sábado, 6 de outubro de 2012

Calabouço


Estão escuras as estradas
e calados estão os sinos.
Caminho pelo cinza
sem esperar que haja azul,
pois bem sei que sou ausência.
Socam-me as imagens cruas
das angústias explícitas
e os gritos dos condenados
sonorizam todas as dores.
Percorro contradições
enquanto experimento
a solidão das estantes vazias.
Murmúrios existencialistas
zombam da vida que arrasto
e do pesadelo que não afasto.
Espreitam-me novos horrores
e sei inúteis as utopias
de que a Palavra bastaria
e que tudo se arranjaria.
Fantasmas entoam
tristes melopeias
enquanto profetizam
anoréxicas centopeias.
E tudo gira
nesse caleidoscópio
em que vida e morte
alternam suas faces
nas torturas sem disfarces.

      Para Bete, que hoje faria 59 anos. Beijo, guerreira.

Um comentário:

  1. Tristeza em lindos versos> Lembrei-me de alguns versos de Manuel Bandeira do poema "DESENCANTO"

    Eu faço versos como quem chora
    De desalento de desencanto
    Fecha o meu livro, se por agora
    Não tens motivo nenhum de pranto...
    .............
    E nesses versos de angustia rouca
    Assim dos lábios a vida corre
    Deixando um acre sabor na boca
    Eu faço versos...............

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