domingo, 29 de setembro de 2013

IDEALISMO - Filosófico

IDEALISMO – termo que vem do Latim tardio “IDEALIS”. Em sentido comum, significa dedicação, engajamento a uma Doutrina, a uma Causa, um Compromisso com um “Ideal”, sem que exista interesse material ou, até mesmo, anseio pela imediata concretização daquele “Ideal”.

O termo “IDEALISMO” na História da Filosofia abrange variadas tendências de Pensamento, as quais, porém, tem em comum o fato de interpretarem a Realidade Material do Mundo seguindo as características da personalidade do individuo, da seguinte maneira: o Mundo Material, que os Sentidos (tato, audição, visão paladar, olfato) levam ao cérebro do Individuo, é TRANSFORMADO conforme os seus pontos de vista, conforme seus juízos, SUAS IDÉIAS; ou seja, conforme a sua subjetividade.

No campo do Conhecimento, o Idealismo acarreta um efeito indesejável, pois ao tornar o “Objeto do Conhecimento” – aquilo que se está estudando – o próprio “Individuo Conhecedor”, estuda “apenas” o Individuo e a sua forma de analisar e compreender qualquer Coisa que se estude. Pouco importa as características, as qualidades, os atributos da Coisa, do Objeto; pois o que importa (sic) é a maneira de como esse processo está sendo executado pelo Individuo que estuda aquela Coisa. Qual é, pois, A IDEIA que o Sujeito faz do Objeto; e NÃO o quê o Objeto realmente É. Perde-se toda objetividade em favor da excessiva subjetividade.

No campo da Ontologia (ver adendo) tudo é reduzido a Pensamento, Ideia ou “Espírito”. A Matéria “Só Existe”, porque dela se faz uma Ideia. O Mundo NÃO é como é, mas sim conforme a Ideia de que dele se faça.

Em extremo, o Idealismo leva ao Solipsismo*, que é o isolamento do Individuo em si mesmo. A introspecção excessiva com característica de enfermidade psicológica ou psiquiátrica. No tópico sobre o Solipsismo, entraremos em mais detalhes sobre essa questão.

O Idealismo, como Escola Filosófica, repartiu-se em várias tendências. A seguir abordaremos algumas dentre as principais:

1. O IDEALISMO PLATÔNICO - Com Platão, após Sócrates, é que “Ideia” passou a ter uma existência efetiva, embora em um sentido diferente do comum. Não se trata, pois, de noções, imagens, representações intelectuais etc. Alguns eruditos até discordam de que seu Sistema Filosófico seja rotulado como “Idealista”, pois argumentam que a sua Filosofia, na verdade, deve ser considerada como um “Realismo das Idéias” já que para o Mestre, as Idéias (mal comparando: os projetos, os desenhos que devem ser copiados para a confecção do objeto correspondente) formam outra “Realidade”, ou a “Verdadeira Realidade”. É um Mundo - o “Mundo das Idéias” - que pode ser parcialmente acessado pela Inteligência, pelo Raciocínio (ou pela Razão) e que existe por si mesmo, não necessitando que o Homem o conheça ou o reconheça. Está além do humano e do material; e é nele que estão os modelos para todas as coisas.

2. O IDEALISMO IMATERIALISTA – é uma Tendência que tem em BERKELEY (1685/1753, Irlanda) seu expoente. Para ele, e seus adeptos, os Objetos Materiais NÃO existem de fato; mas apenas como representações ou imagens, ou Idéias no intelecto, na mente dos Homens. E na mente de Deus, o criador do próprio Homem, o qual, segundo o seu Sistema, também não existe de fato, mas é apenas uma representação, uma imagem na Mente Divina. Essa sua forma de pensar permitiu-lhe emitir o célebre enunciado: SER, É SER PERCEBIDO; ou seja, só existe aquilo que se percebe de algum modo. Pergunte-se caro (a) leitor (a) se você existe para o Sr. Ming que habita na China e nunca soube de sua existência? E o inverso?

3. IDEALISMO TRANSCENDENTAL – doutrina de KANT (1724/1804, Alemanha) que alguns chamam de “Idealismo Critico”. Através desse Sistema o filósofo considerava que os Objetos que estão em nosso cotidiano e que percebemos pelos Sentidos (tato, visão, audição, paladar, olfato) estão inserido no Espaço/Tempo e devem ser considerados apenas como fenômenos (a aparência, o exterior perceptível de uma Essência) e por isso serem diferenciados ou distinguidos de suas Essências ou “Coisa em Si”. Logo, se podemos perceber apenas o fenômeno, a “Realidade Verdadeira” é incognoscível, isto é, está além da nossa capacidade intelectual de compreensão. Dessa forma, qualquer Objeto só existe em uma “RELAÇÃO de CONHECIMENTO”; ou seja, o Objeto só existe a partir do instante que o Individuo o perceba, ou o conheça. Aqui, a frase de BEKERLEY – ser, é ser percebido - citada acima, pode ser aplicada novamente, posto que o Objeto só “È” enquanto alguém o percebe. Kant dizia: “chamo de Idealismo Transcendental” de todos os fenômenos A DOUTRINA que nos leva a considerar que esses mesmos fenômenos são simples representações, ou imagens que formamos em nosso cérebro. Ou seja, “Idealismo Transcendental” é apenas o TITULO de um de seus estudos.

4. IDEALISMO ALEMÃO PÓS-KANTIANO – é o desenvolvimento da doutrina de Kant, principalmente, por FICHTE (1762/1814, Alemanha) e pelo sábio SCHELLING (1775/1854, Alemanha). Todavia, ambos abrandaram a noção de Kant sobre a “Coisa em Si”, dando à Doutrina uma interpretação em que a visão subjetiva (ou segundo o ponto de vista de cada individuo) ganhou mais importância. Consideravam, pois, que o Real ou a Realidade é formada, ou constituída, pela Consciência de cada um. De novo, aplica-se a noção de que “O Mundo não é como é, mas sim como é visto ou percebido por cada um dos Homens.”

5. IDEALISMO ABSOLUTO – é o termo usado por Hegel (1770/1831, Alemanha) para demonstrar a sua noção de Metafísica (do que está além do físico, o sobrenatural). Segundo o filósofo, o Real (ou a Realidade) “È” a IDÉIA, mas NÃO em sentido subjetivo ou individual; porém em sentido absoluto. Para Hegel tudo que está “abaixo” da Metafísica, ou seja, o material, concreto, físico é apenas uma ilusão, mas que deve ser considerada; a partir daí é que Hegel propôs uma espécie de “Monismo” onde Essência e Fenômeno formam uma única coisa. Um único ente. E como ele afirmava que o Real (ou a Realidade) é Racional (isto é, pode ser atingida através da Razão), Essência e Fenômeno são, conseqüentemente, compreensíveis pelo Raciocínio, que constrói de ambos uma representação, uma Idéia. Por isso, o “seu” Idealismo é Absoluto. É o “Idealismo Total” que abarca tanto o interior quanto o exterior de qualquer Coisa ou Ser.

Na tradição filosófica, o Idealismo combate, é claro, as Doutrinas Materialistas na medida em que para o Idealismo o Universo é um conjunto de mínimo dois elementos ou princípios: Matéria e Pensamento. Ou de um só: o Pensamento e a matéria mera representação mental.

Atualmente, no campo do Marxismo, o “Idealismo” passou a significar algo bom, excelente, mas utópico e irrealizável. Especialmente no Campo da Moral, onde não são raras as ótimas, generosas e altruístas intenções que nunca se realizam, principalmente em razão da natureza humana (ou seja da forma que o Homem é), que ainda rasteja no terreno da pura competição.

Como adendo a esse tópico, faremos na seqüência breves explanações acerca do termo raiz: a Idéia.

Conforme o Dicionário Aurélio, EM TERMOS COLOQUIAIS:

1.Representação mental de algo concreto ou abstrato, imagem.
2.Elaboração intelectual, concepção, projeto, plano
3.Invenção, criação
4.Opinião, conceito, juízo
5.Visão imaginaria, irreal, quimera
6.Mente, Pensamento
7.Conhecimento, memória, lembrança
8.Tino, juízo, responsabilidade

EM TERMOS DE FILOSOFIA:

1. Como já se citou, em Platão, o Termo “Ideia” tem o significado de Modelo, Padrão, segundo o qual a respectiva Coisa é construída. Assim, por exemplo, existe a “Idéia Gato”, e todos os gatos existentes são feitos conforme aquele “molde”, malgrado as diferenças entre os indivíduos, pois a “Idéia” refere-se à Espécie ou à Classe e não aos Seres ou às Coisas individualmente. Para Platão, o “Mundo das Idéias” é transcendente à matéria, ou seja, “fica”, “localiza-se” além do que se pode perceber. Claro que para ele o termo não tinha o significado de “Pensamento”, “imagem mental” etc. Aliás, essa concepção, ou noção, só posteriormente apareceu na Filosofia e já como “A Essência” da Realidade. No tópico dedicado ao Platonismo*, voltaremos ao assunto.

2. Para Descartes (1596/1650), as Idéias são representações mentais produzidas pela consciência; e definida, por ele, como aquilo que a Mente percebe diretamente; isto é, se as Idéias foram fabricadas diretamente pela Mente ou pelo Cérebro é obvio que ela a perceba ou reconheça imediatamente; ao contrário do que ocorre quando há uma percepção pelos Sentidos sobre algum objeto e essa percepção tem que chegar ao cérebro, ou à mente, e ali ser processada para só então ser devidamente conceituada. Descartes diferencia três tipos de Idéias:

a. INATAS – que são produzidas pelo próprio cérebro, ou mente, sem que haja necessidade de antes ter havido qualquer Experiência Empírica (aquela que consiste na percepção dos dados ou características do objeto estudado, através do que foi captado pelos Sentidos; ie. audição, visão, tato, olfato, paladar). Nesse tipo, ele inclui a Ideia de “um Deus perfeito”, a Ideia da “Substância Pensante (a Razão, os Pensamentos, a Mente, o “Espírito”)” e a Ideia da Matéria Extensa (o corpo físico).

b. FICTÍCIAS – as Idéias produzidas pela Imaginação e que se relacionam com uma Realidade imaginária, como, por exemplo, a Idéia de uma Sereia, a de um Monstro etc.

c. ADVENTÍCIAS – as Idéias que são formadas pelo Cérebro ou Mente a partir “do advento” ou do acontecimento de uma Experiência.
Para o filósofo, o Homem pode conhecer as “Idéias Inatas” – que são a base de todo Saber – voltando-se para seu interior, através de profunda meditação e reflexão.

3. Para os adeptos do Empirismo*, as Idéias são elementos mentais que resultam do processo de abstração (alheamento da realidade física, meditação, reflexão) sobre um Objeto que foi percebido ou captado pelos Sentidos (tato, visão, audição ...).

4. Para Kant (1724/1804) as Idéias são Conceitos ou Definições que “administram ou regulamentam” o funcionamento do Raciocínio, ou Razão. São imprescindíveis e com formas ou formatos que não tem correspondentes no Mundo Físico. As Idéias da RAZÃO PURA (ou do Raciocínio que não sofreu influências de nenhuma percepção captada pelos Sentidos) são aquelas que não tem qualquer associação com o Objetivo (ou material, físico, concreto), mas que são indispensáveis para que a Razão (ou Raciocínio, ou Consciente) funcione corretamente. Pode-se citar das mesmas os seguintes exemplos: a Ideia de Deus; a Idéia da Alma, a Idéia do Mundo Exterior etc.

5. Para Hegel, a “Idéia Absoluta” é a “Verdade Plena do SER”. A unificação do Conceito (ou Noção) com a Realidade é a confirmação de que “Toda a Realidade (ou Real) é uma Idéia”. Veja-se acima “Idealismo Absoluto”.

Por fim, vale citar alguns Conceitos exarados pelos filósofos sobre o termo “Idéia”.

a. Descartes – pela palavra Idéia, entendo tudo o que pode estar em nosso Pensamento.

b. Hume (1711/1776, Escócia) – por Idéias , entendo as imagens enfraquecidas das Impressões no Pensamento e no Raciocínio.
c. Kant – entendo por Ideia, um conceito racional necessário (indispensável) ao qual nenhum objeto que lhe corresponde pode ser dado (ou captado) nos Sentidos.


Ensaio extraído da obra FILOSOFIA SEM MISTÉRIOS - DICIONÁRIO SINTÉTICO, de Fabio Renato Villela - Ed. Seven Books, São Paulo, Brasil.

Obra protegida pela Lei de Direitos Autorais. Proibida qualquer cópia parcial ou integral, por meios existentes ou que venham a existir.

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