domingo, 21 de julho de 2013

Street Girl

Street Girl

Qual será o preço por teu fingido apreço?
Desses, que logo se esquece, assim que o corpo amanhece?
Ou daqueles mais caros, que pagam os prazeres raros
e dos quais só se esquece quando o Tempo envelhece?
Quem fez a tua sina de ser a puta da esquina?
Quem te fez o bijoux da Madame cafetina?
Quem te pôs sob o gringo pedófilo?
Quem te pôs sob o velho tarado?
Qual foi o teu pecado?

A miséria da orfandade, ou a falta de caridade?
Ou o neon da Cidade, que escancara o luxo da publicidade?
Ou o teu sonho comum de adolescente:
ter comida, roupa e aparelho no dente?
Ou o sonho de um viver diferente,
onde o estômago não fosse tão urgente?
Ou só o sonho de que o Falso Penitente
seja o último cliente?

Tantos sonhos (talvez) menina. E tanta culpa.
São teus os primeiros. É minha a segunda,
por compor essa sociedade vagabunda.
Sociedade que entrega suas filhas
e se isola em redomas e ilhas
para nada ver, nada escutar.
E, depois, contigo fornicar.

Sociedade que fecha as janelas por te temerem
(ou por medo de se reconhecerem?)
Sociedade que vocifera carolas ladainhas,
e busca aliviar-se com cesta-básicas
e latas de sardinhas.

Usam teu corpo e matam tua alma.
Querem-te dócil e calma.
Mas, suja, continuas na rua.
Pois é lá que te querem nua.
Sem Alma continuas na noite.
E te ameaçam com o Divino Açoite:
que se mate a cadela da esquina,
com uma dose de estricnina.

Qual será teu destino, forçada libertina?
Até quando irás, brasileira menina?


Às meninas de rua. Às meninas do Brasil.


Produção e divulgação de TAÍS ALBUQUERQUE, desde as Montanhas das Gerais, no inverno de 2013.

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