sábado, 31 de dezembro de 2011

Novo

Deuses choram pelos homens inapropriados,
por suas maçãs e seus pecados.
Giram os Céus, rodam os Anjos
enquanto rezam as carolas
e bêbados proféticos
alertam para as pragas
em todas as águas.
Que houvesse logo a renovação
que os "Sacros Textos" anunciam.
Que Shiva não tardasse
e que o novo mundo breve chegasse,
para que nem todo sonho acabasse.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Romã

Apenas os lírios imerecidos
resistem no jardim sombrio.
Estão secas as seivas do desejo
e inférteis estão os ardores.

Daninhas ervas
esterilizaram as sementes
do Futuro que se quis

e o perfume
de ontem a noite,
perdeu-se nesse
dia desconhecido.

Que, então, as sombras
tivessem retido
a noite passada.
Ainda se esperaria
o amor da amada.

Agora, não mais.
A romã não se partiu
e a chuva só caiu
em meados do finado Abril

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Traição

Malha a bigorna
o coxo Hefesto,
enquanto remói
o ódio, o ciúme
e todo o resto.

Maldito Ares, vocifera.
Maldita besta-fera
que trouxe o gozo
para Afrodite,
a amante insaciada,
qual fêmea alucinada.

E presto, Homens e Deuses
planejam a vingança
(e nela pôem a última
esperança).
Febre malsã
de todo amanhã.

Que se exponha à censura,
a vergonha do adúlteros.
Que lhes cessem toda mesura,
pois eis que trairam
o sonho que permitiram.

Que gemam cativos
na rede dos mortos-vivos.
Que peçam clemência
pelo estupro da inocência.

E que implorem
por um gesto de nobreza,
da traída certeza.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Novo Ano do Dragão

Insistem os Profetas
sobre o fim do Mundo
cantado pelos Poetas;

e louvam a racional
conduta reta,
como se a Vida
só tivesse
um face Concreta.

Como se fosse um
teste de Virtude,
ainda que essa
seja apenas um
amestrado de atitude,
conforme o Tempo
e a Latitude.

Esquecem do "Engenho Humano*"
e que mesmo com alguns recuos
a Nave do Homem ainda Navega,

E que, como Argonautas,
seguimos em busca
do Velo dourado
e do esconjuro
do Mal profetizado.

Esquecem da bondade de tantos
e dos nossos Guias, Anjos e Santos.
Esquecem que entre tantos predadores,
ainda brota um Girassol
isento de rancores.

Que ainda nasce uma nova manhã,
por graça de Iansã;
e que há puro amor
no gesto de limpar
o que chamamos de Lar.

              
                        *da Poética de Luiz Vaz de Camões.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Sátiras

Sátiros selvagens
destroem velhas imagens
e entopem as ruas
e as artérias
de espessa serragem
e nebulosa friagem;
e do horror de
gritos pavorosos
que minam qualquer
coragem.
Faunos proclamam
o Império da Luxúria,
da orgia e da incúria.
Tudo vale em camas comuns
de amantes incomuns.
Reinam as feras do Umbral,
os zumbis do Portal
e a sanha do anormal.
Virgens violadas
gemem amedrontadas,
mas anseiam
por novas escapadas.
Derrubam-se Muros e Morais
nesses dias de libertos infernais
e de libertinos angelicais.
Menos é mais
em rúpias
de volúpias
pelas indianas prostitutas
que sonham com a negra Kali,
pois só o Diabo as escuta.
Enquanto tal, um maestro sem batuta
adere à religiosa labuta
na dança que se dança
em lúgubre disputa.
Reina Ares, amansador de Cérbero,
antepassado do infame Nero.
De tudo eu quero,
mas de ninguém espero,
como repete Ravel no Bolero*,
pois a vida é escrita
a fogo e ferro.
Balas perdidas
são mortes indevidas.
Ceifadas estão as Margaridas,
as malditas flores possuídas
por falos e mentes
dementes.
No vidro da mesa,
só uma "carreira de acidentes".
São dos "Dias do Senhor"!
De choro e ranger dos dentes.


                   *da obra de Maurice Ravel "Bolero".

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Natalício

O cheiro do assado
permite-me saborear
alguns Natais que vivi.

Ainda ouço, quando atento,
alguns dos antigos sons:
um misto de riso embriagado
e discurso esperançado.

E se mais atento,
ainda sinto o que
o Tempo quase levou,
mas que um bom genio deixou:
perdões dados e recebidos,
beijos trocados
e uma trégua nas lutas cotidianas
e nas costumeiras cizânias.

Lembro-me que ao redor da mesa
eu pouco falava,
pois ali já estava
o que, de fato, imperava:
Um simulacro de fraternidade,
chegado da Eternidade.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Fernanda Atriz

Vê-se que cumpriu
a vida e viajou seu
tempo.
No rosto, ostenta
rugas majestosas.

E fala, com a sabedoria
dos escolhidos, do
companheiro por
sessenta anos, da
nobre dificuldade
de seu ofício e do
viver sem o medo
do que seremos.

Linda mulher de setenta,
oitenta, noventa anos.
Sem a mesquinhez de
uma pele artificialmente
lisa, como fruta de cera.
Linda Arlete que ostenta
sua Fernanda como estandarte
de uma dignidade cada vez
mais rara.

                   Homenagem pouca à Fernanda Montenegro.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Arco-Iris

Chove uma saudade
que não cessa
e sinto o peso
de tua ausência
em cada gota
que recomeça.
Mas ainda visto
um Arco-Iris de Promessa,

pois o Sol que prevejo
será mais que um
simples lampejo

e haverá de iluminar
tudo que fizermos,
pois amores são eternos.

                     

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Mestrado na USP

Peço licença aos meus queridos (as) leitores (as) para externar minha imensa satisfação em comunicar que meu filho Thyago, ao concluir sua Graduação pela UNICAMP,  foi aprovado para fazer o Mestrado na USP.

Filho, não custa repetir que você me dá mais que orgulho; você faz a vida valer a pena. Um beijo enorme.


Voragem

A paixão que me cega
e o desejo
que Eros sobrecarrega,
fazem-me desdenhar
de todo juízo e
mergulhar deliciado
nesse turbilhão alucinado.

A voragem que me traga
cobra-me alguma sobrecarga
e tanto gira a vida
que já nem sei
até quanto me dei.

Talvez, no Futuro, eu sofra
e me arrependa,
pois o Amor não é coisa
que se entenda;

mas, não agora.
Ainda que digam que já
não é hora
e que a Paixão é um precipício
do qual só se sabe do inicio,
viverei até o limite
essa querência que
a vida me permite.

domingo, 18 de dezembro de 2011

sábado, 17 de dezembro de 2011

Calendários Astecas

Rugem as bestas-feras
das Novas Eras.
Anunciam as trevas
das gentes, pencas e levas
a caminho do Armagedon,
profetizado por quem tem o dom
de ver o negro Futuro
envolto pelo Sol escuro
e pintado no sudário impuro.

Fim do pós-pangéia
da confusa geléia
fervida por Circe e Silvia Réia.
Inicio do Hades obscuro
e do terror intra-muro.
Começo doutro círculo dantesco,
da catástrofe prevista pela UNESCO
e da 3ª Guerra do tedesco.

Tempo de novos Minotauros,
de Faunos e Centauros
anunciando os novos Dinossauros.
Tempo de Shiva destruidor,
de Kali e do sangue vingador
que haverá de seduzir
a última Parca a urdir
os fios dos viventes sem dentes.

Século do anti-herói,
do murro que dói,
do aço que se corrói
e da ira que nada constrói.

Homem! O que fazes?
Por que só a Morte tu trazes?
Se teu foi o Paraíso
onde esquecestes o Juízo?

Prometeu maldito!
Por que lhes deu o Fogo e o Rito?
Quem, doravante, calará seu grito?
Maldita Afrodite!
Por que os fez procriar
e como a Peste se espalhar?
Vejam deuses:
demos o que de melhor havia
e tudo arruinaram.
A tudo arrasaram.
E festejam como Dionísio,
copulam como Narciso
e esperam Nova Esperança.

Vá Pandora!
É chegada a hora.
Renove suas Esperanças
que não tardarão suas novas matanças.
Em breve acabarão
como o que julgávamos
o ápice da Criação.
Ouçamos seu alarido
e vejamos seu Gênesis invertido...

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Vésper

Fresca da brisa
diga à moça da esquina
que tudo se suaviza,
que tudo se alisa,

quando Vésper chega
e nos oferta o beijo urgente
da vida embrulhada
para presente.

E mesmo que
o dia quase ausente
ainda pinte o que se sente,

já se sabe da noite chegada,
da Lua escancarada
e da querência de mais nada.

                        

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Poços de Caldas

Bem sei das estátuas
que descem dos pedestais
e caminham entre as Caldas
nas alamedas do teu jardim.
E das outras, que refletem
a cigana noite
em Poços adormecidos;

pudesse, eu queria te ninar,
como disse o *Poeta.
E acariciar as matas
que te ornamentam
como ciros e cílios
de teu nobre olhar.

Banharia meu corpo cansado
no morno rio que tuas entranhas
escondem.
Banharia minha alma exausta
na certeza de ter
voltado ao ninho.

               * da Poética de Vinicius de Morais .

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

As Matinas

Olha-me a Lua
com seu branco segredo.
O que comentam
as samambaias do corredor,
ao me verem caminhar
em todas as madrugadas
dos últimos 54 anos?
Em que medida eu
participo das coisas?
Até quando sou eu;
e não só uma das personagens
desse antigo porta-retrato
de familia?
Saberão que ainda vivo,
que choro, rio e tenho
vontade; que tenho alguma bondade,
e que tenho, sobretudo, saudade?

Foi aqui que vi uma bola de fogo
vinda do Céu. E brinquei com um
cavalinho branco que, também,
veio do Céu.
Mas o tempo... Tempo... Tempo.

Logo eu ouvirei "As Matinas" na
Igreja próxima. Será a hora
de tomar outra Morfina
e de fazer a última ronda da noite.
Amanhã, farão 55 anos que percorro
esse caminho.

                             Para Thyago, meu motivo.

Cult

Dormem os Gatos vagabundos
sobre os Pensares Profundos.
Já os vadios Cães
sonham aos pés de Guimarães.
Os Grilos da Consciência
ainda tentam despertar
uma outra clarividência,
mas os Ratos sorrateiros
já roem os Saberes Verdadeiros.
Ao Galo, só resta comandar
a muvuca do puleiro.

Que se queimem os livros derradeiros!
Sim! Decrete-se o fim da Cultura,
silva a Serpente, inimiga da Leitura.
Sim! Que se idiotize a distinta platéia,
uiva a feroz Alcatéia.
Que todos se hipnotizem
até a beira da vertigem,
zurra o Burro Pimpão (que
nem por isso assiste ao
"Grande bbb Irmão")
.

Que se deleitem com
a orgia Pantagruélica
e Freudiana, suspira
a Borboleta Machadiana...

E riem à sorrelfa
os lépidos animais
ao saberem o
quanto se paga,
por uma câmera a mais...

- Talvez todo ouro roubado da Gerais.
- Ora, ora, ó pá, de quem tu falais?
- Psiu! não lhes (nos) interrompam os Instintos Bestiais.


E dança, canta e balança
a bicharada que se lança
ao festim dos incultos
e dos pobres estultos.

E assim caminha,
em fila errada,
a Humanidade adestrada,
que a um comando
ri uma gargalhada
e assiste à "TV-Nada".

domingo, 11 de dezembro de 2011

Érika

Se a bala foi perdida,
ou se foi indevida,
o que importa agora?

A boca do forno
crema primeiro
a pouca fantasia
que viveu
e a morte
que antes lhe ocorreu.
Dupla morte
para o sonho
de consorte.

Depois, o ramo de jasmim
desce à barca de Caronte,
ao rés do horizonte.

Acima ficamos nós.
Acima, ficamos sós.
Que AEDO eternizará
uma Érika que já não há?

               Para a Sra. Gertrudes e Sr. Christopheer.

sábado, 10 de dezembro de 2011

A Lágrima e a Chuva

Contraponto da chuva,
uma lágrima cai.
Entre ambas,
uma vidraça
separa as dores de ir
e a de ficar.

Tristeza comum que
repete lugares-comuns:
e se fala da distância
que o Tempo aumenta
e da saudade de quem
se ausenta.

E era pouco
o que se queria:
só um amor de calmaria,
mas o adeus inesperado
não se fez de rogado
e entre a chuva e a lágrima
levou cada qual para um lado.

               Para E.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Desterros

Belo como o de Narciso,
revejo teu sorriso
e me calo conciso,
pois bem sei
o quanto te preciso.

Amparados num
muro sem arrimo,
como tolos
nos ferimos;
e sem bem saber
o que fazer
com a felicidade
que nos foi dada,
deixamos que a sordidez
nos tornasse três.

Já fomos queixume
de um mesmo ciúme,
e juntos nos servimos
da vida em bandeja;
mas, ingênuos, e sem
que se visse,
interromperam o banquete
e varreram nosso amor
para baixo do tapete.

Agora, há que se aguardar
a nova Aurora chegar.
E que os nossos erros,
sejam corrigidos por esses
duros desterros.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Semestre

Seguro por tua mão
faço fácil
a travessia,
para o Futuro
que seria.

E nem faz
tanto tempo assim;
só um Semestre,
desenhado pelo deus-criança,
habituado às inconsequências
das puras inocências.

E pensar que antes
a vida era só escambo...
Uma garfada de maxixe,
um passo de mambo
e um destino mulambo...

E sempre a esperar
a boa sorte que viria,
a roupa da lavanderia,
a herança d'alguma tia,
o ouro da ouriversaria
e uma ou outra fantasia...

Agora não mais.
O que nos aguarda,
doce amada, não sei;
Mas sei-te Oceano
em que desaguo
o rio que me tornei.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Camadas

Desconheço
quem me olha
do espelho.
O que a vida fez
com aquele Homem?
Será que ele conservou
algumas das esperanças
que juntos tivemos?
Das quimeras que vivemos?

A espuma do sabão
espalha-se pela barba,
mas por mais
que eu a raspe,
não consigo
remover as camadas
que o Mundo acrescentou.

Abaixo delas
conservou-se o
que sonhei?
Aquilo que pensei?
Quem eu amei?

O que foi que sobrei?

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Chover

Cai uma chuva
tão suave,
que se pensa
que Deus nos acaricia.

Tudo existe
para findar o
que é triste.

O cheiro de terra molhada
preenche todo vazio
e é de toda sede
o pleno sacio.

O tempo passeia
no relógio
e a tarde se estende
até onde se compreende.
A vida, aos poucos,
se entende.

       

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

O Homem e um Cão

Um Homem chuta o cão. Sem motivo.
Vive tal Homem por qual motivo?
Quem lhe encharcou de maldade?
Quem lhe injetou crueldade?
Aquilo que nunca teve,
mas lhe deixou saudade?

Ressinto a dor do Cão chutado.
Pressinto outro golpe no costado,
mas o Homem se vai;
e de sua ausência
nenhuma humanidade cai.

O Homem se vai,
um resto de decência se esvai.
Findou-se qualquer colorido
quando o Cão chorou seu ganido.

Também me vou,
incerto do que sou.
Nada fiz contra a covardia.
Apenas, segui meu dia.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Medievallis Humanitas

Jarra de jade,
em que armário
ficou tua outra
metade?

Porcelana de Cantão
(de antes da China em massa)
conte-nos o que passa
e o que queres
que o Mundo lhe faça.

Aristocrático Serviço de Chá
da "England" matriz,
relate o que se ouve
da Colônia que houve.

Nobres baixelas e
cristais de Bruxelas,
para onde segue
vosso barco
sem velas?

Digam, empertigados
mordomos,
o que será feito
de vossos donos?
O que lhes circunda
a mesa rotunda,
dos nobres salôes
alegrados pelos bufôes?

Que fim levaram
Reis e Rainhas,
Duques e Duquezas,
o Clero e a baixa nobreza?
Foram decapitados em Paris?
A Revolução os venceu?
Justo quando se pensavam
em pleno apogeu?
Ou só estão
nos Castelos de Verão?

E os Bardos, os Menestréis?
Ainda empanturrados
de proezas e pastéis?
E as cortesãs
ainda vos alegram
com o lúbrico
Cancan e o
fingido afâ?

Digam, louças serviçais,
vosso Deus
ainda exige Prata
nos castiçais?

E os Homens da África
ainda são levados
como gados?
E os do Novo-Mundo
ainda são exterminados,
digo, catequisados?

A vossa Inquisição
ainda persegue
o que julga pagão?
E prende, tortura e mata
quem não lhes comunga
a fé vagabunda?

Oh! Tempos de antanho,
é tão estranho
ver-te reproduzido
nesse agora sem sentido.
Ver tuas mazelas,
tuas falsas donzelas,
cometerem de novo
o Pecado
que se pensava acabado.

Ver que a sucessão dos dias
só mostra noites vazias.
Que tua alma, pouco ou nada
evoluiu;
e que ainda carregas
os germes da
Servidão e da Submissão.
Que ainda se rende
ao "Nho-Nho estrangeiro"
que lhe prende.
Que praticas o sofrimento
e não se arrepende,
pois só o que queres
é o tosco prazer hedonista,
estampado numa capa de revista.

                            Para Natália Mantovani

Re-Chegada

Eis que um
verso é chegado.
Talvez cante
um amor, uma saudade,
uma dor, uma vontade.

Talvez cante
uma florada,
uma volta, uma chegada;
ou o riso da Amada
e sua pura nudez
em plena madrugada.

Talvez cante a calma
do orgasmo saboreado
e a do Nirvana conquistado.

Talvez cante a esperança
da utopia que não se alcança
e a da liberdade
sem fiança.

Quiçá cante
o regresso de um sonho
e a vida devolvida,
ou a poesia
que em qualquer jardim
era colhida.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Ernesto Che

Ver-te morto
como um trapo,
não diminui tua aura
de heróico guapo.

Feriram-te o atraso
e o pensar raso
de trevas seculares
e mentes tumulares.

Feriram-te covardes
em longe arrebalde;
e, no entanto, debalde,

Pois em ti
a Revolução vive,
e junto, a liberdade
de ser livre.

                Homenagem pouca a Ernesto "Che" Guevara.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Escola Primeira

Moveis cobertos
por lençóis empoeirados
contam do esquecimento
a que foram lançados.
Dias tantos,
tantas noites,
passaram por entre
as carteiras vazias
e a voz da última professora
ainda ressoa
como eco de abandono.
Foi ali que vivi
parte do que sou.

Dali eu via a Mantiqueira
que, com o tempo,
virou só lembrança.
Escola primeira
da primeira professora:
Marilia, sem poema
e sem Dirceu,
na Escola Primeira
que um dia abrigou
quem seria eu.
Abrigou, o Mundo
que seria meu.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Poesia e Rima - Ensaio

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Já se disse que “ninguém é poeta por saber rimar”. É certo. Pois, ainda que seja louvável a arte de buscar com denodo palavras de sons iguais e, além, composições métricas que fazem de simples frases sentenças melódicas, não está aí o quê pode definir a Poesia.
Em perfeito pari-passu com a História do Homem, a poesia adquiriu com o correr do tempo as mais variadas formas, passando de versos alexandrinos a parnasianos, a românticos, a simbolistas, a concretos etc. até que em meados da década de 1920, chegou-se ao predomínio dos Versos Livres.  No Brasil, esse momento se deu mais especificamente durante a Semana de Arte Moderna em 1922, com a ascensão de Carlos Drumonnd de Andrade, entre outros.
Versos livres, por serem literalmente libertos das amarras acadêmicas de Rimas, de Metros e de Esquemas e Fórmulas. A poesia pôde, enfim, voar em seu elemento: o sentir!
Não que antes não bebesse dessa fonte, pois os Sentimentos sempre foram o alimento da Poesia. Porém, a exemplo do amor que cantava, o Poema vestia tais e tantas armaduras que a beleza de sua alma ficava restrita aos poucos possibilitados de entendê-la. Aos demais restavam os arremedos indigentes da arte, fato que ensejou o surgimento dos folhetins, das trovas pornográficas, das novelas popularescas e outras expressões que florescem em meios brutos e incultos.
A poesia, como arte, ficou restrita aos Saraus da pernóstica burguesia e, depois, aos bancos escolares com a imposição de antigas poesias, com suas formulas e temas vestutos. E esse panorama sombrio só mudou - primeiro na década de 1920 - e, depois, em meados de 1968 com a explosão cultural que seguiu às rebeliões contra o antigo Sistema. A poesia, como gênero literário, foi redescoberta a partir do surgimento de uma nova e talentosa geração de poetas. Se nos anos de 1940 a 1950, algo parecido já acontecera, agora o movimento abrangia a quase todos os seguimentos sociais. Letras de Rock, de Baladas, de Sambas, de “Músicas de Protestos” etc. cantaram amores e Causas com tal beleza que taxá-las de Poesia foi uma decorrência natural. E aqui no Brasil se fez mais. Junto com o talento de Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Simone e tantos (as) outros (as); poetas já renomados como Vinicius de Moraes, trocaram a caneta pelo violão para declamarem seus versos. Outros, sem o talento musical do Poetinha, foram integrados à explosão cultural e o Mundo viu o esplendor de Drumonnd, João Cabral de Melo Neto, Manuel Bandeira, Cecília Meirelles, Thyago de Mello etc. serem mostrados em Teatros, em Cinemas, em Shows, Sambódromos etc. Em paralelo, assistia-se ao nascimento de Menestréis do porte de Cazuza, Wally Salomão etc. Fez-se Poesia!
E é nessa trilha que aprendizes como este escrevinhador se lançam. Homens velhos e novos poetas buscam ofertar o que lhes passa, o que lhes marca e o que lhes fica. Cantamos amores findos, amores vindos. Falamos do que vimos, do que ouvimos. Contamos das lutas que lutamos; das utopias que buscamos, dos sonhos que abandonamos e, principalmente, declamamos o que somos: poetas. Porque sentimos, mesmo sem saber rimar.

Rio, 16 de Novembro de 2011


Quietudes

Silenciosa
é a ausência.
Inodora, insonssa,
por nada
conter nas entranhas.

Em vão espera-se
o telefone.
Que fosse apenas
"por engano",
pois "atenção dada"
quebraria o Vodu
da palavra negada.

Trilha sonora
de tempos indecisos,
a quietude reclama
do vazio na cama.

Espremido, um verso
cai.
À forceps, alguma poesia
sai.
Nascimentos indevidos
de ausentes
pais desconhecidos.