terça-feira, 30 de julho de 2013

O Pessegueiro



Nunca pude esquecer o gosto e o desgosto
de afagar as rugas e as cicatrizes
que o tempo e a maldade riscavam em teu caule.
O gosto de sentir o resto de tua seiva insistente
e o frescor da sombra que tanto bebi.
O gosto de ver em tuas flores,
as primeiras poesias que vivi.
O gosto de te saber casa e abrigo
do colibri que nos habitava
e do gnomo que nos assombrava.
Mas depois, a vida levou as folhas e as almas.
As crianças cresceram, os amores partiram
e os caminhos foram todos andados.
Restou a árvore morta
e a saudade batendo à porta.



  "Saudade do Pessegueiro ressecado que foi o primeiro cavalo, de todos que eu nunca tive".

                                     Para a Musa.

sábado, 27 de julho de 2013

JMJ, eles não foram.



Espremi o Mundo, esse saco sem fundo,
em busca do Santo Sumo, mas não achei nem o rumo.
Nunca fui na Escola. Meu padrasto exige a esmola.
E quando é a fome que me amola eu cheiro até o "baque" da Cola.

Limpo pára-brisas e rezo sem crença. Sou sujo de nascença e de feia presença.
Do "tecido social" eu sou a doença,como disse aquela doutora Excelência
Peço ajuda à "dona-tia-senhora", que eu vejo louca para fugir sem demora.
Do seu medo lucrarei um trocado, que logo gastarei na "biqueira" ao lado.

Na boca sem dente, às vezes sinto vontade de ser gente.
Na boca banguela, a vontade de sair da favela.
De ter um "cano" na fivela, de ter arroz na panela
e, até quem sabe, o amor da moça donzela
que peregrina em Santiago de Compostela.

Vou levando, vou fugindo de "bala perdida" e de esperar outra vida.
Já lustrei sapatos, lavei privadas e apanhei todas as "porradas".
Cansei de acreditar que esse inferno vai acabar.
Vagabundo, mude de vida! já nem escuto alguém falar.
Como se existisse saída. Como se eu aqui estivesse por escolha
dessa minha vista caolha.

Eu sei que me olham como ameaça. Parido por desgraça
e caído de uma barriga cheia de cachaça.
Mas o que eu queria mesmo, era ser só mais um.
Desses que não metem medo e a quem se confia um segredo.
Desses que choram pelo Poeta em degredo,
ou pelas dores de um samba-enredo.

Também queria, mas não sei se é coisa pouca:
pois é casa, afeto, comida e roupa.
Poder dispensar a caridosa sopa,
servida pelo moço que quer o troco:
que quer que eu o chame de Santo (só se for do pau oco).
Pois nessa vida nada se dá. Só se troca.
Quem não tem o medo de acabar numa maloca, vendendo tapioca?

Mas agora, SENHOR, licença. O sinal fechou. O esperto não vacilou,
mas a moça pequena só me olha com pena. Por isso irá morrer.
Não sei assoprar. Só morder.

Uso o "estoque" como baliza e o sangue não me horroriza.
Sou bicho-fera: se bobear, "já era".
Mas não se preocupe meu "bom burguês". Da Policia sou freguês
e sou Posseiro em qualquer xadrês.

Logo ficarei sob outra tutela, sem velório, coroa e vela.
Não deixarei saudades e nem levarei amizades.
Irei sozinho na morte, como sozinho eu fui na vida.
Só uma rebarba atrevida dessa sociedade falida.




Imagem captada na WEB e pertencente à Anistia Internacional.

Produção e divulgação de TAÍS ALBUQUERQUE, desde as Montanhas Minas, no inverno de 2013.

domingo, 21 de julho de 2013

Street Girl

Street Girl

Qual será o preço por teu fingido apreço?
Desses, que logo se esquece, assim que o corpo amanhece?
Ou daqueles mais caros, que pagam os prazeres raros
e dos quais só se esquece quando o Tempo envelhece?
Quem fez a tua sina de ser a puta da esquina?
Quem te fez o bijoux da Madame cafetina?
Quem te pôs sob o gringo pedófilo?
Quem te pôs sob o velho tarado?
Qual foi o teu pecado?

A miséria da orfandade, ou a falta de caridade?
Ou o neon da Cidade, que escancara o luxo da publicidade?
Ou o teu sonho comum de adolescente:
ter comida, roupa e aparelho no dente?
Ou o sonho de um viver diferente,
onde o estômago não fosse tão urgente?
Ou só o sonho de que o Falso Penitente
seja o último cliente?

Tantos sonhos (talvez) menina. E tanta culpa.
São teus os primeiros. É minha a segunda,
por compor essa sociedade vagabunda.
Sociedade que entrega suas filhas
e se isola em redomas e ilhas
para nada ver, nada escutar.
E, depois, contigo fornicar.

Sociedade que fecha as janelas por te temerem
(ou por medo de se reconhecerem?)
Sociedade que vocifera carolas ladainhas,
e busca aliviar-se com cesta-básicas
e latas de sardinhas.

Usam teu corpo e matam tua alma.
Querem-te dócil e calma.
Mas, suja, continuas na rua.
Pois é lá que te querem nua.
Sem Alma continuas na noite.
E te ameaçam com o Divino Açoite:
que se mate a cadela da esquina,
com uma dose de estricnina.

Qual será teu destino, forçada libertina?
Até quando irás, brasileira menina?


Às meninas de rua. Às meninas do Brasil.


Produção e divulgação de TAÍS ALBUQUERQUE, desde as Montanhas das Gerais, no inverno de 2013.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

La Belle Nuit


São as luzes de Provence que iluminam
o sorriso que te anuncia.
Em breve, os lençóis haverão de emoldurar
a seda pele que te recobre.

São profundos os olhos que te mostram o mundo.
Recortes azuis do céu de Nantes.
E sei que louros são os campos de trigo
que tu espalhará na pluma dos travesseiros.

Já não tardam as brisas de Marseille
que contarão do amor que renasce
no peito que se julgava estéril
por um outro fim, de tanto mistério.


Produção e divulgação de Taís Albuquerque, desde as montanhas das Gerais, no inverno de 2013

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Insanas Odisséias



Insanos Ulisses, só fazemos durante a vida
voltar ao reino perdido, sem que algum Homero
garanta-nos que Penélope nos espere.

Insanos, abandonamos até quem nos amou
na eterna ilusão de Ítaca idealizada,
do solo sagrado e do tesouro que um dia
foi desejado.

Insanos, navegamos os mares
em que a vida nos afoga
e ao fim da nossa trágica epopeia
encontramos apenas os inimigos
que sempre nos habitaram.


Produção e divulgação de TAÍS ALBUQUERQUE, desde o Rio de Janeiro, no inverno de 2013

domingo, 14 de julho de 2013

Buck


Um brilho sombrio
escurece a luz que habita os olhos
da mulher que chora o amigo morto.

Haverá tão largo céu
que console dor tão cruel?


Para Verônica e Buck. Com carinho.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Blanc, Bleu et Rouge


Caminharei os vermelhos Boulevardes
e andarei os teus passos.
Andarei as tuas trilhas
e sentirei em tua mão o meu novo caminho.
Andarei essas outras ruas
onde nascem e morrem os copos de Anisette
e por onde deliram em Absinto
os Poetas que bebem amores
e celebram os encontros destinados.
Não me cansam esses novos passos,
pois andamos sobre luzes.
Andamos a "Cidade-Luz",
onde as gárgulas de "Notre Dame"
afastam a tristeza que me havia
e onde os triunfos dos brancos Arcos
guardam a imensidão azul dos teus olhos.



Produção e divulgação de TAÍS ALBUQUERQUE, desde o Rio de Janeiro, no inverno de 2013.




Premio outorgado pela AGBOOK, Concurso Cultural Poesia Todo Dia.

Fabio, parabéns você foi um dos ganhadores do concurso “Poesia todo dia” -   


ACREDITAR

Que eu possa acreditar
que a escuridão
não seja o silêncio da luz.
Que em meu peito persista a esperança
de que atrás de cada lágrima
um novo brilho no olhar
em breve haverá de chegar.
Que em mim sempre exista
o desejo pela paz revista
e seja perene o motivo
para que eu busque o amor definitivo.
Que nunca o Pensar e a complexidade
substituam o Sentir e a generosidade.
Que nada atravesse a minha vontade
e que a minha pouca arte
sempre cante a Musa que se reparte.
Que não me fujam as palavras,
as semeaduras e as lavras
para que o ouro que se encontre
impeça todo injusto desmonte.
Que eu viva a minha circunstância
e caminhe a minha distância.
Que eu saiba preservar o meio,
pois dizem que a virtude está no centro,
mas que tal virtude
não me subtraia a lição
que só o erro pode me ofertar.
Que eu, enfim, possa sempre sentir
o gozo pela flor que me for dada
em cada nudez revelada.

                                À Musa.

terça-feira, 9 de julho de 2013

PRÊMIO EXCELÊNCIA E QUALIDADE BRASIL 2013


ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LIDERANÇA
´´Incentivando os que se Destacam Perante a Sociedade´´
PRÊMIO EXCELÊNCIA E  QUALIDADE BRASIL 2013

São Paulo, 09 DE JULHO DE 2013
 

SR. FABIO RENATO VILLELA  -  PROFISSIONAL DO ANO

FABIO RENATO VILLELAPROFISSIONAL DO ANO

MELHORES DO ANO – Categoria – “PROFISSIONAL DO ANO / POETA E LITERÁRIO

 

O PRÊMIO EXCELÊNCIA E QUALIDADE BRASIL 2013  trata-se do maior evento previsto este ano e que estará homenageando a 50 Categorias que vão desde Personalidades Políticas, Culturais e Artísticas, Entidades públicas e privadas, Empresas e Profissionais.

 

Produção e divulgação de TAÍS ALBUQUERQUE, desde o Rio de Janeiro, no inverno de 2013.

domingo, 7 de julho de 2013

Fados Portugueses



Escorre de todo Fado
uma dor verde e vermelha
que a nenhuma outra se assemelha,
pois a triste lusa saudade,
é mais que uma ausente metade.

Lágrimas dedilhadas em Ré sustenido,
São soluços incontidos
por amores e corações partidos.

Cantam as trágicas belezas camonianas
guardadas entre brancas rendas açorianas.
Cantam a doçura de Inês e o muito sentir
que os versos de Filipe espalham pelo Tejo.
Cantam a Musa eterna
e o meu amor sobejo.


                    Para a querida amiga ANA LOPES.

Homenagem pouca aos poetas Portugueses,  Inês Dunas e Filipe Campos Melo.



Produção e divulgação de TAÍS ALBUQUERQUE, do Rio de Janeiro, no inverno de 2013.

sábado, 6 de julho de 2013

E Agora?




Na rude ciranda sem cor, em que rodam as ásperas meninas,
sente-se o peso da miséria consumada e da dor acostumada.
São elas os próximos cordeiros à espera do cutelo
que as sacrificará ao Baal Capitalista
e aos seus burgueses capachos da Av. Paulista.

Giraram sonhos vãos e quimeras inúteis,
pois eis que nessa terra de coronéis,
de sacripantas de altares e madames de bordéis,
só restou outro sonho acabado
e mais um grito sufocado.

"E agora José?
E você que faz verso, que ama, protesta?
E agora?"


Venceu a chantagem, pois dizem que não é hora
de se mostrar coragem. Que tudo foi só uma bobagem.
Que os ventos de Julho apagaram toda chama
e que é imprudente ser o dono da voz que reclama.

Que nosso destino está traçado, que gostamos da tirania.
Que "Deus salve o Rei", a Direita Capitalista e a sua covardia.
Pois bem se sabe o quanto o sagrado ópio nos vicia.

Que celebremos o "4 de Julho" do Irmão do Norte,
mas não o da Bastilha, pois lá foi apenas uma desobediência
dos vândalos terroristas que fornicam em pilha.

Que oremos e que se lustrem as botas dos Ditadores,
pois serão eles os togados São Salvadores.
Que nos resignemos ao chicote,
já que aqui habita Sancho, mas não Quixote.

Que dancemos as fascistas polcas ordenadas
ao som dos clarins de todas as Alvoradas.
E cantemos, ufanos, o nosso próprio dano.
Liberdade, só por mero engano.



Dedicado ao amigo querido BATS.

Homenagem pouca ao Poeta Maior, Carlos Drummond de Andrade.
Foto captada na WEB, propositalmente desfocada em respeito ao próprio e à sua família, do jornalista Wladimir Herzog, assassinado pela Ditadura Brasileira.


Produção de TAÍS ALBUQUERQUE, desde o Rio de Janeiro, no inverno de 2013

sexta-feira, 5 de julho de 2013

A Manifestação Acanhada



Anteontem, 03 de junho, cerca de 20h30, em frente à Prefeitura Municipal de Campinas, interior de São Paulo cerca de duzentos jovens, visivelmente da Classe Média, chegaram à passeata portando cartazes com reivindicações comuns e gritando conhecidas “palavras de ordem”.

Primeiro, sentaram-se na escadaria fronteira do prédio, depois no meio da avenida interrompendo o trânsito. Tudo na mais perfeita paz, sem qualquer tipo de manifestação violenta, ou provocativa, exceto por algumas frases dirigidas a Policia, que também, segundo eles, ganha pouco e é explorada.

Passados cerca de trinta minutos, chegou o Batalhão de Choque da PM com seus escudos, porretes, bombas e rifles. Logo atrás, umas cinco ou seis viaturas com as luzes e as sirenes ligadas. Em passo cadenciado o Batalhão avançou e atirou exatamente seis bombas de gás lacrimogêneo, que pouco efeito fizeram, pois os Manifestantes, tão logo avistaram a ameaça governamental aproximando-se, não hesitaram em fugir em desabalada carreira. A Polícia sentiu-se satisfeita e interrompeu as hostilidades, limitando a avançar pela avenida, já então deserta, e liberá-la para que os motoristas a utilizassem.

Tudo tão pacífico e organizado que mais parecia ter sido ensaiado. Mais parecia uma cena de filme onde cada ator, ou figurante, sabia exatamente o que fazer e quando parar. Os Manifestantes fugiram e a PM não abusou da violência.

Tudo tão frio e burocrático que se chega a pensar que só foi atingido quem teve “olhos para ver” que o “Protesto” esgotara-se. Que ali só houve um simulacro. Uma representação, quase teatral. Atingido foi apenas, quem teve “olhos para ver” que da indignação que antes parecia infinda, já quase nada mais resta.

Alguns dirão que outros protestos já haviam ocorrido nesse dia. Contudo, deve-se esclarecer que tais movimentos foram feitos por duas categorias profissionais, médicos e motoristas de caminhões, que lutavam por suas causas corporativas. E, talvez, até com a participação criminosa dos patrões, que exerciam o proibido “lockout”. Foram protestos que para esse contexto  não interessam, posto que ambos que não contemplassem a população em geral.

O que ficou patente para esse escrevinhador foi apenas esse esgotamento. Esse esvaziamento do legitimo protesto popular que varreu o país, colocando na rua milhões de cidadãos em todo o Brasil para exigirem um mínimo de decência de quem os representa.

É claro que estou ciente de que algumas vitórias importantes foram conquistadas, dentre as quais o fato de se mostrar que há um povo habitando uma nação, mas ficou-me um gosto ruim de sonho acabado.

Contudo, como a vida continua porque não é feita de sonhos, é preciso começar a vistoriar o saldo que ficou:

1) a Direita perdeu o “trem da história” e não deu o Golpe Político Militar que pretendia?

2) A Esquerda tentará fazê-lo, aproveitando-se dessa inação?

Ou será que o Brasil amadureceu a tal ponto que a nossa Democracia suporta manifestações desse tipo, sem cair no “canto de Sereia” de que um novo Golpe como o de 1964 resolveria o problema?

O tempo haverá de nos responder.


Produção de TAÍS ALBUQUERQUE, desde o Rio de Janeiro, no Outono de 2013.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Voos


Já não me basta o voo sonhado. É preciso que eu encontre asas
e fuja desse labirinto, onde as almas penadas de mulheres violadas
fizeram suas moradas.
São Paulo é muito grande, mas disse o Poeta, que maior é o Mundo.
Na outra esquina vejo a porta de saída, porém, hesito em cruzar a avenida.
Paralisa-me o medo dos covardes
que trocam a liberdade pela insossa vagina de toda tarde.
E seria tão fácil... tão bom despir-me da utopia.
Maldigo Schopenhauer e esse "tanto querer".
Maldigo esse "querer viver". Essa insistência em ser.
E o religioso que ostenta o Novo Testamento
e vocifera a obrigação de crer.

De repente as águas do Aqueronte me atemorizam
e temo que o esquecimento do Letes nunca chegue.
Que a Musa partida nunca se vá pela senda escondida.

Um "gambé" espanca um mascarado
e dança o ritual de seu sonho de Coronel Pimenta,
o "Grande Demônio da Tormenta".
O severo "Zeus", dono do Raio e do gás lacrimogêneo,
em defesa da antiga Moral e Bons Costumes,
atributo e desculpa de obesas burguesas
entulhadas de miçangas chinesas, enquanto os gordos burgueses
desfilam impotências e clamam por clemência.
Os sonhos envelheceram e os discursos são vazios.
Inúteis como o ouro guardado nos cofres da fome.

Mais uns poucos quarteirões e estarei no centro.
No centro do Rio. No centro do Mundo de Pai Ogum
e do mistério comum.Resta caminhar,
o caminho nenhum.

Para Bete. Com saudade.

Imagem - Augusto Meneghim

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Deus ou Futebol, qual é o ópio do Povo? Nenhum!




Será mesmo que a Religião é o ópio do povo? Ou será o Futebol? Ou serão ambos? Ou serão os dois, mais a literatura, o teatro, a dança, o folclore etc.?

Ou serão todas essas manifestações, o próprio povo?

É óbvio que hospitais, trens, metrôs, rodovias, ferrovias, portos e outros valores materiais são de importância capital, mas o fato, é que além do físico, existe uma alma (tanto a individual, quanto à coletiva) a ser alimentada.

E ontem, rodeado por exatos 83.279 pessoas (eu tive a graça de ser a de número 83.280) que entoavam a plenos pulmões o orgulho de ser brasileiro (a), senti que ali havia muito mais que uma catarse ingênua, ou burra. Ali havia o pleno exercício da cidadania. Tão legitimo quanto o clamor daqueles outros milhares de pessoas que do lado de fora do Maracanã, enfrentavam as bombas e os porretes do Regime.

Tanto uns, quanto outros torciam pelo mesmo. Torciam pelo Brasil.

Com a mais segura certeza de que não somos uma massa de manobra manipulada e manipulável por mentes golpistas e inescrupulosas. Com a mais certa clareza de que somos cidadãos que são capazes de criar seus filhos, produzirem bens, cuidarem de suas famílias e, principalmente, construírem uma democracia que apesar de suas imperfeições vigora com mais solidez e maturidade, que em outros países com mais de cinco mil (5.000) anos de história. Com a mais pura das convicções, de que tão importante quanto exigir o que nos é de direito, é manter acesa a chama daquilo que temos de melhor: a nossa Cultura. A nossa Tradição.

E eu, um legitimo “68”, comunista, ateu, cético e militante político na época da Ditadura, não pude deixar de compreender que o Futebol não nos aliena. Ao contrário, reafirma-nos, enquanto nação.

Foi inevitável lembrar que já em 1970 fazíamos essa mesma discussão, sem atentarmos para o fato de que foi precisamente graças ao futebol que primeiro recuperamos os símbolos da nação (a Bandeira, por exemplo, tinha sido solenemente apropriada pelos quartéis) e o orgulho de sermos um povo. Depois, com os vexames de 1974 (quem teve o privilegio de assistir à peça “O Muro de Arrimo” saberá do que digo) e 1978 pudemos ilustrar a precariedade de nossa situação e a necessidade das mudanças que, então, começaram a se materializar.

Pude compreender que mais do que alienação, é a Cultura, da qual o futebol é a expressão mais popular, que nos faz ser o que somos: brasileiros, com muito amor. Com muito orgulho.




Para Lilian Teles Prado de Albuquerque. Lilian, tu foi super gentil. Adorei. Grato.