JACQUES
LACAN
1901
– 1981
O Inconsciente é o discurso do
outro.
“Outro” é tudo aquilo que
está apartado do “eu”, ou seja, o ambiente em que nascemos e para o qual
precisamos dar algum sentido, ou significado, sob a pena de não conseguirmos
sobreviver.
A “Linguagem” não deve ser
confundida com oralidade. A linguagem pode ser executada através da escrita, da
pintura, da escultura, da mímica, da música etc., haja vista que todas as formas
de expressão são de uso comum da humanidade. Desse modo, as sensações e imagens
que se traduzem nos pensamentos que habitam o inconsciente devem ser feitas
segundo a linguagem do mundo externo, ou do “outro”.
Notas
biográficas
Jacques Marie Emile
LACAN nasceu em Paris e nela viveu por toda vida. Estudou no liceu jesuíta “Collège
Stanilas” e depois cursou Medicina, especializando-se em Psiquiatria. Durante a
Segunda Guerra trabalhou no hospital militar “Val-de-Grâce” e após o conflito,
dedicou-se inteiramente à Psicanálise, fazendo da mesma a sua principal ferramenta
terapêutica.
Contudo, acabou sendo
expulso da Associação Internacional de Psicanálise em 1953 por ter rechaçado
com vigor as censuras severas que recebia por realizar sessões de terapia
consideradas muito curtas, o que era considerado uma prática perversa para os padrões
mais ortodoxos. A partir de seu desligamento fundou a Sociedade Francesa de
Psicanálise, onde produziu seus variados textos que versam, além da psicologia,
sobre Arte, Literatura e Linguística. Também produziu e ministrou diversos
seminários que eram frequentados por figuras proeminentes no meio intelectual
como, por exemplo, ROLAND BARTHES e CLAUDE LÉVI-STRAUSS. Além dessas
atividades, por ser um freudiano convicto, apesar de divergências pontuais com
o mestre, fundou a Escola da Causa Freudiana em 1961 e a Escola Freudiana de
Paris, em 1963 como tributo ao “pai da Psicanálise”.
O
Inconsciente e os Psicanalistas
Em geral os
Psicanalistas descrevem o inconsciente como um local onde guardamos as
lembranças dolorosas e inacessíveis ao consciente. E concordam que o
inconsciente retém mais informações que o consciente.
Também concordam que
essas lembranças, às vezes, veem à tona e o inconsciente comunica-se com o “eu
consciente” embora de maneira imitada. Porém, a concordância é apenas parcial
entre os estudiosos, pois cada qual argumenta que essa comunicação acontece por
motivos diversos. A saber:
1 – Freud – afirmava que a emergência dessas
memórias reprimidas podia ser observada através de comportamentos como a
histeria, a melancolia etc. ou pela narrativa feita pelos pacientes de seus
sonhos, ou, ainda, através de atos falhos, lapsos acidentais de linguagem etc.
2 – Carl Jung – acreditava que o
inconsciente apresentava-se ao “eu" ou ao consciente através de símbolos,
da linguagem, dos sonhos e dos arquétipos.
3 – LACAN – através do
discurso do outro, pois para ele a linguagem do inconsciente não é a do “eu”,
mas a do “outro”.
O “outro” é tudo aquilo
que fica além de nós mesmos e é graças a sua existência que conseguimos definir
e redefinir a nós mesmos. É graças ao “outro” e à sua linguagem ou discurso que
conseguimos entender o mundo e ter os nossos pensamentos mais profundos. Por
isso, LACAN definiu que:
“O
inconsciente é o discurso do outro”.
O
sentido de si
É relativamente fácil
aceitar a noção de que cada um de nós existe como um Ser individual, separado
do Mundo. Também não é difícil aceitar que reconhecemos as fronteiras que nos
separam dos outros e que sabemos existir uma distinção entre o nosso próprio
pensamento e a nossa maneira de interagir com o meio ambiente.
Contudo, não é tão
fácil explicar de onde vem essa convicção de sermos um indivíduo, pois, como
podemos ter certeza de que existimos realmente como um Ser separado do
conjunto?
Essa questão ocupa a
mente dos homens desde os primeiros Filósofos e o racionalista René Descartes
forneceu a explicação que melhor se adaptou ao pensamento ocidental contemporâneo
ao afirmar em sua célebre frase que:
Penso,
logo existo!
Na atualidade, LACAN
desenvolveu esse conceito ao argumentar que através do pensamento e da reflexão
passamos a ter consciência da existência e da semelhança do outro, comigo,
deduzindo racionalmente como Descartes, que eu também existo.
Afinal, se não houvesse
nada externo que pudéssemos reconhecer como separados de nós mesmos, também não
poderíamos reconhecer-nos como indivíduos. Seriamos incapazes de conceituar o
nosso “Sentido de si” porque não havendo um “espelho” tampouco haveria um Ser delineado, definido que pudesse ser
considerado individualmente.
Segundo LACAN, o único
jeito de nos sabermos apartados da totalidade, ou do Mundo, é percebermos essa
separação entre o “eu” e o “outro”. Ter a capacidade de ser o “eu conhecedor”,
aquele que consegue conhecer, perceber o exterior a si, ou o outro. Uma
criança, por exemplo, precisa aprender a agrupar e a classificar as suas
sensações para sobreviver e assim faz à medida que adquire compreensão e
consciência de uma série de símbolos e de sinais – os significantes – que só
podem lhe chegar do “universo exterior” através da Linguagem, ou do “discurso
do outro”. Assim sendo, LACAN concluiu que:
Cada
qual é um “eu” somente porque existe um conceito de “outro”.
Para LACAN somente pela
linguagem somos capazes de pensar e expressar as nossas ideias e emoções e a
única linguagem que temos é a do “outro”.
Epílogo
A concepção lacaniana
de que “o inconsciente é a linguagem do outro” teve enorme influência sobre a
Psicanálise e fez com que se desse uma interpretação mais objetiva, clara,
direta e aberta do próprio inconsciente.
E esse contributo ao
tratamento dos distúrbios mentais, tantos os intelectuais quanto os emocionais,
deram-lhe um renome de tal ordem que ele deixou de ser considerado apenas como
um Psicanalista para ser visto como um Filósofo na máxima extensão do nome.
É certo que essa
consideração gera algumas polêmicas, mas não restam dúvidas acerca de sua
importância no cenário intelectual.
São Paulo, 07 de agosto
de 2013.
Revisado em 01 de janeiro de 2014.Produção e divulgação de YARA MONTENEGRO, da Cidade Maravilhosa de São Sebastião do Rio de Janeiro, em Janeiro de 2014.
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