BRENTANO, Franz
1838 – 1917
A Intencionalidade da Consciência.
A base da Psicanálise de Freud.
É
sobejamente conhecido o quanto BRENTANO influenciou a Freud. Influência que teve início quando o chamado “Pai da Psicanálise” assistiu às aulas
do primeiro por pelo menos dois anos, na ocasião em que Franz publicava seu
célebre livro “Psychologie Von
Empirischem Standpunkt (Psicologia segundo o ponto de vista Empírico)”, no qual salienta a inter-relação entre o Físico e
o Psíquico, do que resulta o Psicossomático.
Essa tese foi marcante no desenrolar de sua obra futura e associou-lhe o nome ao
do mestre alemão, em definitivo.
As
outras influências que Freud recebeu, de Schopenhauer
e de Nicolau Von Hartman, também lhe
chegaram através de BRENTANO, principalmente no quesito dos “Estados Mentais Inconscientes”.
É
certo que a estatura intelectual de BRENTANO dispensaria o auxilio de outros
Pensadores para ser reconhecida, mas é indubitável que a notoriedade alcançada
pelo Psicanalista contribuiu para torná-lo mais popular até em nossos dias.
Essa
simbiose entre BRENTANO e Freud permitiu ao segundo embasar suas teorias na
efetiva Sabedoria do Primeiro e, a este, ensejou a oportunidade de se manter
tão requisitado em nosso tempo, quanto o era em vida.
Contudo,
em paralelo e independente do interesse despertado pela utilização de seu
Ideário pela Psicanálise Freudiana, a
sua Filosofia caminhou de moto próprio ao
encontro ao grande público a partir das décadas de 1960 e 1970, quando se “descobriu” nas teses sobre o Inconsciente
uma forma de se reaproximar da Transcendência que o Materialismo
hegemônico, e algumas Correntes do Existencialismo quase havia
exterminado, pois, como se sabe, as características desse Positivismo alinham-se
no endeusamento dos “Avanços Científicos”
e da “Matéria” como a única Verdade possível. Já o Existencialismo,
ao renegar as Crenças religiosas e/ou místicas suprimiu ao Homem a dimensão espiritual
que lhe servia, no mínimo, como uma consoladora expectativa de recompensa
futura, nos pós-morte, ou uma maneira de dar algum significado à sua miserável
existência sem sentido.
Franz
Clemens Honoratus Hermann BRENTANO nasceu em pleno inverno, na cidade de
Mariemberg am Rhein, Alemanha. Veio ao Mundo no seio de uma família voltada à
Cultura, na qual despontava Clemens
Brentano, notório poeta.
Essa
proximidade com a Arte e com a Intelectualidade lhe deu a oportunidade de ter
uma educação de qualidade superior e foi assim que em 1864, aos 26 anos de
idade, ele já lecionava na Universidade
de Leipzig e se ordenava Padre católico.
Contudo,
a sua passagem pelo Clero não foi tranquila e nem proveitosa, pois logo ele
questionou o dogma da “Infabilidade
Papal” e os atritos daí resultantes levaram-no a abandonar a Igreja em
1873, que em represália o excomungou e o classificou como “pecaminoso” quando ele se casou, posto que ainda conservasse o
título e o posto de Clérigo. O
castigo, porém, não se esgotou aí e lhe trouxe outra má consequência no campo
material, haja vista que ele foi exonerado da Universidade de Leipzig, para onde só voltou no ano seguinte, como
“Professor Livre (cujo rendimento
seria proporcional aos alunos que conseguisse)”.
Todavia, essa condição não lhe foi prejudicial, pois o seu prestígio carreava
vários estudantes para seus Cursos, dentre os quais Carl Sumpf, Edmund Husserl (que bebeu em
sua Sabedoria para compor a Fenomenologia)
e o já citado Sigmund Freud.
BRENTANO
é tido como o “O Fundador do Intencionalismo”,
porém o correto é considerá-lo como o Filósofo que atualizou a antiga
concepção, ou Teoria, da Época da Escolástica (Corrente Filosófica
da Idade Média desenvolvida pelos Padres Católicos, dos quais o mais iminente é
Santo Agostinho) sobre a “Existência
Intencional”.
NOTA
do AUTOR – antes de prosseguirmos será interessante uma
breve reflexão sobre o significado da palavra “Intencionalidade”, haja vista
sua posição-chave nessa Filosofia e nas que lhe seguiram e/ou são assemelhadas.
Como já citamos, BRENTANO reavivou
e modernizou o Conceito Escolástico da “Existência Intencional”, ou como ele
chamava “Objetividade Imanente”. Segundo ele, no “Fenômeno Psíquico”, ou no
“Ato de Pensar” sempre existe um direcionamento da Mente para um determinado
objeto, coisa, Ser, fato etc. Não se pensa em algo aleatório, no vazio, no
nada. Por mais que só se divague, sempre se tem em Mente “alguma coisa”. A
Mente “tem intenção” de atingir, de chegar a algo. O “Fenômeno Psíquico” difere
dos outros fenômenos porque ele sempre se a alguma coisa.
O Intencionalismo, desse modo, trata mais de como acontecem os
Processos Mentais e menos do conteúdo que existe na Mente. É a chamada “Psicologia Existencial” dos nossos tempos.
A
Filosofia de BRENTANO, fundamentada então no conceito da Intencionalidade, pode ser vista como uma evolução em direção à “Lógica Aristotélica” adaptada à
atualidade, onde todas as conclusões são dependentes do crivo Empirista; ie, só são consideradas verdadeiras e/ou válidas as teses amparadas
por comprovações oriundas das Experiências
Sensoriais (por meio do que é captado pelos Sentidos [tato,
visão, audição, paladar e olfato])
e do Racionalismo Lógico.
Suas
obras mais importantes estão no campo da Psicologia (que ele chamava de “Ciência dos
Fenômenos Psíquicos” e lhe era sinônimo de “Consciência”), justamente por estarem mais voltadas para o Indivíduo,
sendo que as suas investigações se concentraram nos “Atos de Pensar”, ou “Processos
Psíquicos” definindo que a função precípua da Psicologia é estudar os
diversos modos pelos quais a Consciência forma as suas relações com os Objetos
que existem na mesma (a partir da captação ocorrida pelos Sentidos [tato,
visão, audição, paladar e olfato] e armazenadas no cérebro) e como estuda e descreve a natureza destas
relações, bem como as características do Objeto.
Para
BRENTANO, o “Pensar”, ou o “Ato de Pensar”, ou o “Fenômeno Psíquico” dividem-se em três
classes:
1
– Representação – a imagem
que a Mente forma, cria, do Objeto, Ser, ou Fato que foi captado Empiricamente (ie, através dos
Sentidos [tato, visão, audição, paladar e olfato]).
2
– Julgamento – a avaliação
daquilo que foi captado e racionalizado e que está representado na Mente.
3
– Sentimento – o resultado do
Julgamento, que pode ser o “Sentimento
de Amor” quando houver aprovação; ou
o “Sentimento de Ódio” nos casos de
reprovação. Sentimentos vinculados aos desejos, às expectativas, as intenções,
as vontades etc.
Dentro
dessas grandes linhas, BRENTANO catalogou
as nuances detalhadas da faculdade de refletir que confere ao Homem seu maior
diferencial em relação às outras espécies e lhe assegura a capacidade de
controlar seus impulsos através da autoanalise racional.
E
foi por dar essa base à moderna Psicologia e Psicoterapia, que contribuem
decisivamente para melhorar o padrão da vida humana, que seu enorme Saber
continua sendo reverenciado, tornando-o um dos Filósofos mais importantes para
a vida humana.
Por
fim, citamos na sequência algumas obras do Filósofo, recomendando vivamente seu
estudo, pois são as bases da Psicologia
de Freud e da Fenomenologia de
Husserl. Ambas, disciplinas fundamentais para o estudo da Filosofia.
- Pesquisa em Psicologia dos
Sentidos, de 1907.
- Sobre a Classificação dos Fenômenos
Psicológicos, de 1911. Esse volume é um complemento de sua obra-prima “A Psicologia de um Ponto de Vista
Empírico”, de 1874.
- Sobre a Consciência Sensória e
Noética, de 1928 (póstuma). Esse volume também é considerado um
Complemento (o terceiro) de sua obra de 1874
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