quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Personagens


De longe chegam
o homem, o Canto e o cavalo.
Por Guimarães foram paridos
e vagam pelo Mundo
como se tal lhes fosse permitido.
E vagam pelo Mundo
como o vento na serrania
e a saudade
que de longe só espia
o amor que vicia.
O homem sobre o cavalo
entoa um Canto bruto,
de bruta melancolia.
Versos, talvez,
da Neanderthal poesia,
ou da Botocuda sinfonia
de que nos fala
a intocada Maria.
Pouco adiante, mas antes do além-mar
há que se venerar
o velho Beato.
Santo sujo e feio
desse terra sem arreio.
E seguindo a maromba,
cruza-se a Canastra
até o córrego da Madrasta.
Ai, Rosa doutor, encerrou um sub-título
e cada um dormiu em seu capítulo
à espera que do chão
viesse o grito.
Do altar, o santo rito
e que do Bom Menino
respingasse algum perdão,
mas sem o dano da submissão.

domingo, 27 de janeiro de 2013

Santa Maria - Rio Grande do Sul

Duzentos e trinta e um sonhos foram
sufocados.

Qual Fênix poderá
renascer dessas 
cinzas?


Descansem em paz.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

O Cavalinho


Com a grosseria que se lhe podia adivinhar, abriu a boca desdentada e entre lufadas de mau-hálito falou e riu a um só tempo:

- Nega, vendi o cavalinho. Vou beber o bichinho em pinga ah....ah....ah...

No outro lado da rua, num cercado de arame farpado, um égua castanha, doente e maltratada, não conseguia entender o porquê de levarem uma das poucas coisas que a vida lhe deu.

As outras eram o cansaço, a fome, a sede, as chicotadas. Mas essas, ela nem procurava entender. Eram coisas do homem...




Foto pertencente à ONG http://www.chicotenuncamais.org/, valoroso grupo de homens e mulheres do Rio Grande do Sul que cuidam dos animais maltratados e abandonados pelos canalhas que os exploraram por toda a vida. Visite o Site do grupo e se você puder faça a doação necessária.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Gulag


O verde grafite que falseia o cinza muro
não impede a desolação da calçada
em que caminha a minha alma.
Estão nuas de Outono
as famélicas árvores
que beiram o rio.
A insistência do silêncio
indica a partida dos Melros.
Foram em busca do Sul. Em busca do Sol.
Talvez em busca dos seios libertos
de Isadora Duncan.

Pudesse, eu os seguiria.
Mas estou preso no Gulag que a vida construiu.
É minha sina. Tenho que suportar a tortura.
Suportar a falsa jura,
a ganância da usura,
a promíscua mistura,
o insano incêndio na leitura
e, principalmente, o fim da ternura.

Estou preso e condenado pelo crime de sonhar.
Pela ousadia de acreditar
que a vida é mais
do que nos quiseram contar.

Mas, agora...

Logo, a mulher que me rouba o pátio
abrirá a cela que acomodará
a minha insônia.
Pudesse, eu lhe pediria
que o outro escuro
também trouxesse.


quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Abandono

Ontem morreu a última das acácias.
Seguiu o destino dos outros abandonados.
Antes, foram alguns poemas,
algumas figuras, algumas cores.
Algum contentamento.

Na casa, nada mais ecoa.
Nenhum riso quebra o silêncio.
Tampouco algum choro,
pois estes secaram
como os rios que
os homens aterraram.

Os amores se foram.
Alguns lentamente.
Outros, com a urgência
de quem quer esquecer.
Deles, alguma lembrança ficou,
mas todos os rostos vão se fundindo
em apenas uma face distante.

As crianças se foram.
Estão longe. Mudaram de Mundo.
Cresceram. Esqueceram.

Foram-se as ilusões,
as vaidades, as esperanças,
os medos, as desilusões.
Tudo passou.

Resta o mofo,
resta o abandono,
resta a espera.
A última espera.





terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Falta teu corpo


Falta o teu corpo
em minha mão vazia.
Falta tua alma
em minha poesia.

Acaricio apenas a
tua ausência.
A tua impermanência.
Ardo em desejos vãos
na incompletude das metades
e das meias-verdades.

Abaixo das cobertas
cessaram as descobertas,
pois tu seguistes as vias incertas
das lágrimas desertas.

Que fim levou
aquele amor que era pródigo
em rosas ao amanhecer?

domingo, 20 de janeiro de 2013

Capela


Há uma fé tão pura
na face ingênua
do caboclo curtido,
que algum Deus
deveria ouvi-lo.

O que pedem
as suas mãos calejadas?
Um filho que retorne,
uma filha que fique,
uma saudade que passe
ou uma fome que não chegue?

Mas os círios do altar modesto
pouco iluminam a sua escuridão,
tampouco afastam os fantasmas
escondidos em cada desvão.

E eu queria tanto,
que na Capela caiada 
São Francisco lhe concedesse
a Graça desejada...


            Para uma mãe cuja filha não ficou... Que siga em paz.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Delírios


Uma fera mitológica
salta da roda do tempo
e abocanha, feroz,
os teus desejos.
É urgente a
fome por corpos
que brilha em seus olhos
e tu, cordeiro de Atenas,
é entregue ao Monstro de Delos.
Está consumada
a morte da inocência
e calcinados estão
os campos de alfazema
que perfumavam
o lirismo do Mundo
e se perderam
entre os tubarões
que habitam os Cassinos
em Las Vegas de A. Carlos.
Sim, lá abundam
o ouro, as moças que se dão
e que tem seios enormes,
o leite e o mel,
pois assim disse Antonio C.,
o pequeno bacharel
e títere sem cordel.
As cegas inexatas de Vinicius
são meninas que já sonharam
e agora vagam na escuridão
de Hiroshima de São João.
Eis-te homem! Est omni!
dono da Bomba e Senhor da Morte
a cumprir o Apocalipse de Patmos.
Os sinos de Quasímodo
não mais celebram
Esmeralda gitana,
pois a Negra Peste
assolou o Mundo de meu Deus.
Tarântulas Tarantinas
explodem sangue em TVGames
e os delírios da Ayuascha só
contam os pesadelos.
Vasto mundo de drumondiana vastidão,
abre-te Césamo em covas poucas
para os anchos lavradores cabralinos
que são escravos castrinos.
Leve-me branco que me acolhe
ao refúgio do Poema
e lá abrigue essa minha fernandiana
alma pequena.
Solenes cerimônias de diplomas,
pelerines e fardão acolham as Poesias.
São sobreviventes fantasias.
Rio dos Janeiros, dê-me a essência
que perco aos poucos
e me devolva a sensatez dos loucos.
Leve-me, azul que escreve,
por esse mar de incertezas,
por essa via de rudezas
e concede-me a Graça
de ter o Canto ouvido.
E a ilusão de ter existido.
Arcanjo dos delírios
sinto-te chegando entre o lodo
que escorre das sujas paredes.
É o Dói Codi, é o Cenimar
e o Conde de Assumar.
O escuro do capuz fede
e me impede de ver o Inferno
em que vivem os capachos
dessa noite sem fim.
Há fúria na noite
que penetra
teu corpo branco.
E ainda assim
eu te peço
que morra em paz.

                    Para Bete.


Digitado pela Taísinha, em voo.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Nada dizer


Agora já não se deve falar,
pois o tempo passou.
Talvez, se dito naquela hora
o amor se salvasse
e essa solidão não chegasse.
Talvez, se dito naquela hora
todo motivo fosse viável
e toda volta fosse provável.
Talvez, se dito então
fosse possível algum perdão
e tolo, qualquer inútil senão.
Mas agora as favas
estão contadas
e as águas são passadas.
Já nada se deve dizer,
pois todo labor
seria inútil no solo estéril.
E apenas mágoas
seriam semeadas e colhidas.
Esqueçamos dessa triste messe
e esperemos que só vicejem
as lembranças do tempo
em que tudo se dizia.
Do tempo, em que a gente
amanhecia.


Taísinha desde Campo Grande, no centro do Brasil

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Sou


Sou das Minas como Carlos,
brasileiro como Clarice, Ana, João...
E o Canto que canto
é essa mistura da vida:
esse riso, esse acalanto.
Essa dor. Esse desencanto.
E o verso que ouço
é essa mistura que vida faz:
os tantos encontros
tirante os desencontros;
os sonhos, os corpos,
as camas, os desejos
e, principalmente,
essa Lua
que lá de cima
assiste os nossos dramas.
Sou das Minas como Andrade.
E do Mundo como Fernando, Violeta, Sancho...
E sou poeta
como todos os homens são,
ainda que digam não.



Digitação e montagem - Taís Albuquerque, do Centro do Brasil.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

É Preciso


É preciso que eu fuja
dessa cidade sem alma.
Desse amontoado
de prédios vazios
e ruas vagas.
É preciso que eu fuja
do fantasma no armário,
da ladainha do falso rosário
e desse viver ordinário.
É preciso que eu escape
desse cárcere no peito
e ultrapasse a fronteira
do sonho desfeito.
É preciso que eu ande
a longa distância,
e que retorne à montanha
da pátria infância.
É preciso que eu resgate
a coragem,
a imagem
e a esperança na mensagem.
E é preciso, sobretudo,
que eu volte a crer
que sempre cabe na vida
uma outra fantasia
e mais um pedaço de poesia.


Digitado pela Taisinha no Centro do Brasil.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Sotão - Ne Me Quitte Pas - Jacques Brel


Em quais sotãos
ficaram esquecidas
as inúteis palavras
de consolo?
Em quais gavetas
foram deixadas
as páginas que a vida
tinha escrito?
Que fim levaram
as mãos que
acariciavam as nossas faces?
O pálido meio-arco
da Lua que míngua
nada responde.
O silêncio é conspiração.



sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Prêmio da Associação de Poetas de Região Autónoma de Madeira - Portugal



A

Associação de Poetas de Região Autónoma de Madeira - Portugal e a Editora Mágico de Oz, em comemoração ao ano do Brasil -Portugal com apoio institucional da secretaria de cultura de S.G do Amarantes, estará realizando no dia 30 de março, sábado, à partir das 14 horas ,no Salão de eventos do Hotel Golden Tulip Regente na Av.Atlântica , em Copacabana –RJ (http:// www.goldentulipregente.com/) mais uma edição do Prêmio Luso- brasileiro Melhores Poetas de 2013¨Edição Brasil ¨

Esse encontro tem como objetivo homenagear e divulgar, Galardoar e reconhecer profissionalmente por sua atuação com ética e competência no exercício de sua atividade artística e destacada participação com êxito e sucesso em atividades literárias em 2012 com a entrega do Diploma de Honra ao Mérito ¨Melhores Poetas Luso-brasileiros” ... 

Esse ano pela primeira vez nesse prémio os textos selecionados serão transformados em uma coletânea e farão parte do acervo das principais bibliotecas e escolas públicas de Portugal... 

Isso posto, após a seleção de sua obra por indicação de entidades parceiras e competentes, temos a satisfação de convidar V.Sª para receber esta homenagem tão especial com o Diploma de Honra ao Mérito, nesse evento dedicado aos profissionais de sucesso numa tarde de requinte e orgulho para todos, os Poemas selecionados serão lidos no evento em forma de vídeo poema...


Profundamente emocionado e agradecido, convido os (as) amigos (as) a compartilharem de minha imensa satisfação pelo reconhecimento que muito me honra e pela oportunidade de novamente poder bem representar o nosso País. Estejam certos (as) que esse prêmio só aconteceu graças ao apoio e incentivo de todos vocês. Muito obrigado.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Casablanca

A música branca
do homem negro
ecoa cinza
em Marrocos imóvel.

Os olhos de Ingrid
atravessam a densidade
do tempo cúmplice.

Miram o amor
que não pôde existir,
pois o tempo é partir.

- Outra vez, Sam,
repetem os amores proibidos.

E repetem todos os amores proibidos...

domingo, 6 de janeiro de 2013

Ir


Caminhe
sob o Sol do novo tempo,
ao som de todas as promessas
e ao encontro de todas as
esperanças.


Siga,
pois muito há que se ver
e tanto mais a se conhecer.
São claros os sinais
que o vaticínio nos traz.


Ande,
não tarda
a nova florada
e presto virão
os novos banquetes.

Nada temas, pois levas consigo
o carinho dos que te amam
e o alivio para os que te necessitam.

Espalhe a tua luz e o teu saber.
Construa novos homens melhores
e semeie a semente
do amor presente.

E
quando a Lua Crescente
iluminar teu descanso,
durma em paz.

Um carinho
sempre atravessa o tempo e o espaço
para cuidar dos teus sonhos.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

A Utopia


- Que utopia
tu cantas ainda, poeta?
- A mesma de sempre, amigo
que pergunta.

A velha esperança
de que a maré devolva
as flores que lhe depositamos
e que haja em todo barco
que retorna
o sustento honesto
de quem soube pescar esperança.
Ainda canto, amigo, a crença renovada
em cada rosa oferta
e em cada lágrima evitada.
O mesmo cantar sobre o amarelo
das tardes e dos sonhos
de Maiakóvski.
E sobre o verde de Lorca
que se quer verde.
Ainda sobre a mesma estrela,
sobre o amor de sempre
e, sobretudo, para a Musa
que não muda.
Ainda canto o mesmo canto, amigo.
E escrevo meus versos
enquanto vejo que
o Mundo passa pela janela.
É a utopia que me basta.

     
                 Para a Musa.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Alaúde


Em qual mutante jardim
ainda haverá de se perder
a inocência da flor imaculada?
Que baio cavalo
trará o novo Armagedom
das Maias tabulações?
Quando, o tempo de "ranger os dentes"
e sofrer as terríveis tribulações?
Quem haverá de conduzir
as pagãs procissões
dos deserdados da morte?
Quem consolará os expulsos da Terra
e quem abrigará os proscritos
dos miltonianos Paraísos Perdidos?
Quem haverá, oh deuses?
As bruxas de Salém?
Os Profetas do Antigo Testamento?
O amansador da Fúria dos Elementos?
Ou apenas o verso caído
do poeta pouco ouvido?

Que esperança tu cantarás
Menestrel do Alaúde?
Que russos girassóis renascerão
nos caminhos do Mundo?
Como tu afastará Creonte barqueiro
e a lança de Longino lanceiro?
Que lirica lira
Orfeu vibrará
para que Odara fique o Canto?
Donde tu trarás os novos Caetanos
que haverão de afastar os Haitis
que ainda nos ameaçam?
E de quais estrelas virão
MaysaElis Fascinação?
Quando, Menestrel do Alaúde,
tu nos libertará
desse ataúde?