sábado, 24 de agosto de 2013

LYOTARD, Jean-François - Filósofos Modernos e Contemporâneos.


LYOTARD, Jean-François.
1924 – 1998

A Metanarrativa e o Pós-Modernismo
O Conhecimento é Produzido para ser Vendido.

Sumário

  1. A tecnologia do Computador transformou o “Conhecimento” em “Informação” que é,
  2. arquivada em “Bancos de Dados”, pertencentes às grandes Corporações.
  3. Essa informação é julgada por seu valor comercial e Não por sua verdadeira utilidade, profundidade, correção, etc..
  4. Sendo assim, tem-se que o “Conhecimento” é produzido para ser vendido, como se fosse uma simples mercadoria qualquer.
Notas biográficas e obras literárias

Jean-François LYOTARD nasceu em 1924, na França. Graduou-se em Filosofia e em Literatura pela Sorbonne, onde desfrutou da amizade de vários intelectuais importantes, como, por exemplo, GILLES DELEUZE.

Após a formatura, lecionou em várias escolas francesas e na década de 1950 filiou-se à Esquerda radical e se tornou um célebre defensor da “Revolução Argelina” de 1954 a 1962.

Contudo, desiludiu-se do Marxismo na marcha do tempo e na década de 1970 iniciou a sua carreira como professor universitário de filosofia na própria Sorbonne e, depois, prosseguiu seu trabalho em outros países, inclusive no Brasil.

Por fim aposentou-se como “Professor Emérito” da universidade de Paris VIII e em 1998 morreu de Leucemia.

LYOTARD não foi um autor prolifico, mas algumas de suas obras tornaram-se clássicas com o correr do tempo. Abaixo, citamos algumas das mais conhecidas:

1.      Discurso, figura – 1971
2.      Economia Libidinal – 1974
3.      A Condição Pós-Moderna – 1979
4.      O Diferendo – 1983

O ideário. As Metanarrativas

Em 1953 o filósofo LUDWIG WITTGENSTEIN lançou a sua obra mais afamada, “Investigações Filosóficas”, onde trata do que chamou de “Jogos da Linguagem”.

LYOTARD serviu-se dessa ideia para desenvolver sua primeira tese filosófica abordando as Metanarrativas”, que podem ser definidas como: histórias abrangentes, singulares ou individuais, que buscam resumir a totalidade da história humana. Ou, em outros termos, as narrativas que buscam incluir todo o conhecimento da humanidade em um único sistema como, por exemplo, o Marxismo; que, como se sabe, afirma que a história pode ser vista como “apenas” uma série de lutas entre as Classes Sociais.

Outro exemplo de Metanarrativa é a ideia de que a história do homem é, ao cabo, o “relato do progresso tecnológico e cientifico” que, conforme a crença de alguns, haverá de proporcionar aos Seres humanos uma sabedoria mais sólida e profunda, com o consequente aumento na Justiça Social.

As Metanarrativas são otimistas em essência, mas também são utópicas e, portanto, irrealizáveis. E justamente por esse motivo, é que LYOTARD desiludiu-se das mesmas e voltou seus esforços analíticos para investigar o “Mercantilismo” que campeia na atual seara do conhecimento.

O pós-modernismo

Suas primeiras lucubrações acerca do tema apareceram em sua obra de 1979, “A Condição Pós-Moderna”. Esse texto foi feito originalmente para o Conselho de Universidades de Quebec, Canadá, e o uso da expressão Pós-Moderno, no titulo, foi deveras importante por situar cronologicamente o assunto e as suas idiossincrasias.

É certo que esse nome não foi inventado por LYOTARD e que já era de uso corriqueiro entre vários críticos de Artes desde a década de 1960, mas foi a sua obra a responsável pelo aumento em sua abrangência e pela sua disseminação geral.

Por isso, com relativa frequência, ainda se diz que o uso do mesmo pelo Filósofo representou o efetivo marco inicial do chamado Pensamento Pós-Modernista.

Mas qual é o real significado deste titulo?

É difícil precisar com exatidão, haja vista que seu uso foi tão amplo e variado, que o seu significado original se perdeu e, por isso, nesse Ensaio adotaremos apenas a definição que LYOTARD lhe deu: Pós-Moderno é a incredulidade ante as Metanarrativas.

Ou seja, é o ato e a disposição de duvidar e de recusar a afirmação de que todo conhecimento humano esteja contido em apenas um sistema de pensamento. Logo, ter uma atitude “pós-moderna” será duvidar das “verdades” proclamadas pelas religiões, pelas ideologias politicas e/ou filosóficas.

Essa incredulidade acarreta um novo Ceticismo, o qual, para LYOTARD, é o resultado de uma mudança no modo de como nos relacionamos com o Saber. Mudança nascida com o fim da 2ª Guerra Mundial e por exigência do inédito avanço tecnológico que experimentamos.

Segundo ele, os computadores, em sua faceta positiva, transformaram as nossas atitudes de tal modo que é quase proibido ter a “ingenuidade” de acreditar que um só sistema (ou uma Metanarrativa) possa dar conta de todos os aspectos do conhecimento, do saber e, por consequência, das questões Sociopolíticas.

As mentiras e os segredos que antes eram possíveis deixaram de ser. Microcâmaras e a WEB denunciam tiranos, pervertidos, torturadores, patifes, corruptos e o restante da escória, que antes se aproveitava do escuro ocasionado pela falta de acesso à informação.

De todos os indivíduos se exige uma nova postura e dos governantes, exige um comportamento mais decente e eficiente.

Exige, ao cabo, que todos exerçam a saudável descrença em fábulas de que um só sistema ou um só indivíduo sejam capazes de resolver todas as questões do mundo.

NOTA do AUTOR – um exemplo típico do atraso no pensamento politico que assola o Brasil e grande parte dos países subdesenvolvidos, pôde ser visto recentemente quando vários indivíduos ocuparam espaço nas “Redes Sociais” da Internet e “elegeram” o senhor ministro presidente do Supremo Tribunal como a “tábua de salvação nacional” ou como “o último dos dignos”. Ser pós-moderno exigiria que esses mesmos indivíduos tivessem a honradez de saberem que o futuro do país depende da atuação de cada um e não da messiânica intervenção de um sujeito, ou de um grupo.

Se antes, na “Modernidade” e até na “Contemporaneidade”, primaram os grandes esquemas filosóficos, sociais e políticos (o Existencialismo, o Fascismo, o Nazismo, o Marxismo etc.), na Era hodierna ­­­­­­reina (ou deveria reinar) a Pós Modernidade, que além do salutar ceticismo, devolve ao individuo o direito de crer no que lhe convém e não mais no que os grandes sistemas lhe ditam. O direito de saber, de conhecer, para, só então, escolher.

Porém, alerta LYOTARD que a profusão de conhecimento acessível não foi totalmente benéfica, haja vista que também trouxe alguns pontos negativos, dentre os quais se devem citar, pela importância, a banalização do próprio conhecimento e a sua consequente superficialização.

Como se fosse uma reles mercadoria, o Conhecimento atendeu à “Lei da Oferta e da Procura”; ou seja, quanto mais ofertado, menos valorizado. Tornou-se, salvo as honrosas exceções, um produto de livre acesso, mas de qualidade inferior.

Nas palavras do filósofo, o “Saber” se tornou “Informação”, a qual é enviada para os “Bancos de Dados” das grandes corporações, onde pode ser apagada, editada, modificada, vendida e comprada. Tem-se, pois, a mercantilização do conhecimento.

E tal mercancia acarreta várias implicações negativas. A primeira é que o Conhecimento se exterioriza; ou seja, deixa de ser algo que nos auxilia no desenvolvimento intelectual, já que inexistindo maiores dificuldades para obter os seus atuais simulacros, o cérebro se atrofia, a exemplo do que acontece com os músculos do homem sedentário.

Ademais, o conhecimento deixou de ser avaliado segundo a sua veracidade, solidez e profundidade, passando a ser medido apenas por sua utilidade menor para as aplicações do cotidiano. Configurou-se de certo modo o sonho dos filósofos estadunidenses que sempre se bateram pelo Utilitarismo e/ou Pragmatismo.

Perdeu-se a noção de grandeza verdadeira e tudo é feito para aplacar o insaciável apetite do “monstro do imediatismo”; do resultado a qualquer custo; do lucro a qualquer preço.

Quando deixamos de perguntar “isso é verdadeiro?” e passamos a indagar “como isso pode ser vendido?”, fazemos do conhecimento, da sabedoria um mero produto.

Além disso, LYOTARD também alerta para outro perigo no horizonte, ou seja, que esse malfadado processo mercantil, orquestrado pelas grandes corporações privadas, seja usado para controlar o próprio fluxo de conhecimentos, decidindo quem pode acessar o quê; qual o tipo de Saber que tal indivíduo terá acesso e até quando e quanto cada qual poderá conhecer.

É verdade que esse risco sempre existiu. Antes, com os famosos index de livros proibidos, de jornais censurados e de escritores proscritos, porém o que atualmente o torna mais agudo é a já comentada inércia intelectual que atinge cada vez mais pessoas.

Observa-se que além das censuras diretas na WEB, na televisão, no cinema, no teatro, na literatura etc. outra forma de cerceamento cresce continuamente. É a “Censura Indireta”, feita de modo sutil e subliminar e que induz os humildes de intelecto a agirem como lhes é ordenado pelos “atores e atrizes (sic) de novelas” e/ou pelos apresentadores (sic) dos famigerados “programas popularescos”. Creem as pobres almas que “estarão na moda” e que por isso serão bem aceitas pelo grupo social a que pertencem. E por isso, não hesitam em adotar discursos e práticas “politicamente corretas (sic)”, ainda que isso lhes cause desconforto por conflitar com seus valores mais genuínos e arraigados.

O otimismo e o pessimismo

Nesse ponto, não será difícil que o (a) leitor (a) censure um suposto excesso de otimismo com o novo poder das denúncias. Afinal, o Mundo ainda carrega o fardo de todas as suas antigas mazelas. Mas é inquestionável que o acesso ao conhecimento é muito mais fácil agora que há duas décadas e se ainda não se conseguiu eliminar todas as perversidades e injustiças, deve-se reconhecer que pelo menos já se consegue expor o perverso e o injusto à execração popular (talvez mais contundente que qualquer outro tribunal) e em certos casos, às penas da Lei. Lembremo-nos das dificuldades anteriores, inclusive físicas, que os desejosos de conhecimento enfrentavam, principalmente se esse conhecimento desnudasse algum patife das elites oligárquicas que sempre se serviram do povo e do País ao seu bel prazer.

Por outro lado, qualquer “pessimismo paranoico” advindo do temor de cretinização compulsiva ou de “lavagem cerebral” deve ser repelido com vigor, pois basta que tenhamos bom senso nos julgamentos e nas atitudes que nada poderá impedir-nos de utilizar as maravilhas tecnológicas que nos são apresentadas diariamente e que, certamente, auxiliarão aos métodos já existentes na dura e nobre tarefa de transmitir conhecimento, cultura e saber. Que saibamos utilizar o que hoje é farto e que graças aos nossos esforços poderá vir a ser “conhecimento verdadeiro”, capaz de nos elevar como pessoas. Que façamos bons usos da herança que recebemos através de papiros, pergaminhos, livros e computadores para aperfeiçoarmo-nos na arte de bem viver. Assim fazendo, certamente cumpriremos o destino que pensadores como LYOTARD nos traçaram.

© Registro na BNRJ/EDA sob nº 605.931 – Lv. 1.161 – Fls. 121.  Proibida qualquer forma de cópia.


Produção e divulgação de Tania Bitencourt, rien limitée, do Rio de Janeiro, no inverno de 2013.


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