sábado, 27 de julho de 2013

JMJ, eles não foram.



Espremi o Mundo, esse saco sem fundo,
em busca do Santo Sumo, mas não achei nem o rumo.
Nunca fui na Escola. Meu padrasto exige a esmola.
E quando é a fome que me amola eu cheiro até o "baque" da Cola.

Limpo pára-brisas e rezo sem crença. Sou sujo de nascença e de feia presença.
Do "tecido social" eu sou a doença,como disse aquela doutora Excelência
Peço ajuda à "dona-tia-senhora", que eu vejo louca para fugir sem demora.
Do seu medo lucrarei um trocado, que logo gastarei na "biqueira" ao lado.

Na boca sem dente, às vezes sinto vontade de ser gente.
Na boca banguela, a vontade de sair da favela.
De ter um "cano" na fivela, de ter arroz na panela
e, até quem sabe, o amor da moça donzela
que peregrina em Santiago de Compostela.

Vou levando, vou fugindo de "bala perdida" e de esperar outra vida.
Já lustrei sapatos, lavei privadas e apanhei todas as "porradas".
Cansei de acreditar que esse inferno vai acabar.
Vagabundo, mude de vida! já nem escuto alguém falar.
Como se existisse saída. Como se eu aqui estivesse por escolha
dessa minha vista caolha.

Eu sei que me olham como ameaça. Parido por desgraça
e caído de uma barriga cheia de cachaça.
Mas o que eu queria mesmo, era ser só mais um.
Desses que não metem medo e a quem se confia um segredo.
Desses que choram pelo Poeta em degredo,
ou pelas dores de um samba-enredo.

Também queria, mas não sei se é coisa pouca:
pois é casa, afeto, comida e roupa.
Poder dispensar a caridosa sopa,
servida pelo moço que quer o troco:
que quer que eu o chame de Santo (só se for do pau oco).
Pois nessa vida nada se dá. Só se troca.
Quem não tem o medo de acabar numa maloca, vendendo tapioca?

Mas agora, SENHOR, licença. O sinal fechou. O esperto não vacilou,
mas a moça pequena só me olha com pena. Por isso irá morrer.
Não sei assoprar. Só morder.

Uso o "estoque" como baliza e o sangue não me horroriza.
Sou bicho-fera: se bobear, "já era".
Mas não se preocupe meu "bom burguês". Da Policia sou freguês
e sou Posseiro em qualquer xadrês.

Logo ficarei sob outra tutela, sem velório, coroa e vela.
Não deixarei saudades e nem levarei amizades.
Irei sozinho na morte, como sozinho eu fui na vida.
Só uma rebarba atrevida dessa sociedade falida.




Imagem captada na WEB e pertencente à Anistia Internacional.

Produção e divulgação de TAÍS ALBUQUERQUE, desde as Montanhas Minas, no inverno de 2013.

Um comentário:

  1. Meu caro Fábio,

    Aí temos o "produto" que fala o Papa Francisco, nascido na civilização para lá do "ponto". Quanto dramatismo e, não menos verdade, um poema de sangue.

    Abraço,

    ResponderExcluir