domingo, 9 de dezembro de 2012

Auto de Açucena


- Branca Açucena
que do fundo nos chega,
conte o que viu
na Terra das gentes.

- Pouco eu vi, poeta que pergunta.
E menos entendi,
pois o véu que o Mundo
nos obriga
roubou o que viam esses olhos;
e essa mão (que a Terra
haverá de comer),
só o cinza vazio segurou.

- Mas e a luz que às vezes avistamos?

- Dela, só soube que é semi extinta.
Que são os brilhos derradeiros
de quando o amor existia.
De antes que o medo e o orgulho
apagassem o bem-querer.

- E mais nada restou, Branca Açucena?

- Só a paúra de saber que no Futuro
haverá de se perguntar o por quê
não se deixou a Felicidade ficar.

- E a Ciranda que se ouve, Açucena?

- Essa eu vi. É quem canta e festeja
a tristeza de quem quer sonhar.
Canta e festeja
porque nela está
que em vão já sonhou
e quem nunca sonhará.
Canta e festeja, canta e pragueja
para os sonhos não sonhar.

- Tão triste, branca Açucena.
- Tão triste, poeta que pergunta.

2 comentários:

  1. Gosto tanto de seus textos. Sempre chegam em uma hora tão boa!!! Até parece um presente. Obrigada!

    ResponderExcluir
  2. Tão triste meu doce poeta que pergunta... Tão bonito meu poeta amado. As vezes te lendo parece que te ouço e haja saudade. Eu não sei o mundo fez que a gente foi para tão longe e eu ainda te tenho tão perto. Tão perto meu doce poeta que pergunta...

    da sua LB.

    ResponderExcluir