terça-feira, 2 de abril de 2013

Gargalo


É tempo da vida
ser tomada no gargalo.
As taças que já existiram
foram se perdendo
em porres e sarjetas
e os poemas já não
brotam das gavetas.

Aonde eu fiquei?
Que rua eu não atravessei?
Quem é esse que recobre no espelho
a alma que um dia eu fui.
Donde veio esse rosto embaçado
de quem não quer ser notado?

As "Causas" já não são incisivas
e nem as "Massas" são pobres cativas
que alguma Revolução manteria vivas.
Em qual dentada
eu cuspi a derradeira ironia?
E quando foi o último coquetel
contra a "Mais Valia"?

Agora só há
essa dor que me alucina.
Essa tristeza que me cobre
como fria neblina,
essa angústia que me isola
como Muralha da China
e essa vontade
de que não haja
a próxima esquina.

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