domingo, 26 de dezembro de 2010

A Ceia

Tanto tempo já passou
entre quem senta à mesa.
Cinquentões, como disse Drumonnd*.

Espetam as carnes 
e os sonhos que não se fizeram.
E sorriem de si e do que não tiveram...
Tanto já houve
entre o peru e a couve:
amores vividos,
desejos partidos
nos bons (?) tempos idos.
Ri-se da realidade que ficamos,
das lágrimas que secamos
e das utopias que abandonamos...

Assados, bebidos,
tristes, desiludidos
fazemos o arremedo
de quem já quis tudo
e hoje se queda mudo.

A crianças viraram o que fomos
e repetem a velha pantomima
da extinta Minas com rima:
Sonhos calados
e engolidos aos bocados,
com os presuntos
dos que não são mais juntos.

Mágoas sufocadas
chegam com as sobremesas.
Logo o sono dos embriagados
apagará os certos e os errados...





*Inspirado em "A Mesa" de Carlos Drumonnd de Andrade.

2 comentários:

  1. Caro Fábio,

    Com a invenção do Pai Natal quebrou-se a inocência,a singeleza de quem ama o Menino desnudado de falsas riquezas.
    A Ceia do cardeais, dos pobres cumpre uma necessidade fisiológica.
    Boas Festas embriagadas de sonhos num mundo melhor.
    Adriano

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