domingo, 30 de outubro de 2011

Das Minas

Vivemos as Acácias
de todos os jardins,
ouvimos as Liras
de todos os Serafins
e bailamos com
todos os Arlequins.

Ai de mim, ai de mim...

Geme Marilia
sem Dirceu,
no preto ouro
que se perdeu...

Liricos poetas,
falsos profetas
e disformes estetas
refazem as Minas
de outrora
no triste
verso de agora.

São caminhos
que a caneta
percorre,
contando
a saudade que
nos escorre.

sábado, 29 de outubro de 2011

Ofensas

Rudes homens
sem nomes
vociferam:
fora!
Que nos importa o teu Saber,
se dele eu não preciso
para ter?
Que me importa, Ser?

Seria bom
se não me chamassem
Aleijado.
Doeu além
do que o alivio
da Morfina contém.
Bom seria,
de Canceroso
não ser rotulado,
pois sou mais que
uma doença.
Talvez, um ajuntado
de crença e
uma inoportuna
presença.

Que gente é essa
desenhada a tosco traço
e só amestrada
a ponta de laço?
Que lugar é esse,
cujo mormaço
não permite
o próximo passo;
e onde a mediocridade
só gera
homens pela metade?

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

AMORES

Amores de antes
repetem-se
em novos amantes.
Carinhos de sempre
percorrem novos corpos
e beijos esquecidos
renascem atrevidos.

Amores de agora
repetem
o fim da hora;
e a urgência
dos desejos proibidos
e só a custo contidos.

Amores sem Tempo
viajam pelas vidas
e como gerânios
impensados
só aguardam o momento
de serem rebrotados.

Amores em todos Espaço
aguardam seus hospedeiros
e sem a menor cerimônia
embarcam nos corações
passageiros.

Amores atemporais
seguem os Homens
feitos irracionais.
Neles habitarão,
quais Deuses e Tiranos
de todos os Arcanos.

         

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

DROPS

A dor goteja
como chuva
que não passa.
A agonia
do ponteiro imóvel
tinge de escuro
a noite que não anda.
Empurro em vão
cada minuto
e inútil assopro
cada segundo.

Escura dor
na noite escura,
só aos poucos
tu escorre
numa lágrima
impura.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Prenda

Nua Prenda
dispa esse
resto de renda,
pois a Eros
tu será oferenda
como reza
a antiga lenda
da grega calenda.

Caminhe tua
triste senda
e rejeite todo
amor que lhe prenda,
ainda que em
dourada tenda.

Siga os caminhos
do vento
e seque teu
doído lamento.
Teu destino
é espalhar
o amor entre
os Homens
e incitar-lhes
outras fomes.
Fazê-los numerosos,
como os soluços copiosos
que escapam do peito
de quem não tem
mais jeito.

Siga sempre, Prenda minha;
os Mitos e os Ritos
contarão tua história
e dourarão tua memória,
até que um dia
todos achem
que tu é uma mera fantasia,
uma triste alegoria
do que já não havia.

           

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Aquarius

Digam
aos quatros ventos,
que cessem a Fúria
dos Elementos,
pois novos deuses
à Terra são chegados
e outros códigos
serão proclamados.

Que se restaure
a confiança no porvir,
já é tempo do Homem abolir
e de acabar, minha Prenda,
com a humana moenda.

Aquarius é chegado.
Dias em que tudo
de todos será,
qual rosa que viceja
no jardim que se deseja.

Caminhemos baby,
ao nascente da Nova Era.
Outro Futuro nos espera,
pouco antes
da próxima quimera.

               

domingo, 23 de outubro de 2011

Lar

Adentremos
a nova morada
e deixemos
no Passado
qualquer temor
encontrado.

Que o nosso amor
seja sempre Presente
e que a intensidade
nunca seja diferente.

Que cumplicidade
rime com sinceridade
e que a nossa Lua
esteja sempre Cheia
para iluminar
a paixão que nos incendeia.

E assim, doce menina
que o nosso Lar seja
iluminado com tua
luz cristalina.
E que da maldade,
esteja acima.

             

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Gira

Gira a borboleta
um voo de purpurina
e traça no abstrato
um outro retrato.

Figura que só se sente,
pois como num "repente"
o verso descrito
não pode ser escrito.

Sabe-se, então, de
uma folha que o vento leva.
De um segredo que não se entrega
e duma paixão que tudo carrega.

Sabe-se ainda
de uma amante,
de um verso de Dante
e que a vida é só um instante.

E de mais se sabe
antes que o voo acabe,
pois se viu num segundo
o tamanho do Mundo.


quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O Poema

O poema é o instante que se deixa apanhar,
o sentimento que se deixa entrever,
a alegre irreverência de se desnudar,
a pura indecência de viver. 

Revira-se o tempo até chegar ao Passado
onde se julgou feliz. Pouco importa, agora tudo está perdoado.
Quanto ao Futuro, não se preocupe, está muito distante.
Será incapaz de reter o poema que é um só instante. 

Momentos, murmúrios, lamúrias, agruras.
Em cada esquina acha-se um poeta exercendo o seu oficio,
ainda que ele não saiba disso. 

O poema é o instante que se apanha,
a vida que se assanha,
a dor que amaina. 

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A Paz de Drummond

- Quando será a biópsia? E a consulta?
- Não sei. Dormi na asculta.

- Você tem que acreditar!
- Tenho? Prefiro alucinar.
- E tua idade, hein?
- Alucina comigo. Ficamos bem.

- Você tem que lutar!
- Tenho? É, você tem razão...
(como lhe explicar que já é o oitavo sermão?)
- Você é forte!
- Sou sim (adoram esse mote).

O meu ofício é responder;
é esconder
essa vontade de nada dizer.

Seria tão ótimo (gente que fala errado),
viver só de um lado.
- Olha, eu conheço um caso...
a Medicina está tão avançada...
para Deus nada é impossível...

Seria excelente (gente de linguajar fluente),
se a todos eu pudesse convecer
que não basta o exercício da vontade
para a cura lhes oferecer.

Mas não me queiram mal,
eu irei lhes agradecer.
Por favor, tentem compreender.

(Drummond, Drummond!
como se faz
para morrer na tua paz?)

* Inspirado no poema "Apelo aos meus dessemelhantes em favor da paz", de Carlos Drummond de Andrade.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Insone

Insônia pelo
ar que te falta
e pelo Tempo
que tudo faz longe.

Insônia pelo frio
do leito vazio.

Insônia recheada
pela dor instalada.
Pelo choro que
sempre tarda
e nem sempre
o horror retarda.

Insônia da madrugada
e do fantasma
de minha casa
assombrada.

Insônia que me visita
e que traz o paletó
da partida e
do abandono
em cada ida.

Insônia de ficar.
De só estar.

domingo, 16 de outubro de 2011

Medos

As garras do escuro
sufocam o que me pensei.
Há tanto vazio,
tanto medo,
na angústia que bebo.
Arranha-me a garganta
a acridade
da agonia
que tomo
em largos
tragos
estragos.
Entre tantos
rasgos
e raros afagos.
Foi-se uma luz
serena.
Foi-se uma
esperança que tanto
sorvi.
Fiquei-me.

Tantos e Tantos

Há tanta cama
em tua ausência,
tanta mesa
em tua impermanência.
Tanto espaço
no vão abraço
e tanto escuro
no umbral
por onde passo.

Tanto silêncio
no fone calado
e no poema
inacabado.

Tanta saudade
de quem meu chamou
de metade,
e sussurou a minha
verdade.

Tanta carência
da nossa urgência,
da nossa inocência
e da nossa sacra
indecência.

sábado, 15 de outubro de 2011

Trágica

Bebo a trágica
tristeza
da Partida.
Sinto o gosto
da liberdade
indesejada.
Sinto o gosto
do Nada.

Vazio que
me rodeia,
qual porto
que o Mar
incendeia.

Aonde ficou
o corpo que amei,
o erro que errei
e a certeza
que um dia achei.

Dias que tomei
nos Domingos
que foram nossos.
Noites que bebi
nos amores
que foram nossos.

E agora só resta
tanto Espaço
a nos separar,
sem o Tempo
que nos fez
acreditar
na eterna Permanência
do que tivemos em Essência.

Chove.
Em cada gota
a saudade diz teu nome.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A Poesia Ausente

Calaram minha poesia.
Disseram-me o que não se deveria.
Ouvi, o que não queria.

Pedem-me o que não tenho.
Cortam-me com duro lenho.
Com ausente riso, em duro cenho.

Seria bom dormir sem sonhar.
Sem realidade para acordar.
Isento, de qualquer amor ofertar.

Agora, fugiu-me a Cotovia.
Agora sei o horror dessa agonia.
Calaram minha poesia,
última voz que ainda me pertencia.

E assim foi, ...

Reina o silêncio, marrom e denso.
Pouco importa o que sinto e penso.
Meu verso é um ato suspenso.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Blues

O homem negro insiste com o trompete.
A branca mulher geme em falsete.
Espalha-se o "blues"
em leves acordes azuis.

Balança um copo solitário
na mão do homem vazio.
Alguém se queixa de frio,
da solidão e do próprio desvario.

Um sax chega aos sustenidos.
A mulher retoma os gemidos
e sonha desejos proibidos.

Sente-se o visco do mormaço,
a angústia por tanto espaço
e o simples desejo de um só abraço.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Ausência em Amarelo

O diabo é essa solidão que me atordoa,
esse silêncio que nada ecoa,
essa tristeza que se amontoa
e essa liberdade à toa.

Tua ausência habita minha casa.
O jantar que te fiz, esfriou.
A vela apagou,
a lavanda acabou,
mas você não passou.

Tentei te escrever uma poesia,
com rima, métrica e galhardia.
Mas só eu sei da triste ironia
de achar que você já não me doía.

Só eu sei do choro que retenho,
do gesto que contenho
e da saudade que te tenho.

Na tela, em amarelo, você me sorri.
Meu mundo, cabia ali.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

A Cidade

Na moderna cidade,
caixa de concreto,
prevalece o ângulo reto.
Na grade, avisa o aviso:
baniu-se o sorriso.
No muro, informa o cartaz:
cães (e donos) anti-sociais.

Sonhos e desejos em Néon.
Grafites escuros em Cryon.
São cavernas dos homens de Cro-Magnon.

Apocalípticos prevêem o Juízo Final.
Bêbados desperdiçam um triste riso.
É mais um sinal.

Neuróticos temem a morte por Antraz.
Para os suicidas, tanto faz.
Não há retorno, nem volta para trás.
Que todos descansem em paz.

Velhas putas buscam o que lhes deem sustento.
Poetas tentam sê-lo, mas as rimas não saem a contento.
Jovens mulheres choram um triste lamento.
Atos simultâneos de um só momento.

Quando a noite chega, a cidade dorme.
Novos seres a povoam. Gente disforme.
Citadinos noturnos. Sem luz nem nome.

Carregam suas cruzes. Viajam avenidas
e no fundo, acreditam em outras vidas.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Mestra

Sábios Mestres
buscam Mestras Sábias,
pois há nesse Mundo
outro tipo de argamassa,
outro tipo de fundamento:
aqui, uma rocha de cultura,
acolá uma outra de conhecimento.

Dons de poucos, eis que formam
e fortalecem esse organismo
de puro intelecto;
pai gerador das respostas
ao que o Mundo
propõe
e que só a pura Sabedoria
dispõe.

        

domingo, 9 de outubro de 2011

Réstia

A pequena réstia de luz
aos poucos vai desnudando
o pesado escuro
dos dias sem
palavras.

Lá dentro alguém
declama um Poema;
e eu sei das Mandalas
mesmo sem procurá-las.

Cá fora sinto minha
alma rebrotar.
Talvez com um
pouco de adubo,
ela saia do tubo
que, indevido, abrigou-a.

Talvez com o tempo
e mais um e outro
elemento
ela refloresça e frutique,
pois ainda há
quem me peça que fique
e que o amor multiplique.

Talvez alguma paz
chova em seu canteiro,
e o que restava da mágoa,
embarque no trem derradeiro.

Talvez,
eu volte
a ser inteiro.

sábado, 8 de outubro de 2011

R...

De novo sou eu,
a mala
e a estrada.

Sinto uma dor
dificil de ajeitar
e um choro
retido,
pelo que não
deveria acabar.

- Mas assim é, poeta.
Está feito,
o sonho desfeito.

Junte teus pedaços,
solte os últimos laços
e siga teus passos.
O devaneio que tu
viveu,
mostrou-se não
ser teu.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Desilusões

Fantasmas roubam-me
o sonho
que ingenuamente
sonhei.

A Terra-de-ninguém,
o Oeste sem lei
acolhe-me novamente
e o Passado
corrói o Presente.

Karma que resgato;
essa seca
no regato
(que antes saciou
minha sede)
insiste em borrar
o amor
no Porta-Retrato.

Quantas ilusões
ainda tenho
para perder?

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Cadeira

Impotente como
leão enjaulado,
sinto inútil
a força que
me resta.

Vejo o Mundo
pela metade.
Estou confinado
a duas rodas
e à cobrança
que me fazem:
seja forte,
sorria,
vença!

Cadeirante estreante,
arrisco uma
verdade petulante:
Tenho medo,
tenho raiva
e choro de
tristeza; e
sonho com pernas
estendidas,
nas ruas que
me foram conhecidas.

Não sou quem
esperam.
Sou quem
desesperam.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

*Anjos Pornográficos

Anjos pornográficos
derramam os malfadados
cálices do Armagedon.
É hora das trevas
e do chá de Sete-Ervas.
Já nada ilumina o Futuro,
que chamavam porvir.
Já nada incendeia
o amorfo Presente
de um Passado
disforme.

Anjos caídos,
sapos engolidos
e gnomos mal-resolvidos.
O Programa Padrão
deleta fantasias,
tolas quimeras humanas,
movidas a Canabis
e a doses de Cana.
Rezam carolas
e pulam as Sete-Marolas,
mas Yemanjá
não vem.
Findo está
o onírico
lirico.
Lúdico já não há,
porque idade
não há.

Fecha-se a cena
e a filosofia de
Avicena
é declamada
nos bordéis
dos putos
menestréis.
Fecha-se o poema,
pois a Musa foi
engolida pelas Minas.
São as tristes sinas.


* Inspirado no título do livro de Ruy Guerra "Anjo Pornográfico".

domingo, 2 de outubro de 2011

Dores

Reparta comigo
a tristeza
que te veste
e divida tua dor
agreste.

Venha,

caminhemos ao Leste,
participemos do Nascente
onde a dor
ainda é ausente,

caminhemos ao Oeste,
participemos do Poente
onde a dor
já não se sente.

E ao Sul e ao Norte
caminhemos;
da dor logo
esqueceremos.