LEVINAS, EMANUEL
1906 – 1995
A Razão vive na Linguagem
Em
1920 EDMUND HUSSERL explorava a nossa relação, ou o nosso relacionamento
como os outros Seres humanos através
de sua Fenomenologia. Nessa mesma época, o filósofo austríaco MARTIN
BUBER, afirmava que o sentido da vida, ou da existência provém do fato de
que nos relacionamos com outros homens.
A
partir da década de 1960, seguindo essa tendência e fortemente influenciado
pela Fenomenologia, LEVINAS estuda a
questão de como os relacionamentos
sociais influenciam os “Pensamentos”
e conclui que “Razão está na
Linguagem”, ou seja, que é
através do convívio, do diálogo e do exercício da linguagem que o “Pensar
Racional” se forma.
Linguagem,
porém, que LEVINAS desvincula da oralidade, já que para ele, uma simples
troca de olhares é suficiente para que se estabeleça a comunicação entre as pessoas.
E
tal foi o sucesso desta sua conclusão que a partir da década de 1970 as suas ideias
sobre a “Responsabilidade (social)” passaram a ser determinantes para a Psicoterapia
e de capital importância para a Filosofia como se pode observar, por exemplo,
quando JACQUES DERRIDA a utiliza em suas tratativas sobre o “asilo político”, ou quando fazem
parte importante dos ideários das filósofas feministas francesas LUCE IRIGARAY e JULIA KRISTEVA.
O Ser
humano e seus encontros.
Falar
do Ser humano é sempre um assunto que
desperta interesse, pois nada na vida nos perturba tanto, quanto o encontro com
outro homem.
O
simples fato de ele estar ali e nos lançar um apelo contundente, mesmo que
mudo, para que o livremos da miséria indecente a que está submetido,
desafia-nos a pensar e a justificar a nossa própria existência.
Mas
de onde vem esse constrangimento? O que tememos?
Para
melhor estudar o assunto, seguiremos o modelo empregado por LEVINAS, que frequentemente utilizava exemplos para expor os
seus argumentos:
Imagine que ao caminhar por uma noite fria de inverno, você aviste um
pedinte todo encolhido, tentando inutilmente proteger-se do vento gelado. Ainda
que ele não lhe peça nada, a simples presença miserável do mesmo causa-lhe um
incômodo que o acompanha por longo tempo. Essa característica humana, a empatia
(a
capacidade de se colocar no lugar do outro e de “sentir” o que ele sente) encarregou-se de estabelecer um relacionamento, uma
ligação entre você que olha e ele que é avistado. Relação que prescinde de
qualquer outra forma de comunicação.
O
mendigo pode até não pedir qualquer esmola, mas você não consegue deixar de
sentir uma espécie de “obrigação”
de solucionar as suas carências.
E
mesmo que se decida ignorá-lo, alguma coisa já foi comunicada.
A
relação estabelecida, mesmo que informal e silenciosa, influencia o pensamento
de tal modo que conforme a escala de valores que
se adote, chega-se até à acusação de “antiético” por deixá-lo naquela situação.
E
assim como acontece com um indivíduo, acontece com povos inteiros e é o que “nos obriga” a prestar socorro às
populações atingidas pela fome, pela guerra etc.
O
holocausto judeu
Nascido
na Lituânia,
LEVINAS era judeu e viveu na época da Segunda Guerra e do holocausto nazista. Obviamente, essa
situação teve uma enorme influência em sua Filosofia, tornando-a voltada
para o estudo sistemático da ética e da moralidade e trazendo para o centro de
seu ideário as preocupações com o “sofrimento
alheio” e com o “outro”.
Exemplo
disso pode ser visto em sua obra “Totalidade e Infinito”, de 1961,
que é calcada na discussão das questões morais e éticas.
Nela,
além de defender a tese de que a “Linguagem”
é o meio com o qual nos comunicamos com os outros Seres humanos e que a nossa comunicação prescinde da oralidade: ele argumenta que antes mesmo de se
iniciar uma conversa, ou um simples e breve cumprimento, sentimos intuitivamente,
instantaneamente, que estamos diante de um Ser
humano e que em algum grau e de alguma maneira “temos responsabilidade*” com a sua segurança, com a sua satisfação.
Nota do Autor – quando sentimos “responsabilidade” pela segurança
do “outro”, pode-se imaginar que sem ela nós o atropelaríamos com o nosso
carro. Ou despudoradamente tomaríamos o seu agasalho e o seu bem estar, etc.
Alguns,
claro, desdenham dessa responsabilidade, mas não conseguem escapar de “seu peso”, que tanto pode ser um
simples arrependimento, ou o efeito deletério de um eventual revide, ou de uma
sanção judicial.
Por
isso, mesmo entre os indivíduos mais perversos, sempre existirá algum comprometimento
com os outros Seres. Basta lembrar,
por exemplo, que HITLER era vegetariano porque não suportava pensar no
sofrimento dos animais, que nós assassinamos nos matadouros e/ou torturamos em
circos, rodeios e quejandos.
A
Racionalidade está na Linguagem
A
partir dessas observações, pode-se entender o porquê de LEVINAS insistir que a “Razão (ou a Racionalidade)” está na Linguagem.
Afinal,
é nela que está a exteriorização do que “Pensamos Racionalmente” e sua
existência só acontece no “Relacionamento com outro Ser”.
Ao
sentirmos arrependimento por
termos negligenciado ao outro, ou preocupação
em favorecê-lo, ou em justificar*
a nossa própria existência, estamos, na verdade, construindo “Pensamentos Racionais oriundo dos relacionamentos”.
NOTA do AUTOR - o porquê* de se ter comida, roupas e conforto enquanto
outrem viver em terrível miséria.
Epílogo
Por
ter essa visão humanista da filosofia em que o Ser humano e a sua principal característica – a Linguagem -assumem
a posição central na disciplina e a sua contribuição fundamental em outros campos
da matéria, especialmente no desenvolvimento do pensamento “Existencialista”, LEVINAS conquistou a merecida reverência com que
continua a ser tratado pelos estudiosos atuais.
Produção e divulgação de TANIA BITTENCOURT, rien limitée, do Rio de Janeiro, no inverno de 2013.
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