LUKÁCS, GEORG BERNHARD VON
SZEGEDIN.
1885 – 1971
A importância de LUKÁCS na Filosofia Contemporânea é reconhecida até por seus críticos, pois, segundo LUCIEN GOLDMANN, ele foi
capaz de refazer em sua vida atribulada o que houve de principal na Filosofia
alemã. Inicialmente como critico
(no sentido
de “estudante minucioso”) sob a
influência de IMMANUEL
KANT, depois como adepto de HEGEL e, por fim, como seguidor de KARL MARX.
Graduou-se na universidade de Budapeste e além do currículo escolar, desenvolveu várias
outras atividades de cunho cultural e político.
Associou-se a alguns círculos Socialistas, sendo que em
um deles teve contato com ERVIN SZABÓ, renomado Anarquista
e sindicalista, que lhe apresentou as obras de GEORGES SOREL.
Devido a tais influências, tornou-se um sincero
entusiasta do “anti-positivismo” censurando
vigorosamente o Materialismo cientifico e
a rigidez da “moralidade positiva”. Porém, o seu entusiasmo critico não
se repetia em relação ao Modernismo
artístico, embora ele aceitasse que o
mesmo traria a extinção do Classicismo
burguês que imperava nas Artes.
De 1904 a 1908, envolveu-se com os integrantes de uma erudita
companhia de teatro e a convivência com esses outros intelectuais, em conjunto
com os anteriores, foi um poderoso incremento em sua cultura e um fator
decisivo para orientar a sua perspectiva sobre o mundo.
Tornou-o aberto para as possibilidades que estão além
da estreita visão burguesa e o convenceu da importância da Racionalidade para minar as antigas superstições religiosas,
que adaptadas para a Política embasavam a organização da sociedade.
Estudos na Alemanha
LUKÁCS passou grande parte de sua juventude na Alemanha e
entre os estudos que realizou nas universidades de Berlim (1906-1910) e na de Heidelberg (1911-1913), conheceu mais alguns intelectuais que consolidaram
sua erudição e aumentaram-lhe o leque das opções filosóficas.
Dentre outros, conheceu: GEORG SIMMEL, MAX WEBER,
ERNST BLOCH E
STEFAN GEORGE, os quais, junto com o próprio ambiente universitário,
levaram-no a adotar o Neokantismo*, como sistema filosófico
preferido, sem, no entanto, repudiar suas antigas inclinações por PLATÃO, HEGEL, KIERKEGAARD,
DILTHEY e DOSTOIÉVSKI (que geralmente é mais conhecido como romancista).
NOTA DO AUTOR - NEOKANTISMO
– (do
grego, neo = novo + Kantismo) Movimento Filosófico da segunda metade do século XIX
que se difundiu principalmente na Europa. Sua principal proposta era reafirmar
a Filosofia como a “Teoria do Conhecimento” e fundamentadora das Ciências
Naturais e das Normas Sociais, segundo o Ideário original de Immanuel Kant.
Ativismo Político
Após graduar-se em 1915, LUKÁCS voltou à Hungria e passou a liderar um grupo de intelectuais de Esquerda
que contava em suas fileiras com KARL MANNHEIM, BÉLA BARTOK, BÉLA BALÁZS, KARL POLANYI
ETC.
Foi, então, que começou a sua prática efetiva nas lidas
do Socialismo.
Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial e da Revolução
Bolchevique, adaptou seu ideário ao momento e em 1918 juntou-se ao Partido Comunista Húngaro tornando-se
dedicado e fiel marxista.
Durante o curto Governo da “República Soviética da Hungria” foi elevado ao posto de “Comissário
do Povo para a Educação e Cultura” e trabalhou na 5ª Divisão do “Exército Vermelho” húngaro.
Após a queda do Regime, caiu na clandestinidade e
acabou preso em Viena, Áustria, de onde só escapou da deportação graças à
intervenção de intelectuais renomados, como, por exemplo, THOMAS MANN e HEINRICH MANN.
Produção literária
Em termos intelectuais, voltou a sua atenção para os pensamentos
de LÊNIN e trabalhou no desenvolvimento filosófico dos mesmos,
dando-lhes melhor embasamento teórico. Resultou desses estudos a obra “História
e Consciência de Classe”,
formada por uma coletânea de Ensaios, cuja publicação, em 1923, obteve uma
enorme repercussão.
Alguns de seus admiradores chegaram a comentar que nem
o próprio LENIN teria feito melhor, porém essa simpatia não foi
unânime e o livro foi duramente atacado por GRIGORY ZINOVIEV (que posteriormente foi
perseguido por Stalin) no 5º Congresso
do Komiterm, em 1924.
Contudo, não obstante esse revés continuou o seu
trabalho sobre LÊNIN e logo após a morte do mesmo, escreveu um curto texto
sobre ele, intitulado de “Um Estudo
sobre a Unidade de seu Pensamento” que também teve boa aceitação da
maioria.
Porém, em 1925 mudou seu foco de trabalho e publicou
uma revisão critica do “Manual do Materialismo Histórico” de NIKOLAI BUBKHARIN.
Atuação
político-partidária
No campo político e na condição de húngaro exilado, LUKÁCS permaneceu ativo na “Esquerda” do Partido Comunista Húngaro e nessa
situação se opôs tenazmente à política de BÉLA KUN.
Suas “Teses
sobre Blum”, de 1928, clamavam pela derrubada do Governo de HORTY, MIKLÓS (1868
– 1957) e pela instauração de uma “Ditadura Democrática do
Proletariado e Camponeses” como estágio intermediário até que ocorresse a
implantação definitiva da “Ditadura do Proletariado”.
Todavia, suas ideias não tiveram boa aceitação pelo Komiterm
e isto o obrigou a fazer, posteriormente, uma difícil autocrítica reconhecendo
a impropriedade de sua posição.
Acusado de espionagem
De 1929 a 1933, LUKÁCS permaneceu
em Berlim, mas diante da ascensão do Nazismo mudou-se para Moscou e ali
permaneceu até o fim da 2ª Guerra.
Aproveitando-se desse fato, as forças que lhe faziam
oposição voltaram ao ataque acusando-o de ser “Agente Soviético” por ter residido na Rússia durante
aquele período. E tal perseguição lhe ocasionou sérios contratempos em seu
regresso à Hungria.
Porém, apesar disso, ele se envolveu no estabelecimento
do novo Governo húngaro e foi eleito membro da “Academia de Ciência Húngara”.
A Crítica Literária
De 1945 a 1946, trabalhou para o Regime como crítico
de autores não comunistas. Trabalho, aliás, que lhe era agradável, pois ele
compartilhava dessa censura taxando tais autores de “deficientes intelectuais”.
E seu zelo na tarefa foi tal, que ele acabou sendo
acusado de participar do “jogo
administrativo” que promoveu a remoção dos intelectuais independentes
e/ou contrários ao Regime.
Dentre os pensadores que teriam sido perseguidos por LUKÁCS pode-se citar, entre outros, BÉLAS HAMVAS, ISTVÁN BIBÓ,
LAJOS PROHÁSZKA, KAROLY KERÉNYI, sendo que alguns foram presos em várias ocasiões; outros, mandados para manicômios e,
outros, forçados a trabalhos menores e/ou braçais.
O pensador CLAUDIO MUTTI
afirmou a propósito que LUKÁCS teria sido membro da “Comissão do Partido”
responsável pela elaboração das listas dos livros proibidos que o “Departamento de Propaganda e Informação”
do Gabinete do 1º Ministro impunha ao país por serem “antidemocráticos” e/ou “socialmente aberrantes” (sic),
enquanto silenciava os autores proscritos, pelos métodos acima descritos.
NOTA do AUTOR – é interessante notar o quanto são parecidas todas as Ditaduras,
pouco importando se são de “Direita” ou de “Esquerda”.
Essa acusação nunca foi cabalmente comprovada, mas o
certo é que LUKÁCS influiu diretamente na censura estabelecida pela
chamada “Tática Salami” que
vigorou na Hungria durante os anos de 1945 a 1950, sob o governo de MÁTYÁS RÁKOSI.
Porém, até onde se sabe, ele teria atuado apenas como um
“Critico de Literatura” que acreditava sincera e honestamente na superioridade
da “Arte Socialista” e
que propunha que essa “Superioridade” ficasse sempre evidente por meio de
comparações artísticas justas e não por intermédio de métodos sórdidos.
Aliás, segundo os seus admiradores, pode-se confirmar
essa sua isenção, observando-se que a sua tolerância custou-lhe o próprio cargo
quando, entre 1948 a 1949, o Presidente MÁTYAS
reeditou a famigerada “Tática Salami” sobre o próprio Partido Comunista Húngaro e o expulsou dos quadros governamentais.
Contudo, ele voltou ao Partido no ano seguinte, 1950,
e conforme seus adversários, “convencido”
a cooperar com o Regime que, assim, o teria usado durante a prática dos novos
expurgos que foram feitos na “Associação
de Escritores”, entre 1955 a 1956.
Mas novamente a sua atuação foi considerada superficial
e vários intelectuais minimizaram a sua participação nos funestos
acontecimentos, afirmando que ele teria agido apenas como assistente e que logo
cedo demonstrou a sua insatisfação ao abandonar as reuniões e tomar outras
atitudes de protesto.
Atuação politica após a morte de STÁLIN
Após a morte de STALIN
em 1956, LUKÁCS tornou-se Ministro
no breve governo de IMRE NAGY que não contava
com a simpatia da URSS.
E como Ministro participou da antipartidária associação revolucionária comunista “PETOFI”
e atuou em várias outras frentes, visando reformas que restituíssem
credibilidade ao desgastado “Partido Comunista
Húngaro”.
Mas seu ativismo não foi bem aceito e ele esteve
prestes a ser preso e fuzilado nas décadas de 1960 e 1970, como foram vários de
seus companheiros.
Após a queda do governo NAGY, foi deportado para a Romênia junto com o restante do
staff do Presidente deposto. Lá, permaneceu fiel ao Comunismo, mas se tornou um critico mordaz do Partido Comunista da
URSS e o da Hungria até os últimos anos de sua vida.
NOTA do AUTOR - Seus livros “O Jovem Hegel” e “A Destruição da Razão” foram utilizados para acusá-lo de ter-se
tornado um inimigo do Socialismo por ter distorcido (sic) a ligação do Marxismo
com o Hegelismo e, também, por ter denunciado (sic) a “Irracionalidade do
Sistema”.
A Obra literária e algumas teses
LUKÁCS não foi um autor prolífico, mas a qualidade superior
de seus textos garantiu-lhe o merecido prestigio que ainda hoje lhe é
creditado.
Seu livro, “História e Consciência de Classe”,
de 1919–1922 iniciou a corrente de pensamentos que posteriormente tornou-se
conhecida como “Marxismo Ocidental”.
Um dos destaques positivos da obra é a contribuição
que empresta ao debate relativo à ligação da Sociologia, Política e Filosofia com o Marxismo. Outro ponto
destacado é a reconstrução da “Teoria Marxista da Alienação” e, também,
a reflexão sobre outras teorias de MARX, como Ideologia, Falsa Consciência, Retificação,
Consciência de Classe etc.
Na sequência veremos seus argumentos sobre algumas
delas:
Sobre a Ideologia ele reafirma a sua
tese de que a mesma é uma “Projeção
da Consciência de Classe da Burguesia”; ou seja, aquele “conjunto de ideias, crenças e valores”
representa o que os indivíduos burgueses
pensam sobre si mesmos e sobre o grupo sócio econômico e cultural a que
pertencem. Ademais, expressa à convicção desses indivíduos acerca daqueles
valores, formando, com isso, o que se chama de “Classe Social”. Segundo
ele, a Ideologia é usada pela Burguesia como se fosse uma “Verdade Absoluta ditada por Deus”
e que, por isso, deverá ser aceita e obedecida por todos. Na realidade, com
isso, os burgueses pretendem evitar que o Proletariado tome consciência de sua miserável condição e de seu
imenso potencial revolucionário.
NOTA do AUTOR – observe-se aqui a
semelhança, que não é aleatória, com o Pensamento de ALTHUSSER.
No texto, “O
que é o Marxismo Ortodoxo?” ele
analisa a “Falsa
Consciência” e afirma que a “Ciência do Real (ou seja, o conhecimento da Realidade
física, concreta)” deve se limitar ao que seja
efetivamente concreto e verdadeiro. Por isso, deve-se pensar ou refletir apenas
de maneira racional e objetiva sobre um período histórico para com isso desmistificar
as falsas “Verdades Eternas*”,
já que essas não passam de meras ilusões ou distorções criadas com
objetivos nefastos.
NOTA do AUTOR – Verdades Eternas tais
como: as Leis imutáveis da Economia (sic).
Quanto a Reificação (ou Coisificação), ele argumenta que é uma decorrência da própria
natureza (ou forma de ser) da “Sociedade Capitalista” que induz o individuo a privilegiar
os seus interesses pessoais acima de tudo. Por isso, a “Coisificação” impede o surgimento da “Consciência de Classe” no Proletariado
à medida que obriga o indivíduo a pensar quase que exclusivamente em sua
sobrevivência física e não nos interesses de sua “Classe Social”. Assim sendo, para que surja a “Consciência de
Classe” é imperioso extinguir o processo de “Coisificação” tão logo
ele se materialize, o que só é possível com o surgimento de correntes filosóficas
e políticas que quebrem a inércia vegetativa em que vive o Proletariado. E que este mesmo Proletariado ganhe poderio intelectual
através de estudos, para que na sequência apareçam “Partidos Leninistas” capazes de orientar a Revolução.
Reificação – Coisificação – reduzir o Ser humano, ou aquilo que é ligado a ele (como as suas crenças,
ideias, etc.) a valores
exclusivamente materiais, físicos, concretos. O termo Reificação é
originário do Latim (“res” = coisa + ficar + ção) e indica o momento em que o
homem (bem
como a realidade física que o cerca),
se torna apenas uma “Coisa” e é afastado, de suas características
humanas (de
suas ideias, crenças, sentimentos, valores éticos ou morais como honra,
dignidade etc.). Tudo passa a
ser apenas “um objeto inanimado”. Esta condição é inevitável e acontece durante
o “Processo de Alienação” que lhe é imposto pela natureza (ou forma de ser) do Capitalismo.
Aos interessados em aprofundar-se no tema,
recomendamos a sugestão do Sociólogo e Mestrando na USP, Thyago Marão
Villela, para que se estude a “Teoria do Fetiche” de Marx,
onde ele coloca a tese de que no Capitalismo
as “coisas ou objetos” parecem estabelecer relações sociais (como se
fizessem amizades, intrigas, inimizades etc.) enquanto os indivíduos se quedam passivos
perante os mesmos, transformando-se também em meras “coisas ou objetos”.
Sobre as Classes Sociais LUKÁCS dedicou especial atenção e começou a expor seus argumentos
na obra “História da Consciência de
Classe”, de 1920. Nela, ele analisa primeiro a ausência de definição sobre
o tema no pensamento de MARX e, depois, propõe a sua definição: “que forma uma Classe Social é a posição do grupo de indivíduos que a compõe em
relação ao “modo de produção”, ou seja, grosso modo: engenheiros e arquitetos compõem, ou fazem parte de uma “Classe
Social”. Pedreiros, eletricistas e encanadores compõe outra, porque cada qual
ocupa uma posição diferente em relação ao modo de produção com a consequente
diferença nos rendimentos”.
Na sequência, afirma que há em cada classe uma “Consciência” da mesma, mas que essa conscientização não tem a
mesma dimensão em todas, haja vista que ela decorre da densidade intelectual de
seus membros, pois apenas quando existe uma maior compreensão da vida e do mundo
é que esses mesmos membros se conscientizam da fragilidade individual e da necessidade
de se pertencer a uma classe, a um grupo.
Por isso, entre o Proletariado de baixa cultura e
consequentemente pouca compreensão, não há “Consciência” efetiva da necessidade
de se unir aos outros membros. Não há, pois, “Consciência de Classe”. Ao
contrário da “Classe Burguesa”,
cujos membros têm mais densidade intelectual e por consequência mais firmeza em
suas convicções.
Esse fato também indica que a Consciência de Classe acontece no decorrer da história, da passagem
do tempo (têm um Sentido Histórico) com o aumento do arcabouço intelectual dos
indivíduos.
NOTA do AUTOR – a quantidade disponível
dos recursos materiais de cada Classe é o que consolida essa diferenciação.
Apenas por ter certa folga material é que a Burguesia pode se dar ao direito de cultivar valores abstratos que
formam a Consciência de sua Classe. Já o Proletariado
tem sua atenção voltada exclusivamente para a sobrevivência física, para as
necessidades básicas diárias, sendo impraticável enxergar além de seu horizonte
imediato. O seu pressuposto “companheiro de Classe” passa a ser, na realidade,
um competidor pelos parcos recursos. Esse círculo vicioso é que lhe proíbe,
pois, a formação da sua “Consciência de Classe”, a qual, no entanto, seria um
instrumento teórico imprescindível em sua luta contra a Burguesia em busca de mais justiça social.
A burguesia e o proletariado.
A partir das conclusões acerca das “Classes”, LUKÁCS concentra seus estudos nas duas Classes que o Marxismo
estuda: a burguesia e o proletariado.
A primeira, não obstante possuir capacidade para
compreender a totalidade da Sociedade,
e com isso saber que além de si
existem outras Classes que também tem o Direito de buscar suas realizações,
tem essa compreensão reduzida pela força de seus interesses e com isso possui
apenas uma Falsa Consciência (grosso
modo, é como se forçasse a não ver).
Já o Proletariado, apesar de suas limitações,
tem potencial para vir a compreender plenamente a Sociedade, principalmente porque lhe interessa destruir o modo de produção Capitalista, mas é necessário
que se desvencilhe daquela Falsa Consciência que lhe é imposta
pela burguesia.
Dessa sorte, a “Revolução
Proletária”, segundo sua ótica, não poderá surgir de um ambiente pacífico,
ou violenta e falsamente pacificado, já que nada lhe
será entregue voluntariamente. Tudo terá que ser tomado.
Nada acontecerá
de modo passivo, e será imperioso que adquira através das lutas preliminares a
sua Consciência de Classe e se organize, fortaleça-se e crie condições
efetivas para derrubar o Sistema que lhe oprime.
É preciso que saiba se aproveitar das crises que periodicamente assolam o Capitalismo para fazer eclodir a
Revolução.
NOTA do AUTOR – essas ideias de LUKÁCS tiveram boa aceitação, mas
foram repudiadas por ele no fim de sua carreira. Principalmente a parte em que
ele colocava o Proletário como sujeito da historia.
Critica Literária e Estética.
Doravante trataremos dessa sua outra atividade, pois
além da excelência de seu trabalho no campo da Filosofia Política e
Filosofia Marxista, ele foi um dos mais influentes Críticos Literários do século XX, não obstante aquelas restrições que lhes foram
feitas acerca de sua suposta perseguição aos literatos de outras tendências
politicas.
Sua entrada nessa lida aconteceu com os estudos
expostos em sua obra “A Teoria do Romance”. Trata-se de um relato
sobre a história do Romance, enquanto
gênero literário e, também, uma investigação acerca de suas características.
Outro Ensaio
de sua lavra que se tornou célebre é aquele intitulado de “Kafka ou
Thomas Mann”. Nele, LUKÁCS argumenta a favor da
superioridade que enxerga na obra do segundo, classificando-a como mais
adequada ao Modernismo.
Aliás, sobre essa classificação é interessante notar
que LUKÁCS a coloca de forma elogiosa, porém, paradoxalmente,
discordava das inovações “Modernistas”
introduzidas na forma literária
por autores como o próprio KAFKA, JAMES JOYCE e SAMUEL BECKETT.
Outra singularidade a ser notada em seu trabalho é o
louvor que ele dedicava aos antigos “Romances
de Cavalaria”, como, por exemplo, os de WALTER SCOTT. Essa simpatia ele justificava argumentando que autores como SCOTT,
embora resvalassem para certa nostalgia em favor da monarquia, opunham-se
valorosamente contra a ascensão da burguesia
(Sic).
Prosseguindo, veremos outros trabalhos de sua autoria
que também merecem destaque, como, por exemplo: “Notas sobre o
Romance” e “Narrar ou Descrever”.
No primeiro, ele faz uma revisão histórica sobre a
formação do gênero “Romance”, desde a sua gênese até o seu futuro
formato, quando for feito para e pelo proletariado.
No segundo, ele analisa mais detalhadamente a “Literatura Marxista” e discorre sobre
a diferença entre o “Romance
Naturalista” e o “Romance
Realista (ao estilo do escritor francês, Emile Zola, autor de “Germinal”,
entre outros)”.
Segundo sua concepção, o Romance sob a égide do Capitalismo,
como já pode ser observado em “Dom Quixote
(MIGUEL
DE CERVANTES)”,
mostra o abandono de uma “Consciência
de Classe Coletiva” em beneficio de uma “Consciência Individualista”, o que lhe dá um formato predominantemente
burguês.
Mas, com o triunfo do Socialismo o gênero se encaminhará para a forma, ou formato Realista e a individualidade voltará
a ser vista como “apenas uma
pequena parte” de uma “Estrutura
Geral”.
Como já se mencionou algures, LUKÁCS também demonstrava algum repúdio pela “Forma Naturalista” que, a seu
ver, privilegia aspectos da realidade que em nada contribuem para o esclarecimento
acerca da “Condição Social” em
que o enredo se desenrola.
NOTA do AUTOR – deve-se observar que seus
prognósticos sobre o Romance foram muito mal recebidos por várias Correntes do Marxismo
e principalmente por aquelas que lhe eram adversárias.
Em “Narrar
ou Descrever” ele
afirma que para favorecer o surgimento de uma conscientização mais critica sobre o “papel social” dos indivíduos a “Narrativa”, ou o “Narrar”, é mais eficiente que a “Descrição”, haja vista que esta se
prende a formalismos inúteis.
LUKÁCS e a Estética
Além dos textos citados, LUKÁCS escreveu vários outros sobre o ramo da Filosofia
chamado de Estética.
Para ele, ao contrário de outros intelectuais de peso
como, por exemplo, THEODOR ADORNO, a principal
função da Arte é fomentar a transformação da “Consciência Individual” em “Consciência
de Classe”, capacitando-a teórica e culturalmente para que possa confrontar a sociedade Capitalista.
Para muitos, uma visão estreita e tacanha, mas é
oportuno lembrar que esse ponto de vista foi decisivo para que
posteriormente surgisse o “Realismo
Socialista Russo” que, apesar da rejeição de tantos, constituiu-se em
um Movimento de alta importância no
cenário da Arte e da sociedade.
Epilogo
Vimos que pensamento de LUKÁCS foi combatido,
criticado e censurado e que ainda hoje enfrenta resistência de vários setores
da Esquerda.
Mas, também se vê que sobreviveu rijo e forte e chegou
aos nossos dias com a relevância que merece graças à sua profundidade,
singularidade e erudição.
Produção e divulgação de TANIA BITENCOURT, rien limitée, no Rio de Janeiro, no inverno de 2013.
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