LYOTARD,
Jean-François.
1924 – 1998
A Metanarrativa e o Pós-Modernismo
O Conhecimento é Produzido para ser Vendido.
Sumário
- A
tecnologia do Computador transformou o “Conhecimento” em “Informação” que
é,
- arquivada
em “Bancos de Dados”, pertencentes às grandes Corporações.
- Essa
informação é julgada por seu “valor comercial” e Não por sua verdadeira utilidade,
profundidade, correção, etc..
- Sendo
assim, tem-se que o “Conhecimento” é produzido para ser vendido, como se
fosse uma simples mercadoria qualquer.
Notas
biográficas e obras literárias
Jean-François
LYOTARD nasceu em 1924, na França. Graduou-se em Filosofia e
em Literatura pela Sorbonne, onde desfrutou da amizade de vários intelectuais
importantes, como, por exemplo, GILLES DELEUZE.
Após
a formatura, lecionou em várias escolas francesas e na década de 1950 filiou-se
à Esquerda radical e se tornou um célebre defensor da “Revolução Argelina” de
1954 a 1962.
Contudo,
desiludiu-se do Marxismo na marcha do tempo e na década de 1970 iniciou a sua
carreira como professor universitário de filosofia na própria Sorbonne e, depois, prosseguiu seu
trabalho em outros países, inclusive no Brasil.
Por
fim aposentou-se como “Professor Emérito” da universidade de Paris VIII e em 1998 morreu de Leucemia.
LYOTARD
não foi um autor prolifico, mas algumas de suas obras tornaram-se clássicas com
o correr do tempo. Abaixo, citamos algumas das mais conhecidas:
1.
Discurso, figura
– 1971
2.
Economia
Libidinal – 1974
3.
A Condição
Pós-Moderna – 1979
4.
O Diferendo –
1983
O ideário.
As Metanarrativas
Em
1953 o filósofo LUDWIG
WITTGENSTEIN lançou a sua obra mais
afamada, “Investigações Filosóficas”, onde trata do que
chamou de “Jogos da Linguagem”.
LYOTARD
serviu-se dessa ideia para desenvolver sua primeira tese filosófica abordando
as “Metanarrativas”, que podem ser definidas
como: histórias abrangentes, singulares ou individuais, que buscam
resumir a totalidade da história humana. Ou, em outros termos, as narrativas que buscam
incluir todo o conhecimento da humanidade em um único sistema como, por
exemplo, o Marxismo; que, como se
sabe, afirma que a história pode ser vista como “apenas” uma série de lutas entre as Classes Sociais.
Outro
exemplo de Metanarrativa é a ideia de que a “história do homem” é, ao
cabo, o “relato do progresso tecnológico e cientifico” que, conforme a crença
de alguns, haverá de proporcionar aos Seres
humanos uma sabedoria mais sólida e profunda, com o consequente aumento na Justiça
Social.
As
Metanarrativas
são otimistas em essência, mas também são utópicas e, portanto, irrealizáveis.
E justamente por esse motivo, é que LYOTARD desiludiu-se das mesmas e voltou
seus esforços analíticos para investigar o “Mercantilismo” que campeia na atual
seara do conhecimento.
O
pós-modernismo
Suas
primeiras lucubrações acerca do tema apareceram em sua obra de 1979, “A Condição Pós-Moderna”. Esse
texto foi feito originalmente para o “Conselho
de Universidades de Quebec”, Canadá,
e o uso da expressão “Pós-Moderno”, no titulo, foi deveras importante por
situar cronologicamente o assunto e as suas idiossincrasias.
É
certo que esse nome não foi inventado por LYOTARD e
que já era de uso corriqueiro entre vários críticos de Artes desde a década de
1960, mas foi a sua obra a responsável pelo aumento em sua abrangência e pela
sua disseminação geral.
Por
isso, com relativa frequência, ainda se diz que o uso do mesmo pelo Filósofo
representou o efetivo marco inicial do chamado Pensamento Pós-Modernista.
Mas
qual é o real significado deste titulo?
É
difícil precisar com exatidão, haja vista que seu uso foi tão amplo e variado,
que o seu significado original se perdeu e, por isso, nesse Ensaio adotaremos
apenas a definição que LYOTARD lhe deu: Pós-Moderno é a incredulidade ante as Metanarrativas.
Ou
seja, é o ato e a disposição de duvidar e de recusar a afirmação de que todo conhecimento
humano esteja contido em apenas um sistema de pensamento. Logo, ter uma atitude
“pós-moderna” será duvidar das “verdades” proclamadas pelas religiões, pelas
ideologias politicas e/ou filosóficas.
Essa
incredulidade acarreta um novo Ceticismo, o qual, para LYOTARD, é o resultado de uma mudança no modo de como nos
relacionamos com o “Saber”.
Mudança nascida com o fim da 2ª Guerra Mundial e por exigência do inédito
avanço tecnológico que experimentamos.
Segundo
ele, os computadores, em sua faceta positiva, transformaram as nossas atitudes
de tal modo que é quase proibido ter a “ingenuidade” de acreditar que um só sistema
(ou uma
Metanarrativa) possa dar conta
de todos os aspectos do conhecimento, do saber e, por consequência, das
questões Sociopolíticas.
As
mentiras e os segredos que antes eram possíveis deixaram de ser. Microcâmaras e
a WEB
denunciam tiranos, pervertidos, torturadores, patifes, corruptos e o restante
da escória, que antes se aproveitava do escuro ocasionado pela falta de acesso
à informação.
De
todos os indivíduos se exige uma nova postura e dos governantes, exige um
comportamento mais decente e eficiente.
Exige,
ao cabo, que todos exerçam a saudável descrença em fábulas de que um só sistema
ou um só indivíduo sejam capazes de resolver todas as questões do mundo.
NOTA do AUTOR – um
exemplo típico do atraso no pensamento politico que assola o Brasil e grande
parte dos países subdesenvolvidos, pôde ser visto recentemente quando vários
indivíduos ocuparam espaço nas “Redes Sociais” da Internet e “elegeram” o
senhor ministro presidente do Supremo Tribunal como a “tábua de salvação
nacional” ou como “o último dos dignos”. Ser pós-moderno exigiria que esses mesmos
indivíduos tivessem a honradez de saberem que o futuro do país depende da atuação
de cada um e não da messiânica intervenção de um sujeito, ou de um grupo.
Se
antes, na “Modernidade” e até na “Contemporaneidade”, primaram os
grandes esquemas filosóficos, sociais e políticos (o Existencialismo, o Fascismo,
o Nazismo, o Marxismo etc.), na Era hodierna reina
(ou deveria reinar) a Pós Modernidade, que além do salutar
ceticismo, devolve ao individuo o “direito de crer” no que lhe convém e não mais no que os
grandes sistemas lhe ditam. O direito
de saber, de conhecer, para, só então, escolher.
Porém,
alerta LYOTARD que a profusão de conhecimento acessível não foi
totalmente benéfica, haja vista que também trouxe alguns pontos negativos,
dentre os quais se devem citar, pela importância, a banalização do próprio conhecimento
e a sua consequente superficialização.
Como
se fosse uma reles mercadoria, o Conhecimento atendeu à “Lei da Oferta e da Procura”; ou seja, quanto mais ofertado,
menos valorizado. Tornou-se, salvo as honrosas exceções, um produto de livre
acesso, mas de qualidade inferior.
Nas
palavras do filósofo, o “Saber” se tornou “Informação”, a qual é enviada para os “Bancos
de Dados” das grandes corporações, onde pode ser apagada, editada, modificada,
vendida e comprada. Tem-se, pois, a mercantilização
do conhecimento.
E
tal mercancia acarreta várias implicações negativas. A primeira é que o “Conhecimento se exterioriza”;
ou seja, deixa de ser algo que nos auxilia no desenvolvimento intelectual, já
que inexistindo maiores dificuldades para obter os seus atuais simulacros, o
cérebro se atrofia, a exemplo do que acontece com os músculos do homem sedentário.
Ademais,
o conhecimento deixou de ser avaliado segundo a sua veracidade, solidez e profundidade, passando a ser medido apenas
por sua utilidade menor para as
aplicações do cotidiano. Configurou-se de certo modo o sonho dos filósofos
estadunidenses que sempre se bateram pelo Utilitarismo e/ou Pragmatismo.
Perdeu-se
a noção de “grandeza verdadeira” e tudo é feito para aplacar o
insaciável apetite do “monstro do imediatismo”; do resultado a qualquer
custo; do lucro a qualquer preço.
Quando
deixamos de perguntar “isso é verdadeiro?” e passamos a indagar “como
isso pode ser vendido?”, fazemos do “conhecimento, da sabedoria” um mero produto.
Além
disso, LYOTARD também alerta para outro perigo no horizonte, ou
seja, que esse malfadado processo mercantil, orquestrado pelas grandes corporações
privadas, seja usado para controlar o próprio fluxo de conhecimentos, decidindo
quem pode acessar o quê; qual o tipo de Saber que tal indivíduo terá acesso e até quando e quanto cada qual
poderá conhecer.
É
verdade que esse risco sempre existiu. Antes, com os famosos index de livros proibidos, de jornais
censurados e de escritores proscritos, porém o que atualmente o torna mais
agudo é a já comentada inércia intelectual que atinge cada vez mais pessoas.
Observa-se que além das censuras diretas na WEB, na televisão, no cinema,
no teatro, na literatura etc. outra forma de cerceamento cresce continuamente. É
a “Censura Indireta”, feita de modo sutil e subliminar e que induz os humildes
de intelecto a agirem como lhes é ordenado pelos “atores e atrizes (sic) de novelas” e/ou pelos apresentadores (sic) dos famigerados “programas popularescos”. Creem as
pobres almas que “estarão na moda” e que por isso serão bem aceitas pelo grupo
social a que pertencem. E por isso, não hesitam em adotar discursos e práticas
“politicamente corretas (sic)”, ainda que isso lhes
cause desconforto por conflitar com seus valores mais genuínos e arraigados.
O otimismo e o pessimismo
Nesse ponto, não será difícil que o (a)
leitor (a) censure um suposto excesso de otimismo com o novo poder das
denúncias. Afinal, o Mundo ainda carrega o fardo de todas as suas antigas
mazelas. Mas é inquestionável que o acesso ao conhecimento é muito mais fácil
agora que há duas décadas e se ainda não se conseguiu eliminar todas as perversidades
e injustiças, deve-se reconhecer que pelo menos já se consegue expor o perverso
e o injusto à execração popular (talvez mais contundente que qualquer outro tribunal) e em certos casos, às penas
da Lei. Lembremo-nos das dificuldades anteriores, inclusive físicas, que os
desejosos de conhecimento enfrentavam, principalmente se esse conhecimento desnudasse
algum patife das elites oligárquicas que sempre se serviram do povo e do País
ao seu bel prazer.
Por outro lado, qualquer “pessimismo paranoico”
advindo do temor de cretinização compulsiva ou de “lavagem cerebral” deve ser
repelido com vigor, pois basta que tenhamos bom senso nos julgamentos e nas
atitudes que nada poderá impedir-nos de utilizar as maravilhas tecnológicas que
nos são apresentadas diariamente e que, certamente, auxiliarão aos métodos já
existentes na dura e nobre tarefa de transmitir conhecimento, cultura e saber.
Que saibamos utilizar o que hoje é farto e que graças aos nossos esforços poderá
vir a ser “conhecimento verdadeiro”, capaz de nos elevar como pessoas. Que façamos
bons usos da herança que recebemos através de papiros, pergaminhos, livros e
computadores para aperfeiçoarmo-nos na arte de bem viver. Assim fazendo,
certamente cumpriremos o destino que pensadores como LYOTARD nos traçaram.
Produção e divulgação de Tania Bitencourt, rien limitée, do Rio de Janeiro, no inverno de 2013.
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