domingo, 31 de julho de 2016

O último abraço que me dás

O último abraço que me dás

ANTÓNIO LOBO ANTUNES

 “Ali, na sala de quimioterapia, jamais escutei um gemido, jamais vi uma lágrima. Somente feições sérias, de uma seriedade que não topei em mais parte alguma, rostos com o mundo inteiro em cada prega, traços esculpidos a fogo na pele.

Numa das últimas vezes que lá fui encontrei um homem que conheço há muitos anos. Estava tão magro que demorei a perceber quem era. Disse-me

- Abrace-me porque é o último abraço que me dá
durante o abraço
- Tenho muita pena de não acabar a tese de doutoramento
e, ao afastarmo-nos, sorriu. Nunca vi um sorriso com tanta dor entre parêntesis, nunca imaginei que fosse tão bonito...”.
Para meu querido amigo, Mario Rodrigo com quem fiz doze sessões de quimioterapia e que hoje se foi, sem que eu pudesse lhe dar o último abraço. Descanse da dor, do medo e da solidão, amigo.
Fragmentos da extraordinária crônica de autoria do escritor português Antonio Lobo Antunes. O texto integral poderá ser lido no endereço abaixo:
http://visao.sapo.pt/opiniao/opiniao_antonioloboantunes/o-ultimo-abraco-que-me-das=f761252

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Tanto


E basta ver essa nova estrela,
para saber que há tanto amor
no ato de te viver...


Para Papillon

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Roseira


Então, o homem velho
viu que a formiga cortadeira
cortava a roseira
que havia cultivado por toda a vida;
e se soube, então, 
também uma rosa semi cortada,
mas por outra cortadeira
que não era uma formiga só.


sexta-feira, 15 de julho de 2016

O Fim


"*O amor é a coisa mais triste, quando se desfaz..."


Porque, então, descobre-se que

as promessas dos novos amores,

são, apenas, a reedição

das antigas dores...


*Da poética de Vinicius de Morais

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Nada


É preciso crer, Anjo da Morte,
que tu não me tardes.
Que as pílulas que retenho
venham ser a definitiva chave
para a paz,
que as fugas sempre me deram.
E crer é preciso,
que na escuridão do Nada,
encontrarei o breu que ocultará
o fogo-fátuo das teimosas decepções
que substituem as esperanças teimosas.
O escuro do Nada eterno,
em contraponto à claridade
das mesquinhas paixões
que o mundo a todos obriga,
no eterno e insensato compasso
de querer, sem que se saiba porque se quis.
É preciso crer que findará a rude tragédia,
que eu, falto da antiga grandiosidade grega,
represento nas sórdidas ágoras
desse tempo pobre.
É preciso cerrar os ouvidos
e não ouvir as reprimendas de crédulos e incrédulos,
pois são inocentes e só repetem
as antigas e sacras maldições e as novas bobagens
que os manuais de autoajuda lhes ensinam.
É preciso fechar os olhos
e isentar-me do triste espetáculo
das faces que se julgam
apropriadas censuras e sinceras tristezas.
E é preciso, sobretudo, não ver
o tétrico desfile das lágrimas convenientes.

Então, Anjo da Morte, depois de tudo crido,
gozar o vazio que tu me promete
e sentir a leveza de já não ser.

terça-feira, 5 de julho de 2016

É Tempo


Agora, que os caminhos já foram percorridos;
os amores foram chegados, as separações foram choradas,
os corpos foram despidos e as almas foram reveladas
é tempo de contar as partidas
e saber que a velhice
é só o exercício do adeus.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

As Manhãs


É preciso deixar
que o pássaro do amor
voe em suas manhãs prediletas,
pois são nessas horas
que acontecem
os momentos necessários.


Para Papillon