quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

O Ipê Vermelho


Os caminhos que já tínhamos andado parecem ter marcado encontro na esquina do Ipê. Árvore singular. Talvez pedantemente singular, já que não se contenta com a beleza das flores roxas ou amarelas que suas outras irmãs ostentam e se cobre de um manto vermelho para se distinguir de todas...

Há cerca de vinte metros, ainda próxima de sua sombra, encontra-se a Escada Rolante que leva à Estação Subterrânea do Metrô Santa Cruz; e foi ali, hesitando em lançar-se rumo ao “abismo desconhecido”, que a vi pela primeira vez.

Contornando seu sorriso imenso, o rosto moreno afirmava toda a sua beleza latina amalgamada com a herança que alguém trouxe do Báltico para a pobre América e deixou no azul de seus olhos.

Eu sei que nós já nos tínhamos visto, mas não sei o porquê foi só naquela hora que o fascínio absoluto me atingiu. Só então, o impacto de M. me paralisou. E quebrou, num átimo, a segurança de quem se imaginava imune ao “Canto da Sereia”.

Balbuciei um cumprimento tímido, confuso e quase infantil. E bebi um largo sorriso como resposta. E se nada mais se disse, devo reconhecer, foi por conta de uma inexplicável timidez que me chega, bem sei, às vésperas de cada nova paixão.

Tentei me justificar com a chegada do Metrô, do barulho dos passageiros, dos engates, dos autofalantes etc. Mas é tolice. Nada mais se disse, agora sei, porque a partir daquele momento a minha vida já tinha outra direção.

Mas hoje não será assim. Mostrarei o quanto posso ser agradável, culto e interessante. Não, não será como foi. Nada será como antes. Eu voltarei a ser feliz.

O Ipê já perdeu suas flores rubras, mas os olhos azuis de M. não perderam sua luz. Ainda me perco em murmúrios insossos, mas sinto que as palavras chegam para me socorrer e só lamento que as minhas mandingas fossem insuficientes para descarrilar o trem que se aproxima. É pena que nosso segundo encontro termine tão breve, pois logo ela embarcará.

O calor que fez em pleno Inverno foi substituído por um frio impensável nesse inicio de Primavera. De longe posso ver que o sorriso de M. me aguarda para o terceiro encontro. Embarcamos juntos na Escada Rolante rumo ao abismo que já não nos parece desconhecido. Hoje, pouco importa o horário e o itinerário do trem, pois irei acompanhá-la. Dentro do vagão, sinto o calor do seu corpo apoiado no meu e sinto a suavidade de sua pele ao segurar seus dedos entre os meus.

Eu sei que já se passaram três estações além da que seria o seu destino original. Eu nada digo e nem a escuto dizer qualquer coisa. O calor que produzimos aumenta a intensidade com que nos roçamos e a paixão que o balanço do trem acirra, acomoda os nossos encaixes de tal modo que certamente todos nos veem como apenas um, embora poucos entendam o porquê de rirmos quando a voz anasalada do condutor informa que logo chegaremos ao Paraíso.

A folha em branco ficará em branco. Eu sei que nada conseguirei escrever enquanto o calor de M. habitar meu corpo. De soslaio eu percebo que as pessoas nas mesas ao lado me olham com curiosidade e é certo que se perguntam o que faz aquele homem com um buquê de flores inexistentes, na mão que não segura o copo.

Como lhes explicar que existem flores vermelhas de Ipê?


Produção e divulgação de YARA MONTENEGRO, Assessoria de RP, desde Sabará MG, no Verão de 2014.

domingo, 19 de janeiro de 2014

A moça chinesa


De cor será a dor chinesa
da moça que olha triste
o dia desfolhado?
Em qual ideograma
estará escrita a lágrima
que desce a porcelana face?
De onde veio o Dragão
que lhe roubou 
o dourado de sonhar
e a arremessou 
meio Mundo depois?

                 Para Tay.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Dores


"A Dor" - Emile Friant

"Ninguém a conhecia, mas todos a reconheceram e na multidão correram as palavras:

- a mãe!

Todos lhe abriram largo caminho até ao caixão precioso para ela.

Ela avançou pela multidão assim aberta, a passos rápidos, com os braços estendidos pra a frente e, chegada ao caixão, abraçou-o e ficou imóvel...

E com ela tudo caiu e ficou hirto...".


Trecho extraído do Conto "Homens interessantes" do gênio da literatura moderna russa NIKOLAI LESKOV.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

JUNG, Carl Gustav - O inconsciente coletivo, os arquétipos - Psicanálise Contemporânea



CARL JUNG
1875 - 1961
O inconsciente coletivo e os arquétipos.

CARL GUSTAV JUNG nasceu no seio de uma família culta, em uma pequena vila na Suíça. Logo na primeira infância ele se aproximou da mãe cujos episódios de depressão eram recorrentes. Também os seus outros familiares eram considerados excêntricos.

Sua formação seguiu a tradição, mas graças às peculiaridades da família ele não sofreu pressões para seguir determinado rumo e por isso foi muito além da média de seus contemporâneos. Linguista talentoso, poliglota, dominava vários idiomas europeus e até algumas línguas antigas, como o sânscrito. Casou-se com EMMA RAUS CHENBACH, em 1903, que lhe deu cinco filhos.

Seu interesse por psiquiatria ocorreu após ter conhecido SIGMUND FREUD, em 1907, e encantado por suas teses não demorou em se tornar Psicanalista, sendo considerado por muitos o legitimo sucessor do mestre austríaco. Porém, a sua reverencia ao “Pai da Psicanálise” sofreu alguns abalos em decorrência de suas divergências com o pensamento freudiano tradicional e, por fim, a própria amizade foi rompida e ambos nunca mais se encontraram.

Em 1935 tornou-se professor na universidade de Zurique, mas a sua carreira acadêmica foi curta, pois logo ele a abandonou para se dedicar às suas experiências e estudos. Assim, logo após a Segunda Guerra Mundial viajou pela África, Américas e Índia realizando pesquisas com os nativos e participando de expedições antropológicas e arqueológicas.

As divergências com Freud

Freud introduziu a concepção de que não somos guiados por forças externas, como, por exemplo, “Deus”, “Destino” e similares. Para ele, na verdade, somos motivados e controlados pelos processos internos de nossa própria mente, especialmente pelas forças ocultas no inconsciente. Também afirmou que as nossas experiências são afetadas por “pulsões primais”, ou instintos primitivos, que habitam o subconsciente.

JUNG, a exemplo dos outros pupilos, aceitava com entusiasmo essa tese, mas levou-a adiante e passou a investigar profundamente o quê formava o inconsciente. Quais os elementos que o constituíam e como eram os seus mecanismos, as suas maneiras de agir. Ao contrário de FREUD ele passou a argumentar que o inconsciente era constituído pelas vivências da coletividade e que os distúrbios psicológicos não derivavam da sexualidade, como afirmava o mestre.

Os símbolos e os arquétipos

O fato de os mitos e os símbolos serem surpreendentemente similares em todas as culturas do Mundo, ao longo do tempo, fascinava JUNG. E isso a despeito das enormes diferenças climáticas, geológicas e culturais entre os povos. E não tardou para que a sua inteligência superior concluísse que os mesmos eram o resultado dos “conhecimentos e das experiências” que os humanos compartilham enquanto espécie. E que a “memória” dessas experiências e conhecimentos é preservada geração após geração sob a forma de arquétipos que residem no “Inconsciente coletivo” que cada indivíduo traz em si e que atuam como modelos de comportamento.

Cada qual, ao nascer adéqua as suas tendências naturais ao arquétipo recebido e essa junção é que define como será o seu comportamento, o seu modo de ser e o seu estilo de vida, bem como, o entendimento ou a sua forma de compreender o Mundo.

A existência desses mitos e o seu compartilhamento era a confirmação de que uma parte da psique, ou alma humana contém ideias preservadas em uma estrutura imaterial e atemporal que age como se fosse uma espécie de “Memória Coletiva”, ou de “Inconsciente Coletivo” que talvez seja repassada geneticamente.

A partir dessa dedução, JUNG propôs a sua tese de que uma parte do “Inconsciente Coletivo” existe na mente de cada indivíduo como se ele herdasse um “cesto de saberes” que foram adquiridos por outros e não através de suas experimentações ou vivências pessoais. Uma parte que apresenta apenas leves diferenças oriundas das idiossincrasias de cada povo.

NOTA do AUTOR – arquétipo, termo oriundo do grego “archétypon”, modelo de seres criados, ou padrão exemplar, ou modelo, ou protótipo.

As memórias ancestrais

Para JUNG os arquétipos são como “camadas” da memória herdada e formam a totalidade da vivência da espécie humana. Em latim, o termo “archetypum” é traduzido como “primeiro modelo” e isto, para JUNG significava que os arquétipos são as memórias dos antepassados mais remotos que atuando como moldes ou fôrmas no interior da mente de cada homem, são usados inconscientemente para se organizar e compreender as próprias atitudes.

Podemos preencher as lacunas existentes na “Memória Coletiva” com os detalhes da vida pessoal, mas segundo JUNG é importante ter-se sempre a ciência de que as nossas memórias e vivências só podem ser racionalmente entendidas graças aos modelos e parâmetros sobre as quais repousam, ou seja, sobre a “Memória primeira, ou ancestral”.

Nada do que conseguimos pensar, sentir e/ou executar foge desses parâmetros, ressalvando-se as diferenças pontuais e superficiais oriundas da época e do lugar em que cada homem vive. Veja-se que para as sensações mais básicas o padrão se mantém inalterado como se pode observar com o fato de que a raiva que um Neandertal sentia em nada difere da sentida pelo homem atual. Graças a essa similaridade é que se torna possível reconhecer esse conjunto de sentimentos e ideias como algo dotado de sentido, ou de significado.

Assim, para JUNG, aquilo que nós julgamos ser um “instinto puro”, na verdade é apenas o uso inconsciente que fazemos dos arquétipos.

NOTA do AUTOR – segundo o dicionário Aurélio, o instinto é inerente ao homem e aos outros animais e atua de modo alheio à consciência, mas com finalidades precisas, como, por exemplo, o “instinto sexual”. Já no caso dos arquétipos o seu uso não é dirigido para uma função especifica. Servimo-nos deles para elaborar respostas às mais diversas situações da vida.  

JUNG concordava com a divisão da mente em três partes, feita por FREUD. Porém, deu-lhes nomes e funções diferentes, a saber:

  1. Ego - como em FREUD, o consciente, ou o “Self”.
  2. Inconsciente pessoal – o “depósito” que guarda as memórias e as vivências do indivíduo, inclusive aquelas que foram reprimidas ou recalcadas e que conforme a teoria freudiana causam os distúrbios mentais e/ou emocionais.
  3. Inconsciente coletivo – a parte que abriga os arquétipos, ou a Memória coletiva ou ancestral.
Os arquétipos

Como já se disse, os arquétipos representam situações vivenciadas por todos os homens e embora possam ter variações de uma cultura para outra, são essencialmente iguais em todo o Mundo. Dessa sorte, cada homem possui em seu intimo o modelo de cada um dos arquétipos. Não é raro, aliás, que eles sejam representados artisticamente em pinturas, esculturas etc. haja vista que protagonizam a maioria das lendas.

A forma de ser de um arquétipo, ou seja, a sua natureza, é geralmente tão difundida que nós os reconhecemos instantaneamente. Podemos, até mesmo, atribuir-lhes um significado emocional, o que pode levar a que lhes sejam atreladas certas atitudes e padrões de comportamento e de emoções.

Embora todos sejam facilmente reconhecíveis, alguns são mais populares como, por exemplo, o “velho sábio”, a “deusa”, a “madona”, a “grande mãe” e o “herói”. Além destes, JUNG considerava especialmente importante o arquétipo “a persona”, pois, tomando a si mesmo como objeto de estudo, ele percebeu que desde a mais tenra infância, tinha a tendência de mostrar apenas uma parte de sua personalidade, assim como a quase totalidade dos Seres humanos, já que é característico do homem dividir as suas personalidades em partes estanques que mostram apenas as facetas que são julgadas mais apropriadas às situações. O “Self”, ou o Ego racional que apresentamos ao Mundo, a nossa “imagem pública”, por exemplo, é o arquétipo “persona”, o qual se divide em partes “masculinas” e “femininas” e é moldado pela biologia e pela sociedade para assumir seus aspectos de gênero.

De acordo com essa perspectiva, quando a modelagem biológica não segue o curso majoritário acontecem os casos de homossexualidade, pois o corpo físico não corresponde ao aspecto preponderante que o Self assumiu. Em relação à modelagem social tem-se como certo que ela não tem qualquer influência nessa questão. Assim, quando nos definimos como homem ou como mulher, desprezamos a metade de nosso potencial, embora possamos acessá-lo através de determinado arquétipo.

Animus e Anima

O Animus é o componente masculino da personalidade feminina, enquanto o Anima é o oposto. São as metades que nós abandonamos, ou que nos é suprimida quando definimos o nosso gênero. São dois arquétipos que nos ajudam a compreender a maneira de ser do sexo oposto e por possuírem tudo que já foi realizado por homens e mulheres, refletem as ideias tradicionais masculinas e femininas.

O “Animus” é representado na cultural ocidental como o protótipo masculino, ou seja, o indivíduo musculoso, o enérgico comandante militar, movido apenas pela fria lógica, embora seja um sedutor romântico. O arquétipo “Anima” aparece como uma ninfa, uma virgem, uma mulher sedutora. Não é raro ser representada artisticamente em quadro e na literatura como Helena de Tróia, Eva ou em mulheres contemporâneas como Marilyn Monroe, cuja especialidade seria seduzir, enfeitiçar e sugar os homens como se fosse uma versão atual das ex-mitológicas sereias.

O Sombra

Outro arquétipo que temos em nosso Inconsciente representa a parte da nossa personalidade que queremos ocultar. Chamado de “Sombra” é oposto da Persona ou Ego. Simboliza os nossos pensamentos e as nossas emoções mais secretas e reprimidas por serem considerados indecorosos ou inadequados de nosso caráter. Na teologia cristã é geralmente associado com o Diabo, enquanto que na literatura leiga é comumente associado ao célebre Mr. HYDE do Dr. JEKYLL, do famoso livro “O médico e o monstro” de ROBERT LOUIS STEVENSON (1886). Esse arquétipo seria o nosso lado mau, que projetamos sobre os outros. Contudo, segundo JUNG, não se deve ver-lhe como inteiramente negativo, haja vista que ele também pode representar aspectos negativos de nossa personalidade que são nocivos apenas em determinadas situações e por isso são reprimidos apenas quando elas acontecem.

O Trapaceiro

JUNG identificou também este outro arquétipo a quem chamou de “Trapaceiro” porque a sua função básica é impedir que o Ego racional do indivíduo torne-se hegemônico. É uma figura brincalhona, mas que expõe com seriedade o quão vulnerável é o indivíduo que está sonhando com ele. É um lembrete constante sobre o risco de se levar tudo muito a sério e de se valorizar excessivamente os desejos É um arquétipo que também pode manifestar-se como o deus nórdico LOKI, ou o deus grego PAN, ou ANANSI, a grande aranha divina africana, ou, ainda, um simples mágico ou palhaço.


Os arquétipos e os sonhos

JUNG acreditava que os sonhos formam uma espécie de ponte entre o Inconsciente e o Self, ou ego consciente, e que os arquétipos tem importância fundamental para a decifração dos mesmos, já que eles atuam como símbolos dentro dos sonhos, facilitando a conversa. Acreditava, ainda, que cada arquétipo tem um significado especifico no contexto do que foi sonhado. O “Velho (a)” sábio (a), por exemplo, pode ser representado no sonho pela figura de um líder espiritual, um pai, um mestre, um médico etc. indicando aquelas pessoas que oferecem conselho, orientação e sabedoria. Ou, então, a “Grande Mãe” que pode aparecer como a própria mãe, a avó de quem sonha, significando a criadora que oferta cuidados e reconhecimento. Outro exemplo pode ser a “Criança Divina” representante do “Verdadeiro Self” em sua forma mais pura, que simboliza inocência e vulnerabilidade e aparece nos sonhos como um bebê, podendo ser associado à natureza intuitiva e espontânea. E como existem em nosso inconsciente, podem afetar nosso estado de humor, as nossas reações e até manifestar-se em forma de profecia, no caso da feminina Anima; ou em discursos frios e racionais no caso do Animus.

Usando os arquétipos

Segundo JUNG os arquétipos estão presentes na mente humana antes mesmo dos primeiros pensamentos conscientes e, por isso, exercem um poderoso impacto sobre a percepção que temos de nossas vivências.

Seja qual for a nossa opinião consciente sobre o que está acontecendo, quem realmente escolhe o que iremos perceber e vivenciar são aquelas ideias preestabelecidas que habitam o nosso Inconsciente. O nosso lado “racional” apenas obedece às suas linhas gerais e só dentro das mesmas é que dispõe de alguma autoridade.

Dessa forma, na verdade, é o Inconsciente coletivo que controla o estado consciente do indivíduo e muito do que consideramos ser um pensamento consciente ou uma deliberação autêntica, não passa de uma orientação dada pelo subconsciente, sobretudo através dos arquétipos organizadores.

O verdadeiro Self

Como se viu, JUNG identificou uma série de figuras, ou arquétipos, que representam as partes que forma a nossa Psique. E dentre todos, ele colocou como o arquétipo principal aquele que chamou de “O verdadeiro Self, ou Ego”, haja vista a posição central e destacada que ele possui por ser o organizador que busca harmonizar todos os outros aspectos e com isso formar um indivíduo íntegro, inteiro, completo.

Essa posição de destaque associa-se diretamente com o objetivo verdadeiro da vida que é a autorrealizaçao do individuo. A partir de seu pleno autoconhecimento o indivíduo livra-se das questões menores que anteriormente causavam-lhe angústia, sofrimento, desejos impossíveis, frustrações etc. e passa a vivenciar uma liberdade que antes desconhecia. De certo modo, atinge uma espécie de nirvana e consegue compreender a amplitude da vida, quando dela são expurgados os sentimentos medíocres.

Será sempre um caminho árduo até que se atinja esse patamar, mas a recompensa é altamente vantajosa, pois nas palavras do próprio JUNG:

“(apenas) entendendo o Inconsciente é que nos libertamos de seu domínio”.

Para JUNG quando o verdadeiro Self ou Ego é inteiramente compreendido, esse arquétipo torna-se fonte de sabedoria e de verdade, capaz até de conectar o indivíduo, ou o seu Ego racional e consciente com a sua dimensão mais ampla, ou espiritual, para alguns.

Personalidade introvertida e extrovertida. A associação de palavras.

Além dos estudos que realizou com os arquétipos e o Inconsciente coletivo, JUNG foi o pioneiro nas investigações acerca da prática “associação de palavras” e na introdução das noções sobre os tipos de personalidades existentes, a “introvertida” e a “extrovertida”. Esta divisão foi fundamental para o surgimento dos célebres “testes de personalidades” que ainda são utilizados, como, por exemplo, a “classificação tipológica de MEYERS-BRIGGS (MBTI)”.

Epílogo

Em razão de todas as valiosas contribuições que ofertou ao saber humano, CARL GUSTAV JUNG tornou-se uma celebridade no campo da Psicanálise, da Antropologia e até no da Espiritualidade, graças às suas investigações sobre tradicionais oráculos, como o Tarô e o I Ching.

Os “seus” arquétipos popularizaram-se de tal modo que podem ser facilmente reconhecidos em filmes, em livros e noutras várias manifestações culturais que retratam os tipos humanos universais.

São Paulo, 01 de agosto de 2013.


Produção e divulgação de YARA MONTENEGRO, assessoria de RP, da Cidade Maravilhosa de São Sebastião do Rio de Janeiro, no Verão de 2014.


segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Taoismo e Confucionismo - Filosofia Oriental



O inicio da Filosofia ocorreu quando na Grécia antiga alguns pensadores deixaram de se satisfazer com as explicações místicas e religiosas sobre o universo e a vida e passaram a buscar respostas através de reflexões racionais e lógicas. E da Grécia o novo modelo de pensar e investigar espalhou-se por todo o Ocidente ampliando cada vez mais o leque de questões levantadas e de assuntos abordados.

No Oriente não foi diferente, exceto pelo fato de que lá o processo iniciou-se com cerca de um século de antecedência e pela ênfase que se deu às questões sociais e políticas em detrimento das outras variáveis, principalmente após a revolução política na China de 771 – 481 AEC.

Pensadores de toda a Ásia, a partir de certo momento começaram a rejeitar o antigo conhecimento, baseado no misticismo e na religião, e desenvolveram várias “Correntes filosóficas” onde o raciocínio era a única base aceita como confiável. Mais preocupados em descobrir a melhor forma de convivência social que em saber a origem e a natureza do Universo e da própria vida, os sábios investigavam o processo que forma uma “vida virtuosa” enquanto espalhavam por toda a região conselhos e diretrizes morais que visavam produzir uma sociedade mais justa e indivíduos melhores e mais felizes.

Esforço hercúleo foi necessário para desincumbirem tal proposta, pois as dificuldades que enfrentaram não foram poucas, desde as mais terríveis condições climáticas, geográficas e políticas até a superstição religiosa que por milênios semeou a ignorância. Porém, seus esforços vingaram e da semente que plantaram floresceu o “Budismo” e as chamadas “Cem Escolas de Pensamento”, dentre as quais se tornaram célebres o “Confucionismo” e o “Taoismo”. Essas três tendências ainda gozam de enorme prestigio em todo o Oriente e também de muita admiração no Ocidente.

O Budismo avançou para todo o Planeta tanto por seu aspecto religioso, quanto filosófico e não é raro encontrar-se adeptos nos locais mais remotos. O Taoísmo predomina na Filosofia chinesa, enquanto o Confucionismo domina praticamente todo o continente.

Na sequência abordaremos o Taoísmo e o Confucionismo, declinando de tecer comentários sobre o Budismo, que pela sua importância global mereceu um ensaio separado. Aos interessados na Filosofia de SIDARTA, recomendo a obra “Filosofia Sem Mistérios – Dicionário Sintético”, Ed. Seven Books, de nossa autoria.

Cronologia aproximada
1.    
Taoísmo – século VI AEC
2.    Confucionismo – Confúcio c. 551 – 479 AEC
3.    Budismo – Sidarta Gautama 563 – 483 AEC

Taoísmo

O "Tao" que pode ser descrito não é o "Tao" eterno.

Entre c. de 1600 – 1046 AEC, período da dinastia CHANG, acreditava-se que o destino seria controlado pelos deuses e que os antepassados deveriam ser cultuados. Entre c. 1045 – 256 AEC, período da dinastia CHOU, o “mandato do Céu”, símile ao famigerado “Direito Divino” ocidental sinalizavam a inexistência de qualquer pensamento racional, com a consequente hegemonia das crenças místicas e religiosas.

Apenas em meados do século V AEC, através de Confúcio, é que foram criadas as primeiras concepções racionais sobre o desenvolvimento pessoal e para o comportamento ético de governos e súditos. Mas não só Confúcio trabalhava nessas ideias, pois um contemporâneo seu também já labutava com essas considerações. Chamado no Ocidente de LAO-TSÉ esse ilustre erudito teria sido o autor do célebre Tao te Ching em cujas páginas estão os apontamentos filosóficos que visam proporcionar o perfeito equilíbrio entre os polos que formam o universo e a vida.

Muito pouco se sabe sobre esse sábio e alguns até o consideram apenas um mito, ou, então, que ele não teria sido o autor do "Tao", mas apenas um compilador dos saberes exarados por outros ao longo da história. De efetivo, sabe-se que havia um estudioso nascido no estado de “Chu”, chamado de LI ER, ou LAO TAN que durante a dinastia Chou passou a ser chamado de LAO-TSÉ, ou “antigo mestre”. Também se sabe, a crer-se em variados textos, que o mesmo era um arquivista da Corte e que Confúcio o consultara em algumas ocasiões acerca de rituais e cerimônias.

Além desses fatos, resta apenas a lenda que diz que LAO TSÉ deixou a Corte quando a dinastia Chou entrou em decadência e seguiu para o oeste em busca de solidão. Na viagem, quando estava prestes a cruzar a fronteira, um guarda o reconheceu e lhe pediu que comprovasse a sua afamada sabedoria e ele, então, teria escrito o "Tao te Ching” em resposta, antes de prosseguir para o seu destino, de onde nunca mais voltou.

Assim, entre lenda e realidade, nasceu o Taoísmo, cuja gênese coincidiu cronologicamente com o aparecimento da Filosofia grega, com a qual compartilhava a busca pelas respostas às dúvidas existenciais da humanidade. Porém, como já foi dito, a Filosofia chinesa preocupava-se mais com os aspectos sociais e políticos que com as questões abstratas do tipo “o que é a verdade?”, o “que é a beleza?” etc. A procura pela harmonia dentro do grupo social e deste com os outros agrupamentos era a sua pedra de toque. De maneira inédita a nova corrente de pensamento propunha uma teoria de governo justo, baseado no “Te”, ou virtude, a ser encontrada seguindo o caminho do bem, ou o "Tao".

Ciclos de mudança

Para melhor se entender o que vem a ser o "Tao", será preciso saber como os antigos chineses enxergavam a constante mutação do universo. Nessa antiga concepção há um perene movimento pendular que pode ser visto, por exemplo, nas alternâncias da noite e do dia, do inverno e do verão etc. Faces diferentes que se revezam continuamente, mas que não são opostas. São versões que surgem uma das outras. Estados que além de relacionados, também possuem a capacidade de se complementarem formando, então, o “Todo”.

A esse processo de mutações continuas (o Devir grego?) deu-se o nome de "Tao", ou “Caminho”, em cujo seio estão as “dez mil manifestações (ou coisas, Seres, objetos)” que formam o universo.

Segundo LAO TSE em sua obra "Tao Te Ching”, os Seres humanos são apenas uma dessas milhares de “manifestações” e justamente por isso nada existe que os diferencie das outras. Os homens são apenas uma parte do conjunto e para levarem uma “Vida virtuosa” basta que não perturbem a harmonia do conjunto. Que pensem e ajam de acordo com o ritmo do "Tao" e que usem o seu livre-arbítrio com sensatez e reprimam a vontade pretensiosa que os leva a pensar que podem desviar-se do "Tao" e com isso atrapalhar o equilíbrio universal.

Ao contrário do que vulgarmente se supõe a “Virtude” não consiste em apenas escolher a opção central de uma situação que oferece alternativas. Quando se fala em “caminho do meio”, não se está referindo apenas a uma escolha acomodada e covarde. O “caminho do meio” refere-se ao equilíbrio, à harmonia com o restante do Todo.

Porém, viver conforme o "Tao" não é uma tarefa simples, como o próprio LAO TSE reconhecia. É preciso renunciar as características que são próprias da espécie humana e por isso se torna imperiosa uma constante atenção para que se evitem as armadilhas do caminho.

A complexidade do "Tao"

Queixam-se os eruditos da dificuldade de se refletir sobre o Taoísmo. Para alguns, aliás, filosofar sobre o "Tao" é inútil, haja vista que ele está além da capacidade humana de compreender, por isso o caracterizam como o “Wu”, ou “não ser”.

Isto, aliás, levou o próprio LAO TSE a afirmar que para se viver em conformidade com o "Tao" é necessário exercitar o “Wu Wei”, ou a “não ação”, que consiste em viver de acordo com as leis da natureza da forma mais intuitiva possível, agindo sem desejos gananciosos, sem ambições desproporcionais, sem submissão exagerada às convenções sociais e ao julgamento dos outros. Agir, em suma, com a humildade de que se sabe uma mera parte de um “Todo” incognoscível.
16 de agosto de 2013


Confucionismo

“Mantenha a fidelidade e a sinceridade como princípios básicos”

Notas biográficas de Confúcio

Segundo a tradição, KONG QIU nasceu em 551 AEC em Qufu, província de Lu, na China. São escassos os dados biográficos do mesmo, mas é consenso que ele veio ao mundo no seio de uma família abastada, porém a morte do pai levou a família para a miséria e isso o obrigou a trabalhar como criado. Contudo, ele conseguiu estudar e com isso pôde empregar-se na Administração Central na Corte da dinastia Chou.

Todavia, a sua carreira na burocracia não foi plenamente exitosa e por ter as suas sugestões sistematicamente rejeitadas ele se desligou do governo e passou a trabalhar como professor itinerante, ocasião em que viajou por todo império chinês e recebeu o título simbólico de “Kong Fuzi”, ou “grande mestre”. No fim da vida voltou à sua Qufu natal e ali morreu pacificamente em 479 AEC.

Seus ensinamentos sobreviveram em fragmentos e através das prédicas transmitidas oralmente a discípulos que, posteriormente, compilaram-nos em antologias e analectos*.

Dinastia Chou e as Cem Escolas de Pensamento

No período compreendido entre 770 a 220 AEC, a China viveu uma era de esplendor cultural. As filosofias surgidas nessa ocasião passaram à história com o nome de “Cem Escolas de Pensamento” tal a diversidade dos saberes acumulados, mas em meados do século VI AEC a dinastia Chou entrou em declínio deixando o período batizado de “Primavera e Outono” e o país avançou para o chamado “Período dos Reinos Combatentes”. Foi nessa época de transição e de instabilidade que nasceu KONG FUZI (aportuguesado para Confúcio) e essas circunstâncias sociopolíticas exerceram influência decisiva em sua ideologia.

Semelhante aos pré-socráticos gregos, Confúcio buscou incessantemente o que haveria de fixo, imutável, em um universo em constante mutação. Contudo, diferentemente de seus pares da Grécia (Heráclito, Pitágoras, Tales etc.) que buscavam a estabilidade nas coisas, nas forças e nas leis da física e da metafísica, ele dirigiu a sua atenção para a moral, para a vida em sociedade e para os valores que capacitassem os governos a agirem com justiça.

Analectos*

Mas o que levou Confúcio a focalizar seu trabalho filosófico nas questões sociopolíticas e não em questões existenciais?

Essa pergunta é respondida quando se observa a sua natural tendência ao conservadorismo e o seu apego aos rituais, mais o fato de ter chegado às altas esferas do serviço público, pois ter servido a dinastia Chou contribuiu para mantê-lo fiel a esse caminho, já que além dos benefícios funcionais, a posição lhe deu a oportunidade de conhecer os saberes contidos nas bibliotecas imperiais e também pelo fato da dinastia manter os antigos rituais porque isto seria conveniente aos “governantes escolhidos diretamente pelos deuses”.

E como a sua generosidade era tão grande quanto a sua inteligência, ele nunca reteve o conhecimento adquirido. Ao contrário, ofereceu prodigamente os seus saberes através dos célebres analectos, um conjunto de anotações que pode ser visto como um tratado sociopolítico, composto por aforismos e anedotas que juntos formam uma espécie de manual de regras para o bom governante e para o bom convívio social, além de conter um grandioso discurso sobre a ética.

A vida virtuosa

Até que surgisse o pensamento filosófico nas “Cem Escolas de Pensamentos”, o universo e a vida eram explicados apenas pelos mitos e lendas. Consoante a essa obscuridade, o poder e a autoridade eram aceitos resignadamente como se fossem imposições inelutáveis por serem de origem divina.

Em toda a sua trajetória, Confúcio não se opôs a existência dos deuses, mas introduziu o conceito de “Tian”, ou Céu, como a fonte da ordem moral. Com isso, de certo modo, ele despersonalizou a concessão de leis e regras que, então, deixavam de ser emanadas por indivíduos (ainda que divinos) para serem ditadas por uma “Força Maior”, por uma “Dimensão mais elevada”. Em termos ocidentais, grosso modo, seria como mudar a concepção de “deuses” para “energia divina”.

Para ele, os humanos são escolhidos pelo “Céu (o espírito absoluto de Hegel?)” para materializar a sua vontade e, desse modo, unificar o universo com o ordenamento moral. Com isso, ele rompeu com o antigo pensamento chinês, já que a “Virtude” deixava de ser um “presente dos deuses” para a classe governante, para ser um atributo de todas as pessoas, independentemente de sua condição social.

Tomando a sua própria ascensão ao cargo de Ministro como exemplo de que a “Virtude” e seus benefícios poderiam ser alcançados por qualquer indivíduo, ele escorava a sua argumentação e reforçava a conclamação à classe média e aos governantes para que todos os esforços fossem feitos para se construir uma sociedade justa e harmoniosa. Que todos se empenhassem em agir com “Ren” ou benevolência para que o reino e cada súdito tivesse o maior progresso possível.

Porém, Confúcio teve que agir com cautela para conciliar a sua ideia de que todos os homens são iguais e recebem as benções do “mandato divino”, com os hábitos arraigados de uma sociedade estruturada em rígida hierarquia social. Por isso ele afirmava que o “Homem Virtuoso” não é apenas aquele que está no topo da pirâmide socioeconômica e/ou política, mas todos aqueles que sabem se adequar ao lugar que ocupam dentro da hierarquia e agem em conformidade com o “De”, ou seja, os valores tradicionais, como o “Zhong”, a fidelidade; o “Xiao”, a piedade filial; o “Li”, os rituais apropriados e o “Shu”, a reciprocidade.

Segundo ele, ao agirem desse modo, os homens tornavam-se naturalmente “Junzi”, ou cavalheiro, estudioso, gentil e bom caráter.

A decadência dos Chou

Em meio à desintegração que avançava velozmente pela Corte em razão do não cumprimento dos valores do “De”, os alertas que Confúcio dava não eram ouvidos e foi em vão que ele tentou persuadir os governantes a retornarem às boas práticas para um governo justo e próspero, argumentando que se o governo desse bons exemplos, o povo seria mais obediente, deixando de sê-lo apenas por temor. Mas dentro da própria população, seus apelos não eram ouvidos e imperava a discórdia familiar e social.
Obviamente que esse conjunto de liberalidades e desordenamentos levou ao caos absoluto e o governo e a sociedade entraram em profunda convulsão que resultou em desagregação do reino e miséria geral.

A fidelidade

Em seus ensinamentos, Confúcio destacava entre as virtudes a “Zhong”, ou fidelidade, como a mais importante. Um verdadeiro princípio-guia. Na sequência ele expunha a escala de importância das diversas formas de fidelidade, conforme a sua convicção acerca da pessoa conhecer o seu lugar na sociedade, a saber:

  1. A fidelidade política
  2. A fidelidade à família
  3. A fidelidade ao clã
  4. A fidelidade aos amigos
  5. E a fidelidade aos estranhos. 
A importância dos rituais

Como já se disse, Confúcio era naturalmente conservador e a insistência para que o “Li” fosse realizado corretamente é outra comprovação dessa característica. Por “Li” não se deve entender apenas as solenidades cívicas e religiosas, mas também as normas e as regras que comandam o cotidiano das pessoas, tais como as cerimônias de casamentos, os funerais e até as regras de etiqueta para receber convidados, oferecer presentes, gestos de saudação, de cortesia etc.

Segundo sua ótica, quando realizados com sinceridade, esses ritos externam sinais de um “De” intimo que forma um verdadeiro “caminho para o céu”. Por isso, aquele que conseguisse vivenciar intima e sinceramente as virtudes demonstradas ou representadas pelos rituais tornar-se-ia um homem superior, capaz de mudar o Mundo.

A sinceridade – “Só sei que nada sei

Confúcio acreditava que a sociedade poderia ser mudada através dos exemplos. Em suas palavras:

“A sinceridade torna-se visível e sendo visível, torna-se manifesta. Sendo manifesta, torna-se brilhante e afetando os outros, eles são modificados por ela. Modificados por ela, eles são transformados. Apenas aquele que é possuído pela mais completa sinceridade existente sob o céu pode transformar”.

Nesse ponto ele abandona parte de seu conservadorismo e argumenta que o processo de transformação pode funcionar em duas direções. Primeiro reconhecendo* a própria ignorância e em segundo observando as outras pessoas, absorvendo as suas virtudes e servindo como um farol para os Seres inferiores.

NOTA do AUTOR – essa afirmativa* de Confúcio, reconhecendo a própria ignorância, reverberou um século depois na Grécia, quando SÓCRATES declarou que: “só sei que nada sei”, passando à história como o criador desse conceito.

Reflexo

A noção de Zhong, ou fidelidade, enquanto consideração ao outro, também está associada ao último dos valores que Confúcio pregava: o “Shu”, ou reciprocidade, ou “reflexo de si” que deve governar nossas ações em relação aos outros. Em termos ocidentais, seria como a fonte donde se originou a “regra de ouro” que diz: “faça aos outros, como desejaria que fizessem para ti”.

Porém, ao surgir esse conceito foi usado com o sentido invertido, ou seja, “não faça ao outro o que não deseja para si”. Embora pareça uma diferença insignificante, na verdade é uma questão relevante, haja vista que se tem um claro sinal de que Confúcio não prescrevia o que deveria ser feito, mas apenas aquilo que seria proibido. Apenas aquilo que deveria ser evitado, enfatizando a abstenção em vez da ação, pois com o “não agir” exercita-se a modéstia e a humildade, valores apreciadíssimos na cultura chinesa e que para Confúcio eram a verdadeira amostra de como somos, ou deveríamos ser.

E promover essa forma de empatia, segundo o mestre, é uma maneira de exercer a fidelidade consigo mesmo, além de demonstrar outro tipo de sinceridade.

Confucionismo posterior

Confúcio não teve êxito em convencer os governantes a agirem de acordo com os seus ensinamentos e por isso abandonou seu posto no governo, dedicando-se a ensinar o povo durante as longas viagens que fazia por toda a China.

Esse modo de vida itinerante deu-lhe vários discípulos, dentre os quais se destacou MENG ZI, ou MÊNCIO, que liderou os demais na tarefa de compilação e divulgação dos ensinamentos do mestre.

Os textos foram preservados com muito sacrifício durante a feroz repressão ocorrida na dinastia Quin, mas inspiraram a retomada da doutrina na dinastia Han, no inicio da nossa era. Desde então as ideias de Confúcio espalharam-se na sociedade chinesa, desde a administração política até a filosofia erudita e a popular, passando pelos costumes e tradições.

Enquanto viveu, Confúcio assistiu ao nascimento do Taoísmo e do Budismo que substituíram as antigas crenças míticas e místicas, mas sobre essas tendências ele nada comentou e nem estabeleceu qualquer contato com seus dirigentes ou adeptos, embora tenha exercido influência sobre ambas.

No século IX uma corrente neo-confucionista revitalizou a tradição e sua marcha crescente alcançou o auge no século XII quando a sua área de influência atingiu todo o sudeste asiático e mais precisamente a Coréia e o Japão. E a sua importância continuou crescendo apesar do fim da China imperial e do advento do comunismo maoista.

Hodiernamente os ensinamentos confucionistas continuam a embasar as normas e convenções morais e sociais. Recentemente o governo reviu a sua posição e resgatou a Filosofia confucionista promovendo entusiasticamente o antigo sistema original, em associação com as ideias atuais num processo hibrido que foi batizado de “Novo Confucionismo”.

No Ocidente o Confucionismo nunca obteve grande repercussão, apesar de alguns missionários católicos terem levado-o para a Europa e terem latinizado o nome Kong Fuzi para Confúcio. O máximo de simpatia que alcançou ocorreu quando novas traduções de seus textos apareceram no final do século XVII, porém, ainda assim, a simpatia que lhe foi dedicada não foi suficiente para torná-lo tão querido quanto Buda ou LAO TSÉ.


São Paulo, 23 de agosto de 2013.


NOTA do AUTOR - Analectos é um termo grego que pode ser traduzido como “escritos reunidos”.

Produção e divulgação de YARA MONTENEGRO, assessoria de RP. do Rio de Janeiro no Verão de 2014.