sexta-feira, 13 de abril de 2012

Filosofia Contemporânea - LYOTARD, Jean-François - O Pós Modernismo, a WEB e a Metanarrativa

LYOTARD, Jean-François.
1924 – 1998
A Metanarrativa e o Pós-Modernismo
O Conhecimento é Produzido para ser Vendido.

  • A tecnologia do Computador transformou o “Conhecimento” em “Informação” que,

  • é arquivada em Bancos de Dados, pertencentes às grandes corporações.

  • Essa informação é julgada por seu “valor comercial” e Não por sua Verdade (utilidade efetiva, profundidade, correção, etc.).

  • O “Conhecimento” é produzido para ser vendido.

Jean-François LYOTARD nasceu em 1924, na França. Graduou-se em Filosofia e em Literatura pela Sorbonne, onde desfrutou da amizade de vários intelectuais importantes, como, por exemplo, Gilles Deleuze. Após a formatura, lecionou em várias escolas francesas e na década de 1950 filiou-se à Esquerda Radical e se tornou um célebre defensor da Revolução Argelina de 1954 a 1962.

Contudo, desiludiu-se do Marxismo na medida em que evoluiu filosoficamente. Na década de 1970 iniciou sua carreira como Professor Universitário de Filosofia, na própria Sorbonne e, depois, em outros países, inclusive no Brasil. Por fim aposentou-se como Professor Emérito da Universidade de Paris VIII e em 1998 morreu de Leucemia.

Algumas de suas obras mais importantes:

  • Discurso, figura – 1971
  • Economia Libidinal – 1974
  • A Condição Pós-Moderna – 1979
  • O Diferendo - 1983

Em 1953 o filósofo Ludwig Wittgenstein lança “Investigações Filosóficas”, onde trata do que chamou de “Jogos da Linguagem”. LYOTARD serviu-se dessa ideia para desenvolver sua primeira tese filosófica abordando as Metanarrativas, que podem ser definidas como: histórias singulares ou individuais, abrangentes, que tentam resumir a totalidade da História humana; ou as que buscam incluir todo o nosso Conhecimento da Humanidade em um único Sistema, como o Marxismo, por exemplo. Como se sabe, a doutrina de Marx afirma que a História pode ser vista como “apenas” uma série de lutas entre as Classes Sociais. Outro exemplo da Metanarrativa é a ideia de que a História do Homem é, ao cabo, o relato do progresso tecnológico e cientifico em geral que haverá de proporcionar aos Seres Humanos um Saber mais sólido e profundo e uma justiça social equânime.

Como se pôde perceber, as Metanarrativas são otimistas em essência, mas também são utópicas e, portanto, irrealizáveis. Por esse motivo, LYOTARD desiludiu-se das mesmas e voltou seus esforços analíticos para investigar o Mercantilismo que campeia a atual seara do Conhecimento, da Sabedoria. Suas primeiras lucubrações acerca do tema aparecem em sua obra de 1979, “A Condição Pós-Moderna”.

Esse texto foi feito originalmente para o “Conselho de Universidades de Quebec”, Canadá, e o uso da expressão “Pós-Moderno”, no titulo, é importante por situar cronologicamente o tema e as suas idiossincrasias. Esse termo, não foi inventado por LYOTARD, já sendo usado por vários críticos de Artes desde a década de 1960, mas foi a sua obra a responsável pelo aumento em sua abrangência e pela sua disseminação em geral. Com frequência se diz que o uso do mesmo é o marco inicial efetivo do Pensamento Pós-Modernista.

Mas qual o significado real desse termo? É difícil precisar com exatidão, haja vista que seu uso foi tão amplo e variado, que seu significado original se perdeu entre esses tantos usos, por isso, nesse Ensaio adotaremos apenas a definição de LYOTARD, que é bem esclarecedora: para o filósofo, Pós-Moderno é a incredulidade ante as Metanarrativas. Ou seja, duvidar e recusar a afirmação de que todo Conhecimento humano esteja contido em apenas um Sistema de Pensamento.

Essa incredulidade em relação às Metanarrativas acarreta um novo Ceticismo, o que levou LYOTARD a sugerir que isso é resultado de uma mudança no modo como nos relacionamos com o “Saber”. Mudança nascida com o fim da 2ª Guerra Mundial e por exigência do extremo avanço tecnológico que experimentamos.

Os computadores, para ele, transformaram nossas atitudes de tal modo que é quase proibido ter a ingenuidade (sic) de acreditar que um só Sistema (ou uma Metanarrativa) possa dar conta de todos os aspectos do Conhecimento, do Saber e, por consequência, das questões Sociopolíticas.

As mentiras e os segredos que antes eram possíveis deixaram de ser. Microcâmaras e a WEB denunciam Tiranos, Pervertidos, Torturadores, Patifes, Corruptos e o restante da escória, que antes se aproveitava do escuro ocasionado pela falta de acesso à informação. Destarte, de todos se exige uma nova postura e um comportamento mais decente, no que tange ao exercício do Poder; e do mandatário desse Poder, o eleitor, que não creia mais em fábulas de que um só Sistema ou um só indivíduo sejam capazes de resolver todas as questões do Mundo.

Se a “Modernidade” primou pelo surgimento dos grandes esquemas filosóficos, sociais e políticos (o Existencialismo, o Fascismo, o Nazismo, o Marxismo etc.) a Era hodierna que lhe sucedeu, a Pós Modernidade, caracteriza-se por devolver ao individuo o direito de crer no que lhe convém e não só no que os grandes Sistemas ditam. Devolveu ao indivíduo o direito de saber, de conhecer para, só então, escolher.

RECORTE – nesse ponto, não será difícil que o amigo (a) leitor (a) me censure por um otimismo excessivo com esse novo poder de denúncias, haja vista que o Mundo ainda carrega o fardo de todos os seus dramas antigos. Concordo parcialmente consigo, caro leitor, mas é inquestionável que o acesso ao Conhecer (os “Googles” da vida não me desamparam) é hoje muito mais fácil que há duas décadas. Se não conseguimos, ainda, eliminar as perversidades, as injustiças, pelo menos já conseguimos expor o Perverso e o Injusto à execração popular (talvez mais contundente que qualquer outro tribunal) e em certos casos, às Penas da Lei.

Aqueles, que como eu, já viveram mais de 54 Carnavais, certamente se lembrarão das dificuldades, inclusive físicas, que os desejosos de Conhecimento, de Saber enfrentavam, principalmente se esse Conhecimento desnudasse algum patife das Elites Oligárquicas que se serviam do povo e do País ao seu bel prazer.

Porém, conforme LYOTARD, a profusão de Conhecimento acessível trouxe alguns pontos negativos, dentre os quais se deve citar, pela importância, a banalização do Conhecimento e a sua consequente superficialização.

Como se fosse uma reles mercadoria, o Conhecimento atendeu à “Lei da Oferta e da Procura”; ou seja, quanto mais ofertado, menos valorizado. Tornou-se, salvo as honrosas exceções, um produto de livre acesso, mas de qualidade inferior.

Nas palavras do filósofo, o Saber se tornou Informação que é enviada para os Bancos de Dados das grandes Corporações. Dali, ela pode ser apagada, editada, modificada, vendida e comprada. É a mercantilização do Conhecimento.

Tal mercancia acarreta, é claro, várias implicações negativas. A primeira é que o Conhecimento se exterioriza; ou seja, já não é algo que nos auxilia no desenvolvimento intelectual, pois sem dificuldades para obter os atuais simulacros do mesmo, o cérebro se atrofia, a exemplo do que acontece com os músculos do homem sedentário. Ademais, o Conhecimento deixou de ser julgado por sua Veracidade, passando a ser medido apenas por sua utilidade para uma tarefa menor.

Perdeu-se a noção de “Grandeza verdadeira” e tudo é feito para aplacar o insaciável apetite do Monstro do imediatismo; do resultado a qualquer custo; do lucro a qualquer preço.

Quando deixamos de fazer perguntas sobre o Saber, tais como: “isso é verdadeiro?” e passamos a indagar “como isso pode ser vendido?”, fazemos do Conhecimento, da Sabedoria um mero produto.

LYOTARD alertou que sendo iniciado esse malfado processo mercantil, em breve ele será capturado pelas Grandes Corporações Privadas que tentarão controlar o fluxo de Conhecimentos, decidindo quem pode acessar o quê; qual o tipo de Saber que tal indivíduo terá acesso e até quando e quanto poderá conhecer.

Nota do autor - de certa forma isso já acontece com censuras diretas na WEB, na Televisão, nos Cinemas e nos Teatros. Porém, o que mais me preocupa é a Censura Indireta, que é feita de modo sutil e subliminar e que induz aos humildes de intelecto a agirem como lhes é ordenado pelos atores e atrizes de novelas e programas popularescos.  Creem essas pobres almas que “estão na moda” e não hesitam em adotar discursos e práticas “politicamente corretas (sic)” ainda que isso lhes cause desconforto por conflitar com seus valores mais genuínos e arraigados.
Os leitores (as) que eu citei acima e que poderiam acusar-me de otimismo em excesso, talvez agora me taxem de “pessimista paranoico”. Alguém que também sofreu uma “lavagem cerebral” e foi cooptado pelo medo de LYOTARD. Devo reconhecer-lhes o direito e respeito suas opiniões, mas, concomitantemente, rogo que tenhamos bom senso nos julgamentos, pois tanto o Otimismo, quanto o Pessimismo poderão impedir que nós e nossos descendentes usássemos essas maravilhas tecnológicas que nos são apresentadas diariamente e que, certamente, auxiliarão aos métodos já existentes na dura e nobre tarefa de transmitir Conhecimento, Cultura e Saber.
Que saibamos utilizar o que hoje é farto e que graças aos nossos esforços poderá vir a ser Verdadeiro Conhecimento, capaz de nos elevar como pessoas. Que façamos bons usos da herança que recebemos através de papiros, pergaminhos, livros e computadores para aperfeiçoarmo-nos na arte de bem viver.

São Paulo, 11 de Abril de 2012.

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