Anteontem, 03 de junho, cerca de 20h30, em frente à
Prefeitura Municipal de Campinas, interior de São Paulo cerca de
duzentos jovens, visivelmente da Classe Média, chegaram à passeata
portando cartazes com reivindicações comuns e gritando conhecidas
“palavras de ordem”.
Primeiro, sentaram-se na escadaria fronteira do
prédio, depois no meio da avenida interrompendo o trânsito. Tudo na mais
perfeita paz, sem qualquer tipo de manifestação violenta, ou
provocativa, exceto por algumas frases dirigidas a Policia, que também,
segundo eles, ganha pouco e é explorada.
Passados cerca de trinta minutos, chegou o
Batalhão de Choque da PM com seus escudos, porretes, bombas e rifles.
Logo atrás, umas cinco ou seis viaturas com as luzes e as sirenes
ligadas. Em passo cadenciado o Batalhão avançou e atirou exatamente seis
bombas de gás lacrimogêneo, que pouco efeito fizeram, pois os
Manifestantes, tão logo avistaram a ameaça governamental aproximando-se,
não hesitaram em fugir em desabalada carreira. A Polícia sentiu-se
satisfeita e interrompeu as hostilidades, limitando a avançar pela
avenida, já então deserta, e liberá-la para que os motoristas a
utilizassem.
Tudo tão pacífico e organizado que mais parecia
ter sido ensaiado. Mais parecia uma cena de filme onde cada ator, ou
figurante, sabia exatamente o que fazer e quando parar. Os Manifestantes
fugiram e a PM não abusou da violência.
Tudo tão frio e burocrático que se chega a pensar
que só foi atingido quem teve “olhos para ver” que o “Protesto”
esgotara-se. Que ali só houve um simulacro. Uma representação, quase
teatral. Atingido foi apenas, quem teve “olhos para ver” que da
indignação que antes parecia infinda, já quase nada mais resta.
Alguns dirão que outros protestos já haviam
ocorrido nesse dia. Contudo, deve-se esclarecer que tais movimentos
foram feitos por duas categorias profissionais, médicos e motoristas de
caminhões, que lutavam por suas causas corporativas. E, talvez, até com a
participação criminosa dos patrões, que exerciam o proibido “lockout”. Foram protestos que para esse contexto não interessam, posto que ambos que não contemplassem a população em geral.
O que ficou patente para esse escrevinhador foi
apenas esse esgotamento. Esse esvaziamento do legitimo protesto popular
que varreu o país, colocando na rua milhões de cidadãos em todo o Brasil
para exigirem um mínimo de decência de quem os representa.
É claro que estou ciente de que algumas vitórias
importantes foram conquistadas, dentre as quais o fato de se mostrar que
há um povo habitando uma nação, mas ficou-me um gosto ruim de sonho
acabado.
Contudo, como a vida continua porque não é feita de sonhos, é preciso começar a vistoriar o saldo que ficou:
1) a Direita perdeu o “trem da história” e não deu o Golpe Político Militar que pretendia?
2) A Esquerda tentará fazê-lo, aproveitando-se dessa inação?
Ou será que o Brasil amadureceu a tal ponto que a
nossa Democracia suporta manifestações desse tipo, sem cair no “canto de
Sereia” de que um novo Golpe como o de 1964 resolveria o problema?
O tempo haverá de nos responder.
Produção de TAÍS ALBUQUERQUE, desde o Rio de Janeiro, no Outono de 2013.
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