domingo, 29 de dezembro de 2013

Fugazes


A mão fresca 
da noite recém chovida
espalha as últimas gotas 
em meu corpo saciado.

Eis chegada a calma
que sucede a eternidade
dos encontros fugazes.

A eternidade dos amores passageiros
que se consumaram entre horas
e na chama do momento sempre.


sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

A Náusea - J.P.Sartre - Resenha

Ed. Nova Fronteira - Ed. comemorativa

Essa obra é um exemplo perfeito das imensas possibilidades da Literatura, haja vista ser tão valorosa como “Tratado Filosófico”, quanto “Romance”. Alguns a classificam como um “Romance Filosófico” e, com efeito, ela é tão bem concebida que não se consegue diferenciar os gêneros literários. Nela, toda a genialidade de SARTRE fica patente e não deixa dúvidas sobre o merecimento do Prêmio Nobel que lhe foi outorgado e que ele recusou em 1964.

A obra conta a história do protagonista, ANTOINE ROQUENTIN, um pesquisador, já entrado na casa dos trinta anos, que se muda para a cidade portuária francesa de Bouville, uma mal disfarçada referência ao porto holandês de Haia, após longas viagens pela Europa Central, África do Norte e Extremo Oriente.
ANTOINE vai para a localidade com a intenção de escrever a biografia de uma semiopaca figura histórica, o Marquês de ROLLEBON, mas no desenrolar do trabalho o sedentarismo lhe produz estranhas sensações e enquanto ele insiste em continuar a obra passa a ver o mundo, e o lugar que ocupa no mesmo, de maneira totalmente diferente.

Num crescente empolgante de dúvidas e emoções, ele percebe que a sólida lógica racional que acreditava constituir a realidade simplesmente não existe. Que os hábitos, valores, crenças etc. não passam de uma fina camada superficial sem qualquer lastro mais profundo.

Abalado por essa conscientização, passa a ser acometido pela “Náusea da Existência”, ou seja, pela horrível sensação de sermos contingentes, de não termos um sentido e de que caminhamos para o Nada.

Pasmado pela indiferença das coisas, dos objetos inanimados e pela inautenticidade dos Seres humanos com quem convive, sente-se cada vez mais sufocado pela consciência de que cada situação que vive é o seu próprio ser, existir. Descobre, assim, que a sua existência é desprovida de qualquer significado maior.

Através das reflexões que se originam dessas descobertas e circunstâncias que atingem a sua personagem, SARTRE analisa as questões relativas à liberdade, à responsabilidade, à consciência e ao tempo tecendo um painel magnífico das questões que permeiam a existência humana.

É nessa obra que o conceito de que “a existência precede a essência” aparece pela primeira vez, antecipando o conjunto de ideias que só veio ao público em 1943, quando SARTRE publicou sua outra obra-prima “O Ser e o Nada”.

Influenciada pela Filosofia de HUSSERL e pelo estilo de DOSTOIÉVSKI e de KAFKA, a obra apresentou o Existencialismo ao Mundo, que não demorou a elegê-lo como um dos principais sistemas filosóficos do século XX. Bem como não deixou de reconhecer que “A Náusea” é uma obra indispensável para todos os interessados em adentrar o universo de SARTRE e resgatar o direito de criar suas próprias convicções sobre o mistério que é existir.



Resenha feita a partir do original "A Náusea" de Jean Paul Sartre, Editora Nova Fronteira - Edição Comemorativa.

Produção e divulgação de YARA MONTENEGRO, do Rio de Janeiro, em Dezembro de 2013. Feliz 2014.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Sonhos outros


Serão inúteis as apostas contrárias
e todas as vozes adversárias,
pois em ti repousa a graça necessária
para o exercício da fantasia diária.
Será em vão a maldade do Mundo,
pois eis que a poesia vertida,
em ti, acaricia a própria vida.
Será em vão o assombro tentado,
pois eis que o poema derramado
em todo peito será abrigado.
Siga comigo Marquesa dos Versos,
em outros sonhos seremos imersos


Para a Musa.


domingo, 22 de dezembro de 2013

Anunciação


Que o clarim do arauto seja de anunciação.
Que proclame o inicio de um novo ciclo
no eterno movimento de renovação.
Que seja um aviso de chegada
e o fim da longa espera por nada.
Que traga em seu bojo os novos alicerces
com os quais serão reerguidos
os homens destruídos.
Que traga boas novas de quem se foi
e o consolo para quem ficou.
Que seja o novo instante, 
o novo Cavalheiro Andante
e a redenção do amor errante.
Que seja um poema e um vinho chileno;
e o perfume de rosas, logo após o sereno.
Que anuncie o voo das andorinhas
que fazem o Verão
e que decrete o transcender
das almas e das cigarras
que anunciam a Primavera,
pois, então, saberemos
que está na própria estrada
a paz anunciada.



Dedicado aos confrades e confreiras da Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro, com os melhores votos de Feliz Natal e venturoso Ano Novo.

                                       

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Poetas del Mundo - "Mil poemas a Vinicius de Moraes" -



Agradeço à Instituição "Poetas del Mundo" na pessoa do Dr. ALFRED ASÍS pela deferência. Muito grato.

Produção e divulgação de YARA MONTENEGRO, do Rio de Janeiro, em Dezembro de 2013.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Sejamos Quixotes

Pablo Picasso - Nanquim e Lápis


Sejamos Quixotes. Ousemos desafiar as convenções, os hábitos, as rotinas e exerçamos o sagrado direito de cavalgar em nossas utopias até a última estrela da madrugada. 

Vençamos os tiranos do Mundo, amemos as nossas Musas, brindemos as conquistas, choremos as derrotas, sejamos atentos ao exercício da generosidade, do carinho e do afeto e, principalmente, não nos esqueçamos que os Sanchos de nossas vidas são os alicerces que nos permitem desafiar os gigantes fantasiados de moinhos. 

Por fim, não nos furtemos à poesia, à gargalhada e às esperanças que o Novo Ano haverá de trazer e saudemos de peito aberto a mágica do Natal, enquanto andamos em busca dos sonhos que nos iluminam.



Um grande beijo aos queridos (as) amigos e amigas que me dão a honra de visitarem meus Blogs. A todos (as) um Feliz Natal e próspero 2014.



Produção e divulgação de YARA MONTENEGRO, do Rio de Janeiro, em Dezembro de 2013

sábado, 14 de dezembro de 2013

Silêncios


Desde então um adeus 
preenche os nossos silêncios
e se as ausências tornaram-se desejadas
uma escassa esperança
ainda nos impede de decretar o fim
que já oscila entre os nossos corpos
na cama que não mais se desfaz.


Produção e divulgação de YARA MONTENEGRO, do Rio de Janeiro, em Dezembro de 2013.

Tempo



Exige-me destemor
e me impõe o esquecimento
os caminhos que ando.
Meu tempo é quando.




Inspirado na poética de Vinicius de Moraes.

Produção e divulgação de YARA MONTENEGRO, do Rio de Janeiro, que continua lindo, em Dezembro de 2013.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Estação da Luz e do Crack


Logo, os malditos da noite
avançarão as suas misérias
por sujas avenidas viciadas.

A massa disforme,
oculta em sujos cobertores
carrega seus andrajos e horrores
por entre estrelas envergonhadas
pelas tantas luzes desperdiçadas.

Então se sabe
que a promessa da vida
nem sempre é cumprida.


Produção e divulgação de YARA MONTENEGRO, do Rio de Janeiro, em Dezembro de 2013.

A imagem foi desfocada intencionalmente por respeito às famílias dos dependentes e aos próprios.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Esperas




"Porque o amor é a coisa mais triste quando se desfaz..."

Eu sei que agora ando só,
que as noites escondem as estrelas
e furtam a fantasia
 que a Lua me trazia.
Mas como há em Vivaldi
a renovação de toda Primavera
eu sinto que no peito
já brota uma nova espera.



- Da poética de Baden Powell e Vinicius de Moraes.
- Referência à música "Sagração da Primavera", em "As quatro estações" de Vivaldi.

sábado, 7 de dezembro de 2013

A Lira



Obra de Li Sakamoto

Há um carinho
em cada verso
que te faço,
pois de ti
nasce a doce lira
e por ti 
a vida conspira.


Produção e divulgação de YARA MONTENEGRO, do Rio de Janeiro, em Dezembro de 2013.


sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Rosas da noite


Permite-me a brisa, a janela aberta.
E esse frescor de chuva recém caída
espalha todos os orvalhos
que as rosas da noite suspiram.
Logo, teu riso refletirá as estrelas
enquanto as promessas se cumprem.


Produção e divulgação de YARA MONTENEGRO, de Campinas SP, em Dezembro de 2013.


quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Mandela


1918 - 2013

Mandela de Cabidela,
do grito na favela, do vazio na panela
e de outra tanta mazela.
Nelson Africano, exemplo decano
do preço pago pela liberdade
que nunca vem tarde.
Mandela de luto, Mandela de luta
apague a Lei que separa as cores
como se os homens fossem só rancores.
Negro rei Africano, vibre sempre o teu cajado,
pois eis que o opressor é sempre renovado.
E siga sempre, negro sábio, 
já que em em teu lábio 
brilha a justa palavra 
e o futuro 
tu nos ensinou como se lavra.


Homenagem pouca ao homem que me ensinou a acreditar.



Produção e divulgação de YARA MONTENEGRO, de Campinas SP, em Dezembro de 2013.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

domingo, 1 de dezembro de 2013

A próxima madrugada


Porque a maré sempre volta,
aguardo-te na Preamar
até o fim 
da última
estrela raiada.
No bolso e da vida
restou-me apenas um real
para comprar a rosa
que sempre te agrada.
Quem sabe, na próxima
madrugada?




Produção de YARA MONTENEGRO, de São Paulo, em Dezembro de 2013.




sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Cerejas


As cerejeiras floriram depois de Outubro.
Estão renovados os maduros amores
e renovadas, as maduras cerejas.
Eis retornadas as brisas benfazejas
e decretada a inutilidade das proezas,
pois é tempo de pura leveza,
de saudade menos doída,
de vontade mais atrevida
e de um novo brinde
à vida.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

A Estrela e a Mulher



A mulher
que volta do Passado
repõe a estrela perdida.
De novo completa,
a noite repõe a vida.




La Vie


O tempo nunca é curto
enquanto mede uma ausência.
Mas eis que me visitam
amores que vivi
e Piaf ressurge 
em todos os tons e sons.
E se por ti eu soube
que a saudade tem nome,
por ti eu sei como renascem
os sonhos.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Chuva




Cai uma chuva tão suave
que se pensa
que Deus nos acaricia.
Tudo existe
para findar o que é triste.
O cheiro de terra molhada
preenche todo vazio
e de todo sede há o sacio.
O tempo passeia no relógio
e a tarde se estende até onde se compreende.
A vida, aos poucos, a gente entende.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Amores Maduros


E sem que se perceba
um mediterrâneo azul olhar
devolve-me o sonho de sonhar.

Amores maduros
talvez indevidos,
talvez atrevidos,
talvez heroicos
nesses tempos Minóicos
de gregos labirintos.

Maduros amores
que tornam menores
os anos que trazemos
e melhores os que queremos.

Maduros amores
que dispensam os verbos
e acolhem os versos não ditos.
Silêncios falam.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

A Negra Poetisa


Negra Graça poetisa 
mostre a tua santa ira e a tua doce lira.
Que teu canto voe, que teu verso ecoe
e que tais sejam ante a bruta ferocidade,
que não reste sombra da maldade.

Negra poetisa, por ti a luta se suaviza
e todo contrário se harmoniza.
Reviva o Baobá natal,
 reconte os mitos, os ritos,
e os gritos da África ancestral.
Cá te ouviremos,
pois de lá, todos viemos.

Ave Graça, da negra alegria!
Que nenhuma mordaça
cale a tua valentia
e nem nos roube a tua poesia.


Homenagem pouca à poetisa GRAÇA GOMES e ao poeta moçambicano MPIOSSO - YE- KONGO

Produção e divulgação de TANIA BITENCOURT, rien limitée, do Rio de Janeiro, no dia em que se celebra A Consciência Negra.

domingo, 17 de novembro de 2013

Promessa



Quantos versos te restarão
quando as estrelas se apagarem?
Em busca de qual promessa
tu ainda rezará as mandingas?
Quem haverá de desenhar as rendas
por onde voava o colibri?
Quem, de ti restará?

E tudo por quê?
De onde ressuscitastes esse medo?
Lembrança de tantos amores em vão?

E no entanto, poeta, é preciso reviver.
Dispa-se da paúra e descalce o que dirão.
Nada sabem do que se passa em teu peito
e é tempo de renascer.

Nada escute, além da voz da amada.
Nada veja, além do brilho de seus olhos.
Nada temas.
Aperte a mão estendida,
afaste a mágoa sentida,
esqueça a decepção havida
e siga este outro lado da vida.

           



Produção e divulgação de TANIA BITENCOURT, rien limitée, Indaiatuba SP, na Primavera de 2013.

sábado, 16 de novembro de 2013

A Cidade e o Feriado


A avenida vazia expõe o silêncio das ausências.
Velhos edifícios espiam vagos passos largos
e pausas consentidas desfilam nuas vidas.

Como amante sem recato a cidade se dá
em leitos improváveis.
E a vastidão despovoada 
a faz tão íntima
quanto mulher recém amada.


quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Manchetes


Porque a vida se repete,
os jornais são inúteis.
Personagens mudadas repetem velho atos,
velhos fatos e iguais retratos.
 E porque só há o que já houve,
presente está sempre o Passado 
e a dor nem muda de lado.



Produção e divulgação de TANIA BITENCOURT, rien limitée, do Rio de Janeiro, na Primavera de 2013.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Gnomos

Obra de Li Sakamoto

Será inútil descobrir
o pote de ouro
no fim do arco-íris,
se no caminho
perdemos a crença
nos gnomos que lá
o deixaram.


Homenagem pouca à Artista Plástica e Fotógrafa Li Sakamoto.

Produção e divulgação de TANIA BITENCOURT, rien limitée, desde Aquidauana, na Primavera de 2013.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Tanto há


Há muito porque te amar.
E não só a suave porcelana de tua pele,
a elegância de teu porte majestoso,
a beleza sensual de teus lábios,
a sinuosidade de tuas curvas
e a seda que recobre os teus cabelos.
Muito mais existe para te amar.
Há a grandiosidade de tua inteligência,
a profundidade de teu saber,
a ternura de tua carícia
e a graciosidade com que tu desfila a modéstia
de quem se sabe além da ostentação.
Muito há, porque te amar.

à Musa

Produção e divulgação de TANIA BITENCOURT, desde Campo Grande MS, para rien limitée, na Primavera de 2013.

domingo, 10 de novembro de 2013

Poderia ter sido


A vida que não foi, mestre Bandeira,
abre caminho para a angústia de ser só.
Hoje, a brisa não me trouxe o sorriso da Musa
e nem me chegou o voo do colibri.

A dor dos amores que foram breves
e que nem sei porque se foram
tinge de cinza a tarde finda.
O amor que imaginei maduro chegado,
fez-se silêncio um dia e ausência depois.
O amor que um dia curou as minhas dores
e escreveu a minha poesia,
morreu como quem nunca viveu.
E no ataúde em que se enterrou
não coube a última rosa que lhe guardei.

Já não brilha a estrela do leste, 
agora perdida no escuro sem fim.
A noite não compensa o Sol perdido
e a luz da Lua que um dia vestiu
as minhas fantasias 
estragou-se em realidade.

E pensar, mestre Bandeira, que a vida poderia ter sido...


                    
Homenagem pouca ao Mestre Manuel Bandeira.


Produção e divulgação de TANIA BITENCOURT, rien limitée, do Rio de Janeiro, na Primavera de 2013.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

A Psicografia



As palavras chegam
não se sabe de onde
e entre saudades e dores
avivam presenças 
que se julgavam perdidas.
Por instantes, quase se escuta:
mãe, apronta o meu jantar...


Produção e divulgação de TANIA BITENCOURT, rien limitée, do Rio de Janeiro, na Primavera de 2013.

domingo, 3 de novembro de 2013

O Naiff





As cores de um Naiff
compensavam a usura do cinza.
Entre um vermute
e uma Crônica de Costumes,
momentos se fizeram.

Nem sempre 
a aspereza do amor ausente,
esteve à mesa comigo.



sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Érika



Se a bala foi perdida,
ou se foi indevida,
o que importa agora?

A boca do forno
crema primeiro
a pouca fantasia que viveu 
e a morte
que antes lhe ocorreu.
Dupla morte
para o sonho
de consorte.

Depois, o ramo de jasmim
desce à barca de Caronte,
ao rés do horizonte.

Acima ficamos nós.
Acima, ficamos sós.
Quem nos devolverá
a doçura de Érika?


               Para a Sra. Gertrudes e Sr. Christopheer. Saudades de Érika que partiu há dois anos.


Produção e divulgação de TANIA BITENCOURT, rien limitée, do Rio de Janeiro na Primavera de 2013.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Azul da madrugada


Adoro o azul...! 
Reflexo de espelho, pois as gardênias são azuis...

Dê-me um pouco da paz que te habita
e um tanto do brilho que te acende.
Contigo eu quero seguir os rumos ignorados,
a noite sem fim e os sonhos recuperados.
Leve-me por teus caminhos
e só me deixe nos seios
da mulher amada.
Saberei, então, 
do azul da madrugada.

     

domingo, 27 de outubro de 2013

Adaptação de OS LUSÍADAS para o Português Atual - Nova capa para a 3ª edição.



Tenho a satisfação de apresentar aos (as) amigos (as) a capa para a terceira edição de meu livro "Adaptação de OS LUSÍADAS para o Português atual", onde reescrevi os 8.260 versos em linguagem coloquial e acrescentei mais de três mil notas relativas às citações mitológicas, geográficas e históricas, permitindo ao leitor saborear a genialidade do bardo lusitano de maneira fácil e completa.

A diagramação empregada consiste em expor as estrofes originais e as adaptadas em sincronia, eliminando as dúvidas que inevitavelmente as primeiras ensejam por conta do arcaísmo em que foram escritas e as dúvidas advindas da própria mitologia, da antiga geografia e da história portuguesa.

Ao ensejo, agradeço ao Sociólogo e Pesquisador de Arte da USP, Thyago Marão Villela, a confecção da capa. Aos (as) amigos, pela atenção e pelo apoio de sempre.

Muito obrigado.




Produção e divulgação de TANIA BITENCOURT, rien limitée, do Rio de Janeiro, na Primavera de 2013.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

O Voo


Ainda que tente,
o papel não retém
o voo do colibri desenhado.
Mais do que linhas
é a liberdade que o faz.


Produção e divulgação de TANIA BITENCOURT, desde Brasília, na Primavera de 2013.

sábado, 19 de outubro de 2013

Desencantar


E agora, quebrado o encanto, resta-te o canto. 
Resta-te cantar a amplitude dos lamentos
e todos os caminhos da rosa-dos-ventos.
Cantar o verso esquecido e o poema repartido.
Cantar a desilusão no espelho quebrado
e todo engano consumado.
Cantar a rima que já não povoa os vazios
e nem afugenta os pássaros sombrios.
Cantar a mulher que um dia foi amada
e a incerteza nascida na madrugada.
Cantar a impossibilidade do não
e a quase certeza na solidão.
Cantar o crime da realidade
e o sonho que ficou pela metade.
Cantar as faces distorcidas 
e as almas corrompidas.
Cantar o murro, cantar o muro,
cantar o berro e cantar o escuro.
E cantar essa partida
e talvez outra chegada. Essa descida
e quem sabe, outra subida?
Cantar cada semente caída
e a promessa de outra rosa-da-vida.




quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Cem Vinícius


Cabem muitas coisas em cem anos.
Cabem guerras e tréguas, perdas e danos.
Alguns acertos e tantos enganos.
Cabem idas e vindas, partidas e chegadas
e tantas ruas e tantas estradas.
Cabe choro e cabe riso, inferno e paraíso,
loucas paixões e amores de tanto siso.
Muito cabe em cem anos, mas pouco transborda
e de nem tudo se recorda;
talvez de um laço, talvez de um espaço,
de um corpo, de um abraço.
Talvez de uma música, de um filme, de um poema
ou só de quando o Mundo virou um teorema
e a última utopia naufragou no sistema.
E talvez só do tempo em que de tudo se esqueceu,
pois foi o tempo em que a vida morreu
e que dos umbrais só retornou por obra e graça
dos versos de Vinicius, o anjo boêmio dos reinícios,
o menestrel da alforria,
que mais que poeta,
fez-se poesia. 

    Homenagem pouca ao Poeta Grande, Vinicius de Morais * 19.10.1913

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Poesias Todos os Dias - Livro editado pela Agbook com renda destinada à APAE



Mais do que um livro de poesias, Poesia Todo Dia é uma obra de amor.

Ao adquirir esse livro, você fará parte de uma rede de pessoas que se doaram de inúmeras formas em benefício da APAE DE SÃO PAULO e sua missão de promover a prevenção e a inclusão da pessoa com Deficiência Intelectual, pois os direitos autorais obtidos com as vendas dos livros serão doados integralmente à instituição.

O Poesia Todo Dia foi um concurso cultural realizado pela AlphaGraphics, para o qual centenas de Poetas do Bem das mais diversas localidades no Brasil doaram mais de 1.000 poesias, das quais 365 foram selecionadas para compor o livro homônimo.

Compre. Dê de presente. Divulgue.

Poesia Todo Dia fará bem ao seu coração e às crianças da APAE DE SÃO PAULO.


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terça-feira, 8 de outubro de 2013

ZIZÉK, Slavoj - Filósofos Modernos e Contemporâneos


ZIZÈK, SLAVOJ
1949
As melhores análises Marxistas são sempre analises de um fracasso.

Prefácio

Quando ZIZÈK disse a frase em epígrafe referia-se à célebre “*Primavera de Praga” argumentando que a partir da derrota, os Socialistas passaram a pregar que se as reformas pretendidas tivessem sido implantadas o resultado teria sido a concretização do “Paraíso Utópico” que sempre é pregado pela Esquerda Política (sic). Segundo ele, é praxe que os Esquerdistas criem em cima de seus fracassos os mitos que lhes permitem manter certa aura de correção moral, haja vista que os impedimentos que lhes impedem o acesso ao Poder, deixam-nos na confortável situação de críticos apenas.

Marxista dedicado, mas tão independente que não se importa com as críticas, ZIZÈK incomoda não só Burguesia de Direita, mas também a ortodoxia da Esquerda. Importa-lhe apenas prosseguir em sua laboriosa investigação sobre a natureza e as características do Poder Político, as quais são obscurecidas pela eterna tentativa de se justificar a “Utopia Socialista”. E é justamente contra essa tergiversação que ZIZÈK ergue a sua voz, insistindo na necessidade de se resgatar a real essência do Marxismo para com isso implantar e consolidar um Sistema Político que acabe com a exploração do “homem pelo homem” e promova, tanto quanto possível, a igualdade de oportunidades para todos.

*Primavera de Praga – o conjunto de ações desencadeadas na ex Tchecoslováquia, em 1968, que visava o fim da dominação soviética e a implantação de uma Democracia plena.

Notas biográficas

ZIZÈK nasceu em uma família de classe média, ateia e razoavelmente culta. Seu pai trabalhava com Economia, sua mãe com Contabilidade e foi o trabalho de ambos que lhe deu a oportunidade de se dedicar inteiramente aos estudos. Na adolescência sonhou ser cineasta, mas desistiu por não se achar capaz de ombrear com os grandes Diretores europeus.

Assim, aos 17 anos de idade decidiu mudar seu rumo e abraçou a Filosofia em definitivo. Em 1967 foi para a universidade de Liubliana (anteriormente situada na Iugoslávia e atualmente a Capital da Eslováquia), onde se Doutorou em Filosofia e em Sociologia. Posteriormente, estudou Psicanálise na universidade de Paris, França, e ali conviveu com vários eruditos importantes, dentre os quais FRANÇOIS REGNAULT e ALAIN MILLER, que era genro do notável JACQUES LACAN que foi a grande influência em seu ideário.

Atualmente é professor da European Graduate School e pesquisador sênior no Instituto de Sociologia da Universidade de Liubliana. Também é um “Critico Cultural de enorme prestigio e “Professor Visitante” em várias universidades estadunidenses, entre as quais as universidades de Colúmbia, Princeton, a New Scholl for Social Research de New York e Michigan.

Os vários ideários

Embora as atenções de ZIZÉK privilegiem a Filosofia Política e Social, ele também é renomado pela abordagem de temas inusuais na filosofia ortodoxa, como, por exemplo, o Cinema de HITCHCOCK e de DAVI LYNCH, ou o Fundamentalismo e a (in) Tolerância, a Correção Política e a Individualidade nos tempos atuais, além de mais alguns outros assuntos infrequentes.

Jocosamente, aliás, ele é chamado de “Elvis Presley da Filosofia”, em virtude de sua irreverência ao tratar de assuntos que normalmente são discutidos com sisudez e solenidade e de imprimir em seu trabalho um bom humor e uma vibração quase juvenis, deixando-o livre da pernóstica diferenciação entre as chamadas “Alta e Baixa Cultura”.

Contudo, a sua falta de cerimônia não diminui a seriedade de seu raciocínio como veremos adiante, ao detalharmos seus posicionamentos ante as questões filosóficas de se ocupa.

As influências recebidas

Uma das primeiras influências que ZIZÈK recebeu foi a do Filósofo Marxista esloveno BOZIDAR DEBENJAK que o iniciou no “Idealismo Alemão”; caminho que ele trilhou com mais profundidade através da chamada “Escola de Frankfurt”.

Idealismo – Corrente Filosófica que prega a tese de que tudo está contido nas Ideias, no Pensamento. Aos interessados, recomendamos a obra de nossa autoria: Filosofia sem Mistérios - Dicionário Sintético – Ed. Seven System, Biblioteca 24x7.

E foi como aluno em um dos cursos de DEBENJAK que ele iniciou seus estudos sobre “O Capital” de KARL MARX e sobre a “Fenomenologia do Espírito”, de HEGEL. Esses estudos influenciaram decisivamente o seu pensamento, o qual começou a se tornar público em 1979 através dos livros que ele passou a publicar.

Neles e noutros textos, ZIZÈK examina as teorias hegelianas e marxistas a partir de um ponto de vista fundamentado nas concepções psicanalíticas de JACQUES LACAN, cujas teses são utilizadas com frequência como instrumento para uma nova leitura sobre a “Cultura Popular” e como suporte para outras análises filosóficas. Aliás, essas mesmas “teses lacanianas” também lhe serviram como base para as interpretações que fez das teorias de LOUIS ALTHUSSER e SIGMUND FREUD.

E essa nova visão sobre as obras de MARX e de HEGEL, dentre outros, incrementou as investigações sobre o pensamento de ambos, pois, pela primeira vez, foram investigadas as motivações psíquicas que contribuíram e/ou determinaram a formação de seus sistemas filosóficos.

O  Sublime Objeto da Ideologia

Após o lançamento de “O Sublime Objeto da Ideologia”, seu primeiro livro escrito em inglês, lançado em 1989, ZIZÉK passou a somar ao prestigio que já gozava junto à intelectualidade a notoriedade pública, passando a ser considerado um dos mais influentes teóricos contemporâneos.

Na obra, bem como no restante de seu ideário, seu trabalho transita entre O Sujeito de DESCARTES e o já citado Idealismo Alemão, particularmente com as Ideias de HEGEL, KANT e SCHELLING.

Permeando essa diversidade, ele reafirma o seu Ateísmo enquanto tece teorias que contrariam as análises filosóficas tradicionais. Aliás, por sua aversão às mesmas e à mediocridade do chamado Politicamente Correto, ele não perde oportunidade para expor seus argumentos que geralmente causam várias polêmicas entre a Intelectualidade e, principalmente, entre os pseudos intelectuais de pífia cultura.

Para ele, precisamos de uma nova e diferente Ideologia (enquanto Sistema de Pensamentos organizados e interligados) para entendermos e corrigirmos a Política atual. Urge abandonarmos a hipocrisia e nos dedicarmos ao estudo profundo e sério das questões que envolvem o homem, não apenas no aspecto filosófico, mas também no aspecto prático.

O Real

Para ZIZÈK, o conceito O Real é bastante enigmático e não deve ser equiparado ao conceito relativo à realidade física já que esta é construída simbólicamente; ou seja, o que nós captamos através dos Sentidos (tato, visão, audição, paladar e olfato) e pensamos ser “Realidade” não passa de um conjunto de símbolos (palavras, sinais etc.) criados arbitrariamente pelo homem.

O Real, segundo ele, pode ser pensado como um núcleo impossível de ser simbolizado, já que não se consegue expressá-lo por palavras, ou outros símbolos, ou sinais. O Real não tem existência positiva, ou concreta, porque não se pode captá-lo empiricamente* e, portanto, só existe como Abstração, como uma imagem em nossa mente.

NOTA do AUTOR – empiricamente* – o conhecimento que se adquire através das sensações captadas pelos Sentidos (tato, visão, audição, paladar e olfato).

Contudo, o fato de só existir como “Abstração” não significa que seja externo ou alheio à realidade humana. Ao contrário, ele é o núcleo, a essência, a alma da mesma. E mesmo sendo inalcançável racionalmente, dele sabemos por irromper entre os furos da malha simbólica quando se mostra nas ocasiões que nos parecem fictícias, como nos sonhos e na realidade virtual. Nessas situações, permite-nos saber de sua existência e da “outra dimensão de cada coisa”.

Durante os sonhos é quando mais próximos chegamos do verdadeiro “Real”, haja vista que então o que predomina é o inconsciente livre das censuras da Razão. Já no caso da Realidade Virtual acontece a oportunidade de nos manifestarmos sem a pressão das regras simbólicas e sociais, permitindo, por exemplo, que um indivíduo comum e tímido possa “ser” uma mulher sensual, em um “game” qualquer.

O Simbólico
Para ZIZÈK, o “Simbólico” é fruto direto da Linguagem. A partir do momento em que o indivíduo se apossa das primeiras palavras, o mundo passa a lhe chegar por intermédio dos Símbolos ele capta através dos Sentidos (tato, visão, audição, paladar e olfato). E é através desses Símbolos, principalmente as palavras, que ele constrói a sua realidade. Isso resulta em situações como a do exemplo que segue:

Um homem só é Rei, porque outros homens dizem que sim. Porque se comportam como seus súditos.

Nada que seja natural o levaria a esse cargo. Mesmo que usurpasse o Poder pela força ou por artimanha inidônea ele não seria um “Rei”, tornando-se, quando muito, um Tirano bem sucedido.

Vê-se, portanto, que todo o arcabouço Social, Político, Afetivo etc. que compõe, ou formam, a “realidade humana” é uma mera construção dos homens. Por isso, pode-se dizer que a Realidade é Simbólica.

Imaginário.

Para ZIZÈK, o “Imaginário” é muito semelhante ao “Simbólico”, mas dele difere porque aquele se relaciona com as leis, as regras e com os comportamentos sociais que formatam a realidade, enquanto ele se liga à questão da imagem visual, sonora ou olfativa que o homem consegue formar no intimo de sua mente, conforme o exemplo a seguir: ao ouvir, ou ler a palavra “Gerânio” eu posso “sentir” o seu perfume e “tocar” as suas pétalas.

Alguns outros Conceitos segundo ZIZÈK

Significante Vazio – aqui, ZIZÈK alude aos Signos, ou Símbolos cujo Significado deixa de ter a importância original graças às repetições banalizantes e inadequadas que são feitas do Significante. Veja-se o seguinte exemplo: Os acordes de 9ª Sinfonia de BEETHOVEN são executados em qualquer cerimônia sem importância apenas para torná-la “maior”, mas o Significado inteiro da Obra não se adéqua a tal uso, a A tal Significante.

Auseinandersetzung – termo que remonta a HEIDEGGER e que ZIZÈK utiliza para exprimir a necessidade de a Europa repensar a si mesma. Tanto em relação ao Passado, quanto em relação ao Presente. E, ainda, em relação ao avanço da China e da Globalização liderada pelos EUA. Essa conjuntura, a seu ver, impõe a adoção de novas posturas quanto aos aspectos que nortearam a sociedade europeia nos últimos séculos, dentro os quais a questão do “Estado de Bem Estar Social”. Para ele, a pior opção seria tentar criar uma “síntese entre essas duas forças (China e Globalização)” e com isso supor que se estaria criando um “um rosto europeu”, pois disso só resultaria uma nova maneira de se isolar do Mundo.

Censura Liberal – para o Filósofo, só dizemos que somos livres porque não temos em nosso vocabulário palavras que sejam capazes de expressar a nossa efetiva “falta de Liberdade”. Dizemos-nos livres apenas por uma deficiência de Linguagem. Ele alega que vocábulos, nomes, ou conceitos, como “guerra ao terrorismo”, “liberdade e democracia”, “direitos humanos” etc. são falaciosos e só mistificam o que pensamos da situação, enquanto nos impedem de fazer uma reflexão profunda e honesta sobre a Liberdade, propriamente dita. Para ele, “somos livres para escolher... (mas) desde que façamos a escolha que agrade às convenções e às regras da sociedade”.

As escolhas - a poucos Homens sobrevém a dúvida: “o que é a escolha certa?”. E isto acontece porque a maioria vive apenas as circunstâncias de seu cotidiano e, também, porque ninguém tem uma resposta conclusiva, absoluta. Dessa forma, o homem resigna-se a seguir a opinião dos demais, contentando-se em supor que a “opção correta” é aquela que “dizem ser”. Aquela, que se torna a opção da maioria. Age, portanto, apenas por indução, já que a sua ignorância ou o seu comodismo/covardia não lhe permite alternativas.

A escolha entre Democracia ou Tirania – dentro do contexto citado na nota anterior, é comum que nos peçam para escolher entre “Democracia, ou Tirania” esperando que a previsível opção pela primeira se confirme, já que a segunda é execrada pela “elite intelectual possível”, que a transmite ao populacho, o qual, aliás, padece em ambas, sendo-lhe, portanto, indiferente o Regime que o governa. Porém, ainda que se considere que a Tirania seja nociva de fato resta outro problema, pois não é difícil ver que nos acomodamos a um modelo de Democracia, sem que exista qualquer esforço sério para aprimorá-la, evitando que se torne tão malévola quanto a Ditadura. Dessa sorte, cabe novamente a indagação: somos livres realmente?

A Paixão pelo Real – Como afirmou JACQUES LACAN, essa “paixão” é a ânsia subconsciente de chegarmos à “Essência das coisas”, “à Essência da vida”. É a vontade imperativa de despojar a realidade física de suas camadas ilusórias. É a busca pela autenticidade que apenas no “Real” pode existir. No Ocidente, o frenesi do cotidiano não dissimula totalmente a monotonia do “Capitalismo Global” e passamos a sentir a necessidade de haver um evento que sacuda a nossa rotina, a nossa inércia e nos aproxime de “alguma essência”, de “algo real”. Segundo ZIZÈK, talvez, o terror fundamentalista acabe sendo esse “algo real”, não obstante seu aspecto negativo. Talvez ele tenha a desejada serventia de nos acordar do topor que o condicionamento ideológico nos causou. Por isso, aliás, é que eventos macabros acabam sendo desejados como se fossem instrumentos capazes de romper as ilusões que nos impedem de chegar “à essência das coisas e da vida”. Nesse contexto, a derrubada do WTC* pode ser vista como a apoteose dessa querência por um acontecimento que abale as estruturas e nos permite chegar “a alma das coisas”.

*WTC – World Trade Center, derrubado em 11 de Setembro de 2001, em Nova Iorque, por aviões comerciais pilotados por terroristas muçulmanos.

Cutters – são os indivíduos que se automutilam com o objetivo de “viverem seu ego profundamente” e combaterem a angústia de se imaginarem “não existentes”. Ao ferirem o corpo querem comprovar a própria existência efetiva, bem como a da “alma ou essência” que os animam. Diferem daqueles que se tatuam, porque a sua motivação é mais profunda e intima. Geralmente o motivo dos tatuados se situa mais em certo modismo passageiro, ou na tentativa de agradar determinado grupo social.

Multiculturalismo Liberal e Tolerante – segundo ZIZÈK é o Sistema Político que pretende tornar-se hegemônico e cuja característica principal é a busca por uma “Política sem Política”; ou seja, propõe que o governo da sociedade seja entregue para Tecnocratas especializados em Administração, sem haver a menor participação política do povo. Alguns estudiosos traçam uma analogia dessa proposta com aquilo que já se observa em algumas outras áreas e que consiste em oferecer um produto, ou um serviço, despido de sua Essência, ou, no mínimo, de algumas de suas características que supostamente seriam nocivas, tais como, “café sem cafeína”, “cerveja sem álcool”, “gorduras sem colesterol” etc. É a chamada dessubstancialização. Para alguns, o maior defeito de tal sistemática está na sua apologia a uma condescendência exagerada ao Outro, o que, ao cabo, poderia causar o fim de toda regra e de todo parâmetro e de toda referência a serem seguidos.

Desrealização – é a tentativa de subtrair da Realidade a sua Substância, ou Essência. Conforme ZIZÉK, a quase ausência de imagens das vitimas no WTC e as muitas cenas que mostram as vitimas mutiladas, degoladas, decapitadas nas chacinas ocorridas no 3º Mundo tem a intenção de desrealizar a realidade; isto é, alterar a essência do fato real, concreto, para incutir no espectador a ideia de que a crueldade, a selvageria, o terrorismo “estão além de nossa casa”. Ao procederem dessa forma, as “Potências Capitalistas e Consumistas” pretendem dessensibilizar quem assiste a tais imagens bizarras e reforçar-lhe a convicção de que aquilo está muito longe de seu mundo. Transformam a crua e dura rotina em espetáculo e com essa “distração” evitam que o indivíduo tenha contato com a essência da vida real, preservando-o como um simples títere das Elites.

A Travessia do Fantasma – geralmente se acredita que a função da Psicanálise é libertar-nos de nossos “fantasmas, permitindo que convivamos com a realidade o mais harmoniosamente possível. Porém, ZIZÈK evoca JACQUES LACAN e afirma que essa é uma suposição equivocada. Para o Psicanalista LACAN, em nosso cotidiano encontramo-nos imersos em uma realidade que é formada justamente pelo “fantasma” que nos domina. Afinal, os nossos traumas originam-se de fatos concretos como o trauma de quem foi assaltado, por exemplo. Assim sendo, tudo que fazemos segue as imposições desses fantasmas. Se, por exemplo, o meu fantasma leva-me a ser excessivamente tímido, o meu cotidiano obedece a essa imposição, por mais que este excesso atrapalhe o meu trabalho, as minhas relações sociais etc. Porém, essa imersão não é total, pois uma parte da nossa Psique resiste e, segundo LACAN, este é o problema. Por isso é que se deve anular essa parte resistente por mais estranho e paradoxal que isso possa parecer. Para ele, a expressão “atravessar o fantasma” significa que ao invés de negá-lo, devemos nos identificar com o mesmo e abdicarmos daquela resistência que nos impedia o mergulho total. A partir daí, passaremos a distinguir claramente a realidade e a ficção que envolve o nosso “trauma, ou fantasma” e, num segundo momento, passaremos a distinguir naquilo que aprendemos ser a ficção, o “núcleo da Realidade Ficcional”. Compreendido esse “núcleo” automaticamente o tornamos absolutamente fictício e, portanto, inofensivo. Na sequência será necessário que compreendamos que uma parte da realidade tem a sua função alterada pelo “fantasma, mas que essa parte não passa de uma tola fantasia e que por isso é passível de ser combatida e exterminada. Todavia, ZIZÈK alerta que todo esse processo é particularmente difícil, pois a própria exposição do fantasma, que pode acontecer através do simples ato de se falar do mesmo com o terapeuta, pode ser tão traumática que não é raro que o assunto seja evitado impedindo que a cura aconteça. Nesses casos, observa-se que o problema é exposto de outras formas, como se pode assistir, por exemplo, no filme “A Professora de Piano*”, onde a protagonista não consegue verbalizar o que ela classifica de “suas perversões sexuais” e as escreve para que um de seus alunos as realize. Apenas pela escrita, que lhe parece ser uma forma indireta, ela consegue expor o “fantasma, que ocupa o núcleo do seu Ser.

NOTA do AUTOR - *A Professora de Piano (La Pianiste) – filme de 2.000, Franco-austríaco. Direção de Michael Haneke, com Isabelle Hupert, como protagonista.

Fetichismo – o Filósofo Político KARL MARX afirmou que o prazer do Fetichismo estava na posse física do objeto, bem como na materialidade do mesmo. Mas, segundo ZIZÈK, na atualidade o Fetichismo atinge seu auge na imaterial “Realidade Virtual”. Objetos do desejo como, por exemplo, “milhões Euros”, estão mais nessa “imaginária realidade virtual” que no cotidiano físico, concreto. O Fetichismo da posse material cedeu seu lugar ao da posse virtual e é por isso que softwares como o “Second Life”, que permitem ao indivíduo viver segundo seus desejos, se tornaram o local em que o “prazer de possuir” acontece. Há quem se gabe, por exemplo, de ter “amantes virtuais belíssimas (os)” e/ou “milhões de amigos” nas Redes Sociais e noutras fantasias. Tentam compensar suas carências reais, concretas, físicas vivendo nesse mundo imaginário. O Fetichismo conseguiu se adaptar aos novos tempos e até crescer, haja vista que já não existem mais as barreiras físicas que antes o inibiam. Porém, é de se perguntar se esta ilusão, com o correr do tempo, não poderá ocasionar um processo irreversível de alienação no indivíduo, com consequências que ainda não se sabe mensurar?

Choque de Civilizações – segundo ZIZÈK, tal confronto inexiste. O que acontece realmente é que as guerras são motivadas exclusivamente pelo “Capitalismo Global”. Para ele, é pura tolice acreditar na falaciosa ameaça do Fundamentalismo Islâmico às “Sociedades Liberais Ocidentais (sic)”, pois os reais motivos dos conflitos são os interesses geopolíticos, comerciais e financeiros dos EUA e da Europa (essa, em menor escala). Os choques que se alastram por todas as regiões atestam que os países priorizam a Economia em detrimento da Democracia e que as outras supostas motivações não passam de espúrias manipulações do sentimento patriótico do povo, que, ao cabo, suportam os custos de cada conflito.

Não quero saber – porque “saber” traz responsabilidades e, por consequência, infelicidade. Apoiando-se na tese de LACAN, ZIZÉK ecoa a sua afirmativa de que esta é atitude comum do homem ante o Conhecimento. É como se houvesse uma resistência natural à ideia de se ter mais sabedoria sobre algum fato especifico, ou sobre o geral. Consequentemente qualquer progresso só é obtido após um penoso combate contra essa propensão que domina o homem comum, pois é obvio que tal característica não se aplica aos indivíduos que se destacam da maioria.

Crentes pós Modernos – para o homem sempre foi difícil aceitar que a sua vida não esteja vinculada a uma Dimensão Superior, que ele não tenha uma Missão Nobre e Elevada e que a sua existência seja apenas um mero processo mecânico de reprodução, deflagrado pela busca do prazer físico, efêmero e mundano. Contudo, nos dias atuais, afirmações desse quilate são vistas com mais simpatia, haja vista a predominância do Materialismo e do Hedonismo nos corações e mentes. Ademais, o Politicamente Correto impõe a seus adeptos e/ou admiradores a exigência de exercitarem a hipocrisia de dizerem que aceitam sem qualquer dificuldade o fato de serem apenas “máquinas físicas”. Afinal, o atual sonho dominante da humanidade é levar uma vida prazerosa e não uma vida ascética, penosa, laboriosa e voltada a um Bem Maior. Todavia, para além dos modismos, sabe-se que a verdade é bem diferente, por trás das máscaras que a sociedade impõe ao populacho, via publicidade e lavagens cerebrais televisivas. Também por sua natureza, o homem aspira ser algo que esteja além de uma simples combinação química. Anseia ter um papel que o diferencie das outras criaturas com quem divide o Planeta e é justamente por isso que ainda triunfa sobre a hipocrisia e exerce alguns papeis simbólicos voltados para os Grandes Objetivos, mesmo desconfiando da validade desses papeis. O papel de Pai, por exemplo, ainda é representado com alguma cerimônia, mas também com certa irreverência e com questionamentos constantes. Assume-se o Papel de Pai, mas só se desempenha essa representação simbólica com inúmeras autocríticas e comentários negativos acerca da estupidez dessa convenção. Autocríticas e comentários, diga-se, que não se sabe se são genuínos ou se servem apenas para o indivíduo compor a sua imagem de “homem atual”. Noutros campos não são raras as anedotas e o hábito de se caçoar das antigas crenças, tanto as religiosas, quanto as sociais e são esses trocistas que ZIZÉK chama de os novos crentes.  Continuam a praticar as antigas tradições (provavelmente por incapacidade de criarem as novas, ou por simples comodismo), mas sem lhes dar o devido crédito e a devida reverência.

Felicidade – definir o que seja a “Felicidade” é uma preocupação da Filosofia desde os seus primórdios. E se pode afirmar que graças à relatividade de tudo, a natureza da mesma, provavelmente, nunca será definitivamente compreendida. Para ZIZÈK é necessário que três condições fundamentais sejam reunidas para que a Felicidade, ou a sua maior aproximação, aconteça. São elas:

1.  Haver bens materiais apenas em quantidade que não satisfaça plenamente as necessidades, evitando-se, assim, que o excesso de consumo gere insatisfação. Ademais, por vezes, a penúria é a melhor mestra para o aproveitamento dos recursos.

2.   Existir sempre a possibilidade de se colocar a responsabilidade sobre o mal nos ombros de outrem, para que a culpa pelos fiascos seja sempre do Outro. É claro que tal atitude contrária a moral burguesa, mas na verdade é o desejo de praticamente todos.

3.   Haver um lugar, real, físico, ou imaginário com o qual se possa sonhar.

Ironicamente, ou não, ZIZÈK diz que essas condições estavam presentes em sua Tchecolosváquia natal nos anos de 1970. No caso de ser uma ironia, fica clara a sua critica ao Regime Político da época. Na segunda alternativa, pode-se vislumbrar certo lirismo no Filósofo ao associar a felicidade com a sua juventude, com o seu Passado. Aliás, para quase todos os homens, a Felicidade está mais no pretérito do que no futuro, pois o passado pode ser moldado segundo as conveniências do individuo e por isso não é raro que as lembranças sejam manipuladas para torná-las mais agradáveis. Já com o futuro o mesmo não ocorre devido a sua natural indefinição. ZIZÈK também aceita a tese de LACAN que define a Felicidade como a desnecessidade do individuo ter que se confrontar com as consequências de seus desejos.

Coragem Ética – para ZIZÈK, atualmente, precisamos  sobretudo desse tipo de coragem, já que é a sua ausência o que mais se observa no meio intelectual europeu e estadunidense. Para se justificarem os sábios citados contra argumentam que tal forma de coragem era a que os Nazistas tinham, com os resultados que se sabe. ZIZÈK rebate dizendo que não é repugnante o fato de os Nazistas terem assumido uma posição, mas sim o fato da mesma ter resultado no genocídio praticado contra homossexuais, ciganos, inválidos e judeus. Segundo ele, é errado pensar que ao assumir certo posicionamento o indivíduo saiba que o mesmo é equivocado. Ao contrário, o sujeito que se coloca ao lado de uma “Corrente de Opinião” julga que ela é correta e é precisamente por isso que o erro não está em assumir uma posição, mas no eventual desvirtuamento da mesma. De todo modo, é imperioso que a tibieza seja vencida e a verdadeira “Coragem Ética” de que tanto se necessita nos tempos atuais seja exercida plenamente. Que não se tema a decisão de assumir determinados comprometimentos, mesmo que esses colidam contra uma suposta liberdade de uma minoria. Que não se tema ir contra a corrente “politicamente correta” de se ofertar tolerância excessiva contra a quebra de todos os paradigmas e valores superiores em nome da “expressão individual”. E, acima de tudo, que se usem os meios necessários para defender os valores da humanidade contra todos aqueles que querem fazê-la soçobrar.

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Produção e divulgação de TANIA BITENCOURT, rien limitée, do Rio de Janeiro na Primavera de 2013.