PSICANÁLISE
FREUDIANA e SUAS VARIAÇÕES.
O Comportamento e o Inconsciente
Como vimos
anteriormente, a Teoria do Comportamento, ou Behaviorismo dominou o cenário
estadunidense por quase meio século, graças ao seu apego anterior às filosofias
que fossem ligadas às questões práticas. É uma idiossincrasia daquele povo,
pode-se dizer.
O fato é que tanto
quanto o PRAGMATISMO,
o Behaviorismo oferecia-lhes elementos que poderiam ser classificados como
“concretos” e “objetivos”. Bem ao gosto do estadunidense médio que não se
afeiçoa com as sutilezas da abstração.
Porém, do outro lado do
Atlântico, no inicio do século XX, os Psicólogos europeus já seguiam uma nova
trilha, principalmente em razão do trabalho desenvolvido por SIGMUND FREUD,
cujas teses privilegiavam as doenças da Mente, chamadas de Psicopatologias, e o
tratamento terapêutico das mesmas.
Uma visão totalmente
oposta ao Behaviorismo, que centralizava suas atenções nos chamados “Reflexos
Condicionados”, ou seja, na conexão existente entre os estímulos e as
respectivas respostas que ocasionavam. Um conjunto que criava padrões de
comportamento, sem dar atenção à questão da Saúde Mental do indivíduo.
A Teoria Freudiana, por
sua vez, desdenhava os “Reflexos Condicionados” e os demais elementos de sua
antecessora e baseava a sua linha de trabalho na observação e na historia de
cada caso individualmente, desprezando “evidências experimentais generalizantes”.
Tendo trabalhado com o
célebre neurologista JEAN MARTIN CHARCOT,
Freud foi bastante influenciado pelo método de hipnose* que o francês utilizava
para tratar os casos de histeria. E foi graças a essas observações, que ele se
deu conta da enorme importância do Inconsciente* como determinador do
comportamento do indivíduo.
NOTA
do AUTOR – Hipnose
– a indução a um estado passageiro em que o paciente fica como se estivesse em
transe. Geralmente só é possível de ser aplicado em pessoas que são altamente
sugestionáveis.
NOTA
do AUTOR – Inconsciente
– ou Subconsciente, segundo a Psicanálise é a parte da Psique que armazena as
experiências vividas, as emoções sentidas etc. e que regula, ao cabo, a
personalidade e o comportamento de cada sujeito. A ela, o Consciente, o lado
racional, não tem acesso, sendo necessário todo um tratamento especifico para
sondar-lhe o conteúdo e descobrir no mesmo as causas de eventuais problemas que
perturbem o paciente.
Freud acreditava que se
pudesse acessar o Inconsciente através de diálogos com seus pacientes, poderia
desenterrar “memórias dolorosas” escondidas e trazê-las para o campo do Consciente,
onde ele e o enfermo poderiam compreender racionalmente o processo e num
procedimento similar ao de uma desinfecção cirúrgica, extirpá-las, extinguindo
assim a causa e o sofrimento da patologia. Ou, no mínimo, proporcionando algum
alivio nos sintomas.
Com isso, pode-se dizer
que Freud individualizou a Psicologia, mudando o seu foco do grupo, para o
indivíduo; tornando-a um instrumento
curativo e não só uma ferramenta usada para se estudar o Comportamento.
Essa nova visão,
contrariando a “regra” de que as grandes ideias só são reconhecidas e reverenciadas
a posteriori, logo encantou outros
eruditos da Europa e não demorou em também desembarcar com êxito nos EUA.
Em Viena, capital da
Áustria, um grupo de importantes pesquisadores juntou-se a Freud na
recém-criada “Sociedade Psicanalítica”. Nela, destacavam-se ALFRED ADLER,
CARL JUNG, MELAINE KLEIN e KAREN HORNEY.
Porém, com o correr do
tempo, esse famosos Psicólogos, e mais alguns outros, afastaram-se da Teoria
Freudiana por divergências pontuais e especificas e, com isso, abriram novos
caminhos. Contudo, porque as divergências eram apenas pontuais, o cerne da
Doutrina de Freud, a importância soberana do Inconsciente, nunca foi rejeitado
por nenhum deles.
Dentre essas divergências
pontuais, pode-se destacar a de JUNG
que
substituiu o conceito de arquétipos e introduziu a concepção de “Inconsciente
Coletivo*”. Ou, então, a de ERIK ERIKSON
que
seguiu um caminho mais voltado aos aspectos Social e Desenvolvimentista.
NOTA
do AUTOR – Inconsciente Coletivo, segundo JUNG é o nível mais profundo da Psique.
É onde estão contidas as estruturas psíquicas que o indivíduo herda da Coletividade
e que são expressas ou representadas pelos arquétipos.
E essas novas
concepções foram se solidificando (e com isso, solidificando também a ideia original)
até que a Psicanálise, durante a primeira metade do século XX, assentou-se como a principal alternativa
ao Behaviorismo,
sobretudo na França onde despontava JACQUES LACAN e seus seguidores.
Porém, após o fim da
Segunda Guerra Mundial, já na década de 1950, essa primazia começou a soçobrar graças
ao surgimento de outras formas de terapia, ou tratamento, que começaram a ser
utilizadas em conjunto com a teoria freudiana clássica.
Em comum, todas essas
formas buscavam essencialmente trazer mudanças reais, concretas às vidas dos
pacientes, como, por exemplo, a linha batizada de GESTALT,
liderada por FRITZ
e LAURA PERLS,
em conjunto com PAUL GOODMAN,
que
utilizavam uma visão eclética sobre todas as questões, fazendo com que sua
abordagem abrangesse todos os aspectos do paciente.
Por outro lado, a Filosofia
Existencialista (que tem em SARTRE seu representante mais conhecido)
inspirou alguns Psicanalistas como VIKTOR FRANKL e ERICH FROMM
que deram à terapia um aspecto mais associado às questões sociais e políticas.
É importante também
destacar um grupo de Psicanalistas, como ABRAHAM MASLOW, CARL ROGERS e ROLLO MAY,
que buscaram uma abordagem mais Humanista* e realizaram uma série de
encontros nos EUA, em fins da década de 1950, de onde surgiu o primeiro
arcabouço de uma “Associação” que passou a ser conhecida como a “Terceira
Força”.
A principal tarefa dessa
Associação era estudar temas e assuntos como a autorrealizaçao, criatividade e
liberdade individual, dentre outros de teor similar. Além dessas investigações,
o grupo se dedicava a convencer à Sociedade que a Saúde Mental, ou Psicológica,
era tão importante quanto o tratamento dos distúrbios Psiquiátricos.
NOTA
do AUTOR – Humanista,
ou Humanismo – vale recordar que
o termo Humanismo NÃO é sinônimo de generosidade, de bondade. É o titulo
de um Sistema Filosófico que tem como objetivo colocar o homem como o centro do
Universo. Sendo assim, no presente caso, a abordagem “humanista” da Associação consistia
em colocar o homem, o paciente, como o alvo preferencial de todos os cuidados.
Que a sua Saúde Mental era, de fato, sumamente importante.
Dessa forma, ainda que
se visse fragmentada em algumas correntes divergentes, a Psicanálise navegava
quase soberana, sofrendo concorrência apenas da chamada “Psicologia Cognitiva”,
que veremos a seguir.
PSICOLOGIA COGNITIVA
A Psicologia Cognitiva
censurava na Psicanálise a carência de evidências objetivas, tanto em relação
às suas teorias, quanto em relação à sua eficiência como tratamento.
E, com efeito, ela
produziu teorias que tiveram o aval da Ciência Clássica e, posteriormente, as
terapêuticas que propôs foram clinicamente comprovadas como efetivas.
Desse modo, tirou da
Disciplina a sua aura de abstração e a trouxe para a realidade concreta do
cotidiano.
Psicoterapia Cognitiva
Como já se disse, os adotantes dessa tendência
rejeitaram A Psicanálise Freudiana e às suas variações por considera-la “não
cientifica” e baseada em teorias impossíveis de comprovação.
PAUL WATZLAWICK,
por exemplo, questionou um dos conceitos básicos da analise freudiana, ou seja:
a tese da “lembrança reprimida”. Outra estudiosa, ELIZABETH
LOFTUS, comprovou que nenhuma espécie de memória ou lembrança podia
ser plenamente confiável. Em contrapartida, Psicologia Cognitiva ofertava
terapias baseadas em evidencias reais, demonstráveis, racionais, como no caso
da “Teoria Racional Emotivo Comportamental (TREC)”
desenvolvida por ALBERT ELLIS. Ou, então, a “Teoria
Cognitiva” de AARON BECK.
Contudo, a ênfase que SIGMUND FREUD
havia dado ao desenvolvimento infantil e a historia pessoal continuou a ter
grande influencia sobre a Psicologia desenvolvimentista e social e foi assim
que no final do Século XX alguns Psicoterapeutas como GUY CORNEAU,
VIRGINIA SATIR e DONALD WINNICOTT voltaram suas atenções para o
ambiente familiar*; ao passo que outros como TIMOTHY LEARY e DOROTHY ROWE, concentraram-se nas pressões* que o meio
social exerce sobre o individuo.
NOTA do AUTOR – de certa forma, esses
Psicanalistas utilizaram-se, ainda que de forma obliqua, algumas premissas da
GESTALTICA ao considerarem o sujeito inserido em um Todo, o quê alteraria a sua
Psique
Contudo, como se pôde ver, apesar de pontos
divergentes, as ideias básicas de Freud alicerçaram todo o edifício que abriga
a Psicanálise.
Inobstante o fato de ter sido questionada com
frequência ao longo do tempo, a Psicanálise Freudiana foi a fonte de onde
desaguou a Terapia Cognitiva e a Terapia Humanista, das quais resultaram
avanços efetivos no tratamento da saúde mental.
A
própria popularização de alguns conceitos utilizados pelo célebre austríaco,
tais como “Inconscientes”, “Impulso”, “Comportamento” etc. comprova que ele
conseguiu trazer a disciplina do terreno abstrato e acadêmico para a realidade
concreta do cotidiano do cidadão médio. Por isso, seu nome insere-se no rol dos
grandes gênios que a humanidade produziu.
Produção de TAÍS ALBUQUERQUE - desde o Rio de Janeiro, no Outono de 2013
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