quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A Paz de Drummond

- Quando será a biópsia? E a consulta?
- Não sei. Dormi na asculta.

- Você tem que acreditar!
- Tenho? Prefiro alucinar.
- E tua idade, hein?
- Alucina comigo. Ficamos bem.

- Você tem que lutar!
- Tenho? É, você tem razão...
(como lhe explicar que já é o oitavo sermão?)
- Você é forte!
- Sou sim (adoram esse mote).

O meu ofício é responder;
é esconder
essa vontade de nada dizer.

Seria tão ótimo (gente que fala errado),
viver só de um lado.
- Olha, eu conheço um caso...
a Medicina está tão avançada...
para Deus nada é impossível...

Seria excelente (gente de linguajar fluente),
se a todos eu pudesse convecer
que não basta o exercício da vontade
para a cura lhes oferecer.

Mas não me queiram mal,
eu irei lhes agradecer.
Por favor, tentem compreender.

(Drummond, Drummond!
como se faz
para morrer na tua paz?)

* Inspirado no poema "Apelo aos meus dessemelhantes em favor da paz", de Carlos Drummond de Andrade.

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