sexta-feira, 5 de julho de 2013

A Manifestação Acanhada



Anteontem, 03 de junho, cerca de 20h30, em frente à Prefeitura Municipal de Campinas, interior de São Paulo cerca de duzentos jovens, visivelmente da Classe Média, chegaram à passeata portando cartazes com reivindicações comuns e gritando conhecidas “palavras de ordem”.

Primeiro, sentaram-se na escadaria fronteira do prédio, depois no meio da avenida interrompendo o trânsito. Tudo na mais perfeita paz, sem qualquer tipo de manifestação violenta, ou provocativa, exceto por algumas frases dirigidas a Policia, que também, segundo eles, ganha pouco e é explorada.

Passados cerca de trinta minutos, chegou o Batalhão de Choque da PM com seus escudos, porretes, bombas e rifles. Logo atrás, umas cinco ou seis viaturas com as luzes e as sirenes ligadas. Em passo cadenciado o Batalhão avançou e atirou exatamente seis bombas de gás lacrimogêneo, que pouco efeito fizeram, pois os Manifestantes, tão logo avistaram a ameaça governamental aproximando-se, não hesitaram em fugir em desabalada carreira. A Polícia sentiu-se satisfeita e interrompeu as hostilidades, limitando a avançar pela avenida, já então deserta, e liberá-la para que os motoristas a utilizassem.

Tudo tão pacífico e organizado que mais parecia ter sido ensaiado. Mais parecia uma cena de filme onde cada ator, ou figurante, sabia exatamente o que fazer e quando parar. Os Manifestantes fugiram e a PM não abusou da violência.

Tudo tão frio e burocrático que se chega a pensar que só foi atingido quem teve “olhos para ver” que o “Protesto” esgotara-se. Que ali só houve um simulacro. Uma representação, quase teatral. Atingido foi apenas, quem teve “olhos para ver” que da indignação que antes parecia infinda, já quase nada mais resta.

Alguns dirão que outros protestos já haviam ocorrido nesse dia. Contudo, deve-se esclarecer que tais movimentos foram feitos por duas categorias profissionais, médicos e motoristas de caminhões, que lutavam por suas causas corporativas. E, talvez, até com a participação criminosa dos patrões, que exerciam o proibido “lockout”. Foram protestos que para esse contexto  não interessam, posto que ambos que não contemplassem a população em geral.

O que ficou patente para esse escrevinhador foi apenas esse esgotamento. Esse esvaziamento do legitimo protesto popular que varreu o país, colocando na rua milhões de cidadãos em todo o Brasil para exigirem um mínimo de decência de quem os representa.

É claro que estou ciente de que algumas vitórias importantes foram conquistadas, dentre as quais o fato de se mostrar que há um povo habitando uma nação, mas ficou-me um gosto ruim de sonho acabado.

Contudo, como a vida continua porque não é feita de sonhos, é preciso começar a vistoriar o saldo que ficou:

1) a Direita perdeu o “trem da história” e não deu o Golpe Político Militar que pretendia?

2) A Esquerda tentará fazê-lo, aproveitando-se dessa inação?

Ou será que o Brasil amadureceu a tal ponto que a nossa Democracia suporta manifestações desse tipo, sem cair no “canto de Sereia” de que um novo Golpe como o de 1964 resolveria o problema?

O tempo haverá de nos responder.


Produção de TAÍS ALBUQUERQUE, desde o Rio de Janeiro, no Outono de 2013.

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