Caros (as), tenho o enorme prazer de lhes apresentar a nova edição de minha obra "Gregas Tragédias - Resumos Comentados" publicada pela Editora Bokess. Aproveito o ensejo para convidá-los a conhecer o livro, bastando clicar no Link abaixo:
Chegastes suave como o orvalho e então eu soube que tu eras o jasmim recém colhido, que o Rouxinol anunciara no canto primeiro da aurora.
terça-feira, 31 de julho de 2012
segunda-feira, 30 de julho de 2012
Jacques LACAN - Filósofos Modernos e Contemporâneos
LACAN, Jacques
1901 – 1981
Como
já havia ocorrido com André BRETON, é necessário registrar que LACAN não é
considerado pelos mais ortodoxos um Filósofo no sentido estreito da palavra.
Mas
como sucedido com o “Pai do Surrealismo”,
a sua obra tem tamanha abrangência que não é raro encontrá-la como embasamento
de alguns Sistemas Filosóficos, bem como o próprio Jacques inserido no rol dos
Filósofos mais influentes do Pensamento atual.
Destarte,
e também pela superior qualidade de sua produção e pela popularidade que
alcançou, julgamos oportuno incluí-lo na presente obra. Afinal, o estudo de
Filosofia deve atender mais ao sentido original desse nome (filosofia = amigo do Saber) do que às divisões e classificações
feitas apenas segundo os critérios de alguns.
Jacques
LACAN nasceu em Paris, na Primavera de 1901. Formado em Medicina, trocou de
imediato a Neurologia pela Psiquiatria e na nova área teve como Mestre o célebre
Gatian Clérambault, cuja influência
foi decisiva em suas ideias.
A
Psicanálise lhe chegou através do Movimento
Surrealista, que além de lhe apresentar o Surrealismo (na medida em que prioriza o Inconsciente) deu-lhe o mote para pregar a reaproximação com as
origens do Pensamento Freudiano (tão enfático em
relação ao Subconsciente, quanto o Surrealismo) o qual, a seu ver, estaria sendo abandonado pelos
adeptos e seguidores do Mestre austríaco.
Assim,
a partir dos idos de 1951, LACAN iniciou a concretização de tal resgate e para
tanto passou a se utilizar da Linguística
de Saussure (depois da de Jakobson e Benveniste) e da Antropologia Estrutural de Claude Lévy Strauss (aliás, o uso
desse ferramental, tornou-o uma das figuras mais importantes do chamado Estruturalismo*). Posteriormente, encaminhou-se ao encontro da Lógica e da Topologia**.
Estruturalismo* - nos estudos
Linguísticos havidos entre o começo do século XX até o aparecimento da “Gramática
Gerativo-Transformacional”, em 1957, foi a Corrente que pregava a necessidade
de se observar o maior número possível de fatos, em qualquer campo de Saber,
para bem fundamentar suas propostas e viabilizar a descoberta da estrutura que forma, que constitui a
Coisa, ou o Ser que se estuda.
Topologia** – em Gramática,
o Tratado referente à colocação de certas espécies de palavras. Em Matemática é
a parte na qual se estudam as Propriedades (características, possibilidades,
capacidades) das Configurações que permanecem invariantes nas
transformações biunívocas e bicontínuas.
Munido,
então, de uma vasta Erudição, LACAN juntou aos seus afazeres o ministério de
Cursos, Seminários e Palestras, os quais, sendo cada vez mais procurados,
consolidaram em definitivo o seu renome junto à Intelectualidade e junto ao
grande público.
Esses
trabalhos foram editados após a sua morte, sob a coordenação
de Jacques Alain Miller, e passaram
a se constituir um valioso registro da genialidade de suas ideias. Em 1986
publicou-se uma Coletânea com trinta e quatro Artigos de sua autoria, intitulada
“Écrits” e a partir de 1973 teve
inicio a publicação de seus vinte e seis Seminários, com o título de “Le Seminaire”.
Na
sequência, analisaremos algumas das concepções do Psicanalista, ressalvando,
contudo, que interpretações divergentes são possíveis, talvez prováveis, por
conta da disseminação havida entre as sub Correntes em que suas ideias passaram
a navegar.
O Estádio do Espelho
A
partir da década de 1920, Sigmund Freud
introduz a sua tese que delega ao “Eu” a função de regular as relações
entre o Id (a fonte das
pulsões, das vontades), o Supereu, ou
Superego (que zela pela observação das normas Morais) e a Realidade
física, concreta, que é o lugar onde se exerce a atividade.
Segundo
a proposta, nos Indivíduos considerados “Neuróticos”
haveria a necessidade de se reforçar esse “Eu”
para se conseguir harmonizar o relacionamento entre os níveis do Psiquismo (id, ego e superego), o que seria, ao
cabo, o “tratamento curativo” das
perturbações existentes. Dos desajustes no comportamento.
Para
LACAN, todavia, esse seria um caminho equivocado. E a sua estreia na
Psicanálise aconteceu quando ele propôs uma contratese absolutamente divergente
da freudiana, já que segundo sua ótica:
“o ‘Eu’ é construído à semelhança de seu
semelhante. E, principalmente, a partir da imagem que é devolvida pelo
“Espelho” em que esse semelhante se transforma”.Por
isso: “instala-se o desconhecimento em minha identidade e ao buscá-la, o que
irei encontrar será um ‘Outro’, em relação ao qual eu sentirei ciúme...”. “Terei aversão por esse ‘intruso’ que exercita ‘seus’ desejos, mas,
simultaneamente os esconde de mim, tanto quanto ele próprio se esconde de mim...”. “E é como ‘Outro’ que sou levado
a conviver com o Mundo (ie - com a Realidade, com as pessoas etc.)...”.
É,
portanto, por esta forma distorcida e patológica que se organizou o “Je” (ie – o “Eu Inconsciente”, ou o
“Isso”, ou o “Id”) paranoico e
qualquer tratamento curativo deverá considerar esse fato. A partir daí as
correções atacarão diretamente a “Causa
Primeira” dos males presentes.
O
artigo “O Estádio do Espelho* como
Formador da Função do Jé” foi apresentado pela primeira vez em 1936, no
Congresso Internacional de Psicanálise sem receber qualquer manifestação de aprovação.
Idem ao acontecido em Paris, em 1947.
Contudo,
a fria e desdenhosa recepção inicial reverteu-se com o passar do tempo e foi
este Artigo, dentre outros, que consolidou a notoriedade de Lacan.
*Estádio
do Espelho – termo criado por Henri Wallon, de quem LACAN tomou emprestado para lhe dar este
outro uso.
Avançando
ao cerne do mesmo, encontraremos a espinha
dorsal do Sistema elaborado pelo Pensador e poderemos apreciar a
Profundidade e a Propriedade de tal Sistemática.
O
fato de que o bebê sabe, por instinto, que é totalmente desamparado e
necessitado de encontrar uma solução para sua fragilidade (e que por isso
busca “antecipar o amadurecimento de seu corpo” através do ato de se projetar
na figura do Outro [na figura materna que se encontra “milagrosamente”
à sua frente]), resulta no fato
de ele ter de sair de sua anterior condição de neonatal, ou recém-nascido. Ou, ao cabo, na necessidade de deixar de ser
ele próprio.
Esse
movimento de precipitação, ou de projeção, no Outro o leva a uma Alienação, já que ele foi, como
se disse, “obrigado” a se alienar
para conseguir se constituir, ou se formar, um Sujeito (no caso, um
adulto. Consiga sobreviver fisicamente).
Já
a mãe, segundo LACAN, ressente-se da ausência do “Fallus (Falo masculino)” e para se sentir completa deseja ter um
filho, engravida, reconhece-o como um Ser Humano e aplaca a sua fome e a “libido” dando-lhe o “Objeto Seio”, que além de ser alimento
é uma fonte de satisfação para a criança no “prazer
da Oralidade” ( quando ele passa da esfera da Natureza [instinto
– animal] para a esfera da Cultura [pulsão desejo – homem]).
Desse
modo, o bebê estabelece uma Linguagem
com o “Simbólico – Mãe” e com isso
sofre, novamente, um Processo de Alienação
desencadeado pela necessidade imperiosa de estabelecer tal Linguagem com a sua fonte de prazer e de alimento.
Para
que ele consiga se constituir, ou formar-se como um Sujeito “animal e cultural”, ele se vê obrigado
a projetar-se no Outro.
Antes
do “Estádio do Espelho”, que
geralmente ocorre entre o sexto e o décimo oitavo mês de vida, o bebê Não se vê com sendo um só corpo. Como
um corpo unificado. Ao contrário, sente-se um corpo fragmentado, disperso em
várias partes.
Destarte,
a sua “mãe-seio” faz parte dele; e a recíproca é verdadeira em relação
à mãe (a
condição de “boca do jacaré ou do crocodilo”)
que o sente como “filho-falo” que
dela faz parte.
Mas
essa inteiração cessa em determinado momento. Então, o bebê que buscava o prazer
através do Seio Materno (alimento e
libido oral) – que
é o seu “Objeto de Desejo” –
reconhece que a sua mãe Não faz
parte de seu corpo.
E
ela também reconhece que Não É
completa, pois também necessitava do corpo do filho para sentir-se “possuidora do falo”.
Essa
perda ou separação, chamada de “Significante
Nome do Pai” geralmente ocorre em virtude das limitações naturais da vida
comum (a
mãe precisou voltar ao seu trabalho, por exemplo.) e nessa ocasião é que surge com mais evidência o já
citado comportamento materno chamado de “boca do jacaré ou do crocodilo*”, que é o desejo (tão
Inconsciente quanto tudo mais de que aqui se trata, é claro) daquela mãe de “possuir (comer, canibalizar)” o seu filho, como se ele fosse parte de seu corpo.
*NOTA
do AUTOR – esse nome, “Boca de Jacaré ou de Crocodilo”, decorreu
de um erro de observação que persistiu durante muito tempo entre os zoólogos,
os biólogos e outros pesquisadores que supunham que a mãe crocodilo devorava
seus filhotes quando os abocanhava. Posteriormente constatou-se o engano, pois
ela os coloca na boca para protegê-los de alguma ameaça, ou para transportá-los
em segurança, libertando-os tão logo cesse o risco, ou se conclua o transporte.
Tanto quanto outras fêmeas, a do crocodilo também prima pela sua excelência
como mãe.
É
um momento crucial na vida da criança, pois este desejo da mãe coloca o filho (malgrado sua
inexistente capacidade de decidir) em
uma situação de escolha definitiva:
ou se torna independente em virtude da mãe não se transferir para ele,
tornando-se, pois, um “sujeito faltante”; ou é engolido pela “boca de jacaré” da mesma e se torna um
indivíduo dependente ou, até, doente mental.
NOTA
do AUTOR – citou-se a precocidade da criança ante uma
definição de tal vulto, mas é claro que a separação é um processo que deverá
partir da mãe, a pessoa que teoricamente detém a capacidade para deflagrar o
processo que dará a salutar independência ao filho. Teoricamente, porque nem
sempre ela, mãe, está no gozo dessa capacidade por lhe faltar amadurecimento,
esclarecimento e/ou sanidade psíquica e emocional.
Os casos em que a separação não é
satisfatoriamente concluída não são tão raros quanto se desejaria, mas em
contrapartida as sequelas, em geral, não são tão graves que impeçam o indivíduo
de levar uma vida razoavelmente normal, ainda que restringida por uma série de
perturbações psicológicas que lhe impedem a plena realização material,
emocional, espiritual etc.
Todavia, nos casos em que a criança
se torna psicótica em razão do Processo separatório não ter acontecido como deveria,
pode-se dizer que a mãe Não
reconheceu o filho como um “Ser Humano (como uma pessoa completa e
independente dela)”, olhando-o como se fosse um mero apêndice de si mesma.
Mas antes que alguma censura lhe
seja dirigida, será necessário observar que a “Escolha (de libertar ou
não a criança)” não é realmente apenas “uma Escolha”. É, na
verdade, um procedimento que exige amadurecimento psíquico e emocional, o qual
nem sempre sobrevive aos ataques da vida cotidiana, às alterações hormonais e à
frustração de não poder manter “o Falo que lhe falta” e que foi seu por algum
tempo.
A
alienação resulta no fato do bebê não ter unidade e só se formar (ou se
constituir) como um Sujeito graças
ao efeito que o Outro (a mãe, no caso)
exerce sobre ele. Com isso ele não passa de uma “imagem do Outro”.
A
perda da independência aponta o “rapto”
que sofreu e do qual ele tomará ciência quando se olhar no Espelho e perceber
que o seu corpo é unificado, que “ele existe”,
que “não é o Outro”. Então, é que
percebe ser um “Sujeito Faltante”,
pois junto dele já não existe a mãe, ou o Outro.
É
quando percebe o desajuste que carrega e a patologia de que padece. Cabe,
então, ao Psicanalista atuar no sentido de corrigir a distorção iniciada na
primeira infância.
A Relação Sexual
... De fato, “não
há relação sexual”, disse LACAN afrontando a crença de seus seguidores e
municiando as criticas de seus detratores.
Para
ele, se o Desejo Sexual ocorre em função de uma forma projetada na tela do
Imaginário, a relação, ao cabo, faz-se apenas com uma imagem. Mas, imagem de
que?
Imagem
do elemento que a seu ver torna a Linguagem significativa: o Falo. É por isso que
a mulher se dedica enfaticamente a representá-lo (como se ela fosse o próprio) através de gestos e de expressões corporais e
faciais (a chamada “hipocrisia feminina”),
enquanto o homem busca representá-lo, também através de gestos e expressões
corporais e faciais, por possuí-lo (o chamado “cômico viril”); ou
seja, por ter o elemento que desperta o Desejo.
Sendo
assim, a Relação existente é, na realidade, imaginária e com o Falo, não
com a mulher, a qual, por sua vez, não encontra aquilo que a faria sentir-se
“a” mulher.
A Castração
Segundo
LACAN, a Castração não é apenas uma “ameaça
provocadora de angústia” ao menino. Tampouco a constatação de que há uma “inveja do pênis” na menina.
Em
verdade, a Castração é fundamentalmente a
separação entre a Mãe e o Filho. É o corte que rasga o vínculo entre
ambos. A mãe, segundo o Pensador, coloca seu filho em um lugar imaginário e
ele, o filho, acomoda-se a esse local para satisfazer o “desejo” materno.
E
o “desejo” da mãe, como o de toda
mulher, é ter o “Falo”, o que leva a
criança a sentir-se o próprio.
Dessa sorte, estabelece-se e se consolida uma relação imaginária entre a Mãe
que acredita ter o “Falo” e a criança
que acredita ser o mesmo.
A
Castração, ou o Ato Castrador, acontece, portanto, não só sobre a criança, mas
sobre o vínculo “mãe – filho”. E,
geralmente, quem o executa é o “Pai”
ao impedir que a Mãe continue a acreditar na possibilidade de reintegrar o
filho ao seu corpo e ao proibir o filho de possuir a própria Mãe. O “Pai” castra a pretensão da Mãe de ter o
“Falo” e a do Filho de ser o mesmo.
É, pois, uma Castração dupla.
NOTA
do AUTOR – claro que o “Pai” é o conjunto da Sociedade cujas
regras proíbem o incesto por vários motivos, que vão dos biológicos aos Morais.
Mesmo
sendo simbólica e tendo como objeto um “Falo”
imaginário, a Castração atua como uma Lei que rompe a ilusão do Ser Humano ser
onipotente.
O Outro
Para
LACAN o “Eu” é situado no Registro do
Imaginário,
que é o lugar das identificações e das relações duais (as relações sociais do cotidiano).
Ao
estabelecer essa localização, acentuou a diferença entre o “Eu” e o “Sujeito do
Inconsciente”, que é, ou está localizado, numa instância (ou um patamar,
um nível da Psique) Simbólica,
diferente, portanto, da Imaginária.
Também
enfatizou o fato do “Inconsciente”
ser absolutamente independente do “Eu” e pertencer ao Campo do Simbólico, que é
o Campo da “Linguagem”, ou do Significante.
Convencido
dessa condição, LACAN recorreu a um dos ensinamentos de Lévi Strauss: os Símbolos são
mais Reais que aquilo que simbolizam, o Significante precede e determina o
Significado; e
com ele reforçou seu ponto de vista
acerca da independência da “Função
Simbólica”, além de estabelecer que ela é, de fato, o “Grande Outro” que antecede o Sujeito. O “Inconsciente é o Discurso
e o Desejo do Outro”.
Ou
seja, a fonte das perturbações está justamento no Inconsciente e é por isso é que a Psicanálise deve atuar no campo
do Simbólico, junto ao Inconsciente, haja vista que a solução
das perturbações só ali pode acontecer.
Atuação que só pode ser feita através da “Fala”, pois é através da mesma que o Inconsciente se manifesta através dos relatos de sonhos, de chistes,
de esquecimentos, de atos falhos etc. Por isso, se Freud usou Conhecimentos da Física e da Biologia nos seus métodos,
LACAN utilizou a Linguística,no seu.
Através
dela chegou ao Conceito de que o Inconsciente tem o formato, ou a estrutura,
de uma Linguagem e pôde afirmar que a “Ficção”
tem a mesma estruturação da “Verdade”.
Aquilo que aparece como Sonho ou Devaneio é, por vezes, a “Verdade Oculta” que as regras sociais reprimem.
NOTA
do AUTOR - Para o sábio, aliás, a ligação entre a Linguagem e
o Inconsciente é tão sólida que ele a resumiu no seguinte aforismo: “o Inconsciente é estruturado (tem um
formato) como uma Linguagem”. Essa afirmativa de LACAN contraria a imagem que
normalmente se faz do Subconsciente. Geralmente pensamos tratar-se de um
emaranhado caótico, sem nenhuma organização estabelecida.
A
Psicanálise seria, portanto, um Procedimento em que se admite e se tenta
compreender essa outra “Estrutura” e,
como isso, tornar-lhe harmônica com a do Consciente.
Em
todos esses processos, o Erudito trabalhou com dois grandes conceitos: o “Nome
do Pai” e o “Falo”. E para operar
esses temas, criou as “Matemas”.
Dessa
sorte, e por tudo que se expôs, entende-se o porquê de LACAN considerar a
Psicanálise mais que uma “Ciência Estanque” limitada por seus parâmetros e
Leis.
Para
ele, ela é mais uma visão de Mundo,
ou uma Filosofia que pretende dar “a chave
do Mundo”. Uma prática onde a
utilização do método da “Livre Associação”
permite que se chegue ao “núcleo do Ser”.
Epílogo
Depois
da morte de LACAN, em 1981, o Lacanismo fragmentou-se em várias
Escolas, tendências e Grupos que foram implantados de modo nebuloso em vários
países.
É
um Sistema de Pensamento que pertence à Corrente Freudiana na medida em que
reconhece e adota a doutrina de Sigmund
Freud, o que implica a adoção da psicanálise, ou o tratamento exclusivo através
da “Fala” do paciente, e a aceitação dos grandes Conceitos Freudianos como
“Inconsciente”, “Sexualidade”, “Transferência”,
“Recalque e a Pulsão” etc.
Porém,
a par dessas adesões, o Lacanismo conseguir se tornar não só uma mera Corrente
continuísta. Tornou-se uma verdadeira “Escola
ou Tendência”.
Formou-se
como um “Sistema de Pensamento” – a partir
de seu mestre Jacques LACAN – que modificou completamente a doutrina e a
clinica freudiana, forjando novos Conceitos e criando uma nova e original
técnica de análise mental, sem,
no entanto, renegar a essência do trabalho de Freud. Ao contrário, LACAN foi o único dos grandes interpretes do
austríaco que buscou resgatar a pureza do Sistema
Freudiano.
E
por isso o Lacanismo é visto como uma “Revolução
Invertida”, haja vista que buscou não a ultrapassagem de Freud, mas
justamente o oposto, ie, o retorno aos seus pensamentos originais. No máximo
teria tentado uma “Substituição Ortodoxa (aquela que
preserva a essência e o máximo possível dos elementos originais)” dos mesmos.
sexta-feira, 27 de julho de 2012
É Tempo
Que os novos poemas
esqueçam os velhos temas,
pois eis que o sorriso da vida
de novo me convida.
Agora já não é hora
de se fazer versos rudes,
pois eis que transbordam
os novos açudes
e a promessa que tudo lava
leva a tristeza que cá estava.
É tempo da brisa verde
refazer o grafite da parede
e da fonte saciar toda sede.
Tempo da messe,
de São Francisco;
e da prece
que nem se parece...
É tempo de que
o amor regresse.
quinta-feira, 26 de julho de 2012
Alain BADIOU, Filósofos Modernos e Contemporâneos
BADIOU, Alain
1937
O Espaço e o Ser – A Ontologia
Nascido
em Rabat, Marrocos, mas de nacionalidade francesa, BADIOU é celebrado por sua
Dramaturgia, por seus Romances e, claro, por sua Filosofia, na qual se sobressai
a sua defesa intransigente do Comunismo em geral e, particularmente do Maoismo, do qual é ativo militante.
Sabe-se
que o Maoismo, enquanto desenvolvimento
teórico do Marxismo-Leninismo foi
idealizado e realizado na China por Mão
Tsé Tung (1893 – 1976) e serviu como base ideológica para o grupo de
combatentes que postulava derrubar o Governo do Kuomintang de Chiang Kai-Shek
e implantar o Regime Comunista no País, com a tomada do Poder pelo
proletariado em conjunto com o campesinato.
Marcou-lhe
sobremodo, a sua forma de luta empregada, que ao contrário do ocorrido noutros
lugares, aconteceu a partir do meio rural em direção às cidades em uma guerra
de longa duração.
Esses
diferenciais foram determinantes para arrebanhar inúmeros admiradores pelo
Mundo afora, dentre os quais o Filósofo BADIOU que viu no Movimento uma forma de libertação mais pura e, justamente por isso,
mais radical. E é o radicalismo a característica mais proeminente no Ideário
desse franco-árabe, como veremos no desenrolar do presente Ensaio.
Filho
de Raymond Badiou -1905-1996 (que foi membro
da SF10 [Section Française de L’INTERNATIONALE Ouvrière], membro da Resistência
Francesa durante a ocupação alemã na 2ª Guerra Mundial e Presidente eleito da
Câmara de Toulouse [1944-1958]),
Alain realizou seus estudos de Filosofia na École
Normale Supériure de Paris entre 1956 a 1961. Após a formatura, lecionou na
mesma de 1969 até 1999 quando foi nomeado Diretor de seu Departamento de
Filosofia. Também foi Professor na Universidade de Paris VIII e ministrou
concorridos Cursos e Seminários no Collège
International de Philosophie.
Em
paralelo à sua carreira Acadêmica, teve uma vigorosa militância política; a qual, se atualmente perdeu em intensidade
física, ganhou em notoriedade graças à revitalização que seu Ideário experimenta
na Contemporaneidade. Com efeito, suas Obras (abaixo listamos as mais
destacadas), ocupam o centro das
atenções dos estudiosos hodiernos, que saboreiam nas mesmas a vasta erudição e
a profundidade das reflexões do autor.
- Teoria do Sujeito, 1982.
- O Ser e o Evento, 1988.
- Manifesto pela Filosofia, 1989.
- Ética: um Ensaio sobre a
Consciência do Mal, 1993.
- Pequeno Manual de Inestética, 1998.
- Circunstâncias, 2004.
- Lógicas dos Mundos, o Ser e o
Evento II, 2006.
- Segundo Manifesto pela Filosofia,
2009.
BADIOU
foi membro fundador do PSU (Parti Socialiste
Unifié), em 1960 e participou ativamente do Movimento ocorrido no célebre Maio de 1968. Como simpatizante do Maoismo também ingressou na Union des Communistes de France
Marxiste-Leniniste, em 1969. Na atualidade, exerce sua militancia no grupo
ultraesquerdista denominado L’organisation
Politique, junto com Sylvain Lazarus
e Natacha Michel.
Em
termos afeitos à Filosofia propriamente dita, pode-se dizer que as influências
que recebeu para a construção de seu Pensamento vieram basicamente de seu
mestre Louis Althusser,
principalmente pelos primeiros trabalhos epistemológicos (ie, sobre as
questões relativas à aquisição de Saber, Conhecimento) e dos célebres Jean
Paul Sartre e Jacques Lacan.
E
que a sua postura em relação a alguns temas da Disciplina é singular, como no
caso da Metafísica em que ele,
simultaneamente, questiona a Metafísica
Clássica enquanto rejeita a atual tendência de aniquilar a “Verdade” enquanto Categoria Teórica (ie. que paira no terreno mental, abstrato, acima
das injunções materialistas).
Nesse
campo das Teorias, vamos encontrá-lo em seu nicho favorito, ou seja, a Ontologia (que, como se sabe, é a parte da
Filosofia que estuda o Ser enquanto Ser, ie, que indaga o que realmente
existe para além do que conhecemos. Que investiga o Ser despido das características que podemos conhecer).
Ali,
ele defende, principalmente, a sua tese de que “As Matemáticas” são a verdadeira Ontologia (talvez a única). Afirmativa
– expressa em seu livro O Ser e o Evento,
de 1988 – que causou polêmica com os mais ortodoxos, mas que também lhe deu um
grande reconhecimento pela sua ousada proposição de alterar um dos dogmas da
Disciplina.
Em
2006, com a publicação de Lógicas do
Mundo. O Ser e o Evento ele retomou o tema Ontologia para tratar das Lógicas
relativas ao aparecimento dos Seres
nos Mundos, ou nas situações em que
tais aparecimentos acontecem.
Mas
as polêmicas que lhes são próprias não se esgotam no campo Teórico e ele também
é conhecido pela virulência de suas criticas a Democracia Liberal e aos
Direitos Humanos, os quais, segundo sua ótica, não passam de falsos
sustentáculos do Capitalismo Selvagem,
que se torna cada dia mais dominante em todas as partes.
Dessa
sorte, tanto no terreno da Teoria, quanto no da Política ele vaga com seu Raciocínio
brilhante, acrescentado mais luz ao Saber existente. Porém, para muitos a
complexidade de seu Sistema o torna incognoscível e é por isso que, aqui
chegados, será oportuno analisarmos na sequência desse Ensaio algumas *concepções
do Pensador acerca dos assuntos que já foram, ou não, aludidos, na tentativa de
decifrarmos os meandros de seu ideário.
*NOTA
do AUTOR - Essas concepções foram pinçadas em seus escritos
e na entrevista que ele concedeu a Normam
R. Madarasz e Mario Constantinou. A íntegra da mesma pode ser lida na “Revista Ethica” V.15 – N.2 – pgs.
21-40 – Tradução de Filipe Ceppas de Carvalho e Faria, Rio de Janeiro – RJ.
Ética
... Renunciarei, provavelmente, a todo uso da palavra “Ética” em virtude de existirem tantas
contradições em torno da mesma. Acredito que o que existe de fato são “regras” hiperdependentes de
circunstâncias agravantes ou atenuantes e que é preciso considerá-las. Eu já
havia afirmado que não há uma “Ética
Geral”, mas apenas “Éticas” ligadas
a Processos, ou a fatos, ou a acontecimentos, singulares e, por isso, com “Verdades Singulares”, ou seja,
referente apenas aquele Processo.
Será
preciso, pois, avançar nesse campo de estudo e enquanto isso “obrigar” que a decisão justa para o
caso seja tomada e respeitada. Afinal o valor da verdade é superior a todos os
outros...
NOTA
do AUTOR – considere-se que conceitos como “Verdade”, aqui
não se prestarão a qualquer Relatividade, unicamente para efeito dessa
consideração de BADIOU.
Fechamento – Abertura 01
... A “Abertura
de Mercados” é uma das bandeiras mais caras às Democracias Capitalistas
Ocidentais. Repousa sobre a “Economia de
Mercado” e a “Circulação de Capitais”
o seu modo de vida, o qual teria tal “Superioridade”
que comumente é alardeado como panaceia universal. Mas o fato é que tal Sistema apoia-se na exploração dos Países
Ricos sobre os Subdesenvolvidos, repetindo o que ocorre desde a época das
colonizações.
Ademais,
é ostensivamente cínico o fato de que os que mais celebram a chamada “Abertura”, ou “Globalização” são os mesmos que recusam a livre circulação de
pessoas, promovendo toda sorte de barreiras à imigração, principalmente a
oriunda dos países pobres; e promovendo toda forma de perseguição (oficial ou
informal) contra quem conseguiu passar pelas malhas de suas fronteiras.
Para
BADIOU, o Filósofo que teorizou essa “Abertura”
foi Karl Popper, que em seu livro “A Sociedade Aberta e os seus Inimigos”
formalizou sistematicamente essa sua antiga proposta.
Também
para o Filósofo, esse “Movimento de Globalização”
encontra alguns de seus princípios no “Vitalismo” de Henry Bérgson e de DELEUZE,
já que nos Ideários de ambos é de fundamental importância a Ideia de que a “Vida é uma potência (ou um poder) Aberta”
e está além das restrições formais de Nacionalidades, Alfândegas, Países,
Etnias etc.
Vê-se,
pois, que o assunto é uma espécie de “Dialética
(no
sentido de “contradição”) Sofisticada”
entre o Aberto e o Fechado, mas, ao cabo, essa sofisticação
não esconde a hipocrisia que reina no Capitalismo
e que se manifesta no cinismo desse tipo de Discurso. A prática política toma a
mesma distancia da Filosofia, que a Ética toma do comportamento...
Fechamento – Abertura 02
... Não reconheço nenhuma hierarquia, ou escala de
valores, entre o “Aberto” e o “Fechado”.
Já
na Política é possível observar que existem circunstâncias onde o “Fechamento” é uma necessidade
imperiosa, como acontece, por exemplo, no caso de um Estado Revolucionário que não pode permanecer “aberto ao Mundo”, pois se sabe que desde o século XIX a propalada “Abertura ao Mercado” tornou-se a “palavra de ordem” das Nações Imperialistas
que nunca se constrangeram em utilizá-la para encobrir suas reais intenções de
dominação. Inclusive com o uso de armas.
Em
outro terreno, no campo amoroso mais especificamente, o “fechamento” também é uma característica necessária – exceto, é claro,
para os indivíduos e ou casais que optam pelo exibicionismo – haja vista que é
nesse espaço que os Sujeitos praticam seus atos mais íntimos.
Também
em outro campo, agora no terreno técnico, pode-se dizer que a Matemática (aqui vista como
uma expressão do Pensamento Lógico e Racional) construiu a sua “Linguagem
Fechada” para se prevenir da duplicidade, ou até da multiplicidade de
interpretações que a “Linguagem Comum”
permite.
Por
tudo isso, eu vejo com reservas essa apologia atual à Abertura e temo que ela seja apenas mais uma peça de propaganda
destinada a promover os interesses escusos das Elites do Mundo...
A Obra de Wagner
... Com efeito, há duas interpretações possíveis para a
obra de Wagner (Richard, 1813 – 1883,
considerado o maior compositor alemão).
À
primeira darei o nome de “alemã” e
direi que é aquela que se apoia na Ideia de um “Mito Fundador e um Mito da Nação”, heroico e propenso ao
sacrifício em prol da “Mãe Pátria”.
À
segunda, chamarei de “francesa”. É a
que vê nas composições do Maestro um tipo de hino em que se exalta a “Revolução da Comuna”. Uma
música para o Futuro, já que os velhos modelos Políticos foram (ou serão)
aniquilados pelas novas ideias advindas dos ideais revolucionários.
Observe-se
que a interpretação “alemã” serviu
tanto para glorificar o Nazismo, quanto para enaltecer o Ideário de Nietzsche (Friedrich, 1844 – 1900) e a
nova música de Adorno (Theodor W. –
1903-1969).
Note-se,
também, que a interpretação “francesa”
enseja uma discussão, pois há quem admire Wagner sem restrições, como Baudelaire (Charles, 1821 – 1867)
enquanto outros como Mallarmé (Stéphane,
1842 – 1898) julgam-no ultrapassado por sua tendência em glorificar o Estado.
O
fato de a contradição ser uma idiossincrasia da obra de Wagner, não destoa de
sua condição de gênio. Ao contrário, confirma-a. Porém, importa, sobretudo, notar
que os “valores positivos ou otimistas”
de sua arte, encontrados principalmente em suas três óperas principais, Parsifal, Tristão e Isolda e Mestres Cantores, superam em larga medida
os “valores negativos ou pessimistas”
que cantam a morte e o aniquilamento.
Ainda
é necessário reconhecer que a existência dessa dupla interpretação é em si um
claro sinal de que a fusão da França e da Alemanha pode e deve ser vista como
uma boa perspectiva para a criação de um “Pensamento
Europeu”, já que o atual dissolve-se no limbo da malfadada “União Européia”.
A Comuna de Paris e a Revolução
Cultural Chinesa.
... O problema deve ser examinado no interior da “Teoria de três etapas” daquilo que eu
chamo de “Hipótese Comunista”.
A
primeira etapa, da Revolução Francesa
à Comuna de Paris, estabeleceu o
fundamento teórico e prático da hipótese Comunista.
A
segunda etapa, da Revolução Bolchevique
à Vitória Popular dos Chineses, demonstra
que a tomada do Poder, ou a vitória popular, são possíveis, tendo-se o Partido (nos moldes Leninistas) como instrumento.
Porém,
esse mesmo Partido não é capaz de garantir
a “Continuidade no Poder”. O “Estado-Partido” é incapaz de assegurar
a realização do que Mao Tsé Tung
chamou de “Movimento Comunista”.
NOTA
do AUTOR – essa afirmativa de Mao Tsé Tung tem o propósito
de justificar a criação da própria Revolução Cultural, haja vista que em
virtude da ineficácia do modelo bolchevique seria preciso um novo formato para
a manutenção do Comunismo Chinês. É claro que tal retórica, segundo a maioria
dos eruditos, peca pela falta de verdade, posto que a real intenção de Mao fosse
apenas a de se assegurar no Poder, posição que lhe era cada vez mais difícil de
manter.
Baseando-se,
pois, nessa tese é possível verificar que a Guerra
de Libertação Nacional do Vietnam e a vitória
dos Comunistas Chineses em 1949 estão associadas à Segunda Etapa acima
mencionada. Confirma-se que sob a direção do Partido a luta e a vitória são possíveis.
Por
outro lado, o fato da Comuna de Paris
e da Revolução Cultural Chinesa terem
sido movimentos circunscritos apenas ao local e com resultados pífios, aponta
que também a ausência do Partido,
substituído por alternativas improdutivas, foi incapaz de concretizar o sucesso.
Sendo
assim, a questão da “Continuidade no Poder”
ainda esta aberta e espera novas alternativas...
O “Estado Franco Germânico”
... Respondendo à sua pergunta sobre o fato de eu
considerar como emergente um Organismo francês e alemão contra um aparelho burocrático
sem energia e um Humanismo exaurido
que se faz presente na Europa atual, posso dizer que a minha ideia é que se
surgisse no Mundo uma Entidade com esse potencial a “Verdadeira Política” seria facilitada de dois modos:
Primeiro
e imediatamente ter-se-ia um entrave à hegemonia estadunidense. Seria um
adversário respeitável a essa supremacia e daria margem de manobra para os povos do Mundo, a exemplo do que ocorria
na época da guerra-fria entre a URSS e os EUA.
Em
segundo lugar, a própria construção desse novo Organismo, ou Estado, propiciaria pelo ambiente criado,
o surgimento de novos empreendimentos e a renovação dos velhos Estados de uma Europa burocrática e
impotente.
Ressalvo,
porém, que essa proposta não está no campo da realidade imediata, tratando-se
mais de uma reflexão acerca dessa possibilidade.
Ademais,
caso venha a se materializar, é óbvio, que segundo a minha proposta, o seu
Governo se pautaria pelos parâmetros “Progressistas
(ie,
avançados porque progrediram da velha concepção representada pelo
Conservadorismo burguês)” e se utilizaria
de seu enorme potencial para se abrir efetivamente ao Mundo, haja
vista que o seu vigor econômico (que, aliás, foi o fator determinante para que
houvesse a junção entre a França e Alemanha, as duas maiores Economias da Europa
atual) faria frente às
eventuais tentativas de subjugá-lo.
NOTA
do AUTOR – pode-se pensar que, ao cabo, o que BADIOU propõe
seja um resgate à pretensão original da Comunidade
Européia (cuja criação visava justamente obter tal poder,
para que pudesse ombrear com os EUA e com as Potências Asiáticas, especialmente
a China e o Japão), mas sem o peso das Economias ineficientes de
países como a Espanha, a Itália, a Grécia entre outros, cujas mazelas os
jornais estampam diariamente.
Ontologia, Matemática e Existência.
... A tese que afirma ser a Matemática a efetiva Ontologia
não implica qualquer mudança na Matemática
atual, pois, com efeito, desde a sua criação na Grécia Antiga que a mesma faz
da Ontologia uma ciência que embasa o
estudo, por contraste, de seu inverso:
a Multiplicidade, sem que seus Fundamentos
tivessem sido substancialmente alterados.
Assim,
como tosco exemplo dessa “Verdade”, poderemos recorrer ao seguinte
demonstrativo:
Ontologia = Matemática, porque o “1” É “1”, sem necessitar ser “1” + mais qualquer coisa, para “Ser”. O objeto matemático, ao
contrário de praticamente todo o resto, não
necessita ter qualquer característica própria, ou qualquer atributo para “ser”. Ele É, por si.
Vê-se,
então, que a Matemática é a “Ciência do SER enquanto SER” e essa
definição também se completa por si, dispensando outras formulações.
Porém,
o mesmo eu não afirmo sobre a Existência,
já que eu a concebo mais como uma noção de “Lógica”
que de Ontologia.
Imagino
a Existência de um SER, ou de uma
Coisa, como uma reunião de múltiplos elementos que acontece num determinado momento.
Seria
o “Aparecimento” de uma “Multiplicidade” num determinado “Mundo (ou numa determinada situação)”.
O
próprio fato de se comprovar uma Existência
ou uma Inexistência através do
Raciocínio Lógico, como acontece frequentemente, é um claro sinal de que a
palavra e o conceito de Existência não é uma palavra da Ontologia, mas sim da Lógica Subjacente que afirma:
“existe, de fato, aquilo (Um SER ou
uma Coisa) que ao ser afirmado, não acarreta qualquer contradição”; ou seja, quando se afirma que algo existe e esta
afirmativa não gera dúvidas ou rejeição, conclui-se Racional e Logicamente que tal Existência
é efetiva.
Nesse
ponto quero acrescentar que a meu ver, o principal defeito do “Intuicionismo*” é limitar a Existência a essa falta de
contraditório, ou condicionar o Existir
à situação de que “só se existe em um determinado
lugar; que há necessidade de haver
um local, ou um espaço (físico, ou mental) para que a Existência se realize”.
De
modo a condicionar a Existência a um “aparecimento” físico ou mental (mental, nos
casos em que o que existe é uma ideia, uma sensação, uma intuição, um sentimento) em
um momento determinado. Ou em uma determinada situação.
Por
isso eu digo que o Intuicionismo
seria uma “Filosofia Sofistica” ao afirmar que: só É aquilo que aparece.
*Intuicionismo – na Filosofia da
Matemática é a tese que afirma que todos os Objetos da Matemática são produtos
de construções feitas pelos Homens. Que afirma serem “apenas” criações da Mente
humana.
...O “vazio” Ontológico é o mesmo que
o “vazio” Lógico?
Não!
Aquele do Campo Ontológico é o que chamo de “vazio
genérico”, a partir do qual se constrói a Multiplicidade; ou seja,
“o conjunto de múltiplos elementos”
que formarão um SER ou uma Coisa.
Já
no plano da Lógica, vinculado ao Ser-aí (ou seja, ao existir aqui, nesse
espaço, nesse Mundo), existe um “vazio” especifico destinado a cada SER
ou a cada Coisa que virá existir.
No
plano Ontológico, pode-se dizer, o “vazio” é indefinido, é geral. Ao contrário
do “vazio Lógico” que está destinado
a uma futura “ocupação” especifica.
Quando
o SER ou a Coisa se “materializa, concretiza,
torna-se física”, ie passa a existir,
há uma junção entre os dois “Vazios”,
cabendo ao Ontológico “acomodar” o SER,
o Existir em si. Ao “vazio Lógico”
caberá “acomodar” o Corpo (ou a matéria, o
pensamento, o sentimento, o instinto etc.)
resultante dessa existência.
Contudo,
essa junção não ocasiona a superposição entre ambos os “Vazios” em virtude da diferente natureza de ambos.
São Paulo, 25 de Julho de 2012.
Bibliografia Complementar Consultada e Recomendada: “O Múltiplo sem Um” – livro de Norman R. Madarasz – Ed. Ideias e Letras, 2011.
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