segunda-feira, 28 de junho de 2010

Matéria

E, então, quando colhi
a inocência do teu corpo,
soube como morrem os anjos...

Tétrico terror
da burra unanimidade,
da falsa claridade,
da serva humildade
e da estúpida saciedade.

Paga-se o preço da uniformidade...

O que te fizeram ex-Homem?
Por que todos dormem?
Por que bebestes do Letes, ainda em vida?
Onde deixates a alma perdida
e a existência não havida?

Não te choro,
nem te deploro.
Nada mais exploro,
pois já nada tens.
Vendestes teus aléns.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Russa Mulher Tatyana

Porque é universal essa carência,
essa humana essência...

Tantas milhas, tantas milhas...
Tantas armadilhas.
Mas ainda se repetem
nessas rotas virtuais
amores sempre iguais.

Sweet Tatyana,
tépida chama
que me devolve tempos havidos,
quereres sentidos
e desejos escondidos.

Russa Mulher da branca poesia
e da azul sinfonia.
Atravessemos distâncias
e façamos novas circunstâncias.

Que esse brilho dos teus olhos
ilumine eternos girassóis
e que o calor do teu corpo
aqueça os latinos lençóis,
pois eis que a vida somos nós.

Para Tatyana

sábado, 5 de junho de 2010

A Mulher Russa

Porque a solidão não tem idioma
e a saudade não pede diploma,
ressinto que só te sinto
nesse meu tempo quase extinto.

Agora toda maldade é insincera
e inútil ante tua Primavera.
Doce russa mulher,
fogo e paixão que requer
solidez de carvalho
e abandono de orvalho.

Em quais esquinas,
encontraram-se nossas sinas?
Arcano dos deuses,
além do oráculo de Elêusis.

E no entanto
meu doce acalanto,
eu sei que não estamos sós.
Há luz, trinta mil quilometros após.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Vinte Doze

Mais fantasia,
Mais ironia,
Dane-se a galhardia
E viva a hipocrisia.

Que reine Dionísio,
Que se decretem bacanais
Em que desejos anormais
Convivam com bestas irracionais,
Ao som de Piaf e doutros pardais.

Que só vigorem desejos carnais,
Apetites animais
E que o vinho escorra
Como escrava forra.

Nau dos insensatos,
Pornógrafos entreatos,
Que de tudo se chame
E que de nada se reclame
Nas orgias
De todos os dias.

Que impere a nudez,
A desfaçatez,
A embriaguês
E quando tudo já se fez,
Dionísio regresse
Com nova messe.

Que Minotauros sejam paridos,
Nessa roda de perdidos,
Nesse chão de decaídos,
Ao som das francesas cancãs
Que apagam os amanhãs.

Pois eis que é gerado novo estupor,
Como murro na cara de Conservador.
Que Bacantes
Urrem como antes
Por esses mares nunca dantes ...