terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Japão X Estados Unidos - Ensaio sobre as razões de Estados e a 2ª Guerra Mundial

A crise bancaria de 1927 e a Grande Depressão de 1929, que atingiram o Japão em cheio, contribuíram para desacreditar o regime parlamentarista no Japão e para criar a idéia de que os problemas econômicos do país só seriam resolvidos através de um programa expansionista baseado em conquistas militares.
A necessidade de uma política agressiva se fazia premente devido ao crescimento exponencial da população o que obrigava a importação maciça de alimentos. E, também, devido à relutância de vários países ocidentais em receber a imigração nipônica por motivos de discriminação racial. Essa situação econômica e social se agravou com a penetração de teorias políticas radicais entre a jovem oficialidade do exército.
A mais importante dessas doutrinas – Restauração SHOWA – preconizava um Socialismo Estatal dirigido por uma ditadura militar (análogo ao modelo atual da China?). Baseava-se no texto de KITA IKKI (1882 – 1937) conhecido como “Fascista Japonês”. Rezava tal doutrina que a Constituição MEIJI deveria ser revogada em favor de um Regime Revolucionário, orientado por “patriotas nacionais” e chefiado por militares que nacionalizariam a propriedade privada, dissolveriam os Partidos e limitariam a riqueza. Isto tudo, antes de assumirem a liderança de “Revolução Asiática”.
Em 18/09/1931 aconteceu o chamado “Incidente da Manchúria” que deflagrou o processo de agressão na Ásia Oriental. Segundo o Japão, sem qualquer comprovação, soldados chineses haviam tentado sabotar a Ferrovia do Sul da Manchúria, ao norte da cidade de MUKDEN. Usando esse pretexto falacioso, o EK (nome dado às Forças Japonesas que ocupavam IWATUNG, península de LIAOTUNG) atacou e tomou as cidades de MUKDEN E CHANGCHUN, colocando diante do fato consumado o Gabinete de Tóquio quando este se reuniu um dia após o incidente.
Enquanto as tropas japonesas ampliavam a área de operações, os diplomatas japoneses na LN (Liga das Nações), em Londres, em Genebra, em Washington e em outras capitais, declaravam que as medidas militares eram temporárias e logo terminariam.
Em 30/09/1931 o Japão aceitou a resolução da LN para retirar as tropas para a zona da ferrovia, desocupando, pois, as cidades invadidas. Porém, registraram-se novos avanços, contrariando as afirmativas da diplomacia japonesa. No Japão, quem se opusesse às conquistas militares em curso era considerado um traidor da pátria e a posição da LN, refletindo a desaprovação mundial, teve como efeito colateral o acirramento do sentimento xenofóbico e nacionalista japonês.
Em Dezembro de 1931, subiu ao Poder um Gabinete chefiado por INUKAI TSUYOSHI (1855 – 1932) com 75 anos à época. Trazia em seu currículo a oposição que no Passado fizera às oligarquias dos Clãs e a desaprovação ao monopólio do Poder Político pelas Forças Armadas. INUKAI, secretamente, procurou negociar com os chineses, mas foi descoberto e elementos nacionalistas extremados, das Forças Armadas, frustraram seus planos conciliatórios.
Nessa ocasião, P’U YI (1906 – 1967), “O Último Imperador”, retratado pelo cinema, inicialmente foi nomeado “Regente” e em 1934 foi proclamado “Imperador do Estado de MANCHOUKUO”. Em ambos os cargos era apenas um títere, pois o poder efetivo era exercido pelo EK e os Postos Chaves da Administração eram controlados pelos japoneses. A Liga das Nações mandou uma comissão liderada por Lord LYTTON, que recomendou em Outubro de 1932 a retirada dos japoneses e o restabelecimento da soberania chinesa. O Plenário da LN aprovou tal recomendação, ocasionando a retirada, em protesto, do delegado japonês MATSUO YOSUKE (1880/1946). Em Março de 1933, o Japão retirou-se formalmente da Liga das Nações.
Antes, porém, em 15 de Maio de 1932, o Primeiro Ministro INUKAI foi assassinado, sendo implantada a Ditadura do Exército que durou 13 anos. Dentre outras medidas antidemocráticas, os ditadores proibiram a formação de qualquer Gabinete chefiado por um líder de algum Partido Político. Enquanto isso, disputas internas derrubaram o grupo KODO-HÁ e fortaleceram o grupo TOSEI-HÁ, tão agressivo em questões externas quanto os vencidos. HIROTA KOKI (1878 – 1948), diplomata profissional, foi designado Primeiro Ministro com a incumbência de governar conforme as pretensões e os métodos dos vencedores. Em meio a tais mudanças intestinas, os preparativos para a guerra continuavam em ritmo crescente. Perto de metade do orçamento era destinada às Forças Armadas. Os Tratados de Desarmamentos celebrados com Londres e com Washington foram rompidos em 1934 e com a retirada nipônica da Conferencia Naval de Londres, em 1935, os arranjos bélicos intensificaram-se sobremaneira. Nesse clima de predomínio dos militares, sucederam-se várias quedas e várias posses de Primeiros Ministros. Em 1937, por exemplo, o Ministro HIROITO (homônimo do Imperador) foi substituído por HAYASHI SENJURO (1876 – 1943) por apenas quatro meses, graças as Eleições daquele ano que resultou em uma nova composição no Parlamento. SENJURO foi, então, substituído pelo Príncipe FUMIMARO KONOYE (1891 – 1945), que se tornou o responsável pela Política Imperialista que deflagrou a guerra contra a China a partir de sua posse. Foi um Ditador no sentido amplo do termo e o signatário do pacto com a Alemanha e com a Itália, em 27/09/1940. Contudo, apesar de sua belicosidade, tentou firmemente evitar uma guerra contra os EUA e essa posição fez com se tornasse antipático aos militares que lhe acusavam de leniência e covardia. Não demorou, pois, para ser substituído pelo GENERAL TOJO.
Ainda em 1937, CHIANG KAI SHEK (líder chinês de tendência direitista), seqüestrado por uma facção chinesa extremamente anti-nipônica, concordou em juntar-se aos Comunistas (liderados por MAO TSÉ TUNG) em uma aliança contra o Japão. Um ano antes o mesmo Japão havia assinado com a Alemanha o chamado “Pacto Anti-KOMINTERN (O grupo de países comunistas)”. Em Julho de 1937, os japoneses atacaram unidades chinesas perto de Pequim. O incidente agravou-se com a intervenção de forças estacionadas no MANCHUKUO e na Coréia. O chamado “incidente chinês” alastrou-se atingindo a área de SHANGAI. A Liga das Nações atendeu a China e condenou o Japão, mas sem resultado algum.
Apesar da valente resistência chinesa, o Japão ocupou NANQUIM, HANKOW e CANTÃO. E, também, a Mongólia do norte e as Províncias de SHANSI e SHENSI. Foi então que o Governo de Tóquio anunciou o “Estabelecimento uma Nova Ordem na Ásia Oriental” e publicou suas condições para a paz, rejeitadas por CHIANG KAI SHEK, que se declarou disposto a seguir a luta. Porém, convencido da vitória japonesa e movido por sua ambição pessoal, WANG CHING WEI (1884 – 1944), líder do KUOMITANG (partido chinês de KAI SHEK) refugiou-se na Indochina e com o apoio do Japão transferiu-se para CHANGAI. Pouco depois, para consolidar sua traição, fundava em NANQUIM (já em 1940) um regime de fachada, reconhecido pelo Japão como o único Governo Oficial da China.
No inicio de 1939 o Governo japonês de KNOYE renunciou e foi substituído por um Gabinete chefiado pelo Barão HIRANUMA (1867 - 1952) que durou apenas sete meses. Na época a grande questão que dividia o Japão era a assinatura de uma aliança militar com a Alemanha, proposta por Berlim. O Exército, favorável a principio, encontrava resistência na Marinha que relutava em hostilizar a Grã Bretanha e, possivelmente, os Estados Unidos. O pacto da Alemanha com a Rússia, em Agosto de 1939, foi recebido com surpresa e desapontamento, pois a Rússia era inimiga do Japão, haja vista que o relacionamento entre ambos sempre foi marcado por sérias dificuldades. O acordo RIBBENTROP e MOLOTOV (Alemanha e Rússia), porém, resultou num pacto de neutralidade entre a URSS e o Japão, que foi firmado em 1941.
O Barão HIRANUMA renunciou e foi substituído pelo moderado NOBUJUKI ABE (1875 – 1953) que anunciou que o Japão se manteria neutro nos antagonismos na Europa, mas as divergências com as Potencias Democráticas acentuou-se consideravelmente. Os EUA e a Grã Bretanha ajudaram a China contra o Japão e a estrada da Birmânia, construída com grande dificuldade, alimentou por muito tempo as forças nacionalistas chinesas. Paralelamente o sentimento anti-japonês, que vinha de 1937 com o afundamento do “PANAY”, no rio YANG TZÉ, aumentou grandemente entre as populações ocidentais.  Em 1939, o Tratado de Comercio com o Japão, firmado no distante ano de 1911, foi rompido bruscamente e abriu caminho aos Embargos que foram adotados a partir de 1940.
Os êxitos de Hitler, por outro lado, tiveram duas conseqüências imediatas no Japão: a primeira foi a extinção dos Partidos Políticos e a formação de um Partido Nacional de moldes nazifascista; a segunda foi a assinatura do Pacto com a Itália e com a Alemanha, em Setembro de 1940. Neste ponto é importante ressaltar que esse acordo só foi firmado pelo Japão após terem sido decretados os Embargos Econômicos pelas Potencias Ocidentais. Por isso, alguns estudiosos afirmam que foi uma reação contra o sufocamento econômico. Ainda segundo esses estudiosos, e outros que se lhes juntam nesse particular, o Acordo com o “Eixo” pretendia mais desencorajar uma intervenção dos EUA no Pacifico e no Atlântico que lhes ameaçar com uma agressão. Afastar-se-ia, assim, o único obstáculo real à implantação da “Nova Ordem na Ásia Oriental – ie, a expansão imperialista do Japão”. Ainda que consciente dessas limitações, o Governo nipônico, sob forte pressão dos militares, concluiu em Julho de 1941 um acordo com a “França de Vichy (o governo fantoche francês)”, estabelecendo um protetorado conjunto sobre a chamada Indochina. Note-se, aliás, que é esse o motivo da presença francesa nos primórdios da Guerra do Vietnã, substituída, depois, pelos americanos.
Os EUA, a Grã Bretanha e a Holanda reagiram essa iniciativa congelando os bens japoneses e embargando-lhe o petróleo. As negociações ocorridas em território americano, entre o Secretario de Estado CORDEL HULL (1871 – 1955) e o embaixador japonês, iniciadas pouco antes da Ocupaçao da Incochina, não progrediram. O Japão pleiteava que os EUA suspendessem a ajuda à China, então sob o Governo de CHUNG KING, e reconhecessem a sua hegemonia no leste da Ásia. É claro que nenhum dos dois pleitos foi atendido. Assim, e a imposição do embargo, econômico tornou claro a necessidade de um entendimento com os americanos, mas essa saída diplomática não era unânime, pois o espírito bélico acirrava-se cada vez mais entre os lideres japoneses. EUA e a Grã Bretanha, por outro lado, estavam persuadidos que as sanções econômicas obrigariam o Japão a ceder e que retiraria suas forças das Filipinas e da Malásia, sem que fosse necessária uma nova frente de guerra.
Impasse colocado, o Governo de KONOYE, fortemente influenciado pelo Ministro da Guerra KIDEKI TOJO, já admitia a hipótese de uma retirada da Indochina, mas não aceitava a possibilidade de abandonar a China. O Príncipe KONOYE chegou a propor um encontro pessoal com o Presidente dos EUA, Roosevelt, na esperança de obter concessões que lhe permitisse moderar a belicosidade de seus militares. Porém, os EUA recusaram o encontro.
KONOYE renunciou em Outubro de 1941, sendo sucedido por KIDEKI TOJO. Então, os militares fixaram a data de 29 de Novembro como prazo limite para um acordo com os Estados Unidos. CORDELL HULL, porém, recusou a proposta final do Japão (sair da Indochina, desde que os EUA não ajudassem a China). Nesse ínterim um novo negociador KURUSU SABURO (1888 – 1954) foi aos EUA para tentar novas negociações, mas como se viu depois, era apenas uma simulação, pois simultaneamente, a 26 de Novembro, uma grande esquadra zarpava em direção ao Pacifico Norte. Em 07 de Dezembro de 1941, sem qualquer aviso, essa mesma esquadra atacou a base naval americana de PEARL HABOR e, também, HONG KONG, Cingapura e as Filipinas.

Em 06 e 09 de Agosto de 1945, HIROSHIMA e NAGASAKI foram exterminadas pela Bomba Atômica lançada pelos EUA. Em 14 de Agosto de 1945 o Japão se rendeu.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Tânatos

Temo o anjo torto
que me espreita
atrás da porta.

Temo suas garras afiadas
que me levarão ao Hades.
Fim e destino
de todos os desatinos.

Sei que me vigia
à espera de qualquer vacilo.
À espera
do próximo bacilo.

Eu queria não ter errado.
Estar livre de pecado,
mas por imposição
da Economia de Mercado
tanto eu quis que fiquei
só mais um gado,
engravatado e plastificado.

Cumpri minha sina
e por isso arcarei
com o castigo da Lei.
Contudo, enquanto cá estou
viverei a petulante
liberdade
de contestar a
"Pura Verdade".

Depois, eu não sei.
Que Zeus faça a sua vontade.

Mas que tenha em meu julgamento
a tolerância e a generosidade
de Quem já viveu
uma outra Eternidade.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Linfa

Proclamam: que não haja
quem a tudo reaja;
que inexista
quem a tudo resista.

Então, que me seja permitida
cada lágrima caída.
E que eu possa temer
o Câncer que me devora
e a beberagem do xamã
que me apavora.

Serei o homem
sem face.
Da dor
sem disfarce.

Que me poupem
das bem intencionadas
frases-feitas,
pois eis que vejo
a Ceifadeira das colheitas.

Que me deixem respirar
o último segundo.
E que eu beba
o máximo do Mundo.
Só assim partirei saciado
de Presente e de Passado.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Temores

Contigo eu viajei
o delírio dos sonhos plenos,
mas hoje me sei menos.

E sei que agora,
qual rosa sombria,
calou-se-me a poesia.

Mas ainda vestirei
a túnica de Rei
que de ti eu ganhei;
pois foi por ti,
que do Mundo,
o melhor eu herdei.

Talvez, noutra quadra qualquer
nossos caminhos se reencontrem.
Então, como se não houvesse ontem
voltaremos a caminhar a dois,
sem temer o que venha depois.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Vozes do Fim

Frívolas vozes
contam-me o fim,
como se dele
eu não participasse.

Dizem-me hipócritas consolos,
como se tais me aliviassem.
Como se um anjo os enviassem.

Invejo-te espectador
da minha desventura.
Bom seria se não fosse
tanta amargura.
Mas esse fim
que eu nunca quis,
esmaga-me como
grosseria sem verniz.

Sim, eu sei Cavalheiros,
minha dama se foi por inteiro.
Sim, prezadas Damas,
reabasteço meu drama
ao deitar-me no vazio
do leito frio.

Porém, Senhoras e Senhores,
nada pude contra o desamor.
Deixem-me, pois, dolorido
e entristecido. E contentem-se
em gozar do próximo
choro sofrido.

Logo, outro amor sucumbirá
e lhes será entregue.
Outra dor ficará ao vosso prazer.
Aproveitem o lazer.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Marquesa

Afastaram-se os bons dias
do amor que cá havia.
Perdeu-se o riso da Musa
no poema que já não se usa.

Em qual capítulo
ficou a Marquesa dos Versos?
Por que os caminhos
ficaram tão dispersos?

Que gênio nefasto
quebrou o Cristal
que nos protegia do Mal?
Que má sorte,
levou nosso norte?

Em quais quadrantes
haverá a vida de antes?
Quais deuses nos devolverão
o amor que foi canção?

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Rigor

Nem tudo, filho,
é preto e branco.
Há uma série
de cinzas
pela vida.
E até existe
cor em certos momentos,
que compensam
a folha branca
da poesia que se recusa.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Conjunções

Digam que a
conjunção dos astros
será favorável,
e que todo oráculo
será amigável.

Rezem-me um terço
Afro-Cristão-Judaico
e proclamem que para
liberdade acontecer,
basta não se esquecer.
Façam-me crer na viabilidade
de havermos em verdade,
convençam-me da possibilidade
de Chaplin sorrir outra cidade;

e de que valeu
ter feito da esperança de outrora,
a saudade de agora.

                       Para Beth.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Manchetes


Porque a vida se repete,
os jornais são inúteis.
Personagens mudadas repetem velho atos,
velhos fatos e iguais retratos.

E porque só há o que já houve,
o muro ao redor do homem não o fere
só o acomoda.

Presente está sempre o Passado 
e o Futuro é uma miragem.
A dor é só outra imagem

sábado, 21 de janeiro de 2012

Nobres

Ainda que não se veja,
escorre certa nobreza
em toda lágrima de tristeza.

Pobres princesas
de tristes incertezas;
pobres plebéias
de pequenas epopéias
lavam-sem em pranto,
tanto quanto,
nas dores de amor.

Poetas incompletos
choram desafetos,
solitários Reis sozinhos
soluçam em pergaminhos.

Caminham todas,
caminham ambos.
Nobres mulambos.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Tema

Uma morte prematura,
qual bíblica censura,
levou a rosa pura.

Morte antecipada
de um Sol que mal nascia,
tateando poesia.

Cruel enigma,
que me fere como estigma,
impõe-me tua ausência
e essa dor sem leniência.

E só me deixa
um resto de poema
e a solidão como tema.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Finais

Um fim impreciso,
de causa não sabida,
levou-me da vida
uma paz desconhecida.

Um fim inesperado,
de motivo não sabido,
fez-me poeta banido
de um amor jamais sentido.

Agora é tempo de ir
aonde o Destino me conduzir.
Um dia, talvez, meus fantasmas
sejam exorcizados
e eu possa viver
outros fados,

pois se findou
um poema tão bonito,
que outro seja escrito.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Serena

Diga-me, Sereia do mar,
o que há por trás
da última coluna?
O que se avista
do último outeiro?
Haverá, Ninfa, menos
amor ao dinheiro
e mais querência
por uma limpa existência?

Que gente habita
o lugar?
Será como aqui,
um esboço falido
já no croqui?
Ou uma nova
casta de Homem,
digna desse nome?
Praticarão, como cá,
a maldade, a mediocridade
e o rasteiro querer
(pois é assim que aqui
se sabe viver)?
Haverá, doce Serena,
a ausência do vestuto Sistema?
Haverá uma vida mais amena?

Ou inexiste a última coluna?
Terá sido apenas
uma vã miragem?
Um desejo insano,
por algum outro plano?
Uma esperança,
uma quimera;
dessas, em que se pensa
quando menos se espera?

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Matina

Madruga poesia, Princesa.
E a quase certeza
que o Destino é chegado,
dentre as cores
desse barco encantado.

Madruga, madrugada
na carícia buscada
no corpo e no leito
da sempre amada.

Madrugada que madruga
no vinho e na uva,
no mistério e na luva
e no cio que uiva.

Madrugada de atabaques,
de Tarôs e almanaques
e das nuas moças
nos carros de destaques.

Madrugada da rima
incerta,
de ti
e da descoberta
que o peito liberta.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Aquarela

Despida pela brisa do Mar,
caminhas a tua  nudez
com lúcida insensatez.

O cheiro da noite molhada
ladeia a passarela
em que desfila
a cor de aquarela;

depois, só vestida
de chuva ligeira
recolhe-se ao abrigo
do novo amor antigo;

então, reclina a alma
e abandona-se
ao carinho que lhe aguarda.
Faz-se a noite enluarada.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Noturno

Anjos da noite
levem esse fantasma
que me rouba o sonho
com seu augúrio medonho.

Expulsem essa agonia
que me acorda
antes do dia.
Esconjurem os demônios
que me cobrem de aflição,
pelo lodo do porão
e pelo adeus no portão.

Devolvam-me a crença
e a alegria
de nascença;
e me tragam
o topor
de crer
noutro amor.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

To be or not

Transito com meu corpo,
frágil refúgio,
por esse Mundo sem máscara,
sem subterfúgio.

Transito em meu corpo.
Sou alma penada
sob a pele enrugada.

Mas os trânsitos
que fiz e faço
não respondem se sou,
ou se só estou,

pois, após tanto transitar
e tanto percalço,
esqueci-me se sou
verdadeiro ou falso.

E nem imagino
o que seja o Espaço.
Tampouco, o que nele
eu faço.

                        Da obra de W. Shakespeare.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Outro Caminho

Que eu possa, poeta,
achar outro caminho.
Que fique leve
meu coração;
e que das nuvens
desse fim inesperado
chova nova semeadura.

Que outro verde
tinja meus passos
e que haja o encontro
doutros braços.

Que ressentimento inexista
e que se conserve a lembrança,
pura como a infância,
do amor que ora finda,
mesmo que seja
cedo ainda.

    Para a poetisa Tereza de Azevedo.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Narguilé

Castas e nuas Prostitutas
desfilam os prazeres
de corpos dados
em sutis acolchoados.

Noites e Estrelas do Oriente
reluzem nos negros olhos
da bailarina,
só vestida de purpurina.

Antigos Cantos
evocam outros cantos
desse Mundo sem fim;
e alados corcéis
giram os festivos tonéis
das insanas cirandas
de flores e guirlandas.

E tudo flui
na fumaça do Narguilé.
Fugaz compensação
*para cem anos de solidão.


          * da obra de Gabriel Garcia Marquez.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Arabesco

Chora a Lua,
violada pelo gênio burlesco,
da reta noite
sem arabesco.

Madrugada de
bares fechados
e de poetas calados.
De lanhos carneiros
de trinta dinheiros,
que buscam os perdões
de rudes bandoleiros,
enquanto suspiram
pelos dotes dos taifeiros.

Valsa a Rainha Louca,
pois toda tolice
será pouca
nessa noite
de pernas cerradas
das mulheres mal-amadas.

Noite da gente comum,
que repete lugares-comuns;
a primícia do Oceano de clichês
elevados à sapiência
de trágicos michês.
Orgulho e glória
do povo sem história,
do povo sem memória.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Navios

Findaram-se os
bons tempos
e nem restaram
frágeis alentos.

Em alguma encruzilhada
o amor que se pensou achado,
fez-se verso inacabado.

Em algum desvio
queimou-se o
último navio
e seria inútil
qualquer atavio
para adornar a
esperança por um fio.

E no entanto
é preciso secar o pranto,
pois viver é caminhar.
Um sonho ambulante
que só dura
um instante.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Teria Sido

Tão bonito teria sido
se o viço
do inicio
não se tivesse perdido.
Se o calor do desejo
não fosse consumido
e a vontade de carinho
não se perdesse
n'algum escaninho.

Tão bonito teria sido
se cedências tivessem havido,
se compreensão tivesse existido
e se um tolo predominio
não fosse exigido.

Tão bonito teria sido
se o mútuo respeito
habitasse em nosso peito.
E se juntos caminhassemos
sem tantos descompassos
na cadência de nossos passos.

Tão bonito teria sido
se o amor se conservasse,
se o silêncio não chegasse
e se a vida não nos separasse.