sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Lirica

Que a lirica
dos versos
e verbos
do louco Poeta Errante
celebre os ritos
do amor constante

e

que o Canto de Orfeu
vença o Hades sombrio
e restaure a esperança
que esteve
por um fio

e por fim, que tudo
mais aconteça
para que poetas e loucos
façam ouvidos moucos
à fealdade do Mundo;
e que tais só descrevam
o lirismo de Cristina,
como só a poesia
ensina.

          

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Ir

Por que tu
não pára, homem?
Por que não deixas
o Mundo
em sossego?
O que esperas
encontrar nesse
outro lugar?
O amor que
nunca teve?
A paz que
sempre te fugiu?
São quimeras,
homem.
A vida haverá
de se repetir
e teus horrores
voltarão.
De novo cobrar-te-ão
a felicidade
que não tens.
O vigor que
te deixou
e o dinheiro
que acabou.
Cobrar-te-ão,
homem,
o que já não és!

Talvez,
voz do Conselho,
talvez...
Entretanto, irei;
morde-me ainda
o gosto e a vontade
de ser feliz.
Ainda respiro
o incerto prazer
da andança.
E ainda sonho
com a felicidade
dos ingênuos.
Aqui, algumas camas,
oferecem-se-me,
mas já não quero
o vazio de antes,
de durante e de depois.
Eu só quero,
voz da Razão,
tentar novamente
e quem sabe,
virar gente?
Eu só quero,
voz do sizo,
libertar meu riso
e pensar que
cheguei n'algum
Paraíso.
Irei, sim,
voz da Prudência,
pois só eu sei
de minha urgência.
Só eu sei
dessa mágoa
que me domina;
e só eu sei
da esperança
que chamo de
Crihstina.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Eros Amante

Percorro tuas curvas
e aspiro teu perfume.
Mordo tuas uvas
e ouço teu falso
queixume.

O calor do desejo
aquece minha mão;
e nela sinto
tua feminilidade
ávida pelo encontro
que nos faz um.

Tu me acolhe
em teu abrigo
de todo perigo;
e juntos rumamos
para o Nirvana
espalhado em
nossa cama.

Eros nos possui
até que a saciedade
nos cubra
na jovem
Aurora rubra.

Fizemo-nos amantes.
E a vida se refaz
nesses instantes.
Outros amores faremos,
pois amantes,
sempre seremos.

Bem-Querer

Grita-me o Carcará
que a seca
no peito
chegou sorrateira
e já devora
o amor
que em verde
desabrochou
na Primavera
que recém terminou.

Alma ressecada,
ressecada Terra,
aqui jaz
o afeto
que se encerra.

Bateu asa o Curió,
Bateu asa a Sabiá.
Bateu asa
o bem-querer
e o sonho
de reviver.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

A Angústia

Se digo frases secas
e versos ocos,
é para minha angústia
não encontrar
caminhos fáceis
para me deixar.

É a última companhia
que tenho.
E mesmo assim sinto
que pretende abandonar-me.
Por isso a cerco com versos loucos,
esperando que sejam arames seguros.

Murmuro monossílabos,
pois temo que palavras
bonitas sejam carruagens
que me roubem o que restou.
Aflição do eu sozinho.

Além de remorsos, *Carlos,
a história é saudade...


* Da poética de Carlos Drumonnd de Andrade.

Lua Minguante

A Lua minguante,
minha doce Poeta,
sempre nos remete
para o que
nada promete.

Assiste-se no Céu
a redução dos Sonhos.
E pesadelos medonhos
geram "Dia-Monstro" cruel.

A Deusa Rotina
impõe sua disciplina.
E só uma cinza cretina
preenche a retina.

Na Lua Minguante,
tudo é passante.
E a cada instante
a Vida escorre
para a vazante.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Fantasma

A sombra
que me habita,
escorre na
lágrima aflita.

Drama que acontece
tão logo
a noite desce.

Sinto a angústia
de Graciliano.
Sei-te dano,
sei-me engano.

Uma alma geme
a impossibilidade.
É minha última verdade.

* Graciliano Ramos, Angústia

sábado, 24 de setembro de 2011

Caminhar

Caminhante,
cantou o Poeta*,
caminha
teu caminho.

Bruto chão
aberto
em procissão
do Eu sozinho,
apesar da vela,
da reza
e do Canto em Latim
para
Eros Serafim.

Caminhante
**Judeu Errante,
segue o bicho
humano
em busca
doutro plano.
Talvez mais suave.
Talvez menos grave.

Que a água do batismo
lave teu pecado
e que,
purificado de todo mal,
destrave-se a tua sinceridade,
pois se tu sonhas
com o Paraíso
é necessário
que escrevas nesse diário,
no qual se nota
que a Solidão
é o choro
antes
da comporta.

* da poética de Antonio Machado, Sevilha, Espanha.
** do folclore europeu.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Desejos

Busco teu corpo
com a avidez
das urgências.
Quero-te toda,
quero-te minha,
paixão e desejo
em tudo que vejo.

Aguarda-te nossa cama.
Longas carícias
desenho em tua pele
e percorro tuas coxas
com a fome
que tudo come.

Eis-me dentro de ti,
no balanço de dois
igual a um.
Idas e vindas
no amor que se faz.
Vindas e idas
na saudade
que
aqui jaz.

    

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Versos Iguais

Ainda que
fossem iguais,
jamais os Poemas
seriam banais,
pois eis que
celebram o Amor
que em Cristina
viceja.

E porque é
preciso cantar
(ave Vinicius*),
cantam os
Versos Iguais
o mesmo orvalho
que molha a Terra
e desperta o Mundo
de minha Princesa,
meu motivo e certeza.

Cantam as dores
das ausências,
as insônias
das saudades
e sobretudo,
a paixão que perdura
nesse amor
que findou minha procura.

                     
* Vinicius de Moraes, poeta maior.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Brincar

Um, dois, três
repete a menina
que pula corda,
sem saber que
salta o Mundo.

Por instantes
voa como colibri
inocente,
tal qual a canção
entre os dentes.

Também queria
pular o Mundo
para ver Cristina.
Mas tal arte
não se domina
quando já se perdeu
a inocência
do colibri menina.

Mundo, Mundo
de tantas léguas
a caminhar,
cure minhas pernas,
cure meu andar
e me leve à
doce amada,
pois junto dela
aprenderei a voar.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Quase Adeus

Uma nuvem,
traz certo cinza
ao que há dois ou três dias era tão translucido. Era tão claro, era tão certo, era tão bom.


À minha frente vejo nosso retrato e não posso deixar de me perguntar aonde foi parar a plena confiança na felicidade que juntos vivemos. Por que, meras duas horas terminaram o sonho que parecia eterno e o encantamento que sentíamos definitivo?

Como lama viscosa, sinto que me invade pesada angústia. Junto dela, a busca inútil e aflita pela pedra que trincou esse cristal. Fantasmas que antes pareciam conjurados voltam à cena. Impiedosos, mostram que em tudo que ainda tentamos, o brilho é menor. Que a mágica da madrugada começa a ser deflorada pela tirana luz do dia/realidade. Que o encantado instante do amor sem reservas, já se submete ao julgamento da Razão e que a passionalidade começa a ser vencida pela burocracia do questionamento. Que, novamente, sinto escapar o amor que sempre busquei. Que caminho, de novo, para a solidão da cama feita e do sonho desfeito. Que...

Quem dera, eu pudesse acordar desse pesadelo. Ouvir, de novo, “amor” e não esse frio e distante “Fabio”. Quem dera, eu pudesse escutar novamente o riso seguro da minha Estrela e nele saber que ainda há espaço para minha poesia. Que ela ainda está ao meu lado, embora tanto chão nos separe. Quem me dera...


Quem me dará a força que preciso para conservar a certeza de que novas águas haverão de mover outros moinhos, enquanto fertilizam novas tulipas nas margens em que viajamos? Quem me dará força para crer que esse sonho mal haverá de terminar ao fim de cada perdão concedido? E que dele saiamos inteiros e com a ingênua crença que nos permitiu um dia, o direito sonhar?

São Paulo, 20/09/2011

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Passarinho

Fala-me um passarinho verde
do tesouro que achei.
Verde, que te quero Verde*,
seja sempre
a esperança
de tua fala;
e que sempre
me traga
a cura da
nova mágoa.

Sei-me excessivo.
Passional,
sentimental
etc. e tal.
Coisa de poeta aprendiz.
Daqueles, que sempre me quis.

E sei-te Estrela,
sei-te amada.
Daquelas, que
sempre procurei
e só entre bytes
encontrei.

Talvez critiquem
minha entrega.
E até tentem
corromper o que sinto
com laicas blasfêmias
de quem se vendeu
ao Sistema.

Mas em vão tentam,
verde passarinho.
Está em Cristina
o meu caminho.

* da poética de F.G. Lorca.

domingo, 18 de setembro de 2011

Porto

A trágica
tristeza
da Partida.
Sinto o gosto
da liberdade
indesejada.
Sinto o gosto
de Nada.

Vazio que
me rodeia,
qual Porto
fantasma
em Oceano
nenhum.

Onde ficou
o corpo que amei,
o erro que errei
e a certeza que
um dia pensei?

Dias que tomei
nos Domingos
que foram nossos.
Noite que bebi
nos amores
que foram nossos.

E agora só resta
tanto Espaço
a nos separar,
sem o Tempo
que me fazia acreditar
na Eterna permanência
do que vivemos
em Essência.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Mudar

Sem destino,
uma Crença vagueia
sem se importar
que outrém
lhe creia.

Nela, algum Deus incerto
sopra a bonança
que há na mudança.
Sabe-se, então,
o que importa:
o riso
atrás da porta.

O cheiro de Pitanga
indica um inesperado
quintal;
e a nova casa brilha
na crença esperança
que só a amada alcança.

Tão bom vê-la crer
na vida que nos espera,
tão logo o Sol
cumpra a Primavera.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Todo

Talvez algum
"Diazepan"
apresse a manhã
e eu escape
dos demônios
que povoam
minha insônia.

Por que segui reto?
Por que fiquei quieto?
Tolo vão obstinado.
Herói desusado.

Agora eu sei
que no breu da noite,
nem todos os
caminhos se cruzam.

A vida foi curta
para os meus desejos
e sempre faltaram
os ensejos.

A Mantiqueira
viu-me nascer,
mas a pretendida
Passágarda perdeu-se
em incertos passos
e dela só restou,
Mestre Bandeira,
esse pouco de
poeira.

Herdeiros de Montezuma,
choramos o ouro perdido
e o sonho proibido.
Disforme "Abapuru",
em colorido brasileiro.
triste herdeiro...

A Lua com conhaque
do Poeta mineiro
revelará algumas
amantes.
E contará das
histéricas Bacantes
que copulam
na cama de antes.

Qual gaivota
anunciará
a chegada da
"terra e orgasmo
à vista"?

Tudo, o Câncer me
corrói.
Mas ainda penso
em ti;
e na utopia que
vivi.

Referências às poéticas de Carlos Drumonnd de Andrade e Manuel Bandeira.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Morada

Na outra ponta
de minha saudade,
mora Cristina.

Entreato
de meus atos,
no teatro
que já não
se repete.

Recomeço
de eterno
começo,
no novo Sol
que amanheço;
e no Amor,
que contigo
anoiteço.

Na outra ponta
de minha saudade,
mora a minha
melhor metade.

     

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Mais-Valia

Vejo a máquina
de parir gente,
fazer o Homem
ausente.

Em qual
engrenagem ele
sucumbiu à moagem?
Quem lhe tirou
a essência,
deixando apenas
a subserviência?

Caminha em fila.
Dança, doença,
miséria e auto-ajuda
"facebook-compartilha".
E segue ordeiro
para o sacrificio
derradeiro,
sem ter vivido
por inteiro.

Apague-se o Candieiro
e se sopre o braseiro.
Partiu o Homem ausente,
cuja falta, pouco se sente.

Dele ficou, talvez,
alguma cria;
e a certeza doutra
vida vazia:
Servo ou Amo,
da Mais-Valia.

           Para Thyago, filho amado.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Corcéis

Trotam os cavalos
de Apolo
seguidos pelo
Carro do Sol.

É a madrugada
da Aurora
que chega,
trazendo teu
perfume de jasmim.

Trotam os cavalos
de Apolo,
pois é tempo
de Febe
adormecer o
Mundo.

Sonhe poesias,
Musa do meu Parnaso.

Em qualquer
brisa chegarei
e só para ti
levarei
o Desejo que me arde
e a Ternura
que me invade.

Sonhe, doce Cristina.
Desviarei
os açoites da vida,
para que nada
mude o curso
do Rio que te
aquece,
enquanto outra
Estrela floresce.

Sonhe, minha amada,
pois em ti
repousa,
o inverso
do meu Nada.

domingo, 11 de setembro de 2011

Minas

Meia-noite nas Minas;
tempo de desejos
arfantes,
na lirica dos poetas
amantes.

Meia-noite
da noiva fantasma,
que percorre
caminhos e medos
na antiga
Inconfidência.

Que outro cinzel
esculpirá minha amada?
Qual montanha a seduz
e em qual Oratório
seu brilho reluz?

Saudade das Minas.
Saudade de Cristina.
Espaço e Forma
de um Tempo que retorna.

             

sábado, 10 de setembro de 2011

Temor

Temo a liberdade
do abandono.
Temo a tua partida,
temo a minha ida;
temo o fim
da vida.

Por que uma
esquina se fez
nessa quadra
do amor prometido?

Por que o tempo
já é ido?
Por que tudo
já foi vivido?

Por que o
carinho
foi banido?

Hora da mala.
De novo, a mala.
Talvez uma lágrima
e a porta da sala.

              

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Azuis

Vento que leva
o azul do Céu,
deixe-me o amor
de Cristina,
pois nela está
a Promessa
de uma vida
que recomeça.

Nela estão os azuis
que virão.
Todos os azuis
desse tempo
pós Agosto.
Todos os azuis
de Mestre *Bandeira
em sua poesia primeira.

Deixe-me, azul do vento,
o riso de Cristina,
a Musa amante
que me escreve
o verso delirante.

Mas leve, azul do vento,
o paradoxo
de todo argumento,
pois a vida é breve
momento
a deslizar no
Rio sentimento.

            
* Da poética de Manuel Bandeira.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Brilho

Porque todas as
estrelas brilham
em teus olhos,
qualquer escuridão
será efêmera.

Passarão os miasmas,
passarão meus fantasmas,
passarão as distâncias,
passarão as inconstâncias,
passarão as maldades,
passarão as saudades...

e tudo passará,
pois em ti está
o pleno vigir
da Noite a luzir.

     

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Idas e Vindas

Idas e Vindas
como onda
da preamar.

Tanto mar,
mestre *Chico,
nesse bem-querer
que me beija
a boca
e a alma...

Tanta ida,
tanta vinda.
Mas nunca
é cedo ainda...


*Da poética de Chico Buarque de Hollanda.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Orgasmo

Eu queria poder
sair das antigas
camas.
Eu queria poder
estar nas novas
camas.
Ser apenas Presente,
sem Passado nenhum.

Sombras me visitam
e sinto que o prazer
se fecha.
Pérola que se perdeu
naquele Mar
sem fim.

Onde encontrarei
o gozo
que perdi,
nas carícias
que insisto?

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Cerejeiras

As cerejeiras
floriram depois
de Maio.

Chegados estão
os maduros amores e
as maduras cerejas.
Brisas benfazejas
dispensam inúteis
proezas,
pois é tempo
de pura leveza.
Tempo de vontade
atrevida,
da saudade mais
doída
e da espera mais
sentida.
Tempo, de novo
brinde à vida.

As cerejeiras
só floriram
depois de Maio...