MARX, Karl Heinrich
1818 – 1883
A história de
todas as Sociedades até hoje existentes é a história da luta de Classes. A
“Luta de Classes”, “A Dialética Materialista ou o Materialismo Dialético”, “A
Mais Valia”, “O Exército de Reserva”, “a Práxis”, “o Manifesto Comunista”, “O Capital
(Das Kapital)”.
Já se disse que tudo que se escreveu sobre Filosofia
não passa de simples “notas de rodapé”
para os textos que Platão redigiu ao
expor o seu Ideário.
Subtraindo-se algum exagero na afirmação, ainda
resta a constatação quase unânime acerca da importância que o sábio grego tem
para a Cultura do Ocidente.
Ressalvando-se as proporções e as circunstâncias,
não será de todo errado dizer o mesmo acerca de MARX. Novamente subtraindo-se
algum exagero, vê-se que o seu Pensamento embasou o Ideário de praticamente
todos os Pensadores Modernos e Contemporâneos.
Seja como adeptos ou como adversários, o certo é que
todos navegaram em suas águas, ao refletirem, investigarem e analisarem as
questões Políticas, o Mundo e a própria Humanidade.
Dessa sorte, nada mais apropriado de que iniciar
essa OBRA com o Ensaio que focaliza esse genial alemão, cuja soma de Erudição,
Cultura, Inteligência e Generosidade, o fez eterno nos anais da história e,
mais importante, perene nos corações de todos aqueles que insistem em sonhar
com um Mundo e uma Sociedade mais justa e fraterna.
Aprendeu-se com ele que o exercício da “Esperança” pode e deve ser estudado com
o rigor da Ciência e que a mudança está sempre ao alcance daqueles que
conseguem libertar-se do egoísmo medíocre que a Moral Burguesa forjou como padrão a ser seguido.
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Na época em que o Brasil era dado como “oficialmente descoberto”, florescia na
Itália o gênio de Nicólo Maquiavel (1469
– 1527) que em c. 1513 já aludia sobre a questão da “Luta de Classes” que permeava as antigas sociedades e,
especialmente, a romana, conforme se lê em sua obra “Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio”.
E vários outros exemplos a pena de Maquiavel poderia
relatar com facilidade, pois o embate sempre esteve presente em todos os Agrupamentos Sociais.
De um lado a “Classe
Dominante”, do outro, a “Classe
Dominada”.
Se antes os antagonistas eram Nobres contra Servos, Aristocratas contra Plebeus, Latifundiários
contra Camponeses etc. a partir da Revolução
Industrial ocorrida no Reino
Unido a partir de meados do século XVIII (e espalhada pelo Mundo desde o
inicio do século XIX), os adversários
passaram a ser englobados em apenas duas categorias:
- A Burguesia*.
- O Proletariado**.
Hodiernamente
várias subcategorias foram estipuladas e outras nomenclaturas foram criadas,
mas o fato é que o litígio continua a ser basicamente o mesmo, pois o que o
motiva permanece intocado: a injustiça
social.
NOTA do AUTOR – pede-se que o
leitor não confunda o conceito de “meritocracia”
com o de “injustiça”, pois se é
plenamente aceitável que cada qual ganhe de acordo com seu talento e com seu
esforço, é profundamente questionável que alguns que vivam nababescamente
apenas por terem nascido em lares ricos (e que por isso, tiveram boa
educação, alimentação condizente, boas condições de moradia etc.) e disputem com
trunfos indevidos os empregos, as vagas universitárias, as posições sociais
etc. com aqueles que por infortúnio foram gerados e criados em lares carentes.
Ou ainda pior, que vivam em fausto injusto apenas porque herdaram a sua fortuna
sem terem feito absolutamente nada para merecerem a vida confortável que levam.
Note-se, pois, que o conceito de “Injustiça
Social” não implica em fazer com que todos sejam nivelados por baixo, mas
justamente o contrário. “Justiça Social”
é dar oportunidades efetivas para que todos possam buscar a própria realização.
Aqui chegados,
será oportuno uma palavra acerca da gênese da citada “Injustiça Social”. O que
leva o Homem a comportar-se como um simples animal, cujo interesse é apenas a
sua própria satisfação?
Provavelmente é
exatamente essa sua condição de “animal”. Milênios de civilização não foram suficientes
para apagar em nossa psique alguns instintos animalescos. Ainda continuamos a
preservar com ferocidade o “nosso espaço”, a “nossa comida” e a satisfação de
nossas necessidades mais básicas, físicas, materiais.
É certo que tais
instintos, por força da repressão social, foram atenuados e alguns sentimentos
mais nobres afloram em algumas ocasiões. Mas no intimo somos escravizados por
nossas ambições, por nossa ganância, por nosso medo de sermos rejeitados se
nada possuirmos. Somos, ao cabo, escravizados pelo pavor de nos sabermos
frágeis e de que só existimos quando refletidos em posses e propriedades.
A partir, então,
dessa constatação é possível ver que a “Justiça Social” nunca poderia ocorrer
de forma voluntaria, espontânea, pacifica, pois quantos se disporiam a abrir
mãos de seus bens em favor da coletividade?
Logo, a “Luta de
Classes” será perene, pois aqueles que possuem os “Bens Materiais” tudo farão
para mantê-los e aumentá-los;
enquanto aqueles que não os possuem, tudo farão para conquistá-los.
É como uma sina
da humanidade, permeada por violências de toda sorte, que certamente ainda terá
um longo caminho a percorrer até que consiga se libertar da bestialidade de seu
comportamento atávico.
Alguns otimistas
veem, ou querem ver, um abrandamento dessa natureza selvagem. Alguns pessimistas,
ou realistas, julgam-na em aumento constante devido ao endeusamento ao Poder
Material que a cada dia mais se consolida em nossa sociedade.
São pontos de
vista que derivam e se deixam à escolha, mas o certo é que os motivos de antes
ainda estão presentes e atuantes e com isso se vê a atualidade da obra
marxista. Aliás, tanto quanto a necessidade de estudá-la sem pré-julgamentos,
ou pré-conceitos, pois talvez a apreensão da nossa verdade seja o único caminho
que poderá nos oferecer alguma perspectiva positiva.
Karl foi o segundo a nascer em uma prole de nove
filhos. Veio ao Mundo no seio de uma família judaica, de classe média, na
cidade Tréveris, na Prússia, então parte do Império Alemão.
Henriette
Pressburg, sua mãe, era judia holandesa
e seu pai, Herschel MARX, descendia
de uma linhagem de Rabinos, mas teve
que abandoná-la e se converter ao Cristianismo
em decorrência das restrições que se faziam ao ingresso de hebreus no Serviço Público,
onde ele, advogado por oficio, exerceu o cargo de Conselheiro de Justiça.
Apesar dessa apostasia, o cargo permitiu-lhe oferecer
boas condições materiais ao jovem Karl e aos seus irmãos e irmãs que
desfrutaram de uma infância confortável e do acesso a boas escolas. Ele iniciou
seus estudos no Liceu de Friedrich Wilhelm,
na cidade natal, e como nesse mesmo ano eclodiram rebeliões em várias nações
europeias, pode-se dizer que sua entrada no “Mundo
exterior, ou adulto” foi marcada pela ocorrência daqueles Movimentos Políticos que no Futuro
embasariam o cerne de seu Pensamento.
Posteriormente
o jovem MARX ingressou na Universidade de Bonn
para estudar Direito, mas logo no ano
seguinte transferiu-se para a Universidade de Berlim onde teve contato com a Filosofia de Hegel (Georg W.
Friedrich, 1770 – 1831, que foi Professor e Reitor da Instituição) que exerceu uma influência decisiva em seu Ideário
posterior.
Na
capital alemã, MARX ingressou no Clube
dos Doutores, liderado por Bruno
Bauer e abandonou definitivamente o estudo das Leis para abraçar o de Filosofia.
Também
nessa ocasião participou ativamente de Movimentos Políticos Filosóficos como Os
Jovens Hegelianos e começou a exercitar de maneira sistemática seus
dons literários.
Em
1841, obteve o titulo de “Doutor em Filosofia”
após defender a tese sobre “As diferenças
da Filosofia da Natureza em Demócrito
e em Epicuro”. Porém, tendo sido impedido de seguir a carreira acadêmica,
tornou-se em 1842 o Redator-Chefe da “Gazeta
Renana”, um pequeno jornal da Província de Colônia, Alemanha.
Também
em 1842 conheceu Friedrich Engels (Inglaterra, 1820 - 1895) com quem manteve fraterna amizade e parceria política e literária por mais de
quatro décadas e que chegou a lhe sobreviver, pois foi o amigo Engels quem se
incumbiu de Editar suas obras, após o seu falecimento.
Sobre
a amizade de Engels é oportuno que se diga que em várias ocasiões ele atuou
como um verdadeiro mecenas ao socorrer MARX que vivia em constantes apuros financeiros.
E, também, que não são poucos os Eruditos que lhe creditam um papel essencial
no desenvolvimento do Pensamento Marxista,
já que além de sua importante participação no campo teórico e literário – tendo
sido inclusive o coautor de vários textos – foi graças à sua generosidade que o
brilho de gênio de Karl não terminou sufocado pelas preocupações menores das
exigências do cotidiano.
Envolvimento Político
Em
1843 a Gazeta Renana foi fechada por
ordem do Governo, em represália a uma serie de artigos que criticavam duramente
a Administração Prussiana.
Desempregado,
MARX e a família emigraram para a França. Família, aliás, que ele iniciara em
Junho desse ano ao se casar com Jenny
Von Westphalen, filha de um barão prussiano, com quem mantivera um noivado
secreto em virtude da desaprovação que as famílias de ambos tinham do relacionamento.
Em
Paris, MARX assumiu a direção da revista Anais
Franco Alemães e manteve contato com diversas organizações secretas de Socialistas.
Na
vida pessoal (primeiro em França e depois em Londres) as condições eram
dificílimas e em virtude da penúria recorrente em que vivia a família, o casal
perdeu quatro dos sete filhos que gerou. Outro filho de MARX – o fruto de uma
relação extraconjugal com uma empregada da casa e militante socialista chamada Helena Demuth – foi assumido por
Engels, que pagou pensão à criança e a entregou para uma família Proletária
londrina em adoção.
No
terreno da Política, ainda em 1843, MARX fez contato com a Liga dos Justos, que
depois foi rebatizada como Liga dos Comunistas; e em 1844 iniciou
efetivamente a parceria de trabalho com o amigo Engels.
Também
nessa ocasião inicia uma série de debates com o Filósofo Proudhon (Pierre Joseph, 18909 – 1865, francês) e um proveitoso
relacionamento com o Anarquista russo chamado Bakunin (Mikhail Aleksandrovitch, 1814 – 187, Rússia), ativo
militante Socialista que havia se
refugiado na França do Czarismo russo.
Esses
encontros, debates e relacionamentos completavam os estudos que MARX realizava
continuamente sobre a Economia Política,
os Socialistas Utópicos Franceses e a História da França e foi desse conjunto de informações e reflexões
que nasceu a sua primeira obra de reconhecida importância – Manuscritos de Paris, posteriormente chamados
de Manuscritos Econômico Filosóficos, e, segundo Engels, a sua convicta
adesão às Ideias Socialistas.
Ainda
em Paris, MARX ajudou a editar um pequeno jornal – Vorwarts! – que tinha
como linha editorial a critica constante ao Governo alemão. E por causa dessa
postura, MARX acabou sendo expulso do país em 1845, a pedido da Prússia.
Da
França emigrou para a Bélgica e em Bruxelas encontrou-se com Engels que também
se mudara para lá. Ali, a dupla redigiu o célebre Manifesto Comunista, que
traz a essência do Pensamento Marxista.
Porém,
em 1848 o Filósofo também foi expulso da Bélgica e junto do amigo e parceiro
mudou-se para Colônia onde fundaram um novo jornal – Nova Gazeta Renana – cuja
linha editorial era a mesma das publicações anteriores, não poupando de censuras
as autoridades locais que em resposta os expulsaram no ano seguinte, 1949.
Apesar
das mudanças, MARX pôde dar nos últimos anos boas condições materiais para a
família graças aos rendimentos que auferia com suas publicações e com as doações
que recebia de amigos e aliados, além da herança que recebeu com a morte do
pai.
Porém,
ao deixar Colônia, a penúria voltou a lhe assombrar e só a muito custo a
família conseguiu retornar a Paris, mas ali o Governo proibiu a sua
permanência. Foi necessária, então, uma campanha de arrecadação de fundos,
promovida por Ferdinand Lassalle
(considerado o precursor da Social Democracia alemã, 1825 – 1864), na Alemanha
para que com os recursos obtidos a família pudesse chegar a Londres onde se
fixaram em definitivo.
A partir de 1881, deprimido pela morte da esposa,
MARX viu seus problemas de saúde se agravarem até que em 1883 veio a falecer.
Foi enterrado no cemitério londrino de High Gate, na condição de apátrida.
Ironicamente, porém, o fato de lhe terem negado uma nacionalidade fez justiça à
universalidade de se gênio. Uma inteligência como a sua não poderia ficar
restrita a um só País. Pertence a todos os povos.
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O Pensamento de MARX
Para não fugir à regra das ideias brilhantes que só
fulguram após a morte de quem as teve, às de MARX tiveram pouca repercussão
enquanto o Filósofo viveu.
O interesse mais significativo ocorreu na Rússia que
já vinha experimentando uma série de contestações ao Regime Monárquico dos Czares, mas sem que houvesse uma ideologia
capaz de catalisar todas as insatisfações.
Ali, em 1872, foi publicada a primeira tradução de O Capital – Tomo I. Na Alemanha, porém,
só em 1879 é que a sua obra começou a ser conhecida graças ao estudioso de Economia Política Adolph Wagner, que comentou o Ideário
Marxista ao longo de sua obra, Allgemeine
Oder Theoretische Volkswirthschafts Lehre.
Contudo e graças a esse impulso inicial, o Pensamento Marxista ganhou fôlego e
pouco após a morte do Filósofo, as suas teorias já obtinham crescente
influência intelectual e política entre os Movimentos
Operários que ao final do século XIX tinham no Partido Social Democrático Alemão a sua principal arena de debates.
Influência que também crescia, embora com menos
ímpeto, entre os círculos acadêmicos ligados aos estudos das Ciências Humanas (Filosofia,
Antropologia, Sociologia, Política, História etc.), principalmente nas Universidades de Viena e de
Roma, que foram, aliás, as pioneiras em ofertar cursos sobre o Marxismo.
É consenso que MARX é legitimo continuador da grande
Filosofia alemã, ombreando com Kant e
Hegel e aproximando-se de Pensadores do porte de Aristóteles, de quem era adepto. Todavia, embora ele seja comparado
a Hegel e sendo dele um sincero admirador, MARX discordava de sua Filosofia Idealista, através da qual se
afirmava que “da Realidade se faz
Filosofia”; ou seja, a Filosofia é apenas uma reflexão passiva
sobre uma conjuntura colocada.
Afinal, para ele, MARX, a “Filosofia deve incidir sobre a Realidade”; isto é, não basta que ela divague ou que especule, ou que pense
sobre a Realidade. Cabe à Filosofia alterar essa Realidade.
Segundo ele, para “mudar o Mundo” é imperioso vincular o Pensamento, a Teoria, com a
Prática, com a Ação Revolucionária (aqui no sentido de revolucionar, ou mudar drasticamente,
completamente, os valores, os costumes, os padrões etc.). Vinculação que MARX conceituou, ou definiu como Práxis:
a união entre a Teoria e a Ação, como veremos adiante.
Com o avanço nos estudos sobre as Ideias de MARX,
inúmeras variantes surgiram e sua Teoria ganhou uma série de novos conceitos,
subconceitos, variantes etc. Contudo, o cerne de sua Tese é a censura radical
às Sociedades Capitalistas.
Todavia, a sua genialidade criou o diferencial que
não a deixa cair na vala comum das criticas que se esgotam em bravatas
estéreis.
MARX, aliás, se posiciona contra essa inútil rebeldia
e avança em sua oposição ao combater qualquer separação entre a Teoria e a
Prática, entre o Pensamento e a Realidade, pois essa divisão é uma mera
abstração, já que o corpo e a mente estão indissoluvelmente ligados e perfazem
uma totalidade complexa.
Para ele, a Revolução
pensada, sonhada, desejada deve ser realizada
concretamente sob a pena de não ter passado de uma tola e infantil, senão
covarde, rebeldia. E justamente por conta desse apego aos fatores físicos é que
o Marxismo é formado segundo a ideia
de que a História Humana foi e é determinada
pelas circunstâncias materiais, físicas, concretas e Não pelo “progresso do espírito”, pela “evolução da mente”, pelo “desenvolvimento do pensamento”.
Contudo, apesar de conceder essa supremacia à Matéria em detrimento das Ideias, a Doutrina rejeita qualquer noção de Determinismo (ie, a noçao de
que os fatos, os objetos, os Seres são da maneira que são por um desígnio
“divino”, ou da “natureza”, independentemente da vontade e da participação humana).
Dessa sorte, não é possível entender os conceitos Marxistas (por exemplo – “Força Produtiva”,
“Mais-Valia” etc.) sem se
considerar que o Processo Histórico*
é feito pelo movimento dos fatos e circunstâncias concretas, materiais e Não
por conceitos abstratos, já que estes são apenas o reflexo da Realidade física,
ou uma “Abstração do Real”.
Para MARX, o Trabalho
(intelectual, braçal, primário, complexo
etc.) é o centro da atividade humana. É a base, a fundação sobre a qual se
assenta a própria humanidade, já que é das Relações
de Trabalho, ou Relações de Produção,
que surgem todas as outras relações (as
“Relações Sociais”) entre os indivíduos, embasando, por sua vez, todo o
processo de formação da humanidade. A História,
pois, é o registro das Relações de
Produção, ou de Trabalho, posto que essas que governam todas as demais.
A partir da importância dada ao Trabalho é que o Filósofo desenvolveu sua tese que identifica a Alienação* do trabalho como a alienação
básica que acontece em todas as outras áreas.
Alienação* - é um processo relacionado à
ação, à consciência e à situação do Homem, cujo objetivo é ocultar ou falsificar
essa relação ou ligação entre “Ação e Consciência” e com isso fazer parecer que
o produto, ou a mercadoria produzida, é superior, independente, indiferente ao
Homem que a produziu. Mais especificamente, é a situação resultante de fatores
e circunstâncias materiais, concretas que são dominantes nas Sociedades
Capitalistas em que o trabalho do Homem é feito de modo que produza coisas
(objetos, mercadorias, produtos) que são imediatamente separadas de seus
interesses e colocadas além de seu alcance (o operário que produz um carro de
luxo é um exemplo clássico dessa situação), para se transformarem
indistintamente em simples mercadorias.
A partir dessa base filosófica é que MARX pensa
sobre as outras Ciências, cujo estudo, aliás, foi profundamente influenciado pela
sua compreensão da Realidade, a qual, aliás, é sobejamente reconhecida por sua
consistência.
As Influências
Para formatar seu Ideário, MARX sorveu partes dos
Pensamentos de alguns Eruditos. Dentre outros, citaremos a seguir aqueles de maior
importância:
- A Filosofia alemã de Kant, Hegel e a dos chamados Neo-Hegelianos, com ênfase em Feuerbach.
- o Socialismo Utópico de Saint-Simon, Robert Owen, Louis Blanc e Proudhon. Sobre este último, aliás,
paira a dúvida sobre o acerto de incluí-lo na malta dos Utópicos, haja vista sua posição favorável à radicalização
política.
- a Economia Clássica dos britânicos, Adam Smith, David Ricardo e mais
alguns.
Adiante abordaremos estas influências separadamente,
embora devam ser compreendidas como complementares na formação de seu Sistema Político Filosófico; bem como outros aspectos relevantes
do Sistema.
A Formação das Classes Sociais
No berço da civilização os indivíduos eram os responsáveis
diretos por produzir tudo de que necessitassem (comida, roupas, armas,
utensílios etc.) para si mesmos e para os seus mais próximos.
Quando as primeiras Sociedades começaram a se
organizar, as pessoas passaram a contar com o labor das outras e cada qual
passou a fazer aquilo que melhor se lhe adaptava.
Essa estruturação levou ao surgimento do “escambo” e/ou das “barganhas” no qual fulano trocava o que produzira por aquilo de
que necessitava e que fora produzido por sicrano. Uma forma rudimentar de “Relações Comerciais” que foi
magistralmente descrito pelo Economista Adam
Smith (Escócia, 1723 – 1790).
MARX concordava com a afirmativa do escocês de que foi
justamente nesse momento que se iniciou a “Especialização
no Trabalho”, mas ressaltava que essa mesma especialização também passou a lhes servir como rótulo, ou classificação.
Passou a definir as suas posições dentro do contexto social.
Qualquer que seja a especialização, ou ocupação, ou
profissão (desde
a de um humilde lavrador até a de um iminente Jurista) passou a servir (e em alguns casos para justificar
conceitos e pré-conceitos) como indicativo
de como seria a vida física, material, de seu titular. Passou a servir para
ditar onde e como esse indivíduo moraria, o quê comeria, o quê vestiria etc.
Ademais, impunha com quem o sujeito poderia, ou não,
se relacionar, compartilhar seus interesses. E contra quem os seus interesses
colidiriam. Passou a determinar quem seriam os seus aliados e os seus
adversários.
Estava, pois, arquitetado o “Sistema de Classes
Socioeconômicas” que é à base de todo Regime Capitalista, pois nele o que diferencia um indivíduo do outro
é a quantidade de Capital (oriundo inclusive
da profissão que se tem) que cada qual
possui.
De acordo com MARX, houve quatro estágios na
história humana que se vinculam às quatro diferentes formas que teve o Regime de Propriedade. A saber:
- Sistema Tribal (a
propriedade era comum, da coletividade)
- Sistema de Propriedade Comunal e
Estatal (onde teve inicio a Propriedade
Privada e a Escravidão).
- Sistema Feudal de Propriedade (onde
a titularidade da propriedade era de um único Senhor).
- Sistema Capitalista Moderno (em
que a propriedade está concentrada nas mãos de quem detém o Capital).
Cada um desses estágios, segundo o Filósofo, representa
uma forma diferente de Sistema Econômico,
ou de Modo de Produção e as
transições de um para o seguinte são marcadas por acontecimentos políticos
turbulentos – como guerras, revoluções etc. – que levaram às quedas de Classes Dominantes com as previsíveis
substituições pelos vencedores dos conflitos.
Valores da Burguesia
Além das óbvias implicações econômicas, para MARX,
outra característica dessas alterações no Regime
de Propriedade é o fato de que a Burguesia
– enquanto a máxima controladora desse processo – não deixou sobreviver nenhuma
ligação entre as pessoas que Não
fosse o “interesse próprio, escancarado”.
Forçou a substituição da antiga solidariedade, pela acirrada competição. Impôs
que doravante só existiria o “desumano
pagamento em dinheiro”, com o consequente fim do escambo, ou da simples troca
de favores.
Anteriormente as pessoas eram valorizadas, estimadas,
queridas pelo que eram e pelo que
faziam. O exercício do trabalho artesanal, aliás, era uma das principais fontes
desse reconhecimento, pois a habilidade do indivíduo ao prestar o seu oficio e
a serventia do mesmo para a coletividade, garantiam ao mesmo o respeito e a
valorização dos demais.
Porém com a ascensão burguesa o valor da pessoa
reduziu-se a um mero “valor de troca”.
Valores morais, éticos, religiosos e até os sentimentais foram eliminados,
esquecidos, enquanto se dava o Processo que transformava a todos (de Cientistas a Poetas, de Engenheiros a
Padres) em simples e anônimos “trabalhadores
assalariados”.
Segundo MARX, onde havia “ilusões religiosas”, a
Burguesia as substituiu pela “exploração
descarada, direta, brutal de um homem por outro homem”. Decretos e Leis que
antes protegiam as “Liberdades Individuais”
foram sumariamente atropelados por uma falsa e irracional “Liberdade de Mercado”, pela
noção de “Livre Comércio”.
Desse modo, para o Filósofo, a única solução seria
que todos os “Meios de Produção” – a terra, as fábricas, as máquinas, as
ferramentas, o Capital etc. – fossem transformados em “Propriedade Coletiva”,
pois, então, cada indivíduo poderia trabalhar conforme a sua capacidade e sua
habilidade e poderia consumir conforme a sua real necessidade, sem os
penduricalhos fúteis que a Propaganda
Capitalista torna “necessários”
através da “lavagem cerebral” que faz
no Proletariado, o qual, novamente,
torna-se vitima devido a essa outra forma de exploração.
Instituições Culturais
Segundo MARX, uma análise da base econômica de uma Sociedade nos permite saber que quando o Sistema de Propriedade se altera (quando, por exemplo,
as riquezas passam das mãos da nobreza para as da burguesia) também se altera a Superestrutura* da mesma.
NOTAS do AUTOR - *Superestrutura – a política, as leis, a Filosofia, a arte, a
religião etc. O conjunto de elementos e valores abstratos pertencentes e diretivos
de uma Sociedade.
Tomando-se o
exemplo de Nobres e Burgueses vê-se com clareza, no campo das Artes esse tipo
de alteração. A música, por exemplo, da Nobreza caracterizava-se por certo
requinte, densidade, elegância e outros atributos considerados superiores. Já a
da Burguesia passa a expressar nas “modas populares” a indigência intelectual e
artística que a falta de educação e de cultura ocasiona no gosto e na
sensibilidade das pessoas. Ainda que as tais sejam as novas detentoras do Poder
Econômico. Aliás, é comum o sarcasmo com que é visto o gosto duvidoso dos chamados
“novos ricos”.
Como se sabe, a Superestrutura
(enquanto conjunto de
ideias, valores, conceitos etc. que norteiam uma Sociedade) se desenvolve para servir aos interesses da Classe Dominante, promovendo as “suas verdades” e “legitimando” as suas aspirações e os seus atos, enquanto desvia a
atenção do Proletariado das efetivas
questões socioeconômicas.
Todavia, nem mesmo essa Classe Dominante é quem, de fato, determina os acontecimentos ou as
próprias Instituições.
O que efetivamente controla, organiza e determina os
fatos de uma época é aquilo que Hegel
chamava de Zeit, ou “Espírito da
Época”, o qual, ao cabo, seria o resultado da soma, ou da média, das noções
individuais dos cidadãos do lugar e do momento.
MARX concordava parcialmente com a ideia hegeliana,
mas onde Hegel via o Zeitgeist
como um “Espírito Absoluto (ie, o predomínio absoluto das
ideias, da mente, da abstração)”
que se desenvolve ao longo do tempo, ele enxergava esse “Espírito da Época” como a resultante das Relações Socioeconômicas existentes entre os indivíduos e os grupos
que nela habitavam. Tais Relações é
que formavam de fato o Ideário daquele momento, ou a Consciência (ou conscientização) de indivíduos e Sociedades. Para
MARX, as pessoas Não deixam uma marca pessoal em seu tempo, moldando-o segundo
sua vontade. Ao contrário, é o momento, ou a época, que moldam os indivíduos e
os Grupos Sociais.
Essa revisão que Max fez na Filosofia Hegeliana – do “Espírito Absoluto” para os
“Modos de Produção” e as “Relações Socioeconômicas” como a formadora do
“Espírito da Época” – foi
seguramente influenciada pela Filosofia de outro alemão, Feuerbach (Ludwig, 1804 – 1872), cuja tese central consistia na
crença de que a Religião é uma
sórdida farsa, que não pode ser amparada por nenhum Pensamento Lógico Racional, e que contribui decisivamente para
manter a miséria humana.
Para Feuerbach, as pessoas criam “Deuses” ou “Deus” à sua imagem e semelhança (a
ironia do mesmo não foi aleatória)
e lhes atribuem as grandes virtudes (generosidade,
inteligência, justiça etc.) da Humanidade.
A partir de então se apegam a estas Entidades
Divinas que inventaram e optam em viver “sonhos”
ao invés do Mundo Real.
NOTA
do AUTOR
– outro Filósofo, Nietzsche, sobre
essas invenções, disse que eles “são
humanos, demasiado humanos”; ou seja, sua gênese nada tem de Divina, pois
não passam de meras criações da mente humana, cujas origens, com o tempo são
esquecidas e, então, atribuídas ao Divino. As pessoas se alienam de si mesma
por meio de uma comparação sempre desfavorável entre seu próprio “eu” e o
“Deus” que elas criaram.
A Influência do Idealismo (ou de Hegel)
Dois pontos na Filosofia hegeliana influenciaram
deveras o jovem MARX: a Filosofia da História e a Dialética.
Hegel, como se sabe, adotava o conceito de Devir
criado pelo Filósofo pré-socrático Heráclito. Assim, para ele, nada no
Mundo é estático, fixo, imóvel. Ao contrário, tudo está em constante movimento,
em perpétuo processo de vir-a-ser.
Portanto, tudo é histórico.
O Sujeito
desse Mundo em Movimento é o Espírito
do Mundo (ou a Superalma, ou a Consciência Absoluta) que, em essência, é a soma ou a média das Consciências Individuais (ie, a
Consciência de cada homem).
É a representação da Consciência Humana Geral,
comum a todos os indivíduos, pois inobstante as diferenças pontuais, todos os
homens possuem uma essência em comum. Representação que também é expressa no
formato de Deus.
A história, segundo essa teoria, é entendida como o
desenvolvimento, ou o progresso das Ideias,
do Espírito, da Mente. É o desenvolvimento, ao cabo, da Consciência da Liberdade*,
já que após percorrer uma trajetória – ou a sua história – a Consciência individual
liberta-se
do jugo da matéria e da servidão ocasionada pela ignorância.
Consciência da Liberdade* - conceito que
pode ser mais bem entendido da seguinte maneira: a formatação da Sociedade em seus aspectos concretos, físicos,
materiais, obedece às normas ditadas pelas Ideias; ou seja, a Realidade é formada pelas ideias e concepções humanas
que concebem como deve ser a Vida Social em função do conflito existente entre Ideias
de Liberdade versus Ideias de Coerção, que são as imposições que o remanescente
instinto animal impõe ao Homem. O Ser Humano se liberta progressivamente desses
baixos instintos através de um processo de espiritualização, ou de evolução mental. Processo que em resumo é um conjunto
de reflexões filosóficas que o leva a perceber que é o Sujeito efetivo da
história (ou da realidade, da sua própria existência).
Durante algum tempo, MARX seguiu a Corrente dos hegelianos de esquerda, mas rompeu com o
grupo e efetuou uma severa revisão em seus conceitos baseados na Teoria de
Hegel, após se aproximar das teses de Feuerbach*.
Ludwig Feuerbach – Filósofo materialista que gozou
de muita popularidade entre os Intelectuais que lhes foram contemporâneos. Em
1841, publicou a “Essência do Cristianismo”
que teve influência decisiva sobre MARX, sobre Engels e outros “jovens
hegelianos”. Nessa obra, Feuerbach critica duramente o Ideário de Hegel e
afirma que a Religião não passa de uma projeção dos desejos humanos e numa
forma de alienação. Foi através de sua leitura que MARX concluiu que a
“Dialética Hegeliana” estaria de “cabeça para baixo” porque mostra o Homem como
um atributo do Pensamento, ao invés de ser o Pensamento um atributo humano.
Porém, de antes, MARX conservou a concepção de que a
história é uma marcha, uma caminhada dialética
(ie,
o Mundo está em movimento contínuo graças aos atritos entre os opostos [tese x
antítese = síntese] não sendo, portanto, estático), mas passou a rejeitar peremptoriamente a ideia de
que o Espírito ou Mente do Mundo é a
essência, ou o sujeito do mesmo.
Propôs que a origem da Realidade Social (ou seja, os
fatos, as circunstâncias, as situações que comandam o Grupo Social) Não
está nas Ideias, na Consciência que os Homens têm dessa Realidade. Está, sim,
na ação concreta, física, da humanidade, ou no Trabalho do Homem.
Afinal, a existência material vem antes de qualquer
Pensamento e não há a menor possibilidade de se Pensar em algo que não existe
concretamente.
NOTA do AUTOR – note-se nesse último parágrafo
uma das sementes do futuro Existencialismo.
NOTA do AUTOR – alguns discordam dessa afirmativa
de que é impossível pensar em algo que não existe concretamente, pois alegam
ser viável pensar sobre um Sentimento como, por exemplo, a “saudade”. Outros
rebatem, dizendo que não se pensa sobre a “saudade em si”, mas apenas sobre
quem ou o quê a causou; reflete-se,
portanto, sobre um Ser, um Lugar etc. que são físicos, concretos, materiais.
Como se disse anteriormente, MARX disse jocosamente
sobre a Dialética de Hegel de que ela
estaria de “cabeça para baixo” e que
era necessário inverter o eixo da mesma, colocando na Materialidade e não nas Ideias
a gênese do Movimento Histórico que
forma o Mundo.
A partir dessa inversão é que ele elabora um dos conceitos
chaves de seu Pensamento: A Dialética Materialista,
também chamada de Materialismo Dialético.
A Influência do Socialismo Utópico.
Na época de MARX, costumava-se chamar de Socialismo
Utópico o conjunto de Doutrinas (algumas antagônicas entre si) que tinham em comum as seguintes características:
1 – A base do comportamento humano é determinada
pela Moral e pela ideologia
2 – O desenvolvimento da Civilização Ocidental já
permitia o aparecimento de uma “Nova Era”,
na qual imperariam a harmonia e a Justiça
Social.
MARX foi severo em suas censuras aos Socialistas Utópicos (particularmente
com os franceses como o Conde de
Saint-Simon de quem, aliás, foi um acirrado polemista), a quem acusava de serem excessivamente ingênuos e
românticos e de serem inertes e omissos pelo pouco, ou nada, que faziam para se
ter um estudo sério e profundo sobre a conjuntura social e a consequente
alteração que fosse necessária.
Segundo ele, os Utópicos
eram pródigos em falar sobre como deveria ser a Sociedade Ideal, porém, eram mesquinhos em apontar as maneiras
efetivas que levassem àquela Sociedade harmônica e justa.
Contudo, não obstante suas criticas, MARX adotou
(implícita ou explicitamente) algumas concepções desse grupo de Pensadores, das
quais se pode citar, entre outras, a ideia de que o aumento na oferta dos
produtos por obra da Revolução Industrial
permite maior conforto ao homem; ou,
a noção de que as crenças ideológicas do indivíduo influem em seu
comportamento.
A Utopia Marxista
O termo Utopia
foi criado por Thomas Morus ou More
(Inglaterra, 1478 – 1535) e aqui será usado com um significado diferente do
pretendido original, mas consagrado pelo uso popular. Originalmente o termo
significava “lugar nenhum”, mas o
estilo coloquial transformou-o em sinônimo de “quimera”, “ideal”; ie, algo extremamente positivo, desejável,
embora inatingível.
O fato é que as pretensões de MARX demonstravam
certa ingenuidade ao supor que o Homem poderia evoluir de seu egoísmo animal
para uma solidariedade angelical, ou pelo menos humanitária, que permitiria o
bem-estar geral.
Todavia, essa ingenuidade, para muitos, não deve ser
vista apenas como algo negativo, pois foi esse sonho idílico que embalou – e ainda embala – as aspirações de um
vasto número de admiradores e de adeptos ao “Ideal
Socialista”, permitindo a existência de uma alternativa à rudeza do Capitalismo.
E também, apesar de sua insuficiência, por ensejar o
avanço em algumas práticas e costumes que tiveram o mérito de suavizar em
alguma medida os horrores da miséria em vive o Proletariado sob o jugo da Burguesia.
A Influência da Economia Clássica
Devido à importância que dava ao aspecto material
como formador e condicionante das relações entre os membros de um grupo de
pessoas, MARX não titubeou em estudar com afinco as Teorias Econômicas Ocidentais
– desde as da Grécia antiga até as que lhe eram contemporâneas – pois
intuía a necessidade de conhecer sobejamente tais fundamentos para, num segundo
momento, modificar-lhes em consonância com o seu ideal de Justiça Socioeconômica.
Dentre outros, o Filósofo mostrou-se admirador dos
Economistas Políticos britânicos, Adam
Smith (Escócia, 1723 – 1790) e David
Ricardo (Inglaterra, 1772 – 1823), a quem, aliás, coube a sua predileção e
de quem ele sorveu algumas ideias que posteriormente revisou e reinterpretou.
Dessa re-elaboração é que provieram, por exemplo,
conceitos como o da Mais Valia, do Fetiche (ambas oriundas da “Teoria do Valor”,
elaborada pelo inglês), da Divisão Social do Trabalho, da Acumulação Primitiva etc.
Lisonjeiro, MARX se referia a Ricardo como “o maior dos
Economistas Clássicos”. Elogio que não estendia a Smith, embora dele também houvesse tomado algumas concepções.
O grau de influência que ambos, especialmente Ricardo, exerceram sobre o Ideário
Marxista nunca encontrou consenso. Eruditos neo-Ricardianos
consideram que há uma enorme semelhança entre o Pensamento de seu guru e o de
MARX, mas os estudiosos do Marxismo
minimizam essa similitude e apontam diferenças cruciais entre os dois Sistemas.
Metodologia
Uma critica recorrente que se faz à obra de MARX
refere-se ao fato de que ele não criou (tampouco seguiu, é óbvio) um Método para expor suas reflexões sobre
seus Objetos de Estudo; ou seja, as Ciências Sociais (Filosofia, Política, História, Sociologia etc.).
Com efeito, o Filósofo nunca se preocupou em seguir
um roteiro, preferindo consignar suas dispersas reflexões em obras variadas.
Com isso, arriscamos dizer, criou o seu próprio
método (tão heterodoxo e singular quanto suas ideias) através das criticas que
fez ao Idealismo Especulativo de Hegel
e à Economia Política Clássica.
Como já se disse, para MARX, Hegel e seus seguidores
criaram uma Dialética Mistificada
cuja intenção era explicar especulativamente (ie, apenas por meio de ilações,
deduções, divagações, reflexões sem quaisquer dados concretos que apoiassem
essas “operações mentais”) a história
mundial, afirmando que a mesma era uma autodesenvolvimento da Ideia Absoluta (ou do exclusivo
desenvolvimento mental, espiritual da humanidade).
Em relação aos Economistas
Clássicos, a censura se concentrava no fato de que eles naturalizavam e
desistoriciavam o Modo de Produção
Capitalista enxergando-o como se ele fosse natural (ie, como se
fosse uma imposição inquestionável da natureza);
assim como a exploração que a Burguesia praticava
contra o Proletariado. Para tanto,
apoiavam-se em um conceito abstrato denominado de “Homo Economicus”.
Conceito que além de abstrato era eivado de questionamentos.
Por esse motivo, esses Pensadores da
Economia Clássica recorriam amiúde a “Robsonadas
(de
Robson Crusoé e suas narrativas sobre o escambo primitivo entre caçadores e
pescadores)” para ilustrarem um
presumível primarismo econômico do Proletariado,
que justificaria, ao cabo, a sua exploração (sic).
NOTA do AUTOR –
essa visão de que seria justificável a dominação e a exploração de um homem por
outro homem é filha do antigo conceito do “Direito
Divino”; ou seja, por razões desconhecidas um suposto “Ser Supremo” escolhe
a seu critério um indivíduo, ou um grupo deles, para dominar e explorar os
outros Seres. Mesmo que os tais não tenham a menor qualificação para tanto.
Assim, segundo essa “Lei”, o felizardo não precisaria ser hábil, nem probo, nem
inteligente, nem generoso etc. Bastar-lhe-ia ter tido a sorte de nascer na
“Classe Social Correta (sic)”.
Todavia, inobstante a discordância que mantinha de
suas teses, MARX não considerava os Economistas
Clássicos como mal intencionados. Afirmava que a mistificação que faziam
era oriunda do “Fetichismo à Mercadoria”, ou da adoração mística a um produto.
Um comportamento irracional, mas tão atrelado ao espírito humano que acabou
sendo considerado normal.
Em oposição a essa irracionalidade, MARX propunha um
estudo aprofundado, sério, objetivo, sobre a história (ou sobre a
trajetória, marcha) do desenvolvimento
das Formas de Produção, enquanto
organizadora das Relações Sociais,
para que através desse conhecimento fosse possível alterar o que houvesse de
errado e se pudesse atingir a justiça e a harmonia desejada.
A Crítica da Religião
Ao contrário do que se pensa habitualmente, MARX não
dedicou grande esforço na censura à Religião.
Pode-se, inclusive, pensar que ele a via com mais
condescendência que intolerância.
Basicamente ele seguiu a concepção do filósofo Feuerbach (porém, de modo mais suave)
para quem a Religião não expressa a
vontade, ou a Palavra, de nenhum
“Deus”, ou qualquer outro Ser metafísico. Não passaria, portanto, de uma mera
criação humana. De uma fábula inventada pelos homens, os quais, cônscios de sua
fragilidade buscam no Sagrado as
ideias e noções que tendem a desresponsabilizá-los pelas consequências de seus
atos. Afinal, é sempre mais fácil culpar a “Vontade
de Deus” que assumir a própria negligência, ou inércia, ou inabilidade
pelos fracassos ocorridos.
A ideia vulgar de que ele seria um inimigo feroz dos
Religiosos originou-se, provavelmente,
mais da contundência de suas criticas de que da extensão e insistência das
mesmas. Contundência, aliás, que pode ser exemplificada em sua célebre
afirmativa de que “a Religião é o ópio do povo”, inserida no texto denominado de Crítica da Filosofia do Direito de Hegel,
que também ostenta outras definições que o Filósofo consigna acerca do tema,
tais como: (a Religião)
é o suspiro da criatura oprimida, o coração
de um Mundo sem coração, assim como é o “Espírito” de uma situação carente de
“Espírito”.
Como já se disse, MARX concordava que as pessoas se
apegam à Religião porque desejam um lugar em que o “eu” não seja desprezado, ou
alienado (e nada melhor
que um “Deus bondoso” para aceitar esse “eu” que noutros campos enfrenta
continuas restrições por acharem-no “pobre”, “feio”, “medíocre” etc.), mas alertava que essa fuga é inútil, pois as
restrições que a Sociedade impõe permanecem inalteradas e a quimera religiosa,
ao cabo, acaba apenas aumentando os motivos para as oposições na medida em que
o indivíduo deixa de lutar para sanar as injustiças, resignando-se a um falso
conforto.
Todavia, o fim puro e simples da Religião não seria
a resposta efetiva para os problemas sociais. Apenas a mudança total nas
questões de ordem Social e Política é que poderiam elevar o indivíduo, após ele
ter enxergado a inutilidade daquela crença dogmática e alienante, bem como a
necessidade de perseverar nas lutas sociais.
NOTA do AUTOR – o (a) leitor (a) nota por essas
últimas definições, que a observação que fizemos acerca de sua condescendência
é correta. Embora ele a visse como uma reles fantasia, podia compreender a
necessidade humana que a faz existir.
A Revolução
Apesar de ter recebido o epíteto de “Teórico
da Revolução”, MARX não consignou em suas obras qualquer definição, ou
conceito, especifico sobre o tema.
Oferece apenas descrições acerca das Revoluções Francesa, Inglesa e Estadunidense,
bem como projeções e prognósticos para as eventuais Revoluções futuras.
Um claro exemplo de tais “Prognósticos Históricos” pode ser encontrado em Contribuição
para a Crítica da Economia Política, onde ele afirma que: “numa
certa etapa do seu desenvolvimento, as “Forças Produtivas” da sociedade entram
em contradição com as “Relações de Produção” existentes (ou, o que é
apenas uma expressão jurídica delas)
e com as “Relações de Propriedade”,
pois, estas relações transformam-se
em grilhões das primeiras ensejando, então, uma época de revolução social”.
Por isso MARX considerava que toda Revolução é violenta, embora o grau e a
intensidade dessa violência sejam variáveis, já que estão em conformidade com a
maior ou menor truculência com que o Estado reage contra quem lhe ameaça.
A existência imperiosa da violência é, pois, uma
decorrência direta do fato de o Estado
tender a sempre usar a coerção e a repressão para salvaguardar os seus
interesses; ie, para manter a organização
em que se assenta o seu Poder Político. Dessa
sorte, não resta alternativa à Insurreição
que não seja responder violentamente.
NOTA do AUTOR – é nesse cenário que normalmente
ocorrem os excessos de ambos os lados.
Para MARX, ao contrário do que imaginavam os “Contratualistas”,
o Poder Político do Estado não provem de um “Contrato Social”. Não
emana de um acordo, de um consenso entre os cidadãos.
Na verdade, é o Poder
Particular de uma determinada Classe
que o conquista e o mantém através da ardilosidade, das falcatruas e da
violência explicita (via Policia, Judiciário etc.) e da violência implícita (regulações,
burocracia sufocante etc.) que não vacila em usar contra as Classes Subjugadas.
Todavia, para MARX, embora a violência seja indissociável
da Revolução, ela não deve transformar-se em um instrumento de
aniquilação total, pois a termo “Revolução”
não
pode ser sinônimo de “reconstrução a
partir do zero”.
Em sua Crítica ao Programa de Gotha, por
exemplo, ele alerta que a instauração de um Novo
Regime só é possível se o mesmo for sustentado pelas Instituições que já
existiam no Regime anterior.
Por isso, a Revolução
Proletária que instauraria um novo Regime
Sem Classes só poderia lograr êxito se concluísse satisfatoriamente um
período de transição que ele chamou de Socialismo.
A Crítica ao Anarquismo
Como se sabe, o Anarquismo
é um Sistema Filosófico que prega o fim do Estado
e doutras Instituições que normatizam a vida do homem (tais como a
família, a Igreja, o Partido Político etc.)
já que todas as formas de governo interferem negativamente na liberdade
individual e devem ser substituídas pela cooperação entre os cidadãos. Para
MARX, essa visão ingênua de se acabar o Estado
“por decreto” não se sustentava por
sua própria ingenuidade.
Para ele não se deveria propor o fim do Estado, mas sim o fim das iníquas
condições socioeconômicas que o fazem ser necessário para que a Classe Dominante possa exercer o seu predomínio
utilizando-o como ferramenta e instrumento de pressão e de opressão com o intuito
final de preservar o Poder, e as benesses
do mesmo, de que goza.
O Filósofo Proudhon
escreveu uma importante obra para defender o Anarquismo – A Filosofia da
Miséria – que MARX contestou compondo a antítese que jocosamente chamou de “Miséria de Filosofia (aludindo a
certo primarismo intelectual que norteariam as propostas anarquistas)”.
Nela, além de censurar o Pensamento anarquista de
Proudhon, ele crítica o Blanquismo (de Louis Blanc) por sua visão elitista sobre o Partido e, também, por sua tendência autoritária e superada.
Ainda nessa linha de contraponto, MARX posicionou-se
a favor do Liberalismo Político e Econômico,
sem, no entanto, admiti-lo como a solução definitiva para o Proletariado. Apenas como uma sustentação
para o processo de maturação das Forças
Produtivas (ie, os Trabalhadores) e de homogeneização da condição do
Proletariado em todo o Mundo, gerada pela internacionalização do Capital.
Afinal, a “Globalização”
e as empresas “Multinacionais” tendem
a uniformizar o comportamento de seus empregados – e de seus consumidores – nas
mais diversas regiões do Globo, como se pode observar, por exemplo, quando um
hindu utiliza um carro semelhante ao usado por um estadunidense, fazendo com
que seja criada uma Consciência de Classe
do Proletariado internacional.
A Práxis
Termo oriundo do grego cuja significação original
remete à ideia de ação, de fazer, de atividade prática. No Marxismo significa o conjunto de
ações humanas que tendem a criar as condições indispensáveis à existência da
Sociedade, principalmente no que se refere à Produção física, material. À
atividade concreta.
Destarte, a palavra Práxis se torna o título
de um dos fundamentos mais importantes da Doutrina
de MARX, haja vista que é a ação
humana que cria, ou que produz a história.
O Marxismo se baseia na Ideia de que a
história é Materialista (ie, feita de fatos concretos e não de ideias
abstratas) e que a Realidade Não
se altera por moto próprio. A esse propósito, MARX disse em sua obra “O 18
Brumário de Luis Bonaparte” que: “não é a Realidade que move a si mesma, mas
comove os atores. Trata-se sempre de um drama histórico...”.
Mas esse Materialismo
não deve ser visto como um Determinismo Histórico (ou seja, algo
ou alguém determinou que a história acontecesse de tal modo) que cairia num Materialismo Mecânico, ou Positivista,
o que estaria em completa oposição à concepção Marxista do Materialismo Dialético (cujas
transformações ocorrem por conta dos atritos entre os opostos [tese x antítese
= síntese]) que ocorre devido às
Ideias e atitudes dos homens.
Materialismo
Dialético ou Histórico que também poderia ser
entendido como uma “Dialética Realidade –
Idealidade Evolutiva” onde as relações entre a Realidade (concreta) e as Ideais
acontecem e se juntam precisamente na Práxis, pois sendo a história um
produto das ações humanas e sendo as Ideias
produto das circunstâncias materiais em que brotaram a grande meta a ser
atingida é fazer com que a História seja Lógica e Racional, ie, que as ações humanas sejam coerentes, justas
e que por isso criem condições materiais favoráveis que proporcionem o
surgimento de Ideias também Lógicas, Racionais e Favoráveis.
Com essas reflexões, MARX encerra suas teses sobre Feuerbach afirmando que não se trata de
interpretar o Mundo de forma diferente, mas, sim, de transformá-lo
efetivamente, haja vista que a interpretação ocupa-se “apenas” de estudar, de pensar, de refletir sobre o Mundo que já existe
concretamente, enquanto que a a Ação Revolucionária será capaz de produzir a transcendência,
ou ultrapassagem, desse mesmo modelo de Mundo.
A Mais Valia e o Exército de
Reserva
O conceito da Mais Valia foi empregado por MARX
para explicar a obtenção de lucros no Sistema
Capitalista.
Para o Filósofo, Mais Valia é o valor
extra da mercadoria, ou seja, a diferença entre o que o empregado produz e o que
recebe. É aquilo que o patrão deixa de lhe pagar e que ele não cobra, porque
sabe que será prontamente demitido e substituído por um desempregado lotado no Exército
de Reserva, que nada mais é que um “Estoque
de Mão de Obra” ie, um grande contingente de pessoas desempregadas e
desesperadas por qualquer emprego e qualquer salário, que a Burguesia mantém para usar como
instrumento de coação.
Como não poderia deixar de acontecer, essa sua
proposição encontrou ácidas oposições, dentre as quais a de Benedetto Croce (1866-1952, Itália)
que afirmou ser “O Capital” um texto que não poderia ser considerada como um
livro “Científico”, mas apenas como
uma obra “Moral”, cujo objetivo seria
caracterizar a Sociedade Capitalista como perversa e injusta, ao contrário da Sociedade
Comunista que concretizaria o Ideal de plena justiça social.
Também alegou que a
carência de cientificidade no Ideário de Marx já é demonstrada pelo conceito da
Mais
Valia, haja vista que só por uma perspectiva moralista se pode falar da
mesma, pois através do rigor de um ponto
de vista lógico e cientifico tal noção não se sustenta.
GRAMSCI e vários outros
Eruditos saíram em defesa da tese Marxista
afirmando que a opinião de Croce não passaria de reles sofisma, posto que
os Conceitos de “Mais Valia” e de “Valor” são idênticos; ou seja, é a diferença
entre o valor da Mercadoria Produzida e o valor pago à “mão de obra” que a produziu.
E que essa tese de Marx
derivou diretamente da Teoria do Economista Davi Ricardo (1772-1823, Inglaterra) que não enfrentou qualquer
censura ao publicá-la, porque à época ela não representava nenhum perigo à Burguesia, já que não havia a menor
conscientização do Proletariado sobre a exploração que sofria.
Na ocasião, a tese de
Ricardo foi considerada apenas como uma “constatação
puramente objetiva e cientifica de uma Realidade econômica”.
Dessa sorte, entre críticas e elogios, a tese passou
para a história e se firmou como uma das bases do Pensamento Socialista, ainda
em voga nos dias atuais, apesar da hegemonia do Capitalismo.
O Manifesto Comunista
Na década de 1830, MARX estudou Filosofia Acadêmica na Universidade de Berlim. Dentre seus colegas
estava Friedrich Engels, que
além de se tornar amigo fraterno por toda a vida do Filósofo foi, também, o
coautor dessa primeira publicação de Karl MARX e seu constante parceiro nos
assuntos literários e políticos.
Engels deu suporte financeiro ao amigo e contribuiu
com ideias e com a sua habilidade literária para o trabalho, mas coube a MARX o
reconhecimento pela genialidade do texto.
As ideias que foram expostas nesse livreto, de cerca
de quarenta páginas, já viviam na mente do Filósofo desde as décadas de 1830 e
1840, que as transcrevia aleatoriamente em manuscritos privados, os quais,
posteriormente, foram compilados pela dupla de Pensadores e embasaram o texto
final de O Manuscrito.
Nele, em linguagem coloquial e pragmática – pois,
segundo ambos, a função da Filosofia não era explicar o Mundo, como fora o objetivo dos antigos, mas sim reformá-lo – Engels e MARX procuram explicar
os Valores, as Ideias, os Ideais, os Conceitos, os Planos Políticos etc. do Comunismo.
Comunismo, diga-se, que à época não passava de um Sistema
proposto e adotado por um reduzido número de pessoas, geralmente oriundas de Regimes Socialistas Radicais, que
existiam na Alemanha.
Segundo o texto, a Sociedade reduzira-se a duas Classes Socioeconômicas que convivem em
perene confronto: a Burguesia*
e o Proletariado*:
Burguesia – palavra derivada do francês
“burgeois” e que significa etimologicamente “o habitante do Burgo, ou vila ou
cidade”. Em Política passou a significar o Indivíduo que é proprietário dos “meios de produção”; ou seja, das máquinas,
das terras, das fábricas, do Capital etc. O Homem que ascendeu socialmente e
passou a ocupar, graças à sua fortuna, o espaço que antes era destinado aos
nobres, ao alto clero, à elite militar etc.
Proletário – etimologicamente significa o
indivíduo que gera uma prole. Em Política essa capacidade de gerar filhos passou
a significar a capacidade de gerar mais mão
de obra, que seria agregada à força de trabalho do pai. É o indivíduo que
não possui “os meios de produção”
que são indispensáveis para se produzir algo. Dispõe apenas de sua força de
trabalho (ie, de sua capacidade de trabalhar), a qual vende em troca de um
salário, ou ordenado.
E essa estrutura dividida em apenas duas classes
pôde existir com relativa tranquilidade (inobstante algumas revoltas
pontuais, localizadas que os Senhores Feudais não tiveram dificuldade para
esmagar) até que os seguintes
acontecimentos alterassem a Estrutura Social:
- O descobrimento das Américas.
- A abertura dos mercados indiano e
chinês aos produtos fabricados em série com o advento da “Revolução Industrial” e o consequente
êxodo rural que esvaziou o Poder da “nobreza
feudal” e ensejou o surgimento de um Proletariado urbano, mais aglomerado e cônscio de sua miséria
e de sua capacidade de luta.
- O próprio desenvolvimento da
Indústria e do Comercio (também como consequência do exposto
nos itens acima) que
decretou o fim do trabalho artesanal,
pois este modelo já não era capaz de suprir a demanda sempre crescente.
NOTA do AUTOR: Esse fim, aliás, também ocasionou
uma das contradições do Capitalismo: ao
suprimir a presença do Artesão, suprimiu a presença de um Capitalista, embora
de pequena dimensão, que se tornou um simples Operário, talvez até mais
desmotivado que aquele que chegou do campo.
Pela ênfase dada aos assuntos Políticos e Econômicos
resultantes dos fatores acima, o Manifesto
tornou-se mais conhecido pelo seu conteúdo de Filosofia Política de que pelo seu valor literário, mas mesmo nesse
quesito esse ela não fica a dever a seus similares. Além das teses já citadas,
o Manifesto Comunista também aborda
outros temas relativos à Sociedade e à Economia com clara e rara erudição, o quê
o torna uma Literatura de primeira linha.
Foram essas qualidades que tornou acessível ao
público em geral a ideia de que através da compreensão do Sistema de Propriedade (privada, ou coletiva) que uma Sociedade
prática, é possível entender a forma como seus cidadãos se relacionam. Como
eram, ou são, as Relações Sociais
daquele grupo de indivíduos.
Destarte, tornou-se um divisor de águas na cena
política do Mundo. Pela primeira vez um texto alardeou de forma clara e direta
que a Burguesia tinha, sim, que temer
o
espectro que avança sobre a Europa.
E que os antigos conceitos, as velhas noções e os valores do Passado seriam
irremediavelmente rompidos. Popularizou a ideia de que seria possível compreender
os mais íntimos meandros da Sociedade, independentemente da época em que a mesma
existiu, ou existe.
MARX argumenta, por exemplo, que o Sistema Capitalista não é apenas injusto
e explorador, mas, é, também, inerentemente instável, o que leva a ocorrência
de frequentes crises comerciais e financeiras (como a que assola a Europa nesses
dias atuais, o que, aliás, comprova a atualidade da versão marxista) que serão cada vez mais severas e deletérias, ocasionando
um agravamento na miséria da Classe Explorada
e a consequente radicalização do Ideário revolucionário que é despertado em seu
seio.
O progressivo empobrecimento da Força de Trabalho, ou Proletariado,
resultará no aumento da agressividade de suas respostas e o configurará como um
efetivo segmento social genuinamente revolucionário.
E, observa MARX, pela primeira vez na história, essa
Classe Revolucionária representará a
maioria da humanidade.
Para o Filósofo, essas condições são originadas e
sustentadas pela crescente “Complexidade
do Processo de Produção”, pois à medida que a tecnologia avança, mais agudo
se torna o desemprego, vez que a máquina substitui com vantagens inúmeros
trabalhadores.
Em consequência, cresce o afastamento das pessoas de
seus “Meios de Produção” que lhes
garantia, bem ou mal, o sustento e, ao cabo, consolida a iníqua Concentração de Renda que divide a
Sociedade em dois grupos crescentemente antagônicos: a Elite e o Proletário.
O Capital – “Das Kapital”
Das Kapital é seguramente a criação máxima de MARX, que para
realizá-la contou com a inestimável ajuda de Engels, o coautor da obra-prima.
Nela, os Filósofos fazem uma extensa, profunda e
elaborada análise da Sociedade Capitalista.
É predominantemente um livro sobre Economia
Política, mas a sua abrangência atinge várias outras áreas.
Nessa obra monumental, MARX discorre sobre a Economia, a Cultura, a Sociedade, a Política e a Filosofia. É um trabalho tanto analítico quanto sintético, pois
traz análises minuciosas sobre determinados temas, enquanto oferta inspirados
resumos sobre outros assuntos, apresentando vários estilos literários. É,
simultaneamente, uma obra crítica, descritiva, científica, filosófica e, de
certo modo, romântica por embutir entre tantos conceitos técnicos a esperança
de se construir um Mundo mais justo e harmônico.
Decerto que a sua leitura é difícil, mesmo que não
tenha a característica de ser tão especulativa e abstrata quanto às obras de Hegel, pois a linguagem em que foi escrita
é insípida e complexa. Não é um livro para ser apenas lido. Deve ser visto,
muito mais, como um objeto de estudo. Contudo, a recompensa vale à pena, pois a
sua compreensão traz um acréscimo de Saber cujo valor é inestimável.
Em conformidade com o Pensamento Marxista, “O Capital” é a principal fonte de
conhecimento - tanto para a humanidade em geral, quanto para o Proletariado em particular – para que se
atinja a desejada Conscientização de
Classe.
Só através da análise inovadora, profunda e correta
de “sua”
Realidade é que a “Classe
Explorada” poderá enxergar para além da Ideologia
Dominante que a Elite lhe impõe.
E só assim é que poderá obter uma base sólida para as suas reivindicações. Para
a sua Luta Política.
Alphonse de
Waelhens (Filósofo belga, 1911 – 1981)
afirmou sobre a abordagem que MARX faz acerca dos fatores econômicos para a
formação das Sociedades humanas que:
“o Marxismo é um esforço para ler, por trás
da pseudo-imediaticidade do Mundo econômico reificado (ou coisificado,
ie, tudo é tratado como se fosse uma simples coisa, inclusive o Ser Humano), as relações
inter-humanas que o edificaram e se dissimularam por trás de sua obra”.
Por fim, é importante lembrar que apesar do sucesso
que alcançou e do prestigio de que ainda goza, O Capital é uma obra incompleta no que tange à autoria de MARX, já
que apenas o primeiro volume foi publicado enquanto ele vivia. Os outros Tomos
foram organizados por Engels e publicados posteriormente.
Outras Obras de MARX
Além das obras-primas O Capital e O Manifesto
Comunista que vimos com mais acuidade, MARX escreveu outros trabalhos de
enorme importância.
Na sequência falaremos brevemente sobre cada um
deles. A saber:
A Ideologia Alemã – nele, MARX apresenta com minúcias os pressupostos
de seu Sistema Político e Filosófico.
Questão Judaica – onde MARX expõe as suas críticas às Religiões,
afirmando que não se deve apresentar questões
humanas como se fosse teológicas. Mas
justamento o contrário, ie, mostrar que as questões
teológicas não passam de simples questões
humanas. Também afirma que a ótica correta a ser empregada será a de ver as
Religiões como reles reflexo do Pensamento humano sem que exista qualquer coisa
de Sagrado, ou de Divino nas mesmas, pois, afinal, elas
são apenas e tão somente fantasias que o homem faz de si mesmo, o que, de certo
modo, representa a mísera condição a que ele é submetido.
Crítica ao Programa de Gotha – aqui o Filósofo faz uma extensa e sistemática
apresentação sobre o que seria uma Sociedade
Socialista. No texto, além da excelência literária, é possível notar o
esforço que MARX faz para se afastar de qualquer ranço de “Futurologia”, já que ele não a considerava uma Ciência crível por lhe faltar o
embasamento característico a tal estudo.
A Guerra Civil na França – MARX ultrapassa nesse texto, as suas tendências jacobinas e defende com vigor a tese de
que só com o fim do Estado é que o Proletariado ofertará a si próprio as condições
necessárias para manter o Poder recém conquistado. Também afirma que o fim do Poder Estatal equivale à situação do “povo em armas (ie, o próprio povo assegura
a ordem pública)”, pois o Monopólio
da Violência, que havia sido delegado ao Estado sucumbirá com o mesmo.
O 18
Brumário de Luis Bonaparte – onde MARX desenvolve uma profunda análise
sobre o “terror da burocracia” e
comenta a questão do campesinato como aliado do operariado na Revolução iminente
(tese que depois, grosso modo, foi adotada por Mão Tsé Tung, na Revolução
Chinesa). Ademais, investiga o papel dos Partidos
Políticos no âmbito da Sociedade e
comenta com acuidade a essência do “bonapartismo”.
Epílogo
Em 1954, o Partido
Comunista Britânico construiu uma lápide com o busto de MARX sobre sua tumba,
até então de decoração muito simples. Na pedra, além de uma citação de Feuerbach,
escreveram: “Proletários de todos os países, uni-vos!”
Digitado pela Taisinha, Rio de Janeiro.
Digitado pela Taisinha, Rio de Janeiro.
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São
Paulo, 12 de Outubro de 2012.
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