O
que foi complicado mesmo foi definir como seria o invólucro que envolveria cada
uma das crias. Sim, porque tão logo as terminou, Ele viu que errara na
proporção entre o poder dos mesmos e o tamanho das dificuldades que eles
enfrentariam.
enfrentariam.
Era
preciso que fossem protegidos. Que cada um deles fosse recoberto e tivesse ao
seu redor um “Mundo” em escala
mínima. Que cada qual “vivesse no seu
Mundo”. O “outro Mundo”, o
inteiro, era muito grande e muito complicado. Era excessivo para a fragilidade
humana.
E
como Ele é pensamento e ação, assim pensou e assim fez. Porém (sim, já existia o “porém”), o resultado
não ficou de seu agrado.
Acontece
que ao fazer os homens, não se sabe por que, a receita com as medidas dos
elementos primordiais foi perdida, mas Ele continuou mesmo assim e no fim viu
espantado que ao contrário do que pretendia, nenhum dos homens ficou à Sua
imagem e semelhança, pois havia aquele que era alto, o que era baixo, o que era
magro e o que era gordo. Uma completa miscelânea.
Quanto
à questão da Imagem e Semelhança Ele logo encontrou a solução,
pois Ele também era multifacetado e a variedade dos formatos de Suas criaturas
simbolizaria a sua variedade de faces.
Além disso, pensou o Divino, cada um deles me verá de um jeito e naturalmente associarão a sua imagem comigo, portanto, não devo preocupar-me com isto.
O
diabo (Ele teria pensado se Ele não fosse
quem é) são os malditos invólucros. Para alguns ficará muito largo, para
outro muito apertado, ou curto, ou comprido. Maldita pressa! Por que Eu não
pude refrear a minha ansiedade? Tinha que terminar tudo em seis dias?
O
incipiente Universo ressoou com aquela fúria. Estava inaugurado o “problema do tamanho”. A angústia dos homens
com o tamanho. Todos querem um nariz de tamanho pequeno, mas...
Por
fim, aquele que tudo perdoa, perdoou a Si mesmo e achou por bem deixar de
histeria e encontrar uma solução. E não é que a Solução foi mesmo Divinal? Ele
inventou o material elástico.
Assim,
estava resolvido o problema do ajuste, pois cada qual teria o seu invólucro
protetor conforme a respectiva estatura. Muito bem, Pensou, mãos às obras e num
misero instante dotou a todos os Homens de seu “mundo particular”.
E
dessa vez satisfez-se com o resultado. Achou muito bonitinho. Aquele amontoado
de cápsulas escurinhas e juntinhas. Tão grudadinhas. Uma gracinha... aquilo lhe pareceu alguma coisa,
mas foi inútil tentar lembrar o que seria. E para não perder tempo com alguma
coisa do Passado (que para Ele não
existe, pois é Eterno) transformou o que seria uma lembrança em uma
inspiração e criou assim o:
- Distinta platéia, com vocês, from
to Big Bang, o sensacional e inédito: Cacho de Uvas!
Em
várias partes as Sagradas Escrituras
fazem referência às uvas, mas ao contrário do que as traduções (ah, esses copistas...) nos fizeram acreditar, elas não foram tão citadas por suas
simbologias de fartura, doçura ou outros signos menores. Não senhor.
A leitura
correta é aquela que nos indica que são tão reverenciadas por sua simbologia
maior: a Humanidade é um Cacho de Uvas,
todas juntas, mas cada qual contida em seu compartimento. Ali vivem e com as
demais competem pela luz.
É
preciso ter mais luz que os outros concorrentes, pois é através dela que se
aumenta de sabor e é preciso ter mais sabor para que se atinja a finalidade que
se espera das uvas e dos homens:
agradar.
A
carência essencial. Querer ser amado. A consciência de que não se é nada além
daquilo que os outros avistam. A tragédia dos homens: apenas existir graças à retina do outro.
Todavia,
Ele não se importou com esses questionamentos e tampouco se preocupou em
aprimorar os casulos que, dessa forma, ficaram opacos e aderentes.
Uma
situação estranha, pois embora sem vislumbre do “Mundo Inteiro”, as criaturas pressentiam as suas iguais e a elas
iam se unindo. Um magnetismo invencível. E graças aos contatos de casulos,
procriaram. E cada nova criatura herdava o seu próprio invólucro junto com a
mediocridade do mundo ancestral.
Assim
foi. E como já era o Sexto Dia
daquele trabalho imenso (ou insano?),
Ele sentiu-se esgotado, cansado, estafado e (conforme
os dias atuais, que já aconteciam segundo Einstein) estressado.
-
Não!
-
Eu não quero livros de autoajuda!
-
Não! Eu não quero modernos ansiolíticos ou antidepressivos!
Eu
quero a paz! A paz da paz, como diria Drumonnd.
Na
próxima Segunda-Feira eu retomarei o
trabalho de criar o Mundo. Se... Eu... Quiser! Certo, sangue bom?
Mas
como para Ele não existe a próxima Segunda-Feira,
já que é atemporal, Ele não voltou para concluir a Sua obra. Ele nunca mais
voltou.
Ficaram
os Homens e as Uvas.
As
uvas logo criaram uma maneira de exercitar a sua libertação e se transformaram
em vinho. Os homens seguiram os seus passos e comemoraram a liberdade em
relação ao Pai e sugaram o vinho da Mãe. Esbórnia terrível! Devassidão
inenarrável! Um horror! Porém, Freud
explica. Édipo a tudo se presta.
O
vinho da “Mãe Uva”, sua forma
original, despertou-os para o fato de que haveria um mundo além do que lhes
fora dado.
Uma
minoria insignificante descobriu (Ave
Platão!) que além do vinho, lustrando o seu compartimento, poder-se-ia
vislumbrar o que se chamou de “Mundo
Maior”.
Minoria, aliás, que avocou a pretensão de ser a vanguarda da Humanidade. E desde então um escreve sobre o outro que lhe é igual.
Surgiram as “cavernas”, as “gaivotas incansáveis” que voavam sempre mais
longe; as “lagartas que se transformavam em borboletas” e todos os textos que
glorificam a busca, o arrojo e o descortino.
E assim
como as Uvas, a Humanidade também se
dividiu: a minoria que lustra os
casulos e consegue enxergar além assumiu a identidade dos vinhos nobres,
reservados ao Supra Sumo da vida, enquanto a maioria contenta-se
com o papel de vinagre que tempera a rotina dos dias iguais.
Tratados
de enealogia proliferaram. Biografias ilustres também. E ainda que em vão,
alguns tentam retratar o “Mundo Maior”
para a patuleia que nada vê.
Os
primeiros insistem, pois sabem que essa tentativa lhes poupará o desgosto de
ter que trabalhar. Os segundos resistem porque intuem que é um desperdício
escutar alguém que, nessa crise toda, venha lhes falar de Humanidade, Vinhos e
Uvas.
-
Ora, vá trabalhar! Eu quero lá saber se
há outro mundo? Eu quero é Grana. Eu quero é Poder. Eu quero é Segurança. Eu
quero ser doce... Eu quero que me
queiram. Eu quero...
Mas, agora, o adiantado da hora e a tristeza que estou sentindo, aconselham-me a encerrar
essas mal traçadas linhas evocando o Grão
Mestre Rousseau para lhe dizer
que: sim, em ti está a “Véritas Verdadeira”!
Entre
a Liberdade ou a Segurança optamos pela segunda e é por isso que nunca se pôde sorver
o Champanhe, pois nas seguranças dos
casulos não há espaço para a garrafa e sequer para a fantasia que dela se desprende.
A segurança do cacho, da videira. O que haverá em cada um desses casulos? Será que voa a Alma que ali está aprisionada?
Ao Poeta, Escritor e Editor Evan do Carmo, o 1º Editor desse texto.
Meu estimado amigo,
ResponderExcluirUm texto de tirar o chapéu.Parabéns!