segunda-feira, 30 de abril de 2012

Minha Nova Coluna

Tenho o prazer de convidar os (as) amigos (as) leitores (as) a visitarem minha nova Coluna no Site abaixo:


domingo, 29 de abril de 2012

O Domingo e a Feira


As cores de um Naiff
compensam a
usura do cinza.
Entre um capuccino
e uma Crônica de Costumes,
momentos se fizeram.

Nem sempre a
a aspereza do amor
ausente,
esteve à mesa comigo.

               Para C.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Despedida


Um homem que
eu sei quem é,
mas que duvido
existir,
visita meu delírio
e canta o que
eu ouvia quando
viajava menino.
Não sei se ainda
é justo o equilíbrio
de Neurônios e Morfina,
ou se já desço à paz
que essa me promete
nos vales de entardecer
as dores que o dia trouxe.

                   Para C.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Filosofia Moderna e Contemporânea - LEVINAS, Emanuel - A Razão vive na Linguistica.


LEVINAS, Emanuel
1906 – 1995
A Razão vive na Linguagem

Em 1920 Edmund Husserl já explorava a nossa relação, o nosso relacionamento como os outros Seres Humanos, através de sua Fenomenologia. E nesse mesma época, o filósofo austríaco Martin Buber, afirmava que o Sentido (da vida, da existência) surge, justamente, pelo fato de que nos relacionamos com outros Homens.

Seguindo essa tendência e influenciado pela Fenomenologia, a partir da década de 1960, Levinas trabalha sobre a questão de como os Relacionamentos influenciam os “Pensamentos”, até que conclui que a “Razão está na Linguagem”, ou seja, é através do convívio, do diálogo, do exercício da Linguagem que ocorre nos encontros entre os Homens que o “Pensar Racional se forma.

Ampliando seus conceitos, Levinas não vincula a Linguagem à oralidade, pois para ele basta uma troca de olhares para que se estabeleça a comunicação entre as pessoas.

Por esses Conceitos e Noções, a partir da década de 1970 as suas Ideias sobre a “Responsabilidade (social)” passaram a ser básicas para a Psicoterapia. Já na contemporaneidade a questão da “Responsabilidade Social” voltou à ribalta através da Filosofia de Jacques Derrida que a utilizou em suas tratativas sobre o “Asilo Político”.

Paralelamente suas teses influenciaram os ideários das Filosofas Feministas francesas Luce Irigaray e Julia Kristeva, que estarão presentes nos Ensaio que segue ao presente.

Vê-se, pois, que a influência do nosso filósofo foi e continua sendo grande entre seus pares. Falar do Ser Humano é sempre um assunto que desperta interesse, pois nada na vida nos perturba tanto como encontrar outro Ser Humano que, só por estar ali, nos lança um apelo mudo para que o livremos da miséria indecente a que está submetido. E, simultaneamente, desafia-nos a pensar e a justificar a nossa própria existência.

Normalmente o Pensamento de Levinas é explicado com o uso de exemplos e nós seguiremos essa modalidade através do seguinte:

Imagine que ao caminhar por uma noite fria de inverno, você aviste um pedinte todo encolhido, tentando inutilmente proteger-se do vento gelado. Ainda que ele não lhe peça nada, a simples presença miserável do mesmo causa-lhe um incômodo que o acompanha por vasto tempo. Essa característica humana, a Empatia (a capacidade de se colocar no lugar do outro e de “sentir” o que ele sente) encarregou-se de estabelecer um relacionamento, uma ligação entre você que olha e ele que é avistado. Relação que prescinde de qualquer outra forma de comunicação.

O mendigo pode até não pedir qualquer esmola, mas você não consegue deixar de sentir uma espécie de “obrigação” de solucionar as suas carências. Mesmo que você decida ignorá-lo, alguma coisa já lhe foi comunicada. A relação estabelecida, mesmo que informal e silenciosa, influencia seu Pensamento e conforme sua *escala de valores chega até a acusá-lo de antiético por deixá-lo naquela situação. E assim como acontece com um indivíduo, acontece com povos inteiros e é o que “nos obriga” a prestar socorro a populações atingidas pela fome, pela guerra etc.

*É claro que de acordo com o Sentido de Ética de cada um, a repercussão é maior ou menor.

Levinas foi um judeu nascido na Lituânia, à época do Holocausto Nazista e é lógico que essa condição influiu em sua Filosofia, tornando-a voltada para o estudo sistemático da Ética e da Moralidade. O “sofrimento alheio” e o “outro” ocuparam o centro de seu Sistema.

Em sua obra “Totalidade e Infinito”, de 1961, essa tendência à discussão das questões morais e éticas está bem presente. Ali, ele defende a Tese de que a “Linguagem” é o meio com o qual nos comunicamos com os outros Seres Humano (Nota do Autor – não apenas os Humanos, pois “conversamos”, “damos ordens ou comandos” para animais e algumas correntes esotéricas pregam o diálogo até com os vegetais e com os minerais). E que a nossa comunicação, como já dissemos, prescinde da oralidade, pois antes mesmos de se iniciar uma conversa, ou simples e breve cumprimento, sentimos intuitivamente, instantaneamente que ele é um Ser Humano (Nota do Autor - acrescentaremos os animais para atualizarmos a teoria de Levinas, conforme o que se assiste na sociedade atual) e que “temos Responsabilidade” com a sua segurança, sua satisfação.

Alguns, claro, poderão se desviar dessa responsabilidade, mas não conseguirão escapar de “seu peso”, do arrependimento. Com efeito, mesmo entre os indivíduos mais perversos, ainda restará algum comprometimento com outros Seres. Basta lembrar, por exemplo, que Hitler era vegetariano porque não suportava pensar no sofrimento dos animais quando nós os abatemos nos matadouros e frigoríficos.

A partir dessas observações, podemos entender o porquê de Levinas insistir que a Razão (ou a Racionalidade) está na Linguagem, pois esta é, ao cabo, a expressão do que Pensamos Racionalmente e sua existência só acontece no Relacionamento com outro Ser.

Ao sentirmos Empatia, ou Arrependimento por termos negligenciado ao outro, ou a Preocupação em como será possível favorecer ao outro, ou como Justificar a minha própria existência (o porquê de eu ter determinado conforto e outrem viver em terrível miséria) estamos construindo Pensamentos Racionais oriundo dos Relacionamentos. Tomara que sejam cada vez mais éticos.

São Paulo, 23 de Abril de 2012.

Bibliografia Consultada e Recomendada:

Dicionário de Filosofia – 6ª Edição
Nicola Abbagnano
Tradução – Alfredo Bosi e Ivone Castilho Benedetti
Ed. VMF – Martins Fontes SP.

O Livro da Filosofia – Anna Hall, editora de projeto e Sam Atkinson, editor Sênior – Londres, Grã Bretanha.
Tradução de Rosemarie Ziegelmaier.

domingo, 22 de abril de 2012

A Chuva Fria


Chuva fria que congela os desejos,
deixe-me a paz de nada querer.
Que eu viva pela nostalgia
da lembrança
e me satisfaça
com o cinza dessa tarde indecisa.
Que o gozo do amor que vivi
seja doce saudade
e não me firam,
os açoites de ser só.
Que a vida continue
sob a janela
e que permaneça essa paz
de terra saciada
e de flor ceifada,
dispensada que foi,
de colorir a tudo
e a nada.

sábado, 21 de abril de 2012

Filosofia Moderna e Contemporânea - DERRIDA, Jacques - "Não há nada fora do Texto"


DERRIDA, Jacques
1930 – 2004
"Não há nada fora do texto".

  • Tento explicar o que DERRIDA que dizer quando cita a frase em epigrafe.

  • Porém, nunca consigo explicar a Ideia, pois

  • o significado do que eu digo, depende do que eu disser depois. E, também, porque o significado das minhas palavras depende de seu relacionamento com as palavras que eu não usei.

  • Então, o Significado é sempre incompleto

  • e, por isso, eu falo mais algumas palavras para esclarecer as coisas, mas, novamente, eu não consigo explicar inteiramente a Ideia.

  • Dessa forma, a minha ideia, a minha explicação sobre DERRIDA pode crescer infinitamente até eu

  • perceber que não há nada fora do texto”.

Filho de judeus, DERRIDA nasceu na Argélia, colônia francesa à época, e desde a infância demonstrou interesse pela Filosofia. Paradoxalmente também demonstrou interesse em se tornar um futebolista, mas, por fim, a sua escolha recaiu sobre a primeira opção. Em 1951, entrou para a prestigiada ÈCOLLE NORMAL SUPÉRIURE, em Paris, e lá travou amizade com Louis Althusser, também argelino de origem, sendo que ambos trilharam caminhos paralelos que os levaram à celebridade.

Em 1967, publicou Gramatologia”, A Escritura e a Diferença e A voz e o Fenômeno”, três obras que consolidaram sua reputação de ser um dos filósofos mais importantes da Contemporaneidade. Em 1986, assumiu a cátedra de Filosofia na Universidade da Califórnia e agregou a esse trabalho às inúmeras palestras e conferências que proferiu ao redor do Mundo.

Desde essa época até seu falecimento, sua obra tomou um viés mais direcionado para as questões da Ética, em grande parte por influência do filósofo Levinas que dava ao tema a importância de ser a via redentora do Homem.

Dividimos este Ensaio em subtítulos para demarcarmos as Ideias do filósofo sobre alguns dos aspectos da vida que o mesmo estudou. Esperamos que tal providência auxilie a leitura e a boa compreensão do Esquema Filosófico do argelino.

A ESCRITA

Para DERRIDA o significado do que escrevemos é modificado pelo que se escreve em seguida. Até numa simples carta, o que se escreve pode postergar o significado para o fim da mesma.

Por ideias como essa, e por várias nuances de seu Sistema Filosófico, Jacques é tido como um dos filósofos contemporâneos mais controversos. A ele, comumente, são associadas noções de “desconstrução” e/ou de uma abordagem complexa e farta de nuances sobre a maneira como vemos o Mundo e como lemos e entendemos a natureza (o que é) dos textos escritos.

NOTA DO AUTOR antes de prosseguirmos será oportuno esclarecer uma dúvida que provavelmente o (a) leitor (a) tenha acerca da importância que o filósofo dá ao texto, à palavra escrita. É claro que tal importância não vem da literatura em si, mas da ligação que ele vê entre a Linguagem (no caso, escrita) e a intelectualidade, a consciência do Homem. Entendendo a sua Linguagem, ou seja, aquilo que o Homem exterioriza, será possível entender o próprio.

A partir da explicação acima, entraremos no Ideário de DERRIDA e logo observaremos que se quisermos entender o que o filósofo que dizer quando escreve “que não há nada fora do texto” precisaremos estudar sua abordagem desconstrutivista.

Frequentemente ao lermos um livro, seja Filosófico ou um Romance, acreditamos que aquilo que temos em mãos é algo que podemos compreender. Interpretamos o livro como se ele fosse autossuficiente.
Quando a leitura é sobre Filosofia, pressupomos que os textos ali contidos sejam Lógicos e que estejam inseridos em algum Sistema. É razoável que assim seja, porém, para o nosso Pensador, os textos não funcionam dessa maneira.

APORIA e DIFERENÇA

Aporia – do grego arcaico, aproximadamente: “contradição”, “dificuldade”, “impasse”.

Como já se disse, DERRIDA não é um autor fácil de ser compreendido. Seus escritos apresentam dificuldades até mesmo para os eruditos mais familiarizados com a Filosofia. Mesmo aqueles escritos que são mais objetivos, diretos, estão recheados de Aporia.

Para ele, todos os textos trazem contradições, hiatos, buracos e outros tipos de dificuldades. E não só os seus. Assim, é necessário usar a *Desconstrução para lê-los, juntamente com bastante atenção às entrelinhas, aos sentidos, ou significados ocultos etc.

*Desconstrução – o prefixo “DES” indica tratar-se do Processo inverso ao de Construção de uma tese, de uma teoria, de uma frase, de um Sistema, de um texto etc. É o retalhamento organizado do “Todo” em suas partes, as quais, ao serem analisadas individualmente, oferecem melhor compreensão do Conjunto, ou a correção de equívocos que eventualmente existam naquele “Todo”.

Ao investigar a existência dessas “Aporias” em textos diferentes, DERRIDA pretende ampliar nosso entendimento sobre o que são esses textos e sobre a finalidade que visam alcançar. Além, é claro, de demonstrar a complexidade existente até nos textos mais simples. Ao se “desconstruir” um Escrito, adquire-se outro modo de ler o mesmo, e com isso, a capacidade de descobrir-lhe os paradoxos e as contradições.

Insistimos que esses cuidados não se referem apenas à maneira como lemos filosofia ou literatura em geral. Existem implicações mais amplas sobre as dúvidas que pairam entre Linguagem, Pensamento e Ética. A cautela empregada na correção do entendimento da Linguagem (expressa em escritos) deriva do fato de ser a Linguagem uma exteriorização de Conceitos e Noções que habitam o Pensamento humano.

Por isso, faremos outro corte nesse ponto, para investigarmos um Termo Técnico que DERRIDA usa com regularidade. O termo em questão é: DIFERÊNCIA (embora pareça um erro de ortografia, é desse modo mesmo que tal palavra é grafada desde que o original “DIFFÉRANCE” entrou no idioma oficial francês).

Diferência é uma palavra inventada por DERRIDA para dar realce a uma curiosidade da Linguagem. Em francês, “DIFFÉRANCE” – com o artigo “a” é um jogo entre “DIFFÉRENCE” – com a vogal “e”, que significa “diferir” e “DEFÉRRE” que significa “adiar”.

Para entender como é o funcionamento desse termo, será proveitoso observarmos o exemplo a seguir:

e o gato...”

Depois acrescento:

“que meu amigo viu...”

e torno a acrescentar:

“no jardim, era preto e branco...
 (e assim por diante)

Vê-se, pois, que o significado preciso da palavra Gato é continuamente diferido e postergado, na medida em que mais informações são transmitidas. Se eu tivesse sido interrompido depois de dizer “o gato... e não mencionasse meu “amigo e o jardim” o significado do vocábulo “Gato” teria sido totalmente diferente.

Em resumo, quanto mais acrescento algo ao que digo, mais o Significado do que eu já disse é revisado. O significado é Adiado na Linguagem. Mas outra coisa também pode ser notada. O significado de “Gato”, conforme DERRIDA, não pode ser considerado estático, algo que repousa, ou que permanece, na relação entre as minhas palavras e as Coisas reais (físicas, concretas) do Mundo.

A palavra assume seu sentido a partir de sua posição, ou do lugar que ocupa em um Sistema de Linguagem Total. Por isso, quando digo “gato” isso tem algum significado, Não por conta de alguma associação misteriosa entre a Palavra e o Gato real (físico, corpóreo), mas porque esse termo é diferente de “Cachorro”, por exemplo.

Tomadas em conjunto como “diferências”, as ideias de adiar e diferir (lembrando que “diferir” é sinônimo de postergar, adiar etc.) dizem algo um tanto estranho sobre a Linguagem em Geral. De um lado, o significado de qualquer Coisa que dizemos é, em essência, sempre adiado, pois depende do que acrescentamos – atenção: o significado do que resultou desse acréscimo, também será adiado por novas adições e, assim, sucessivamente.

Por outro lado, o sentido de todo termo que utilizarmos dependerá de todas as palavras antônimas que não exprimimos. Portanto, o Significado não é autossuficiente nem mesmo dentro do próprio texto.

A PALAVRA ESCRITA

Para DERRIDA Diferência é um aspecto da Linguagem do qual só tomamos ciência graças à Escrita. Porém, tal conscientização nunca foi fácil, pois desde a Grécia Clássica que os filósofos já diminuíam a importância da Linguagem Escrita, enquanto aumentavam a da Palavra Falada. Platão, em Fedro, por exemplo, narra, através de Sócrates, uma lenda sobre a invenção da Escrita e diz que ela nos dá apenas uma “aparência de Sabedoria”, mas não a própria.

Escrever, para esses e outros filósofos, era como avistar um pálido reflexo da Palavra Falada, a qual era tida como o principal meio de Comunicação. A importância dada à Retórica corrobora esse apego.

DERRIDA, porém, discordava dessa predileção e visava alterar esse estado de coisa. Para ele, a Palavra Escrita nos oferece uma vantagem, que a Oral não consegue. Segundo a sua ótica, a preferência tradicional pela Oralidade iludiu a todos, fazendo-nos crer que temos acesso imediato ao Significado do que foi falado, pois como o Orador está fisicamente presente, ele pode nos dizer o significado do que acabou de falar. Quando falamos com alguém supomos (devida ou indevidamente) que ele torna seus Pensamentos “presentes”. Se houver algum mal-entendido podemos desfazê-lo imediatamente, bastando perguntar-lhe o real significado do que disse. Idem com as eventuais “Aporias”, ou dificuldades, que são imediatamente esclarecidas, ou simplesmente despercebidas. Supomos, em resumo, que o Significado está associado com a Presença Física. O que não é possível, obviamente, quando a Palavra for Escrita e o seu emissor, ausente fisicamente.

A partir dessa constatação, pensamos que o “Significado” em Geral é “sobre presença; ou seja: o significado real de “gato” pode ser encontrado na Presença (física) de um gato que está em meu colo.

Porém, quando lidamos com o texto escrito, somos obrigados a perder a ingênua crença na “Presença” e amadurecermos intelectualmente. Sem o autor do texto presente para pedir desculpas ou para nos explicar sua obra, nós mesmos conseguimos perceber as complexidades, os impasses, as dificuldades. De repente a Linguagem nos parece uma “coisa” repleta de complicações, porém desafiadora e fascinante.

QUESTIONANDO O SIGNIFICADO

Ao dizer que “não há nada fora do texto” DERRIDA Não quis dizer que tudo que importa de fato é o “Mundo dos Livros”, da Literatura; e que o Mundo físico, concreto é desprovido de qualquer valor. Tampouco está tentando menosprezar a importância de outros interesses que possam estar “atrás” dos livros, dos textos.

Para ele, o Significado pode ser revelado se considerarmos com seriedade a noção de que ele é uma questão de “diferência; ou seja, de adiar, de protelar. Se quisermos nos envolver efetivamente na questão sobre como refletimos, como pensamos o Mundo, é necessário manter sempre vivo o reconhecimento, a noção de que o Significado nunca é tão direto quanto pensamos. E que esse Significado pode ser descoberto através do método de Desconstrução.

NOTA do AUTOR - com efeito, o Significado de qualquer coisa é mutável à medida que novos Conhecimentos iluminem essa “coisa”. Tomemos como exemplo um texto de difícil compreensão e que aos poucos vai revelando seu Significado oculto à medida que o leitor o desconstrói e analisa cuidadosamente (inclusive com o auxilio de Dicionários, Gramáticas e quejandos) cada um dos termos que o compõe. Qual é o significado real daquela palavra (e não o significado que parece ter)? Qual a relação dela com as outras? E com o conjunto? Etc. Assim, os Verdadeiros Significados de cada termo se juntam para revelar o Significado Verdadeiro daquele texto. Vejamos um exemplo prático no titulo de uma das obras de Kant: “A Critica da Razão Pura”

Desconstruindo:

  • A Crítica = o estudo detalhado, minucioso.

  • Da Razão = (os limites do) Raciocínio, da Racionalidade.

  • Pura = que não foi afetada por nenhuma experiência dos Sentidos (tato, visão, audição, paladar e olfato).

Teremos: O estudo detalhado sobre a capacidade de o Raciocínio adquirir Conhecimento, Saber, por sua própria conta, sem ter recebido “ajuda” da Experiência Sensorial, ou dos Sentidos (tato, visão, audição, paladar e olfato).

Esse, pois, é o Significado do Titulo da obra. Principalmente para os leigos em Filosofia, que desacostumados com o jargão podem ter alguma dificuldade na interpretação.

DERRIDA afirma que em nosso Pensamento, em nossa Escrita e em nossa Fala estamos sempre associados, ou implicados, mesmo que a contragosto, em questões Políticas, Históricas e Éticas, as quais podemos não reconhecer ou admitir de imediato. Por isso, juntamente com outros Pensadores, DERRIDA sugere que o Processo de Desconstrução é, também, uma Prática Ética à medida que a desconstrução permite um Conhecimento mais profundo sobre o tema e, com isso, uma escolha mais esclarecida sobre o comportamento a ser adotado. Ao lermos um texto de forma desconstrutivista podemos discordar, duvidar e/ou questionar as alegações ali expostas e descobrir as questões éticas, ou antiéticas, conforme nosso padrão de valores, que se escondem nas entrelinhas. Podemos, ao cabo, descobrir seu real significado.
OS CRÍTICOS de DERRIDA

Em certa ocasião, DERRIDA disse:nunca cedo à tentação de ser difícil, só para ser difícil”.

O pensamento expresso por essa frase não encontra eco entre os vários críticos de DERRIDA. Embora lhe reconheçam integridade intelectual, ética e competência na matéria, via de regra, acusam-no de ser um filósofo de ideário hermético, quase que indecifrável. A complexidade de seu Pensamento sugere que ela é voluntaria. Que ele encobriu seu Sistema com um manto de dificuldades que é tão injustificável, quanto inoportuno.

Michel Foucault, seu contemporâneo, acusa-lhe de ser intencionalmente obscuro, a ponto de, às vezes, ser impossível compreender qual seria a sua Tese Central, admitindo que a sua Ideia Básica seja baseada na noção de que o Significado nunca pode estar completamente no texto.

A resposta de DERRIDA talvez pudesse ser: a própria Ideia de “Tese” é baseada na noçao de “Presença”. A mesma que ele ousou confrontar em sua teoria. Ou seja, se para propor certa Tese, fosse necessário que seu autor estivesse presente fisicamente para esclarecer os pontos dúbios e, claro, para “defender sua tese” chegar-se-ia ao absurdo de se considerar possível a ubiquidade daquele autor, haja vista a quantidade de leitores espalhados em todo Mundo.

Assim, quando consideramos DERRIDA com a devida seriedade, temos de admitir que a própria ideia de que “não há nada fora do texto”, não está, com efeito, fora do texto. Cabe-nos desconstruí-la e explorar seus impasses, suas dificuldades e suas contradições que se ocultam nas entrelinhas. Afinal, não temos capacidade para racionalizar e agir fora do script que Alguém, ou algo nos escreveu. Nós mesmos não estamos fora do texto. Nem do contexto.

São Paulo, 21 de Abril de 2012.

Bibliografia Consultada e Recomendada:
Dicionário de Filosofia – 6ª Edição
Nicola Abbagnano
Tradução – Alfredo Bosi e Ivone Castilho Benedetti
Ed. VMF – Martins Fontes SP.

O Livro da Filosofia – Anna Hall, editora de projeto e Sam Atkinson, editor Sênior – Londres, Grã Bretanha.
Tradução de Rosemarie Ziegelmaier.

Pequeno Dicionário de Filosofia Contemporânea – Oswaldo Giacoia Junior – Ed. Publi Folha.
A História da Filosofia
Org. e texto final – Bernadette Siqueira Abrão.
Ed. Nova Cultural Ltda.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Burka

Aperta-me a melancolia
dessa Burka que visto.
Eu poderia dizer
que Solidão rima
com desejo de não ser
outro, além do que sou.
Mas nada rima
e nem seria uma obra-prima.
Apenas me achariam pedante.
Imaginem só: já é ateu,
comunista, cético e quase
niilista.
E ainda quer ter o privilégio
da falta de companhia... Ora! Ora!
Aonde chegará o velho?
Eu acho que velho
sou o que fiquei
depois que o Tempo passou.
Mas nada responderei,
pois temo que me batam
com o sapato como eu vi
fazendo no asilo, com a
concordância
da nora e do filho.
Melhor ficar quieto
e me ajeitar à Burka,
sonhando que é a Biblioteca
da Urca, onde eu ia menino
para ler escondido o Livro de
São Cipriano, da capa preta,
para o Diabo me aparecer
e comprar minha alma.
O dinheiro daria para fugir
do horror que tudo era;
e pensar que era tão pouco
o que eu haveria de querer:
era paz e batata frita com
coca-cola no jantar, como
acontecia na casa do
Sr. Luis Contador.
Mas que nunca chegaram
porque o dinheiro do pai
ficou na cama da Gessi.
E depois o Tempo trouxe
tantas outras Gessis,
que só agora eu
poderia ter o espaço
vazio que meu sonho
de sozinho queria.
Mas o Diabo chegou tarde
e não quero mais negociar.
Essa Burka que chamam
de câncer já vai me empurrando
de volta para o fosso
em que sempre vivi.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Yara Carajá

Dizem que Yara
nasceu da floresta.
Irmã das árvores
e madrinha das crias.
Mas eis que em um
belo santo dia,
o Capital e companhia
cismaram de cismar
que Yara, aquilo
não merecia.
E foi tiro só.
E foi covardia
e foi histeria
até que Yara
já não havia.

     Aos brasileiros,

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Filosofia Moderna e Contemporânea - HUSSERL, Edmund - A Fenomenologia

HUSSERL, Edmund
1859 – 1938
A Fenomenologia

Em 1859, na Moravia, então integrante do Império Austríaco, nasceu Edmund HUSSERL, o homem que tentaria organizar uma das principais partes da Filosofia: a Fenomenologia (de Fenômeno = aquilo que os Sentidos [tato, visão, audição, paladar e olfato] captam + Logia = estudo).

Husserl iniciou seus estudos com a Matemática e com a Astronomia, mas após terminar seu Doutorado na primeira, dedicou-se exclusivamente à Filosofia.

Casou-se com a Srta. Malvine Steinschneider, com quem teve três filhos e foi para sustentar a família que Edmund lecionou para alunos particulares, em Halle, onde ficou até 1901, quando foi chamado para ser Professor Associado na Universidade de Gotina. Em 1916 assumiu o posto de Mestre na Universidade de Freiburg, onde teve, dentre outros, Martin Heidegger, como aluno. Ali lecionou até 1933 quando foi demitido por ter ascendência judia (demissão que teve a participação direta de Heidegger). A partir de então se dedicou unicamente a escrever até que faleceu em 1938.

O comportamento adverso de Heidegger em relação ao Mestre não o impediu de usar o Ideário de Husserl para construir seu Sistema Filosófico, o qual desembocaria no Existencialismo. Por isso, aliás, é que se diz que foi Edmund o ascendente mais antigo do Sistema da Existência que dominou o Ocidente desde o pós-guerra até os dias atuais, ainda que lhe vistam com outras roupagens e lhe deem outros nomes.

Outros Pensadores também se encantaram com a Fenomenologia e a levaram para a França, onde filósofos como Levinas e Merleau-Ponty a exportaram para o resto do Mundo, colocando-a como pedra basilar de seus próprios Esquemas Filosóficos. A partir de então, as Ideias de Husserl tornaram-se fundamentais para uma série de Eruditos que a viram como o fundamento apropriado para todos os Estudos que consideram os Fenômenos como a porta de entrada dos Ideários que vigoram na atualidade.  

É possível afirmar que Husserl herdou de seu mestre, Frans Brentano a ideia de que a Filosofia precisa de um “Método Cientifico”, pois o “Rigor Lógico” desse tipo de estudo, proporcionaria meios para que se chegasse às Verdades que os Homens sempre buscaram. Em termos resumidos, podemos dizer que Husserl compartilhava da seguinte ideologia:

  • A Ciência aspira à Certeza em relação ao Mundo.

  • Mas a Ciência é Empírica (ie, dependente do que foi captado pelos Sentidos [tato, visão, audição, paladar e olfato]). Dependente da Experiência a Posteriori.  

  • A Experiência, porém, é sujeita a suposições, predisposições, insuficiência de intelecto, visões individualistas etc. O que foi captado pelos Sentidos de um Homem, será (quase sempre) diferente do que foi captado por outro Homem.

  • Logo, a Experiência, em si, não é confiável. Tampouco é Ciência.

Mas, então, como chegaríamos à Ciência e, depois, às “Verdades Filosóficas”?  Para Husserl e seguidores, apenas um caminho poderia nos levar a esses Conhecimentos: estudar até a compreensão total, os Fenômenos que formam a Experiência e, assim, compreendendo as partes, chegar ao entendimento do “Todo”, ao completo entendimento da Experiência e às “Verdades Primeiras, ou Filosóficas”.

Husserl foi um Pensador cujo objetivo máximo era atingir a “Plena Certeza”. Objetivo, diga-se, que sempre permeou a ambição dos filósofos, desde a Grécia antiga. Sócrates, por exemplo, colocou como impeditivo da Certeza a nossa incapacidade intelectual para mensurar as coisas e as noções abstratas. Segundo ele, podemos concordar facilmente com os demais sobre as Coisas que são passiveis de serem captadas pelos Sentidos (tato, visão, audição, paladar e olfato). Concordaremos, por exemplo, facilmente sobre o fato de “existirem cinco pessoas na sala”, pois o que os nossos Sentidos e os Sentidos dos outros captassem convergiriam para esse mesmo número; mas quando se trata de questões filosóficas, abstratas, como, por exemplo, o que é a Bondade, a Maldade, a Justiça, a Injustiça etc. (?) a concordância termina imediatamente, pois são questões que estão além e acima da matéria mensurável. E se não podemos saber com certeza o que é, por exemplo, “Justiça” como poderemos discutir a sua natureza, a sua gênese, sua serventia etc. Como se poderia investigá-la, estudá-la em sentido lato, e lhe dar uma definição que seja Geral, Universal, ie, que a todos convença. Como ter certeza de Coisas iguais?
O PROBLEMA DA CERTEZA

HUSSERL iniciou sua carreira como “Matemático” e habituou-se às Certezas que caracterizam esse assunto. Por isso, imaginou que os problemas apresentados à Filosofia poderiam, também, serem solucionados com essa “mesma Certeza”. Ele ambicionava colocar todas as Ciências – que à época incluíam todos os ramos do conhecimento humano, desde a química, a física, a matemática até a Psicologia, a Filosofia, a Ética, a Política etc. em uma base segura; ou seja, em uma condição que permitisse que o estudo da mesma produzisse “Certezas definitivas”.

As “Teorias Cientificas” baseiam-se em Experiências, mas Husserl acreditava que elas sozinhas não constituíam a Ciência, propriamente dita. E como sabem os Estudiosos que a experiência é, naturalmente, repleta de suposições, equívocos, contradições etc. Husserl queria expulsar essas Incertezas para dar aos Estudos Científicos bases sólidas e incontestáveis.

Para tanto, recorreu ao Ideário do filósofo francês Renê Descartes (1596 – 1650), efetuando as alterações necessárias para ajustá-lo ao que pretendia. Como se sabe, o francês queria libertar a Filosofia das suposições, predisposições e dúvidas. É claro que essas, de acordo com a época, vinham dos dogmas religiosos e de pura Mitologia e crendices. Já em Husserl, as suposições, as dúvidas etc. provinham das conjunturas de sua época, o Racionalismo e o Materialismo, além, é claro, dos dogmas da Igreja. Tirando essa diferença, vê-se que:

Descartes afirmou que “embora quase tudo pudesse ser posto em dúvida, ele Não podia duvidar de que duvidava. Sua brilhante dedução usou a duvida evidente para chegar a uma certeza tecnicamente incontestável.

Husserl pretendia o mesmo. Usar o que poderia ser visto como incerto para alcançar uma certeza quase palpável. Para tanto sugeriu que se adotássemos uma postura “cientifica” em relação à Experiência – descartando toda suposição (inclusive de que há um Mundo fora de nós mesmos) – poderíamos, então, começar a pensar de modo filosófico, como numa lousa intacta, livre de predisposições, pré-julgamentos, pré-conceitos, pré-deduções etc. E foi justamente a esse Método, a esse tipo de abordagem que Husserl chamou de Fenomenologia. Ou seja, uma investigação filosófica sobre os Fenômenos da Experiência.

Dizia: precisamos olhar para a Experiência com uma “atitude cientifica” deixando de lado (ou “Colocando entre Parênteses”, conforme suas palavras) todas as nossas suposições. Então, se olharmos com paciência, cuidado e atenção, poderemos criar uma base segura de Saber, de Conhecimento que nos permitirá trabalhar com os problemas apresentados à Filosofia desde os princípios da História.

Em tese, Husserl teria descoberto a “Pedra Filosofal”, mas infelizmente seu Método fracassou. Vários Pensadores tentaram utilizá-lo, porém nunca houve concordância entre os mesmos, tampouco sobre o que seria o Método, propriamente dito. E, claro, a maneira de usar-lhe na prática. O próprio Husserl, no final de sua carreira admitiu ter falhado na tentativa de dar aos Filósofos e a outros Eruditos a maneira de se abordar uma questão teórica, especulativa, abstrata, filosófica com todo o rigor cientifico.

Restou-lhe o consolo de ter criado uma das Tradições Filosóficas mais ricas e citadas e, talvez, a esperança de que seu Modelo de Estudos venha a ser aperfeiçoado por outrem e possa ser útil efetivamente.

São Paulo, 18 de Abril de 2012.

terça-feira, 17 de abril de 2012

O Rei que Assassina Elefantes

O Rei que assassina elefantes vive na “Terra de Cima”. Num canto do Mundo, acima das “Colunas de Hercules” e à beira do Mar.

É um lugar de muita maldade, contam os narradores de Histórias. Ainda bem que são só História, pois imaginem que chegam a dizer que lá torturam os touros até a morte, enquanto homens gordos bebem sangria (até o nome da bebida...) e olham para as mulheres que sonham com o homem que mata touros, logo após outros “corajosos” terem lancetado o indefeso Miúra.

Também dizem os fabulistas que a maldade dessa gente é antiga. Que desde os Antigos, ele já torturavam, roubavam, escravizavam e matavam os nativos que viviam nas terras que eles “descobriam”.

Mas como se isso ainda não fosse o bastante, os fabulistas contam que foi lá que nasceu uma Organização tenebrosa que se chamava de “Santa” e tinha por “Santo Oficio” fazer a “Inquisição”. Mas será mesmo que os bons freis e os amáveis abades eram como contam seus detratores. Não! É Mentira! Os sacros sagrados nunca torturaram e nem queimaram vivas quaisquer pessoas. Nem mesmo aqueles “perros cachorros” que duvidavam da “Santa Madre”. Tudo foi invenção dos malditos cronistas do 3º Mundo e do 7º Círculo de Dante.

- Mas, os do 3º Mundo e do 7º Círculo podem falar? Olhe lá. Ele gosta muito de dizer:por que não te calas?”.
- Podem sim. A América não é mais dele Ah, ah, ah, ah.

Silêncio “cucarachas”! Voltemos ao nosso bom Soberano, que para esquecer a miséria que “su tierra” vem passando (igual a do tempo em que eles tinham que pedir a benção ao Patrão “Adolf H.”) foi passear no País de “los negros” (que alguns compatriotas de sua Majestade chamam de “los símios”), e lá, como se tudo já não fosse o bastante, eis que o Majestade-Leso (estarei cometendo o crime de lesa-majestade?), de arma em punho (calma, estamos falando de um fuzil) posa para Daguerre após ter assassinado um elefante.

Precisava de mais isso?

Dedicados a todos (as) que não assassinam elefantes e nem torturam touros. OLÉ!!!!

Fatos e pessoas fictícios. Qualquer semelhança com a realidade terá sido mera coincidência.

domingo, 15 de abril de 2012

Filosofia Contemporânea - KIERKEGAARD, Soren - A Vertigem da Liberdade.

KIERKEGAARD, Soren
1813 – 1855
A angústia é a Vertigem da Liberdade.

KIERKEGAARD nasceu em Copenhague, Dinamarca, durante a chamada “Era de Ouro da Cultura Dinamarquesa”. Veio ao Mundo no seio de uma família de ricos comerciantes. Seu pai, crente fervoroso e propenso à melancolia, provavelmente, transmitiu-lhe essas características (KIERKEGAARD acreditava piamente na existência de Deus [nos moldes cristãos], mas era um duro e ácido critico da Igreja Dinamarquesa, a quem acusava de hipocrisia) que influenciaram diretamente a sua Filosofia. Soren estudou Teologia na Universidade Copenhague e frequentou vários Seminários de Filosofia, adquirindo uma vasta Cultura nessa área. Com a morte do pai, herdou uma fortuna considerável e a partir daí passou a se dedicar com exclusividade aos estudos filosóficos e teológicos.

Em 1837, KIERKEGAARD apaixonou-se e iniciou um namoro com a Srta. Regine Olsen, com quem noivou após três anos. Porém, um ano após ter feito o pedido de noivado, rompeu o relacionamento alegando que a sua melancolia (que talvez hoje fosse chamada de “Depressão”) incapacitava-o para a vida de casado. A partir de então, a solidão foi constante em sua vida, bem como a tristeza que o tornou o emblema de uma geração de Pensadores que começava a descobrir o peso pela responsabilidade de existirmos.

Durante toda sua vida, as oscilações de humor estiveram sempre presentes e a sua difícil personalidade não lhe ajudou no meio-social, tornando-o um solitário e amargurado homem, inteiramente dedicado ao trabalho, aos estudos e a sua angústia incurável. Condições perniciosas, de fato. E que lhe custaram à própria vida quando ainda era um jovem senhor de quarenta e dois anos. Sua morte aconteceu após uma queda e uma perda de Consciência e embora tenha sido socorrido em um Hospital, não resistiu e um mês após o acidente expirou pela última vez.

A seguir, estudaremos o seu ideário:

  • Quando tomamos decisões, temos a “Liberdade Absoluta*” de Escolha.
  • Nesse processo tomamos consciência de que podemos escolher entre: Nada fazer ou Fazer algo.
  • Diante dessa capacidade, nossa Mente se abala ante a ideia de que Nós Temos Liberdade Absoluta.
  • E descobrimos que a Angústia é a Vertigem** da Liberdade.

Nota do Autor* (1) – não abordaremos a questão das limitações que a penúria impõe ao indivíduo, fazendo com que suas Escolhas não sejam tão livres quanto propôs o filósofo, para não prejudicarmos a correnteza de seu Pensamento.

Nota do Autor**(2)  – O fato de saber que só nós mesmos é que teremos responsabilidade pela Escolha que fizermos e, que por isso, arcaremos com as consequências dessa Escolha, impõe-nos uma Liberdade para a qual não fomos preparados, pois somos “jogados” no Mundo aleatoriamente. Nada nos precedeu e tudo que tivermos que aprender será no desenrolar da vida. Possuirmos, então, tamanha Liberdade ofusca-nos e nos causa à sensação de vertigem, da qual sobrevém a sensação de angústia que nos acompanha em todos os momentos da existência, mesmo quando nos acovardamos e nos refugiamos na “Vida Inautêntica”; ou seja, naquela em que as ocupações e preocupações se limitam à superfície das Coisas, sem adentrar mais profundamente nas grandes questões.

KIERKEGAARD é considerado por vários eruditos como o fundador do “Existencialismo”, principalmente no ponto em que somos classificados como Seres abandonados na vida. O horror que sentimentos por termos a Capacidade de Escolher vêm da intuição de que pagaremos por nossas decisões. Somos deixados aleatoriamente num Mundo que exige escolhas a cada segundo (mesmo inconscientemente, estou escolhendo qual palavra usarei), sem que Nada, nem Ninguém, nos preparasse para optar por “X” ou por “Y”.

Essa visão “Pessimista” de seu Pensamento surgiu como reação ao “Idealismo Alemão” que dominava o cenário filosófico do Ocidente, em meados do século XIX, e lhe granjeou vários desafetos e inúmeros seguidores desejosos de experimentar outro modelo filosófico e, assim, escapar da visão única que se instalara nos meios acadêmicos e eruditos, principalmente graças à hegemonia do ideário de Hegel e de seus admiradores.

KIERKEGAARD se propôs a combater a noção de um “Sistema Filosófico Completo”, nos moldes do Hegelianismo, cuja tese central definia a Humanidade como mera parte de um Desenvolvimento (ou de um desenrolar) Histórico inevitável. Defendia uma abordagem individualista, ou subjetiva, de cada Homem. Buscava investigar o que significa ser um Ser humano”. Não como parte de um Grande Sistema Filosófico, mas em sua nobreza de indivíduo singular e autônomo.

KIERKEGAARD acreditava que nossas vidas acontecem por obra das nossas ações, as quais são oriundas de nossas escolhas e que o modo como fazemos tais escolhas é crucial. Nesse ponto, KIERKEGAARD segue Hegel e define as nossas Opções Morais, como o embate e a decisão entre o autoprivilegio Hedonístico (no qual, o indivíduo só se preocupa em obter a máxima satisfação material possível, sem qualquer preocupação com os direitos alheios e com as questões mais profundas da vida.) e a Consideração aos interesses de terceiros, num procedimento altruísta e ético.

Contudo, se para Hegel essa escolha era grandemente influenciada pelas condições materiais, intelectuais e emocionais do Momento Histórico, para KIERKEGAARD as Escolhas Morais serão livres dessas influências.

Veja Nota do Autor (1)

E, ademais, serão, sobretudo, subjetivas (pessoais), dissociadas de qualquer relação com o grupo. Cada indivíduo faz a sua Escolha de acordo com suas convicções e com seus valores. Por isso, inexiste qualquer padrão ou tendência nessas opções. É exclusivamente a Vontade do Indivíduo que determina seus Julgamentos.

Porém, ao contrário do que se poderia imaginar, essa Liberdade Plena de Escolha está longe de nos causar prazer, felicidade; pois, através dessa condição, tornamo-nos os únicos responsáveis pelo acerto ou pelo equivoco de nossas decisões. Somos obrigados a decidir, sem que nada ou ninguém tenha nos ensinado como fazer a escolha certa; ou se existe uma “escolha certa”.

 E termos ciência desse fato, dessa enorme responsabilidade e do fato de não haver “um Manual” que nos oriente É a causa e razão da constante apreensão que sentimos. Do constante medo de “escolhermos errado” e das consequências que tal erro nos acarretará. Consequências que podem ir de um doloroso Remorso, de um penoso Arrependimento Individual, até a severidade dos Tribunais. Além, é claro, da perspectiva de sermos castigados por toda Eternidade, conforme ameaçam as Religiões.

É essa a Eterna Angústia* que todos sentimos. Inclusive aqueles que tentam se refugiar na chamada Vida Inautêntica, a qual, como se sabe, caracteriza-se pela busca incessante de diversões e de ocupações que ao preencherem o Tempo com coisas sem fúteis e Sentido, isentam-nos de refletir sobre as Questões mais profundas e reais da Existência.

Contudo, para esses inautênticos a Angústia chega a ser mais poderosa e presente por vir acompanhada da ignorância, que torna os fantasmas maiores e mais poderosos. Todos os problemas, quando olhados diretamente, parecerão menores do que se supunha, ou, pelo menos, não atingirão estaturas descomunais, cuja origem é a paúra daqueles que desviam o olhar e se negam a encarar a Realidade.

E é para se homiziar da inelutável “Angústia” e perpetuarem a ilusão de que há algum Propósito, algum Sentido para a Existência, que os Inautênticos (e até alguns Pensadores) inventam Deus (es), aos quais repassam esses “mistérios”, junto com a responsabilidade de nos fazer felizes, enquanto se resignam a obedeceram à “Lei ou à Vontade de Deus”.

KIERKEGAARD abordou esse sentimento de Medo Constante e difuso em sua obra “O Conceito da Angústia”, de 1844. Ali, além das observações acima expostas, o filósofo utiliza-se de exemplos para explicitar essa malévola sensação. Citaremos um deles:
Um homem, no alto de um precipício ou de um prédio, olha para baixo e sente dois tipos de medos:

  1. O medo de cair no vazio (ou no Desconhecido), ou das consequências que terá que suportar em decorrência de sua escolha. Seja ela qual for, pois nunca se agradará a todos, sempre restando uma parte ressentida.
  2. O medo do próprio impulso de saltar no ar. O medo do suicídio, que pode ser (e quase sempre é) agravado pela crença de que se está cometendo um “Pecado” perante o Deus de sua Religião. Ou, ainda, o medo da censura ao gesto que a Sociedade fará, taxando-o de “covarde”.

Obs. – talvez possamos incluir nos tipos de “Medos” acima, aquele que pode nos impulsionar ao suicídio, quando tomamos ciência da nossa condição de “Sisífos”, cuja labuta insana, sem sentido (como a maioria de nossas ocupações, em sentido largo, filosófico) obrigava-o a rolar a rocha (ou a vida) morro acima, só para vê-la cair, tão logo atingisse o cimo do monte.

Como dissemos, tais medos veem do “Poder de Escolha”. De se saber capaz “de pular ou não do precipício”. E de ser incapaz de saber se DEVE, ou NÃO saltar. Medos tão atordoantes que geram naturalmente, automaticamente a “Vertigem*”.

Vertigem* - produto de efeito colateral de nossa Liberdade de Escolher, de sermos livres, o que nos acarreta a total responsabilidade por nossas opções. O medo dessa responsabilidade assume tal dimensão que nos atordoa, causa-nos tontura, vertigem. Vertigem que, tempo depois, Sartre chamou de Náusea. Com efeito, a patologia “Vertigem” quase sempre é a primeira manifestação da patologia “Náusea (com vômitos, mal-estar físico etc.)”. Tanto em seu aspecto físico, quanto filosófico.

Nota do autor – mencionamos acima que o medo do Suicídio chega ao Crente acrescido do medo por pecar. Essa junção, essa somatória, talvez, possa explicar a Melancolia Crônica (que hoje seria chamada de Depressão) de que KIERKEGAARD sofria e que o levou a uma vida de solidão e tristeza. Afinal, a sua devoção religiosa foi constantemente bombardeada pelas verdades da Racionalidade filosófica e desse embate, ficou-lhe as sequelas.

Por outro lado é possível observar o quão duro para o Homem é escolher. Quase todos, segundo suas posses delega a terceiros a decisão que deveria ser sua. Para fugir dessa responsabilidade, o Homem, salvo as exceções, não hesita em se submeter às escolhas alheias. E, assim, pode viver resignadamente seguindo as Leis, os Costumes, as Regras que outros decidem implantar, pois fala alto e de modo imperativo o nosso instinto animal de sobreviver a qualquer custo. Pedimos, porém, ao contrário dos outros animais, a concessão do “direito” de sermos “vitimas” das circunstâncias produzidas pelas escolhas que terceiros fizeram. O caso da Política partidária e eleitoral é um exemplo clássico dessa situação.

Para KIERKEGAARD, sentimos a mesma angústia (nas devidas proporções) ao fazermos qualquer tipo de Escolha Moral, ocasião em que nos tornamos conscientes do Poder que temos e que nos possibilita até a mais terrível das decisões. KIERKEGAARD descreveu essa Angústia como A Vertigem da Liberdade*.

A liberdade que temos para escolher um caminho ou outro implica na responsabilidade que assumimos ao fazer tal escolha. O pavor pelas consequências da nossa opção e o próprio Poder (ou a obrigação) de decidir (sem que exista algum “Manual” que nos ensine qual a decisão acertada) causa-nos tal horror que ao se tornar crônico passa a ser chamado de “Vertigem”.

E foi além, ao explicar que, embora ela cause desespero, pode também nos ser útil ao nos livrar de respostas impensadas, na medida em que nos torna mais cautelosos e mais cientes das opções, ou escolhas disponíveis.

As ideias de KIERKEGAARD foram rejeitadas por seus contemporâneos, mas influíram decisivamente no Pensamento de gerações posteriores. Sua insistência em ressaltar a importância da Liberdade de Escolha e da interminável busca por um Significado e/ou Propósito para a Vida, forneceram o primeiro arcabouço para o Existencialismo que foi encampado por filósofos do porte de Nietzsche, Heidegger e, mais tarde, por Sartre que o estruturou, organizou em definitivo.
  
Como já mencionamos alhures, KIERKEGAARD, ao contrário da maioria doutros Pensadores não perdeu a Fé em Deus, ainda que fosse o primeiro erudito a conceber que podemos perceber a autoconsciência; ie, a Consciência sobre o que somos e o nosso medo (atávico? Genético? Congênito?) por termos a Liberdade Absoluta. Inclusive para deixarmos de ser. Deixarmos de existir.

São Paulo, 14 de abril de 2012.

Bibliografia Consultada e Recomendada:

Dicionário de Filosofia – 6ª Edição
Nicola Abbagnano
Tradução – Alfredo Bosi e Ivone Castilho Benedetti
Ed. VMF – Martins Fontes SP.

O Livro da Filosofia – Anna Hall, editora de projeto e Sam Atkinson, editor Sênior – Londres, Grã Bretanha.
Tradução de Rosemarie Ziegelmaier.

Pequeno Dicionário de Filosofia Contemporânea – Oswaldo Giacoia Junior – Ed. Publi Folha.


A História da Filosofia
Org. e texto final – Bernadette Siqueira Abrão.
Ed. Nova Cultural Ltda.