quarta-feira, 3 de abril de 2013

SHIVA (XIVA) – O “Grande Senhor da Meditação e do Yôga"


Aquilo que para nós, ocidentais, pode parecer apenas miséria, inação ou simples preguiça, tem outro sentido para os milhares de homens indianos que vagam pelas florestas, totalmente despidos e carregando apenas uma vasilha para água. Com os cabelos compridos e desgrenhados, mendigam sua comida e praticam a filosofia e as posturas da YOGA. Alguns os chamam de “Homens Santos”; pessoas que renunciaram ao Mundo, às ambições e às preocupações terrenas para seguirem o ensinamento do Deus da Meditação, o “Lorde” SHIVA.
Buscam pelo ascetismo a Sabedoria e a Iluminação. Seguem o estilo de vida que julgam ser o adotado e pregado por esse deus, que é um dos mais poderosos e seguidos pelos hindus. SHIVA abriga sob a sua filosofia todos aqueles que abdicam de uma vida social para se dedicar apenas ao espírito. É o deus dos humildes, protetor dos mendigos e dos miseráveis. Dentro da TRIMURTI*, cabe-lhe o papel de “Destruidor da Criação”, o que pode ser entendido como a eliminação das excessivas preocupações com a matéria que, por si, é corruptível. Todavia, seus seguidores rejeitam essa função dada a SHIVA; pois acham que ela o associa a uma imagem negativa, o que não condiz com a sua importância. Para eles, SHIVA é o “Deus Supremo”. Uma das formas de BRAHMAN* em sua totalidade. E assim sendo, os SHIVAÍSTAS* veneram-no com exclusividade. Baseiam-se no fato de SHIVA ser muito mais antigo que os outros deuses do panteão; e historiadores corroboram esta tese, pois SHIVA já era um importante deus na Era Pré Védica (anterior à invasão ARIANA), sendo admitido no panteão BRAMÂNICO devido a sua imensa popularidade na época. Suas primeiras representações datam do Período Neolítico (c. 4000 aC.) quando era chamado de PASHUPATI*, o “Senhor dos Animais”, meditando em uma floresta, rodeado de feras que lhe eram dóceis. O SHIVAÍSMO* é essencialmente uma religião da natureza, onde se afirma que os seres humanos não devem ater-se às Normas Humanas, mas sim às da Natureza, na qual os Homens – como todos os outros seres – estão submetidos. Por isto, os sacrifícios e outros rituais – encarados com desdém e repugnância por outras correntes – são naturalmente aceitos pelos seguidores de SHIVA. Esse fato, aliás, é que pode ter contribuído para a má fama da divindade, que em geral é associada a sacrifícios sangrentos, automutilações, ascetismo exacerbado, rituais mágicos e quejandos. Por esse conjunto, o culto a SHIVA encontrou forte resistência doutros ramos do HINDUISMO, principalmente entre os seguidores de BRAHMA* que o consideram anti-social. SHIVA é o deus das montanhas, o símbolo do ascetismo e enquanto é o deus do povo mais humilde, BRAHMA é o das elites. Destarte, SHIVA foi acusado (sic) de repassar os ensinamentos sagrados ao povo e aos delinqüentes que zombam dos valores da sociedade. (Aqui cabe o registro: similar ao que aconteceu com a Igreja Católica pré Reforma que estabelecia que apenas os Sacerdotes (= BRÂMANES) deveriam conhecer as Escrituras. Também se pode relacionar esse temor à popularização dos Conhecimentos, ao medo que as Elites sentiam de perder um potente instrumento de subjugação do povo. Ou, ainda, ao mito grego de PROMETEU, que roubou o fogo (a luz, o esclarecimento) dos deuses e o entregou aos humanos; ao ainda à condenação de Sócrates, acusado de deturpar a juventude, etc.). Porém, dentre todas as perseguições, o golpe mais forte que o SHIVAÍSMO* sofreu veio do ISLAMISMO que invadiu o norte da Índia em várias ocasiões, o que, aliás, foi a principal razão da diáspora dos SHIVAÍSTAS* por todo o país, especialmente rumo ao sul. Seguindo o modelo de SHIVA, seus adeptos espalham em seus corpos, cinzas oriundas das cremações de cadáveres ou fazem riscos horizontais na testa para simbolizar o total desprendimento do mundo material. A simbologia das cinzas relaciona-se com a tese de que o corpo humano está destinado à morte e que, portanto, não vale atender às suas necessidades mundanas. O que importa é o espírito, o autoconhecimento e não a devoção ao físico que é apenas temporário. SHIVA é particularmente venerado, todos os meses, na noite anterior ao dia da lua nova. Além disso, anualmente, no mês de MAGHA (fevereiro/março), um dia e uma noite são devotados ao deus. São datas em que os fieis reservam horas para as orações e rituais. Quando SHIVA é venerado em templos, normalmente é representado sob a forma de um LINGA* (uma espécie de estatueta em forma de falo), que depois do MANTRA “OM”, é o símbolo mais poderoso e popular do HINDUISMO. A forma de falo simboliza o poder da criação de Deus (após a destruição da matéria). A energia masculina que dá origem ao Universo. A base da estatueta representa a genitália feminina, demonstrando que a criação só acontece com a união entre o feminino e o masculino. O LINGA é um amuleto que remonta à Era Pré Védica e ainda hoje muitos o mantém em casa e/ou levam-nos pendurados no pescoço. O formato e a simbologia do LINGA fizeram com que o deus SHIVA, também fosse associado ao sexo e à sensualidade e para os SHIVAÍSTAS*, o prazer obtido com o sexo é uma forma de aproximação com o divino; uma maneira de realizar-se espiritualmente. Porém, a principal veneração não acontece nos templos, festivais ou festas. A YOGA* e a Meditação são os principais caminhos para se encontrar SHIVA. O culto é individual, sendo que cada um deve representá-lo dentro de si e descobrir sua própria natureza interior. Quanto às figurações acerca de SHIVA, pode-se afirmar que as imagens mais populares retratam-no quase sempre meditando, envolto por serpentes e vestindo peles de tigres. Atrás dele aparece o seu fiel companheiro NANDI*, o touro branco. Ao montá-lo, SHIVA domina a violência mundana carregando em uma de suas quatro mãos um tridente com que destrói a natureza brutal dos humanos. Outra famosa representação é o SHIVA DANÇARINO, onde aparece dançando graciosamente dentro de um círculo de fogo. Nela, SHIVA segura um tambor, uma chama e se apóia em um anão, que simboliza o demônio da ignorância humana. É por meio dessa dança que SHIVA mantém a Criação para destruí-la depois. Tudo nasce e tudo morre. Com o tambor em forma de ampulheta, ele marca o ritmo do mundo e o compasso de sua dança. As chamas ao redor do circulo simbolizam a transformação e a destruição (purificadora) do Universo. Além destas figurações, SHIVA é retratado como: asceta extremado; o matador de demônios, envolvido por serpentes e com uma coroa de crânios na cabeça; como um falo, o LINGA*; com quatro braços, sendo que dois são de sua consorte PARVATI*. Esta profusão de representações, por si, indica que muito mais que as outras divindades, SHIVA é uma mistura de cultos, crenças, mitos e deuses que vêem desde a pré história, anterior aos VEDAS. No panteão indiano, como já se escreveu, representa o arquétipo do Asceta, o Deus da libertação, o YOGUE dos YOGUIS; o destruidor da ilusão material e da ignorância humana que anseia pelos bens terrenos. É a terceira divindade da TRIMURTI* e, conforme a tradição vive no monte KAILASA*, no Himalaia, absorto em profunda e continua meditação. Aliás, a ligação de SHIVA com a meditação é absoluta, tanto na Índia quanto noutros lugares. Não se têm certeza sobre a origem dessa conjunção, mas sabe-se que provém de crenças ancestrais. Dos tempos em que ainda era chamado de PASHUPATI*. Por fim, cabe o registro que SHIVA DANÇARINO é epônimo de um importante templo situado na cidade de CIDAMBARAM*.


Para Priscila.

FONTE - Deusas e Deuses Hindus - Fabio Renato Villela - Biblioteca 24x7 Seven System - a venda nas Livrarias CULTURA, em todo Brasil.

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