antes, com os famosos index de livros proibidos, de jornais censurados e de escritores proscritos, porém o que atualmente o torna mais agudo é a já comentada inércia intelectual que atinge cada vez mais pessoas.

Observa-se que além das censuras diretas na WEB, na televisão, no cinema, no teatro, na literatura etc. outra forma de cerceamento cresce continuamente. É a “Censura Indireta”, feita de modo sutil e subliminar e que induz os humildes de intelecto a agirem como lhes é ordenado pelos “atores e atrizes (sic) de novelas” e/ou pelos apresentadores (sic) dos famigerados “programas popularescos”. Creem as pobres almas que “estarão na moda” e que por isso serão bem aceitas pelo grupo social a que pertencem. E por isso, não hesitam em adotar discursos e práticas “politicamente corretas (sic)”, ainda que isso lhes cause desconforto por conflitar com seus valores mais genuínos e arraigados.

O otimismo e o pessimismo

Nesse ponto, não será difícil que o (a) leitor (a) censure um suposto excesso de otimismo com o novo poder das denúncias. Afinal, o Mundo ainda carrega o fardo de todas as suas antigas mazelas. Mas é inquestionável que o acesso ao conhecimento é muito mais fácil agora que há duas décadas e se ainda não se conseguiu eliminar todas as perversidades e injustiças, deve-se reconhecer que pelo menos já se consegue expor o perverso e o injusto à execração popular (talvez mais contundente que qualquer outro tribunal) e em certos casos, às penas da Lei. Lembremo-nos das dificuldades anteriores, inclusive físicas, que os desejosos de conhecimento enfrentavam, principalmente se esse conhecimento desnudasse algum patife das elites oligárquicas que sempre se serviram do povo e do País ao seu bel prazer.

Por outro lado, qualquer “pessimismo paranoico” advindo do temor de cretinização compulsiva ou de “lavagem cerebral” deve ser repelido com vigor, pois basta que tenhamos bom senso nos julgamentos e nas atitudes que nada poderá impedir-nos de utilizar as maravilhas tecnológicas que nos são apresentadas diariamente e que, certamente, auxiliarão aos métodos já existentes na dura e nobre tarefa de transmitir conhecimento, cultura e saber. Que saibamos utilizar o que hoje é farto e que graças aos nossos esforços poderá vir a ser “conhecimento verdadeiro”, capaz de nos elevar como pessoas. Que façamos bons usos da herança que recebemos através de papiros, pergaminhos, livros e computadores para aperfeiçoarmo-nos na arte de bem viver. Assim fazendo, certamente cumpriremos o destino que pensadores como LYOTARD nos traçaram.

© Registro na BNRJ/EDA sob nº 605.931 – Lv. 1.161 – Fls. 121.  Proibida qualquer forma de cópia.


Produção e divulgação de Tania Bitencourt, rien limitée, do Rio de Janeiro, no inverno de 2013.


sexta-feira, 23 de agosto de 2013

LUKÁCS, Georg B.Von Szegedin - Filósofos Modernos e Contemporâneos


LUKÁCS, GEORG BERNHARD VON SZEGEDIN.
1885 – 1971
A importância de LUKÁCS na Filosofia Contemporânea é reconhecida até por seus críticos, pois, segundo LUCIEN GOLDMANN, ele foi capaz de refazer em sua vida atribulada o que houve de principal na Filosofia alemã. Inicialmente como critico (no sentido de “estudante minucioso”) sob a influência de IMMANUEL KANT, depois como adepto de HEGEL e, por fim, como seguidor de KARL MARX.
Graduou-se na universidade de Budapeste e além do currículo escolar, desenvolveu várias outras atividades de cunho cultural e político.
Associou-se a alguns círculos Socialistas, sendo que em um deles teve contato com ERVIN SZABÓ, renomado Anarquista e sindicalista, que lhe apresentou as obras de GEORGES SOREL.
Devido a tais influências, tornou-se um sincero entusiasta do “anti-positivismo” censurando vigorosamente o Materialismo cientifico e a rigidez da “moralidade positiva”. Porém, o seu entusiasmo critico não se repetia em relação ao Modernismo artístico, embora ele aceitasse que o mesmo traria a extinção do Classicismo burguês que imperava nas Artes.
De 1904 a 1908, envolveu-se com os integrantes de uma erudita companhia de teatro e a convivência com esses outros intelectuais, em conjunto com os anteriores, foi um poderoso incremento em sua cultura e um fator decisivo para orientar a sua perspectiva sobre o mundo.
Tornou-o aberto para as possibilidades que estão além da estreita visão burguesa e o convenceu da importância da Racionalidade para minar as antigas superstições religiosas, que adaptadas para a Política embasavam a organização da sociedade.
Estudos na Alemanha
LUKÁCS passou grande parte de sua juventude na Alemanha e entre os estudos que realizou nas universidades de Berlim (1906-1910) e na de Heidelberg (1911-1913), conheceu mais alguns intelectuais que consolidaram sua erudição e aumentaram-lhe o leque das opções filosóficas.
Dentre outros, conheceu: GEORG SIMMEL, MAX WEBER, ERNST BLOCH E STEFAN GEORGE, os quais, junto com o próprio ambiente universitário, levaram-no a adotar o Neokantismo*, como sistema filosófico preferido, sem, no entanto, repudiar suas antigas inclinações por PLATÃO, HEGEL, KIERKEGAARD, DILTHEY e DOSTOIÉVSKI (que geralmente é mais conhecido como romancista).
NOTA DO AUTOR - NEOKANTISMO(do grego, neo = novo + Kantismo) Movimento Filosófico da segunda metade do século XIX que se difundiu principalmente na Europa. Sua principal proposta era reafirmar a Filosofia como a “Teoria do Conhecimento” e fundamentadora das Ciências Naturais e das Normas Sociais, segundo o Ideário original de Immanuel Kant.
Ativismo Político
Após graduar-se em 1915, LUKÁCS voltou à Hungria e passou a liderar um grupo de intelectuais de Esquerda que contava em suas fileiras com KARL MANNHEIM, BÉLA BARTOK, BÉLA BALÁZS, KARL POLANYI ETC.
Foi, então, que começou a sua prática efetiva nas lidas do Socialismo.
Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial e da Revolução Bolchevique, adaptou seu ideário ao momento e em 1918 juntou-se ao Partido Comunista Húngaro tornando-se dedicado e fiel marxista.
Durante o curto Governo da “República Soviética da Hungria” foi elevado ao posto de “Comissário do Povo para a Educação e Cultura” e trabalhou na 5ª Divisão do “Exército Vermelho” húngaro.
Após a queda do Regime, caiu na clandestinidade e acabou preso em Viena, Áustria, de onde só escapou da deportação graças à intervenção de intelectuais renomados, como, por exemplo, THOMAS MANN e HEINRICH MANN.
Produção literária
Em termos intelectuais, voltou a sua atenção para os pensamentos de LÊNIN e trabalhou no desenvolvimento filosófico dos mesmos, dando-lhes melhor embasamento teórico. Resultou desses estudos a obra “História e Consciência de Classe”, formada por uma coletânea de Ensaios, cuja publicação, em 1923, obteve uma enorme repercussão.
Alguns de seus admiradores chegaram a comentar que nem o próprio LENIN teria feito melhor, porém essa simpatia não foi unânime e o livro foi duramente atacado por GRIGORY ZINOVIEV (que posteriormente foi perseguido por Stalin) no 5º Congresso do Komiterm, em 1924.
Contudo, não obstante esse revés continuou o seu trabalho sobre LÊNIN e logo após a morte do mesmo, escreveu um curto texto sobre ele, intitulado de “Um Estudo sobre a Unidade de seu Pensamento” que também teve boa aceitação da maioria.
Porém, em 1925 mudou seu foco de trabalho e publicou uma revisão critica do “Manual do Materialismo Histórico” de NIKOLAI BUBKHARIN.
Atuação político-partidária
No campo político e na condição de húngaro exilado, LUKÁCS permaneceu ativo na “Esquerda” do Partido Comunista Húngaro e nessa situação se opôs tenazmente à política de BÉLA KUN.
Suas “Teses sobre Blum”, de 1928, clamavam pela derrubada do Governo de HORTY, MIKLÓS (1868 – 1957) e pela instauração de uma “Ditadura Democrática do Proletariado e Camponeses” como estágio intermediário até que ocorresse a implantação definitiva da “Ditadura do Proletariado”.
Todavia, suas ideias não tiveram boa aceitação pelo Komiterm e isto o obrigou a fazer, posteriormente, uma difícil autocrítica reconhecendo a impropriedade de sua posição.
Acusado de espionagem
De 1929 a 1933, LUKÁCS permaneceu em Berlim, mas diante da ascensão do Nazismo mudou-se para Moscou e ali permaneceu até o fim da 2ª Guerra.
Aproveitando-se desse fato, as forças que lhe faziam oposição voltaram ao ataque acusando-o de ser Agente Soviético por ter residido na Rússia durante aquele período. E tal perseguição lhe ocasionou sérios contratempos em seu regresso à Hungria.
Porém, apesar disso, ele se envolveu no estabelecimento do novo Governo húngaro e foi eleito membro da “Academia de Ciência Húngara”.
A Crítica Literária
De 1945 a 1946, trabalhou para o Regime como crítico de autores não comunistas. Trabalho, aliás, que lhe era agradável, pois ele compartilhava dessa censura taxando tais autores de deficientes intelectuais.
E seu zelo na tarefa foi tal, que ele acabou sendo acusado de participar do jogo administrativo que promoveu a remoção dos intelectuais independentes e/ou contrários ao Regime.
Dentre os pensadores que teriam sido perseguidos por LUKÁCS pode-se citar, entre outros, BÉLAS HAMVAS, ISTVÁN BIBÓ, LAJOS PROHÁSZKA, KAROLY KERÉNYI, sendo que alguns foram presos em várias ocasiões; outros, mandados para manicômios e, outros, forçados a trabalhos menores e/ou braçais.
O pensador CLAUDIO MUTTI afirmou a propósito que LUKÁCS teria sido membro da Comissão do Partido responsável pela elaboração das listas dos livros proibidos que o Departamento de Propaganda e Informação do Gabinete do 1º Ministro impunha ao país por serem antidemocráticos e/ou socialmente aberrantes (sic), enquanto silenciava os autores proscritos, pelos métodos acima descritos.
NOTA do AUTOR – é interessante notar o quanto são parecidas todas as Ditaduras, pouco importando se são de “Direita” ou de “Esquerda”.
Essa acusação nunca foi cabalmente comprovada, mas o certo é que LUKÁCS influiu diretamente na censura estabelecida pela chamada “Tática Salami” que vigorou na Hungria durante os anos de 1945 a 1950, sob o governo de MÁTYÁS RÁKOSI.
Porém, até onde se sabe, ele teria atuado apenas como um “Critico de Literatura” que acreditava sincera e honestamente na superioridade da Arte Socialista e que propunha que essa Superioridade ficasse sempre evidente por meio de comparações artísticas justas e não por intermédio de métodos sórdidos.
Aliás, segundo os seus admiradores, pode-se confirmar essa sua isenção, observando-se que a sua tolerância custou-lhe o próprio cargo quando, entre 1948 a 1949, o Presidente MÁTYAS reeditou a famigerada Tática Salami sobre o próprio Partido Comunista Húngaro e o expulsou dos quadros governamentais.
Contudo, ele voltou ao Partido no ano seguinte, 1950, e conforme seus adversários, convencido a cooperar com o Regime que, assim, o teria usado durante a prática dos novos expurgos que foram feitos na “Associação de Escritores”, entre 1955 a 1956.
Mas novamente a sua atuação foi considerada superficial e vários intelectuais minimizaram a sua participação nos funestos acontecimentos, afirmando que ele teria agido apenas como assistente e que logo cedo demonstrou a sua insatisfação ao abandonar as reuniões e tomar outras atitudes de protesto.
Atuação politica após a morte de STÁLIN
Após a morte de STALIN em 1956, LUKÁCS tornou-se Ministro no breve governo de IMRE NAGY que não contava com a simpatia da URSS.
E como Ministro participou da antipartidária associação revolucionária comunista PETOFI e atuou em várias outras frentes, visando reformas que restituíssem credibilidade ao desgastado “Partido Comunista Húngaro.
Mas seu ativismo não foi bem aceito e ele esteve prestes a ser preso e fuzilado nas décadas de 1960 e 1970, como foram vários de seus companheiros.
Após a queda do governo NAGY, foi deportado para a Romênia junto com o restante do staff do Presidente deposto. Lá, permaneceu fiel ao Comunismo, mas se tornou um critico mordaz do Partido Comunista da URSS e o da Hungria até os últimos anos de sua vida.
NOTA do AUTOR - Seus livros “O Jovem Hegel” e “A Destruição da Razão” foram utilizados para acusá-lo de ter-se tornado um inimigo do Socialismo por ter distorcido (sic) a ligação do Marxismo com o Hegelismo e, também, por ter denunciado (sic) a “Irracionalidade do Sistema”.
A Obra literária e algumas teses
LUKÁCS não foi um autor prolífico, mas a qualidade superior de seus textos garantiu-lhe o merecido prestigio que ainda hoje lhe é creditado.
Seu livro, “História e Consciência de Classe”, de 1919–1922 iniciou a corrente de pensamentos que posteriormente tornou-se conhecida como “Marxismo Ocidental”.
Um dos destaques positivos da obra é a contribuição que empresta ao debate relativo à ligação da Sociologia, Política e Filosofia com o Marxismo. Outro ponto destacado é a reconstrução da “Teoria Marxista da Alienação” e, também, a reflexão sobre outras teorias de MARX, como Ideologia, Falsa Consciência, Retificação, Consciência de Classe etc.
Na sequência veremos seus argumentos sobre algumas delas:
Sobre a Ideologia ele reafirma a sua tese de que a mesma é uma Projeção da Consciência de Classe da Burguesia; ou seja, aquele conjunto de ideias, crenças e valores representa o que os indivíduos burgueses pensam sobre si mesmos e sobre o grupo sócio econômico e cultural a que pertencem. Ademais, expressa à convicção desses indivíduos acerca daqueles valores, formando, com isso, o que se chama de “Classe Social”. Segundo ele, a Ideologia é usada pela Burguesia como se fosse uma Verdade Absoluta ditada por Deus e que, por isso, deverá ser aceita e obedecida por todos. Na realidade, com isso, os burgueses pretendem evitar que o Proletariado tome consciência de sua miserável condição e de seu imenso potencial revolucionário.
NOTA do AUTOR – observe-se aqui a semelhança, que não é aleatória, com o Pensamento de ALTHUSSER.
No texto, “O que é o Marxismo Ortodoxo?” ele analisa a “Falsa Consciência” e afirma que a “Ciência do Real (ou seja, o conhecimento da Realidade física, concreta) deve se limitar ao que seja efetivamente concreto e verdadeiro. Por isso, deve-se pensar ou refletir apenas de maneira racional e objetiva sobre um período histórico para com isso desmistificar as falsas “Verdades Eternas*”, já que essas não passam de meras ilusões ou distorções criadas com objetivos nefastos.
NOTA do AUTORVerdades Eternas tais como: as Leis imutáveis da Economia (sic).
Quanto a Reificação (ou Coisificação), ele argumenta que é uma decorrência da própria natureza (ou forma de ser) da “Sociedade Capitalista” que induz o individuo a privilegiar os seus interesses pessoais acima de tudo. Por isso, a “Coisificação” impede o surgimento da Consciência de Classe no Proletariado à medida que obriga o indivíduo a pensar quase que exclusivamente em sua sobrevivência física e não nos interesses de sua “Classe Social”. Assim sendo, para que surja a “Consciência de Classe” é imperioso extinguir o processo de “Coisificação” tão logo ele se materialize, o que só é possível com o surgimento de correntes filosóficas e políticas que quebrem a inércia vegetativa em que vive o Proletariado. E que este mesmo Proletariado ganhe poderio intelectual através de estudos, para que na sequência apareçam “Partidos Leninistas” capazes de orientar a Revolução.
Reificação – Coisificação – reduzir o Ser humano, ou aquilo que é ligado a ele (como as suas crenças, ideias, etc.) a valores exclusivamente materiais, físicos, concretos. O termo Reificação é originário do Latim (“res” = coisa + ficar + ção) e indica o momento em que o homem (bem como a realidade física que o cerca), se torna apenas uma “Coisa” e é afastado, de suas características humanas (de suas ideias, crenças, sentimentos, valores éticos ou morais como honra, dignidade etc.). Tudo passa a ser apenas “um objeto inanimado”. Esta condição é inevitável e acontece durante o “Processo de Alienação” que lhe é imposto pela natureza (ou forma de ser) do Capitalismo. Aos interessados em aprofundar-se no tema, recomendamos a sugestão do Sociólogo e Mestrando na USP, Thyago Marão Villela, para que se estude a “Teoria do Fetiche” de Marx, onde ele coloca a tese de que no Capitalismo as “coisas ou objetos” parecem estabelecer relações sociais (como se fizessem amizades, intrigas, inimizades etc.) enquanto os indivíduos se quedam passivos perante os mesmos, transformando-se também em meras “coisas ou objetos”.
Sobre as Classes Sociais LUKÁCS dedicou especial atenção e começou a expor seus argumentos na obra “História da Consciência de Classe”, de 1920. Nela, ele analisa primeiro a ausência de definição sobre o tema no pensamento de MARX e, depois, propõe a sua definição: “que forma uma Classe Social é a posição do grupo de indivíduos que a compõe em relação ao “modo de produção”, ou seja, grosso modo: engenheiros e arquitetos compõem, ou fazem parte de uma “Classe Social”. Pedreiros, eletricistas e encanadores compõe outra, porque cada qual ocupa uma posição diferente em relação ao modo de produção com a consequente diferença nos rendimentos”.
Na sequência, afirma que há em cada classe uma “Consciência” da mesma, mas que essa conscientização não tem a mesma dimensão em todas, haja vista que ela decorre da densidade intelectual de seus membros, pois apenas quando existe uma maior compreensão da vida e do mundo é que esses mesmos membros se conscientizam da fragilidade individual e da necessidade de se pertencer a uma classe, a um grupo.
Por isso, entre o Proletariado de baixa cultura e consequentemente pouca compreensão, não há “Consciência” efetiva da necessidade de se unir aos outros membros. Não há, pois, “Consciência de Classe”. Ao contrário da Classe Burguesa, cujos membros têm mais densidade intelectual e por consequência mais firmeza em suas convicções.
Esse fato também indica que a Consciência de Classe acontece no decorrer da história, da passagem do tempo (têm um Sentido Histórico) com o aumento do arcabouço intelectual dos indivíduos.
NOTA do AUTOR – a quantidade disponível dos recursos materiais de cada Classe é o que consolida essa diferenciação. Apenas por ter certa folga material é que a Burguesia pode se dar ao direito de cultivar valores abstratos que formam a Consciência de sua Classe. Já o Proletariado tem sua atenção voltada exclusivamente para a sobrevivência física, para as necessidades básicas diárias, sendo impraticável enxergar além de seu horizonte imediato. O seu pressuposto “companheiro de Classe” passa a ser, na realidade, um competidor pelos parcos recursos. Esse círculo vicioso é que lhe proíbe, pois, a formação da sua “Consciência de Classe”, a qual, no entanto, seria um instrumento teórico imprescindível em sua luta contra a Burguesia  em busca de mais justiça social.
A burguesia e o proletariado.
A partir das conclusões acerca das “Classes”, LUKÁCS concentra seus estudos nas duas Classes que o Marxismo estuda: a burguesia e o proletariado.
A primeira, não obstante possuir capacidade para compreender a totalidade da Sociedade, e com isso saber que além de si existem outras Classes que também tem o Direito de buscar suas realizações, tem essa compreensão reduzida pela força de seus interesses e com isso possui apenas uma Falsa Consciência (grosso modo, é como se forçasse a não ver).
Já o Proletariado, apesar de suas limitações, tem potencial para vir a compreender plenamente a Sociedade, principalmente porque lhe interessa destruir o modo de produção Capitalista, mas é necessário que se desvencilhe daquela Falsa Consciência que lhe é imposta pela burguesia.
Dessa sorte, a “Revolução Proletária”, segundo sua ótica, não poderá surgir de um ambiente pacífico, ou violenta e falsamente pacificado, já que nada lhe será entregue voluntariamente. Tudo terá que ser tomado.
 Nada acontecerá de modo passivo, e será imperioso que adquira através das lutas preliminares a sua Consciência de Classe e se organize, fortaleça-se e crie condições efetivas para derrubar o Sistema que lhe oprime.
É preciso que saiba se aproveitar das crises que periodicamente assolam o Capitalismo para fazer eclodir a Revolução.
NOTA do AUTOR – essas ideias de LUKÁCS tiveram boa aceitação, mas foram repudiadas por ele no fim de sua carreira. Principalmente a parte em que ele colocava o Proletário como sujeito da historia.
Critica Literária e Estética.
Doravante trataremos dessa sua outra atividade, pois além da excelência de seu trabalho no campo da Filosofia Política e Filosofia Marxista, ele foi um dos mais influentes Críticos Literários do século XX, não obstante aquelas restrições que lhes foram feitas acerca de sua suposta perseguição aos literatos de outras tendências politicas.
Sua entrada nessa lida aconteceu com os estudos expostos em sua obra “A Teoria do Romance”. Trata-se de um relato sobre a história do Romance, enquanto gênero literário e, também, uma investigação acerca de suas características.
Outro Ensaio de sua lavra que se tornou célebre é aquele intitulado de “Kafka ou Thomas Mann”. Nele, LUKÁCS argumenta a favor da superioridade que enxerga na obra do segundo, classificando-a como mais adequada ao Modernismo.
Aliás, sobre essa classificação é interessante notar que LUKÁCS a coloca de forma elogiosa, porém, paradoxalmente, discordava das inovações Modernistas introduzidas na forma literária por autores como o próprio KAFKA, JAMES JOYCE e SAMUEL BECKETT.
Outra singularidade a ser notada em seu trabalho é o louvor que ele dedicava aos antigos “Romances de Cavalaria”, como, por exemplo, os de WALTER SCOTT. Essa simpatia ele justificava argumentando que autores como SCOTT, embora resvalassem para certa nostalgia em favor da monarquia, opunham-se valorosamente contra a ascensão da burguesia (Sic).
Prosseguindo, veremos outros trabalhos de sua autoria que também merecem destaque, como, por exemplo: “Notas sobre o Romance” e “Narrar ou Descrever”.
No primeiro, ele faz uma revisão histórica sobre a formação do gênero “Romance”, desde a sua gênese até o seu futuro formato, quando for feito para e pelo proletariado.
No segundo, ele analisa mais detalhadamente a “Literatura Marxista” e discorre sobre a diferença entre o Romance Naturalista e o Romance Realista (ao estilo do escritor francês, Emile Zola, autor de “Germinal”, entre outros)”.
Segundo sua concepção, o Romance sob a égide do Capitalismo, como já pode ser observado em “Dom Quixote (MIGUEL DE CERVANTES)”, mostra o abandono de uma “Consciência de Classe Coletiva” em beneficio de uma “Consciência Individualista”, o que lhe dá um formato predominantemente burguês.
Mas, com o triunfo do Socialismo o gênero se encaminhará para a forma, ou formato Realista e a individualidade voltará a ser vista como apenas uma pequena parte de uma “Estrutura Geral”.
Como já se mencionou algures, LUKÁCS também demonstrava algum repúdio pela Forma Naturalista que, a seu ver, privilegia aspectos da realidade que em nada contribuem para o esclarecimento acerca da “Condição Social” em que o enredo se desenrola.
NOTA do AUTOR – deve-se observar que seus prognósticos sobre o Romance foram muito mal recebidos por várias Correntes do Marxismo e principalmente por aquelas que lhe eram adversárias.
Em “Narrar ou Descrever” ele afirma que para favorecer o surgimento de uma conscientização mais critica sobre o “papel social dos indivíduos a “Narrativa”, ou o “Narrar”, é mais eficiente que a “Descrição”, haja vista que esta se prende a formalismos inúteis.
LUKÁCS e a Estética
Além dos textos citados, LUKÁCS escreveu vários outros sobre o ramo da Filosofia chamado de Estética.
Para ele, ao contrário de outros intelectuais de peso como, por exemplo, THEODOR ADORNO, a principal função da Arte é fomentar a transformação da Consciência Individual em “Consciência de Classe”, capacitando-a teórica e culturalmente para que possa confrontar a sociedade Capitalista.
Para muitos, uma visão estreita e tacanha, mas é oportuno lembrar que esse ponto de vista foi decisivo para que posteriormente surgisse o “Realismo Socialista Russo” que, apesar da rejeição de tantos, constituiu-se em um Movimento de alta importância no cenário da Arte e da sociedade.
Epilogo
Vimos que pensamento de LUKÁCS foi combatido, criticado e censurado e que ainda hoje enfrenta resistência de vários setores da Esquerda.
Mas, também se vê que sobreviveu rijo e forte e chegou aos nossos dias com a relevância que merece graças à sua profundidade, singularidade e erudição.

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Produção e divulgação de TANIA BITENCOURT, rien limitée, no Rio de Janeiro, no inverno de 2013.