terça-feira, 31 de julho de 2012

GREGAS TRAGÉDIAS - Resumos Comentados

Caros (as), tenho o enorme prazer de lhes apresentar a nova edição de minha obra "Gregas Tragédias - Resumos Comentados" publicada pela Editora Bokess. Aproveito o ensejo para convidá-los a conhecer o livro, bastando clicar no Link abaixo:



segunda-feira, 30 de julho de 2012

Jacques LACAN - Filósofos Modernos e Contemporâneos


LACAN, Jacques
1901 – 1981

Como já havia ocorrido com André BRETON, é necessário registrar que LACAN não é considerado pelos mais ortodoxos um Filósofo no sentido estreito da palavra.

Mas como sucedido com o “Pai do Surrealismo”, a sua obra tem tamanha abrangência que não é raro encontrá-la como embasamento de alguns Sistemas Filosóficos, bem como o próprio Jacques inserido no rol dos Filósofos mais influentes do Pensamento atual.

Destarte, e também pela superior qualidade de sua produção e pela popularidade que alcançou, julgamos oportuno incluí-lo na presente obra. Afinal, o estudo de Filosofia deve atender mais ao sentido original desse nome (filosofia = amigo do Saber) do que às divisões e classificações feitas apenas segundo os critérios de alguns.

Jacques LACAN nasceu em Paris, na Primavera de 1901. Formado em Medicina, trocou de imediato a Neurologia pela Psiquiatria e na nova área teve como Mestre o célebre Gatian Clérambault, cuja influência foi decisiva em suas ideias.

A Psicanálise lhe chegou através do Movimento Surrealista, que além de lhe apresentar o Surrealismo (na medida em que prioriza o Inconsciente) deu-lhe o mote para pregar a reaproximação com as origens do Pensamento Freudiano (tão enfático em relação ao Subconsciente, quanto o Surrealismo) o qual, a seu ver, estaria sendo abandonado pelos adeptos e seguidores do Mestre austríaco.

Assim, a partir dos idos de 1951, LACAN iniciou a concretização de tal resgate e para tanto passou a se utilizar da Linguística de Saussure (depois da de Jakobson e Benveniste) e da Antropologia Estrutural de Claude Lévy Strauss (aliás, o uso desse ferramental, tornou-o uma das figuras mais importantes do chamado Estruturalismo*). Posteriormente, encaminhou-se ao encontro da Lógica e da Topologia**.

Estruturalismo* - nos estudos Linguísticos havidos entre o começo do século XX até o aparecimento da “Gramática Gerativo-Transformacional”, em 1957, foi a Corrente que pregava a necessidade de se observar o maior número possível de fatos, em qualquer campo de Saber, para bem fundamentar suas propostas e viabilizar a descoberta da estrutura que forma, que constitui a Coisa, ou o Ser que se estuda.

Topologia** – em Gramática, o Tratado referente à colocação de certas espécies de palavras. Em Matemática é a parte na qual se estudam as Propriedades (características, possibilidades, capacidades) das Configurações que permanecem invariantes nas transformações biunívocas e bicontínuas.

Munido, então, de uma vasta Erudição, LACAN juntou aos seus afazeres o ministério de Cursos, Seminários e Palestras, os quais, sendo cada vez mais procurados, consolidaram em definitivo o seu renome junto à Intelectualidade e junto ao grande público.

Esses trabalhos foram editados após a sua morte, sob a coordenação de Jacques Alain Miller, e passaram a se constituir um valioso registro da genialidade de suas ideias. Em 1986 publicou-se uma Coletânea com trinta e quatro Artigos de sua autoria, intitulada “Écrits” e a partir de 1973 teve inicio a publicação de seus vinte e seis Seminários, com o título de “Le Seminaire”.

Na sequência, analisaremos algumas das concepções do Psicanalista, ressalvando, contudo, que interpretações divergentes são possíveis, talvez prováveis, por conta da disseminação havida entre as sub Correntes em que suas ideias passaram a navegar.

O Estádio do Espelho

A partir da década de 1920, Sigmund Freud introduz a sua tese que delega ao “Eu” a função de regular as relações entre o Id (a fonte das pulsões, das vontades), o Supereu, ou Superego (que zela pela observação das normas Morais) e a Realidade física, concreta, que é o lugar onde se exerce a atividade.

Segundo a proposta, nos Indivíduos considerados “Neuróticos” haveria a necessidade de se reforçar esse “Eu” para se conseguir harmonizar o relacionamento entre os níveis do Psiquismo (id, ego e superego), o que seria, ao cabo, o “tratamento curativo” das perturbações existentes. Dos desajustes no comportamento.

Para LACAN, todavia, esse seria um caminho equivocado. E a sua estreia na Psicanálise aconteceu quando ele propôs uma contratese absolutamente divergente da freudiana, já que segundo sua ótica: “o ‘Eu’ é construído à semelhança de seu semelhante. E, principalmente, a partir da imagem que é devolvida pelo “Espelho” em que esse semelhante se transforma”.Por isso:instala-se o desconhecimento em minha identidade e ao buscá-la, o que irei encontrar será um ‘Outro’, em relação ao qual eu sentirei ciúme...”. Terei aversão por esse ‘intruso’ que exercita ‘seus’ desejos, mas, simultaneamente os esconde de mim, tanto quanto ele próprio se esconde de mim...”. “E é como ‘Outro’ que sou levado a conviver com o Mundo (ie - com a Realidade, com as pessoas etc.)...”.

É, portanto, por esta forma distorcida e patológica que se organizou o “Je” (ie – o “Eu Inconsciente”, ou o “Isso”, ou o “Id”) paranoico e qualquer tratamento curativo deverá considerar esse fato. A partir daí as correções atacarão diretamente a “Causa Primeira” dos males presentes.

O artigo “O Estádio do Espelho* como Formador da Função do Jé” foi apresentado pela primeira vez em 1936, no Congresso Internacional de Psicanálise sem receber qualquer manifestação de aprovação. Idem ao acontecido em Paris, em 1947.

Contudo, a fria e desdenhosa recepção inicial reverteu-se com o passar do tempo e foi este Artigo, dentre outros, que consolidou a notoriedade de Lacan.

*Estádio do Espelho – termo criado por Henri Wallon, de quem LACAN tomou emprestado para lhe dar este outro uso.

Avançando ao cerne do mesmo, encontraremos a espinha dorsal do Sistema elaborado pelo Pensador e poderemos apreciar a Profundidade e a Propriedade de tal Sistemática.

O fato de que o bebê sabe, por instinto, que é totalmente desamparado e necessitado de encontrar uma solução para sua fragilidade (e que por isso busca “antecipar o amadurecimento de seu corpo” através do ato de se projetar na figura do Outro [na figura materna que se encontra “milagrosamente” à sua frente]), resulta no fato de ele ter de sair de sua anterior condição de neonatal, ou recém-nascido.  Ou, ao cabo, na necessidade de deixar de ser ele próprio.

Esse movimento de precipitação, ou de projeção, no Outro o leva a uma Alienação, já que ele foi, como se disse, “obrigado” a se alienar para conseguir se constituir, ou se formar, um Sujeito (no caso, um adulto. Consiga sobreviver fisicamente).

Já a mãe, segundo LACAN, ressente-se da ausência do “Fallus (Falo masculino)” e para se sentir completa deseja ter um filho, engravida, reconhece-o como um Ser Humano e aplaca a sua fome e a “libido” dando-lhe o “Objeto Seio”, que além de ser alimento é uma fonte de satisfação para a criança no “prazer da Oralidade” ( quando ele passa da esfera da Natureza [instinto – animal] para a esfera da Cultura [pulsão desejo – homem]).

Desse modo, o bebê estabelece uma Linguagem com o “Simbólico – Mãe” e com isso sofre, novamente, um Processo de Alienação desencadeado pela necessidade imperiosa de estabelecer tal Linguagem com a sua fonte de prazer e de alimento.

Para que ele consiga se constituir, ou formar-se como um Sujeito “animal e cultural”, ele se vê obrigado a projetar-se no Outro.

Antes do “Estádio do Espelho”, que geralmente ocorre entre o sexto e o décimo oitavo mês de vida, o bebê Não se vê com sendo um só corpo. Como um corpo unificado. Ao contrário, sente-se um corpo fragmentado, disperso em várias partes.

Destarte, a sua “mãe-seio” faz parte dele; e a recíproca é verdadeira em relação à mãe (a condição de “boca do jacaré ou do crocodilo”) que o sente como “filho-falo” que dela faz parte.

Mas essa inteiração cessa em determinado momento. Então, o bebê que buscava o prazer através do Seio Materno (alimento e libido oral) que é o seu “Objeto de Desejo” – reconhece que a sua mãe Não faz parte de seu corpo.

E ela também reconhece que Não É completa, pois também necessitava do corpo do filho para sentir-se “possuidora do falo”.

Essa perda ou separação, chamada de “Significante Nome do Pai” geralmente ocorre em virtude das limitações naturais da vida comum (a mãe precisou voltar ao seu trabalho, por exemplo.) e nessa ocasião é que surge com mais evidência o já citado comportamento materno chamado de “boca do jacaré ou do crocodilo*, que é o desejo (tão Inconsciente quanto tudo mais de que aqui se trata, é claro) daquela mãe de “possuir (comer, canibalizar)” o seu filho, como se ele fosse parte de seu corpo.

*NOTA do AUTOR – esse nome, “Boca de Jacaré ou de Crocodilo”, decorreu de um erro de observação que persistiu durante muito tempo entre os zoólogos, os biólogos e outros pesquisadores que supunham que a mãe crocodilo devorava seus filhotes quando os abocanhava. Posteriormente constatou-se o engano, pois ela os coloca na boca para protegê-los de alguma ameaça, ou para transportá-los em segurança, libertando-os tão logo cesse o risco, ou se conclua o transporte. Tanto quanto outras fêmeas, a do crocodilo também prima pela sua excelência como mãe.

É um momento crucial na vida da criança, pois este desejo da mãe coloca o filho (malgrado sua inexistente capacidade de decidir) em uma situação de escolha definitiva: ou se torna independente em virtude da mãe não se transferir para ele, tornando-se, pois, um “sujeito faltante”; ou é engolido pela “boca de jacaré” da mesma e se torna um indivíduo dependente ou, até, doente mental.

NOTA do AUTOR – citou-se a precocidade da criança ante uma definição de tal vulto, mas é claro que a separação é um processo que deverá partir da mãe, a pessoa que teoricamente detém a capacidade para deflagrar o processo que dará a salutar independência ao filho. Teoricamente, porque nem sempre ela, mãe, está no gozo dessa capacidade por lhe faltar amadurecimento, esclarecimento e/ou sanidade psíquica e emocional.
Os casos em que a separação não é satisfatoriamente concluída não são tão raros quanto se desejaria, mas em contrapartida as sequelas, em geral, não são tão graves que impeçam o indivíduo de levar uma vida razoavelmente normal, ainda que restringida por uma série de perturbações psicológicas que lhe impedem a plena realização material, emocional, espiritual etc.
Todavia, nos casos em que a criança se torna psicótica em razão do Processo separatório não ter acontecido como deveria, pode-se dizer que a mãe Não reconheceu o filho como um “Ser Humano (como uma pessoa completa e independente dela)”, olhando-o como se fosse um mero apêndice de si mesma.
Mas antes que alguma censura lhe seja dirigida, será necessário observar que a “Escolha (de libertar ou não a criança)” não é realmente apenas “uma Escolha”. É, na verdade, um procedimento que exige amadurecimento psíquico e emocional, o qual nem sempre sobrevive aos ataques da vida cotidiana, às alterações hormonais e à frustração de não poder manter “o Falo que lhe falta” e que foi seu por algum tempo.

A alienação resulta no fato do bebê não ter unidade e só se formar (ou se constituir) como um Sujeito graças ao efeito que o Outro (a mãe, no caso) exerce sobre ele. Com isso ele não passa de uma “imagem do Outro”.

A perda da independência aponta o “rapto” que sofreu e do qual ele tomará ciência quando se olhar no Espelho e perceber que o seu corpo é unificado, que “ele existe”, que “não é o Outro”. Então, é que percebe ser um “Sujeito Faltante”, pois junto dele já não existe a mãe, ou o Outro.
É quando percebe o desajuste que carrega e a patologia de que padece. Cabe, então, ao Psicanalista atuar no sentido de corrigir a distorção iniciada na primeira infância.

A Relação Sexual

... De fato, “não há relação sexual”, disse LACAN afrontando a crença de seus seguidores e municiando as criticas de seus detratores.

Para ele, se o Desejo Sexual ocorre em função de uma forma projetada na tela do Imaginário, a relação, ao cabo, faz-se apenas com uma imagem. Mas, imagem de que?

Imagem do elemento que a seu ver torna a Linguagem significativa: o Falo. É por isso que a mulher se dedica enfaticamente a representá-lo (como se ela fosse o próprio) através de gestos e de expressões corporais e faciais (a chamada “hipocrisia feminina”), enquanto o homem busca representá-lo, também através de gestos e expressões corporais e faciais, por possuí-lo (o chamado “cômico viril”); ou seja, por ter o elemento que desperta o Desejo.

Sendo assim, a Relação existente é, na realidade, imaginária e com o Falo, não com a mulher, a qual, por sua vez, não encontra aquilo que a faria sentir-se “a” mulher.

A Castração

Segundo LACAN, a Castração não é apenas uma “ameaça provocadora de angústia” ao menino. Tampouco a constatação de que há uma “inveja do pênis” na menina.

Em verdade, a Castração é fundamentalmente a separação entre a Mãe e o Filho. É o corte que rasga o vínculo entre ambos. A mãe, segundo o Pensador, coloca seu filho em um lugar imaginário e ele, o filho, acomoda-se a esse local para satisfazer o “desejo” materno.

E o “desejo” da mãe, como o de toda mulher, é ter o “Falo”, o que leva a criança a sentir-se o próprio. Dessa sorte, estabelece-se e se consolida uma relação imaginária entre a Mãe que acredita ter o “Falo” e a criança que acredita ser o mesmo.

A Castração, ou o Ato Castrador, acontece, portanto, não só sobre a criança, mas sobre o vínculo “mãe – filho”. E, geralmente, quem o executa é o “Pai” ao impedir que a Mãe continue a acreditar na possibilidade de reintegrar o filho ao seu corpo e ao proibir o filho de possuir a própria Mãe. O “Pai” castra a pretensão da Mãe de ter o “Falo” e a do Filho de ser o mesmo. É, pois, uma Castração dupla.

NOTA do AUTORclaro que o “Pai” é o conjunto da Sociedade cujas regras proíbem o incesto por vários motivos, que vão dos biológicos aos Morais.

Mesmo sendo simbólica e tendo como objeto um “Falo” imaginário, a Castração atua como uma Lei que rompe a ilusão do Ser Humano ser onipotente.

O Outro

Para LACAN o “Eu” é situado no Registro do Imaginário, que é o lugar das identificações e das relações duais (as relações sociais do cotidiano).

Ao estabelecer essa localização, acentuou a diferença entre o “Eu” e o “Sujeito do Inconsciente”, que é, ou está localizado, numa instância (ou um patamar, um nível da Psique) Simbólica, diferente, portanto, da Imaginária.

Também enfatizou o fato do “Inconsciente” ser absolutamente independente do “Eu” e pertencer ao Campo do Simbólico, que é o Campo da “Linguagem”, ou do Significante.

Convencido dessa condição, LACAN recorreu a um dos ensinamentos de Lévi Strauss: os Símbolos são mais Reais que aquilo que simbolizam, o Significante precede e determina o Significadoe com ele reforçou seu ponto de vista acerca da independência da “Função Simbólica”, além de estabelecer que ela é, de fato, o “Grande Outro” que antecede o Sujeito. O Inconsciente é o Discurso e o Desejo do Outro”.

Ou seja, a fonte das perturbações está justamento no Inconsciente e é por isso é que a Psicanálise deve atuar no campo do Simbólico, junto ao Inconsciente, haja vista que a solução das perturbações só ali pode acontecer.

Atuação que só pode ser feita através da “Fala”, pois é através da mesma que o Inconsciente se manifesta através dos relatos de sonhos, de chistes, de esquecimentos, de atos falhos etc. Por isso, se Freud usou Conhecimentos da Física e da Biologia nos seus métodos, LACAN utilizou a Linguística,no seu.

Através dela chegou ao Conceito de que o Inconsciente tem o formato, ou a estrutura, de uma Linguagem e pôde afirmar que a “Ficção” tem a mesma estruturação da “Verdade”. Aquilo que aparece como Sonho ou Devaneio é, por vezes, a “Verdade Oculta” que as regras sociais reprimem.

NOTA do AUTOR - Para o sábio, aliás, a ligação entre a Linguagem e o Inconsciente é tão sólida que ele a resumiu no seguinte aforismo: “o Inconsciente é estruturado (tem um formato) como uma Linguagem”. Essa afirmativa de LACAN contraria a imagem que normalmente se faz do Subconsciente. Geralmente pensamos tratar-se de um emaranhado caótico, sem nenhuma organização estabelecida.

A Psicanálise seria, portanto, um Procedimento em que se admite e se tenta compreender essa outra “Estrutura” e, como isso, tornar-lhe harmônica com a do Consciente.

Em todos esses processos, o Erudito trabalhou com dois grandes conceitos: o “Nome do Pai” e o “Falo”. E para operar esses temas, criou as “Matemas”.

Dessa sorte, e por tudo que se expôs, entende-se o porquê de LACAN considerar a Psicanálise mais que uma “Ciência Estanque” limitada por seus parâmetros e Leis.

Para ele, ela é mais uma visão de Mundo, ou uma Filosofia que pretende dar “a chave do Mundo”.  Uma prática onde a utilização do método da “Livre Associação” permite que se chegue ao “núcleo do Ser”.

Epílogo

Depois da morte de LACAN, em 1981, o Lacanismo fragmentou-se em várias Escolas, tendências e Grupos que foram implantados de modo nebuloso em vários países.

É um Sistema de Pensamento que pertence à Corrente Freudiana na medida em que reconhece e adota a doutrina de Sigmund Freud, o que implica a adoção da psicanálise, ou o tratamento exclusivo através da “Fala” do paciente, e a aceitação dos grandes Conceitos Freudianos como “Inconsciente”, “Sexualidade”, “Transferência”, “Recalque e a Pulsão” etc.

Porém, a par dessas adesões, o Lacanismo conseguir se tornar não só uma mera Corrente continuísta. Tornou-se uma verdadeira “Escola ou Tendência”.

Formou-se como um “Sistema de Pensamento” – a partir de seu mestre Jacques LACAN – que modificou completamente a doutrina e a clinica freudiana, forjando novos Conceitos e criando uma nova e original técnica de análise mental, sem, no entanto, renegar a essência do trabalho de Freud. Ao contrário, LACAN foi o único dos grandes interpretes do austríaco que buscou resgatar a pureza do Sistema Freudiano.

E por isso o Lacanismo é visto como uma “Revolução Invertida”, haja vista que buscou não a ultrapassagem de Freud, mas justamente o oposto, ie, o retorno aos seus pensamentos originais. No máximo teria tentado uma “Substituição Ortodoxa (aquela que preserva a essência e o máximo possível dos elementos originais)” dos mesmos.

São Paulo, 30 de Julho de 2012.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

É Tempo


Que os novos poemas
esqueçam os velhos temas,
pois eis que o sorriso da vida
de novo me convida.
Agora já não é hora
de se fazer versos rudes,
pois eis que transbordam
os novos açudes
e a promessa que tudo lava
leva a tristeza que cá estava.
É tempo da brisa verde
refazer o grafite da parede
e da fonte saciar toda sede.
Tempo da messe,
de São Francisco;
e da prece
que nem se parece...
É tempo de que
o amor regresse.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Alain BADIOU, Filósofos Modernos e Contemporâneos


BADIOU, Alain
1937
O Espaço e o Ser – A Ontologia

Nascido em Rabat, Marrocos, mas de nacionalidade francesa, BADIOU é celebrado por sua Dramaturgia, por seus Romances e, claro, por sua Filosofia, na qual se sobressai a sua defesa intransigente do Comunismo em geral e, particularmente do Maoismo, do qual é ativo militante.

Sabe-se que o Maoismo, enquanto desenvolvimento teórico do Marxismo-Leninismo foi idealizado e realizado na China por Mão Tsé Tung (1893 – 1976) e serviu como base ideológica para o grupo de combatentes que postulava derrubar o Governo do Kuomintang de Chiang Kai-Shek e implantar o Regime Comunista no País, com a tomada do Poder pelo proletariado em conjunto com o campesinato.

Marcou-lhe sobremodo, a sua forma de luta empregada, que ao contrário do ocorrido noutros lugares, aconteceu a partir do meio rural em direção às cidades em uma guerra de longa duração.

Esses diferenciais foram determinantes para arrebanhar inúmeros admiradores pelo Mundo afora, dentre os quais o Filósofo BADIOU que viu no Movimento uma forma de libertação mais pura e, justamente por isso, mais radical. E é o radicalismo a característica mais proeminente no Ideário desse franco-árabe, como veremos no desenrolar do presente Ensaio.

Filho de Raymond Badiou -1905-1996 (que foi membro da SF10 [Section Française de L’INTERNATIONALE Ouvrière], membro da Resistência Francesa durante a ocupação alemã na 2ª Guerra Mundial e Presidente eleito da Câmara de Toulouse [1944-1958]), Alain realizou seus estudos de Filosofia na École Normale Supériure de Paris entre 1956 a 1961. Após a formatura, lecionou na mesma de 1969 até 1999 quando foi nomeado Diretor de seu Departamento de Filosofia. Também foi Professor na Universidade de Paris VIII e ministrou concorridos Cursos e Seminários no Collège International de Philosophie.

Em paralelo à sua carreira Acadêmica, teve uma vigorosa militância política; a qual, se atualmente perdeu em intensidade física, ganhou em notoriedade graças à revitalização que seu Ideário experimenta na Contemporaneidade. Com efeito, suas Obras (abaixo listamos as mais destacadas), ocupam o centro das atenções dos estudiosos hodiernos, que saboreiam nas mesmas a vasta erudição e a profundidade das reflexões do autor.

  1. Teoria do Sujeito, 1982.
  2. O Ser e o Evento, 1988.
  3. Manifesto pela Filosofia, 1989.
  4. Ética: um Ensaio sobre a Consciência do Mal, 1993.
  5. Pequeno Manual de Inestética, 1998.
  6. Circunstâncias, 2004.
  7. Lógicas dos Mundos, o Ser e o Evento II, 2006.
  8. Segundo Manifesto pela Filosofia, 2009.
BADIOU foi membro fundador do PSU (Parti Socialiste Unifié), em 1960 e participou ativamente do Movimento ocorrido no célebre Maio de 1968. Como simpatizante do Maoismo também ingressou na Union des Communistes de France Marxiste-Leniniste, em 1969. Na atualidade, exerce sua militancia no grupo ultraesquerdista denominado L’organisation Politique, junto com Sylvain Lazarus e Natacha Michel.

Em termos afeitos à Filosofia propriamente dita, pode-se dizer que as influências que recebeu para a construção de seu Pensamento vieram basicamente de seu mestre Louis Althusser, principalmente pelos primeiros trabalhos epistemológicos (ie, sobre as questões relativas à aquisição de Saber, Conhecimento) e dos célebres Jean Paul Sartre e Jacques Lacan.

E que a sua postura em relação a alguns temas da Disciplina é singular, como no caso da Metafísica em que ele, simultaneamente, questiona a Metafísica Clássica enquanto rejeita a atual tendência de aniquilar a “Verdade” enquanto Categoria Teórica (ie. que paira no terreno mental, abstrato, acima das injunções materialistas).

Nesse campo das Teorias, vamos encontrá-lo em seu nicho favorito, ou seja, a Ontologia (que, como se sabe, é a parte da Filosofia que estuda o Ser enquanto Ser, ie, que indaga o que realmente existe para além do que conhecemos. Que investiga o Ser despido das características que podemos conhecer).

Ali, ele defende, principalmente, a sua tese de que “As Matemáticas” são a verdadeira Ontologia (talvez a única). Afirmativa – expressa em seu livro O Ser e o Evento, de 1988 – que causou polêmica com os mais ortodoxos, mas que também lhe deu um grande reconhecimento pela sua ousada proposição de alterar um dos dogmas da Disciplina.

Em 2006, com a publicação de Lógicas do Mundo. O Ser e o Evento ele retomou o tema Ontologia para tratar das Lógicas relativas ao aparecimento dos Seres nos Mundos, ou nas situações em que tais aparecimentos acontecem.

Mas as polêmicas que lhes são próprias não se esgotam no campo Teórico e ele também é conhecido pela virulência de suas criticas a Democracia Liberal e aos Direitos Humanos, os quais, segundo sua ótica, não passam de falsos sustentáculos do Capitalismo Selvagem, que se torna cada dia mais dominante em todas as partes.

Dessa sorte, tanto no terreno da Teoria, quanto no da Política ele vaga com seu Raciocínio brilhante, acrescentado mais luz ao Saber existente. Porém, para muitos a complexidade de seu Sistema o torna incognoscível e é por isso que, aqui chegados, será oportuno analisarmos na sequência desse Ensaio algumas *concepções do Pensador acerca dos assuntos que já foram, ou não, aludidos, na tentativa de decifrarmos os meandros de seu ideário.

*NOTA do AUTOR - Essas concepções foram pinçadas em seus escritos e na entrevista que ele concedeu a Normam R. Madarasz e Mario Constantinou. A íntegra da mesma pode ser lida na “Revista Ethica” V.15 – N.2 – pgs. 21-40 – Tradução de Filipe Ceppas de Carvalho e Faria, Rio de Janeiro – RJ.

Ética

... Renunciarei, provavelmente, a todo uso da palavra “Ética” em virtude de existirem tantas contradições em torno da mesma. Acredito que o que existe de fato são “regras” hiperdependentes de circunstâncias agravantes ou atenuantes e que é preciso considerá-las. Eu já havia afirmado que não há uma “Ética Geral”, mas apenas “Éticas” ligadas a Processos, ou a fatos, ou a acontecimentos, singulares e, por isso, com “Verdades Singulares”, ou seja, referente apenas aquele Processo.
Será preciso, pois, avançar nesse campo de estudo e enquanto isso “obrigar” que a decisão justa para o caso seja tomada e respeitada. Afinal o valor da verdade é superior a todos os outros...
NOTA do AUTOR – considere-se que conceitos como “Verdade”, aqui não se prestarão a qualquer Relatividade, unicamente para efeito dessa consideração de BADIOU.

Fechamento – Abertura 01

... A “Abertura de Mercados” é uma das bandeiras mais caras às Democracias Capitalistas Ocidentais. Repousa sobre a “Economia de Mercado” e a “Circulação de Capitais” o seu modo de vida, o qual teria tal “Superioridade” que comumente é alardeado como panaceia universal. Mas o fato é que tal Sistema apoia-se na exploração dos Países Ricos sobre os Subdesenvolvidos, repetindo o que ocorre desde a época das colonizações.
Ademais, é ostensivamente cínico o fato de que os que mais celebram a chamada “Abertura”, ou “Globalização” são os mesmos que recusam a livre circulação de pessoas, promovendo toda sorte de barreiras à imigração, principalmente a oriunda dos países pobres; e promovendo toda forma de perseguição (oficial ou informal) contra quem conseguiu passar pelas malhas de suas fronteiras.

Para BADIOU, o Filósofo que teorizou essa “Abertura” foi Karl Popper, que em seu livro “A Sociedade Aberta e os seus Inimigos” formalizou sistematicamente essa sua antiga proposta.

Também para o Filósofo, esse “Movimento de Globalização” encontra alguns de seus princípios no “Vitalismo” de Henry Bérgson e de DELEUZE, já que nos Ideários de ambos é de fundamental importância a Ideia de que a “Vida é uma potência (ou um poder) Aberta” e está além das restrições formais de Nacionalidades, Alfândegas, Países, Etnias etc.

Vê-se, pois, que o assunto é uma espécie de “Dialética (no sentido de “contradição”) Sofisticada” entre o Aberto e o Fechado, mas, ao cabo, essa sofisticação não esconde a hipocrisia que reina no Capitalismo e que se manifesta no cinismo desse tipo de Discurso. A prática política toma a mesma distancia da Filosofia, que a Ética toma do comportamento...

Fechamento – Abertura 02

... Não reconheço nenhuma hierarquia, ou escala de valores, entre o “Aberto” e o “Fechado”.

Já na Política é possível observar que existem circunstâncias onde o “Fechamento” é uma necessidade imperiosa, como acontece, por exemplo, no caso de um Estado Revolucionário que não pode permanecer “aberto ao Mundo”, pois se sabe que desde o século XIX a propalada “Abertura ao Mercado” tornou-se a “palavra de ordem” das Nações Imperialistas que nunca se constrangeram em utilizá-la para encobrir suas reais intenções de dominação. Inclusive com o uso de armas.

Em outro terreno, no campo amoroso mais especificamente, o “fechamento” também é uma característica necessária – exceto, é claro, para os indivíduos e ou casais que optam pelo exibicionismo – haja vista que é nesse espaço que os Sujeitos praticam seus atos mais íntimos.

Também em outro campo, agora no terreno técnico, pode-se dizer que a Matemática (aqui vista como uma expressão do Pensamento Lógico e Racional) construiu a sua “Linguagem Fechada” para se prevenir da duplicidade, ou até da multiplicidade de interpretações que a “Linguagem Comum” permite.
Por tudo isso, eu vejo com reservas essa apologia atual à Abertura e temo que ela seja apenas mais uma peça de propaganda destinada a promover os interesses escusos das Elites do Mundo...

A Obra de Wagner

... Com efeito, há duas interpretações possíveis para a obra de Wagner (Richard, 1813 – 1883, considerado o maior compositor alemão).

À primeira darei o nome de “alemã” e direi que é aquela que se apoia na Ideia de um “Mito Fundador e um Mito da Nação”, heroico e propenso ao sacrifício em prol da “Mãe Pátria”

À segunda, chamarei de “francesa”. É a que vê nas composições do Maestro um tipo de hino em que se exalta a “Revolução da Comuna”Uma música para o Futuro, já que os velhos modelos Políticos foram (ou serão) aniquilados pelas novas ideias advindas dos ideais revolucionários.

Observe-se que a interpretação “alemã” serviu tanto para glorificar o Nazismo, quanto para enaltecer o Ideário de Nietzsche (Friedrich, 1844 – 1900) e a nova música de Adorno (Theodor W. – 1903-1969).
Note-se, também, que a interpretação “francesa” enseja uma discussão, pois há quem admire Wagner sem restrições, como Baudelaire (Charles, 1821 – 1867) enquanto outros como Mallarmé (Stéphane, 1842 – 1898) julgam-no ultrapassado por sua tendência em glorificar o Estado.

O fato de a contradição ser uma idiossincrasia da obra de Wagner, não destoa de sua condição de gênio. Ao contrário, confirma-a. Porém, importa, sobretudo, notar que os “valores positivos ou otimistas” de sua arte, encontrados principalmente em suas três óperas principais, Parsifal, Tristão e Isolda e Mestres Cantores, superam em larga medida os “valores negativos ou pessimistas” que cantam a morte e o aniquilamento.

Ainda é necessário reconhecer que a existência dessa dupla interpretação é em si um claro sinal de que a fusão da França e da Alemanha pode e deve ser vista como uma boa perspectiva para a criação de um “Pensamento Europeu”, já que o atual dissolve-se no limbo da malfadada “União Européia”.

A Comuna de Paris e a Revolução Cultural Chinesa.

... O problema deve ser examinado no interior da “Teoria de três etapas” daquilo que eu chamo de “Hipótese Comunista”.

A primeira etapa, da Revolução Francesa à Comuna de Paris, estabeleceu o fundamento teórico e prático da hipótese Comunista.

A segunda etapa, da Revolução Bolchevique à Vitória Popular dos Chineses, demonstra que a tomada do Poder, ou a vitória popular, são possíveis, tendo-se o Partido (nos moldes Leninistas) como instrumento.
Porém, esse mesmo Partido não é capaz de garantir a “Continuidade no Poder”. O “Estado-Partido” é incapaz de assegurar a realização do que Mao Tsé Tung chamou de “Movimento Comunista”.

NOTA do AUTOR – essa afirmativa de Mao Tsé Tung tem o propósito de justificar a criação da própria Revolução Cultural, haja vista que em virtude da ineficácia do modelo bolchevique seria preciso um novo formato para a manutenção do Comunismo Chinês. É claro que tal retórica, segundo a maioria dos eruditos, peca pela falta de verdade, posto que a real intenção de Mao fosse apenas a de se assegurar no Poder, posição que lhe era cada vez mais difícil de manter.

Baseando-se, pois, nessa tese é possível verificar que a Guerra de Libertação Nacional do Vietnam e a vitória dos Comunistas Chineses em 1949 estão associadas à Segunda Etapa acima mencionada. Confirma-se que sob a direção do Partido a luta e a vitória são possíveis.

Por outro lado, o fato da Comuna de Paris e da Revolução Cultural Chinesa terem sido movimentos circunscritos apenas ao local e com resultados pífios, aponta que também a ausência do Partido, substituído por alternativas improdutivas, foi incapaz de concretizar o sucesso.
Sendo assim, a questão da “Continuidade no Poder” ainda esta aberta e espera novas alternativas...

O “Estado Franco Germânico”

... Respondendo à sua pergunta sobre o fato de eu considerar como emergente um Organismo francês e alemão contra um aparelho burocrático sem energia e um Humanismo exaurido que se faz presente na Europa atual, posso dizer que a minha ideia é que se surgisse no Mundo uma Entidade com esse potencial a “Verdadeira Política” seria facilitada de dois modos:

Primeiro e imediatamente ter-se-ia um entrave à hegemonia estadunidense. Seria um adversário respeitável a essa supremacia e daria margem de manobra para os povos do Mundo, a exemplo do que ocorria na época da guerra-fria entre a URSS e os EUA.

Em segundo lugar, a própria construção desse novo Organismo, ou Estado, propiciaria pelo ambiente criado, o surgimento de novos empreendimentos e a renovação dos velhos Estados de uma Europa burocrática e impotente.

Ressalvo, porém, que essa proposta não está no campo da realidade imediata, tratando-se mais de uma reflexão acerca dessa possibilidade.

Ademais, caso venha a se materializar, é óbvio, que segundo a minha proposta, o seu Governo se pautaria pelos parâmetros “Progressistas (ie, avançados porque progrediram da velha concepção representada pelo Conservadorismo burguês)” e se utilizaria de seu enorme potencial para se abrir efetivamente ao Mundo, haja vista que o seu vigor econômico (que, aliás, foi o fator determinante para que houvesse a junção entre a França e Alemanha, as duas maiores Economias da Europa atual) faria frente às eventuais tentativas de subjugá-lo.

NOTA do AUTOR – pode-se pensar que, ao cabo, o que BADIOU propõe seja um resgate à pretensão original da Comunidade Européia (cuja criação visava justamente obter tal poder, para que pudesse ombrear com os EUA e com as Potências Asiáticas, especialmente a China e o Japão), mas sem o peso das Economias ineficientes de países como a Espanha, a Itália, a Grécia entre outros, cujas mazelas os jornais estampam diariamente.

Ontologia, Matemática e Existência.

... A tese que afirma ser a Matemática a efetiva Ontologia não implica qualquer mudança na Matemática atual, pois, com efeito, desde a sua criação na Grécia Antiga que a mesma faz da Ontologia uma ciência que embasa o estudo, por contraste, de seu inverso: a Multiplicidade, sem que seus Fundamentos tivessem sido substancialmente alterados.

Assim, como tosco exemplo dessa “Verdade”, poderemos recorrer ao seguinte demonstrativo:
Ontologia = Matemática, porque o “1” É “1”, sem necessitar ser “1” + mais qualquer coisa, para Ser”. O objeto matemático, ao contrário de praticamente todo o resto, não necessita ter qualquer característica própria, ou qualquer atributo para “ser”. Ele É, por si.

Vê-se, então, que a Matemática é a “Ciência do SER enquanto SER” e essa definição também se completa por si, dispensando outras formulações.

Porém, o mesmo eu não afirmo sobre a Existência, já que eu a concebo mais como uma noção de “Lógica” que de Ontologia.

Imagino a Existência de um SER, ou de uma Coisa, como uma reunião de múltiplos elementos que acontece num determinado momento.

Seria o “Aparecimento” de uma “Multiplicidade” num determinado “Mundo (ou numa determinada situação).

O próprio fato de se comprovar uma Existência ou uma Inexistência através do Raciocínio Lógico, como acontece frequentemente, é um claro sinal de que a palavra e o conceito de Existência não é uma palavra da Ontologia, mas sim da Lógica Subjacente que afirma:

“existe, de fato, aquilo (Um SER ou uma Coisa) que ao ser afirmado, não acarreta qualquer contradição”; ou seja, quando se afirma que algo existe e esta afirmativa não gera dúvidas ou rejeição, conclui-se Racional e Logicamente que tal Existência é efetiva.

Nesse ponto quero acrescentar que a meu ver, o principal defeito do “Intuicionismo*” é limitar a Existência a essa falta de contraditório, ou condicionar o Existir à situação de que “só se existe em um determinado lugar; que há necessidade de haver um local, ou um espaço (físico, ou mental) para que a Existência se realize”.

De modo a condicionar a Existência a um “aparecimento” físico ou mental (mental, nos casos em que o que existe é uma ideia, uma sensação, uma intuição, um sentimento) em um momento determinado. Ou em uma determinada situação.

Por isso eu digo que o Intuicionismo seria uma “Filosofia Sofistica” ao afirmar que: É aquilo que aparece.

*Intuicionismo – na Filosofia da Matemática é a tese que afirma que todos os Objetos da Matemática são produtos de construções feitas pelos Homens. Que afirma serem “apenas” criações da Mente humana.

...O “vazio” Ontológico é o mesmo que o “vazio” Lógico?

Não! Aquele do Campo Ontológico é o que chamo de “vazio genérico”, a partir do qual se constrói a Multiplicidade; ou seja, “o conjunto de múltiplos elementos” que formarão um SER ou uma Coisa.
Já no plano da Lógica, vinculado ao Ser-aí (ou seja, ao existir aqui, nesse espaço, nesse Mundo), existe um “vazio” especifico destinado a cada SER ou a cada Coisa que virá existir.

No plano Ontológico, pode-se dizer, o “vazio” é indefinido, é geral. Ao contrário do “vazio Lógico” que está destinado a uma futura “ocupação” especifica.

Quando o SER ou a Coisa se “materializa, concretiza, torna-se física”, ie passa a existir, há uma junção entre os dois “Vazios”, cabendo ao Ontológico “acomodar” o SER, o Existir em si. Ao “vazio Lógico” caberá “acomodar” o Corpo (ou a matéria, o pensamento, o sentimento, o instinto etc.) resultante dessa existência.

Contudo, essa junção não ocasiona a superposição entre ambos os “Vazios” em virtude da diferente natureza de ambos.

São Paulo, 25 de Julho de 2012.


Bibliografia Complementar
Consultada e Recomendada: “O Múltiplo sem Um” – livro de Norman R. Madarasz – Ed. Ideias e Letras, 2011.