Chegastes suave como o orvalho e então eu soube que tu eras o jasmim recém colhido, que o Rouxinol anunciara no canto primeiro da aurora.
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
Bordados de Bordel
O vento que sopra por trás das portas
conta os segredos que ouve no Bordel.
Conta dos brutos homens brutos
que viajaram muitas léguas
e agora repousam seus laços e corpos
em corpos sem laços.
Conta das tristes Madonas
que velam em seus toscos Oratórios
enquanto riem das mentiras benditas,
das verdades malditas
e das dores não ditas.
Conta dos riscos que as facas fazem
nos corpos que jazem.
Conta da miséria na entrada,
da doença e do abandono na saída
e do desamor por entre as coxas e a vida.
E mais ainda conta, pois há
uma fome eterna
nos amores desenfreados
e nas luxúrias dos celerados.
E há uma sede perene
pela santa cachaça ingerida
entre as pragas a Deus dirigidas
e as canções das mulheres-da-vida.
Sou a "Cigana dos Lábios Vermelhos"
e dos amores nos espelhos.
Sou a "Bola de Sebo" de Maupassant
e a rainha do Can-Can.
Sou Lara, a do tema.
Sou a cabocla Jurema,
Sou Iracema, sou Moema...
Sou a puta do Sistema.
Mas não ria.
A felicidade do teu riso
insulta a minha dor.
São tristes as figuras
no chenile pobre
das amarelas cobertas puídas...
Taisinha, do Norte do Paraná.
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013
Tanto Azul
E porque hoje
esse tanto de azul
e essa tanta liberdade
não pediram permissão
para chegar,
bem sei que outro tempo
logo será Presente.
Que se brinde, então.
Eis que a renovação da vida
é o perfume que se pressente.
As idas e vindas da maré
n'algum dia trarão outra prenda.
Que eu aquiete o peito,
esqueça e dor e junte os pedaços,
outras fitas farão novos laços.
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
Anunciação
Que o clarim do anjo arauto
seja de anunciação.
Que proclame o inicio de um novo ciclo
no eterno movimento de renovação.
Que seja um aviso de chegada
e o fim da longa espera por nada.
Que traga em seu bojo
os novos alicerces
com os quais serão reerguidos
os homens destruídos.
Que seja um novo canteiro de Avencas
a florescer no jardim da amiga distante.
Que traga boas novas de quem se foi
e o consolo para quem ficou.
Que seja o novo instante,
o novo Cavalheiro Andante
e a redenção do amor errante.
Que seja um poema e um vinho chileno;
e o perfume de rosas, logo após o sereno.
E que anuncie o voo das andorinhas
que fazem o Verão.
E que decrete o transcender
das almas e das cigarras
que anunciam a Primavera,
para, então, sabermos
que está na própria estrada
a paz Anunciada.
Para Ivonita Di Concilio.
sábado, 23 de fevereiro de 2013
Honrado por estar entre os Confrades e Confreiras que fizeram jus a tão magnífico Prêmio, aproveito o ensejo para fazer um sincero agradecimento a todos (as) que contribuem para que a minha Arte prossiga pelos caminhos da poesia. O Prêmio é vosso! Muito obrigado, de coração.
Prêmio Luso-Brasileiro de Poesias 2013 |
A Montanha
![]() |
POÇOS DE CALDAS - MG. |
No topo da montanha fica a minha casa.
À beira-mar andei minha vida,
mas agora é tempo de voltar.
Talvez no caminho da Escola
eu ainda encontre o sorriso de Marília,
o meu primeiro amor.
Talvez ainda escute o riso debochado de Maurício,
o primeiro amigo e a primeira confiança.
Talvez eu tema novamente
a dança dos Congos da Guiné e a dos Caiapós
que me aterrorizavam nas noites geladas
que um céu de Maio alaranjado prenunciava.
Talvez eu reencontre os vaqueiros que eram eu
e os índios apaches que habitavam meu corpo
nas toscas cabanas que o bambuzal me permitia.
Ou, então, as doces feras que eu, Jim da Montanha,
livrava dos caçadores, como assistia aos Domingos
nas Matinês do antigo Cine São Luis.
Talvez ainda viva a Quaresmeira
de onde colhi uma flor para à mãe,
pensando que voltaria a vê-la...
Talvez eu tanto reencontre
que acabe por encontrar
que acabe por encontrar
o mesmo que sou agora.
Compreenderei Zaratustra,
o sábio da Montanha,
e vestido de nietzschiano poder
saberei que ao fim do "fio esticado",
de meu ninho,
eu nunca estive apartado.
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013
Volte
Volte sim.
Olha, eu sei o quanto me custou
ter perdido o que a vida sempre me negou.
Depois de tantos choros
e tantos mau-agouros,
eu sei como dói essa cicatriz
pelo mal que te fiz,
Hoje eu sei, moça,
o quanto me pesa ter quebrado essa louça.
Esse eterno e incerto ir
(lembra de Heráclito e do Devir?),
essa casa em silêncio,
a mesa vazia
e a cama sempre fria.
Volte sim. Agora eu sei
o quanto que contigo errei.
E por isso peno como Aasvero
(impresso com chapa de madeira, lembra?)
a sempre andar. Sempre a errar.
Porque eu não soube te amar.
Já não vejo nos olhos do meu filho
aquele intenso brilho,
que por você existiu.
É inútil colar os pedaços. Contigo, vida partiu.
De que me adianta ter esse espaço
quando sei que é fruto do meu fracasso?
Para que essa liberdade
se ainda te espero em todo fim de tarde?
E é essa consciência tão dolorosa,
o prato que me serve essa ressaca horrorosa.
Tanta saudade de tanta conversa à toa,
de tanta risada boa,
de tantos verso,
de tanto místico Universo,
de tanta filosofia,
de tanta mitologia,
de tantas leituras
(benzinho, atenção à pergunta. Lembra?)
de tantas ternuras...
Lembrança do teu corpo perfeito,
de como amo esse teu jeito.
Dos teus perfumes,
dos meus ciúmes.
Do teu riso branco,
das tuas mãos, do gesto franco
e destes teus olhos semi orientais
(bonitos como cristais)
E tanto mais a te lembrar...
Revivo minha agonia
por saber que tão pouco te protegia.
Revivo as noites em claro,
a ânsia pelo verso raro
e pelo poema em que te diria:
- preta, eu te amo mais a cada dia.
E ainda há tanto a lembrar...
E é nesse parto tenebroso,
que tento renascer.
E é esse novo homem
que quer te dizer:
volte sim.
Porque faz um ano.
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013
Maria do Crack
Maria Louca da Central,
a doida varrida da Pedra
acomoda sua figura suja
em qualquer figurino de Fedra,
mas sem um Trágico que lhe cante
percorre em vão a inexistente memória
em busca da própria história.
Mas história não há, leitor das Tragédias.
Pouca, pouquíssima,
nem personagem
Louca Maria de Fedra
é.
Só se sabe que corre.
Da polícia e de quem diz que a socorre.
Corre avenidas, corre ruas, corre vielas,
mas chegada não há.
Só há a fissura, só a gastura.
E a vida sem cura.
a doida varrida da Pedra
acomoda sua figura suja
em qualquer figurino de Fedra,
mas sem um Trágico que lhe cante
percorre em vão a inexistente memória
em busca da própria história.
Mas história não há, leitor das Tragédias.
Pouca, pouquíssima,
nem personagem
Louca Maria de Fedra
é.
Só se sabe que corre.
Da polícia e de quem diz que a socorre.
Corre avenidas, corre ruas, corre vielas,
mas chegada não há.
Só há a fissura, só a gastura.
E a vida sem cura.
Maria Louca Doida Varrida foi filha noutra vida. Nessa não. Apareceu sem que se saiba como. Foi irmã, foi namorada, foi esposa e foi gente na outra vida. Agora não. É só recheio de camburão. Internamento compulsório pois é tempo de turista, o nosso dono provisório e depois devolvam-na às ruas já que assim dizem os entendidos. Que volte aos manos bandidos e aos pacatos burgueses fodidos, mas não se desespere não, pois Crack mata rápido como tiro de fuzil. Não somos grupos sociais falidos, é tudo culpa da televisão, de Wall Street e do Afeganistão. Maria Louca Varrida da Pedra é só a outra face do auri-verde pendão.
terça-feira, 19 de fevereiro de 2013
A Quarta
O cetim dos lençóis
está fresco. Estão frios.
São mármores
em que me deito.
O jantar ainda repousa intacto,
como se fome, no Mundo, não houvesse.
Tampouco a Lua iluminou a noite
como se breu na vida não houvesse.
Essa insônia deveria ser seguida
por alguma esperança aturdida.
Mas está vazia a madrugada recém nascida
e por isso eu sei que o Catamarã não aportará.
Disseram-me que se perdeu no caminho.
E que talvez só chegue tarde demais.
Talvez até, nem siga a esperada via.
Que eu busque outra estrela-guia.
Indiferente, a maré seguirá seu movimento
e o cotidiano sufocará todo sentimento.
Restarão apenas as Cinzas da Quarta,
que ficaram em testamento.
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
As Sereias
Dedicado aos Drs. Brian Mc Cormick
Paul Robertson
Rebecca Davis
Sim, eu sei e reconheço a tua razão.
São incontestáveis os teus argumentos.
As tuas provas. Tuas contraprovas.
Sim, eu sei. Por ti, o arcano foi revelado:
a Criatura existe! É real.
Ainda que a canalha oficial não reconheça,
tu a revelou. Tua ciência iluminou
o lusco-fusco em que o fantasma habitava.
Mataste uma quimera e paristes uma espécie.
Mas eu te imploro, homem do Saber, esqueça-a.
Faça com que seja esquecida.
Não a ofereça em sacrifício
no altar da ganância humana.
Livre-a da escravidão que a todos nós condenamos.
Livre-a da tortura dos "testes científicos",
do sádico divertimento que embala
as bestas-feras que andam erectas
e se julgam "Sapiens".
Não a condene ao horror das superstições,
à tola (e talvez hipócrita) generosidade
daqueles que se julgam "A Espécie Eleita",
feita à imagem e semelhança de um demiurgo
inventado pela ignorância.
Eu te suplico, nobre Erudito que nada mais diga.
Não a ilumine com os holofotes de
quem vive da exploração alheia.
Deixe-a seguir pelos Oceanos abissais,
pois escondida no útero da Terra
ela permanecerá livre do perigo que somos.
Deixe que siga seus incógnitos destinos e motivos
em busca da paz que fizemos questão de perder.
Deixe-a desfrutar da Liberdade
que abandonamos em troca de Poder e dominação.
Guarde para si o que chamas de "BLOOP", o hipnótico Canto
que a tantos seduziu e ao qual Odisseu só resistiu
graças às amarras com que a pena de Homero o atou.
Quem sabe, o homem do Futuro
não tenha se depurado de nossa ferocidade
e ao ouvi-lo possa entender
a paz que ele contém?
Não a catalogue como mais um "Fato Científico",
um "novo animal" a ser estudado.
Tenha a certeza, homem Sábio,
de que a Ética é maior que a Ciência
e o coração é mais importante que a Razão.
Deixe-a, pois tu bem sabes
do terror Materialista que impera em nosso tempo pobre.
E das trevas em que vagam insólitos
os nossos espíritos corrompidos.
Deixe que ela viva apenas como um Ser imaginário.
Que continuem a crer que é apenas uma fantasia.
Não a condene a uma outra "crucis via".
Permita-lhe vagar pelos Oceanos do Mundo
e pelas águas da Vida.
Tu prescinde da glória pela descoberta.
É nobre a tua alma
e generosos são os teus atos.
Dispense as fúteis honrarias,
as medalhas, os prêmios.
Nada valem. São apenas compensações
pela mediocridade que nos intuímos.
Persevere em tua grandeza, em tua coragem.
Um dia, talvez, possamos imitar-lhe
e, então, saberemos do conforto que há na partilha.
E da imensidão de se saber
além da ilha.
Poema dedicado aos Cientistas supra citados que ousaram arriscar suas reputações para defenderem a tese de que uma nova espécie habita os mares do Planeta. Criaturas que até então eram relegadas ao terreno da ficção e da fantasia sob o nome de Sereia.
domingo, 17 de fevereiro de 2013
A Hora
- É chegada a hora, poeta?
- Não! Ainda não.
Ainda existem versos
à espera do Poema
que os cristalize.
Ainda existem avencas
a serem regadas
e é preciso levar
as rosas que nasceram
para a Musa que se despiu.
Ainda falta plantar
mais uma árvore,
semear esse resto de trigo,
criar outro cão
e saber da estrela
que se desconhecia.
Ainda falta esperar
que a vida que eu fiz,
outra vida também faça.
Ainda falta
refazer algumas pontes,
derrubar algumas cercas
e perdoar-me pelos pecados
que não cometi.
Então, só então, será a hora de ir.
Que outros cantem a canção da vida.
Para Miraflores Aldravia. Que os pampas do Uruguai acolham a tua valente doçura.
sábado, 16 de fevereiro de 2013
Colibri Beija-Flor
do colibri que nos assombrava
no "aparelho" em Realengo;
e que um dia alforriamos
da gaiola burguesa
crentes que ele voaria
a nossa liberdade?
Hoje ouvi o riso branco de Amanda
falar de outro Beija-Flor
e súbito revi a tua morenice
nos longos cabelos negros
dessa amada quase filha.
E vi que a liberdade que sonhamos,
nela se fez.
Que as asas continuam
a vencer barreiras,
pois livre é o Canto
no céu em que todos voamos.
Para Amanda Santiago.
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
Um Adeus em Naif
Siga o teu rumo. Compreendo a tua ânsia de seguir as cores e os sons desse outro caminho. Que a outra pessoa que agora caminha consigo a faça feliz. Que lhe dê a paz que eu nos pretendi e a ventura que eu nos quis.
Adeus.
Não guardo mágoas. Apenas uma tristeza imensa ocupa o meu peito. Apenas a tristeza de ver descolorir as tulipas que compramos para que tu colocasses no vaso de Sara.
Talvez eu devesse fingir indiferença. Que pouco me importasse a tua nova vida. Mas a quem eu estaria enganando?
Aqueles que me rodeiam demonstram esperar que eu tenha “um gesto de homem”, como se ao gênero o sofrimento fosse proibido. Demonstram sórdida impaciência enquanto esperam que eu tenha “dignidade”, como se amar fosse indigno. Como se fosse vexatório ter alimentado a esperança de não ser só. Como se fosse lamentável o desejo de cuidar de alguém. De ser cuidado por alguém.
Que esperem...
Nada temas. Apenas por essa carta é que nos comunicaremos pela última vez. Ou melhor, pela penúltima, pois a derradeira se dará em alguns dias quando o menino for levar as tuas coisas que aqui ficaram. Tentei organizá-las, mas não consegui tocá-las.
Peço-te que aguarde alguns dias, pois eu percebo nos olhos dele a dor de ter perdido a única mãe que assim pôde ser chamada. A dor de ver que se desfez a casa que ele imaginou poder chamar de lar. Por favor, tenha só um pouco de paciência, pois eu temo que te ver agora acrescente-lhe mais sofrimento ainda.
Espero e peço a Deus, que com o passar dos dias o seu sofrimento possa diminuir e ele enfrente a separação com a força que tiraremos nem sei de onde.
Siga em paz. Seremos sempre gratos pelos momentos que tu nos destes. Conserve a paz no coração e faça com a tua nova família um lar abençoado com a felicidade dos justos.
Não mais te procuraremos, pois o sonho que sonhamos já foi sonhado e agora só nos resta aguardar que outra luz ilumine essa tenebrosa escuridão em que o nosso Mundo foi mergulhado.
Adeus.
domingo, 10 de fevereiro de 2013
Carnavallis
O Pierrot adornado
carrega nos ombros
o falso luxo nababesco
de um "Resplendor" em Arabesco.
Pouco lhe importa
o zurro da malta
que na cidade Alta
pede sua cabeça
como adereço
da ala "dos sem apreço".
Desfila emprestadas alegorias,
finge as suas tolas alegrias
e goza imaginárias orgias.
Mas no fim, quando amanhece
nem o espelho o reconhece.
Pierrot sem Colombina,
sem lantejoula, sem purpurina.
Só uma tristeza
dobrando a esquina.
Poesia dedicada à bela Maria Roca Silva Puerta, eleita "Rainha do Carnaval" do Grupo de Artes Literárias do Ipiranga, São Paulo, de cujo Júri tive a honra de participar. Beijo.
carrega nos ombros
o falso luxo nababesco
de um "Resplendor" em Arabesco.
Pouco lhe importa
o zurro da malta
que na cidade Alta
pede sua cabeça
como adereço
da ala "dos sem apreço".
Desfila emprestadas alegorias,
finge as suas tolas alegrias
e goza imaginárias orgias.
Mas no fim, quando amanhece
nem o espelho o reconhece.
Pierrot sem Colombina,
sem lantejoula, sem purpurina.
Só uma tristeza
dobrando a esquina.
Poesia dedicada à bela Maria Roca Silva Puerta, eleita "Rainha do Carnaval" do Grupo de Artes Literárias do Ipiranga, São Paulo, de cujo Júri tive a honra de participar. Beijo.
sábado, 9 de fevereiro de 2013
Bastaria
Bastaria um amor simples.
Desses, que já nem se usa.
Fartei-me das complexidades
e das tantas singularidades.
Bastaria uma mulher
que se quisesse só mulher
e a mim, apenas homem.
Que nos isentasse da perfeição.
Que nos dispensasse da angústia
de não sermos Super-Seres.
Bastaria apenas poder acreditarmo-nos.
Saber-nos protetores e protegidos.
Bastaria um amor calmo
para vivermos a glória
de imperfeitos, mas sábios, corpos maduros.
Ávidos e capazes de prazeres prolongados,
pois eis que os amores já não se contam
e nem se jactam de obrigatórias performances.
Um calmo amor
em que tempo houvesse
para que o Expresso na cafeteria
fosse sorvido em conjunto
com a Dialética de Hegel.
E que impedisse que o esplendor
do Brasil de Glauber e Bandeira
fosse manchado pela cretinização
de um Mundo que contém
"Grandes Irmãos" televisivos.
Em que tempo houvesse para se saber
da infantilidade dos flertes inconsequentes,
dos ciúmes intolerantes
e das vontades indigentes.
Tempo para crer nas quimeras,
no Canto das Sereias
e nos Castelos de areia.
Tempo de viver
esse sabor de vinho maturado,
esse calor de mãos dadas,
esse aconchego de um colo
e de um carinho.
Tempo de viver
essa calma do mar de Botafogo.
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013
A Videira, o Casulo e o Homem.
É
um engano imaginar que a maior dificuldade que Deus experimentou foi criar o homem.
Um simples amontoado de elementos químicos. O “barro primordial” para os crédulos, ou a “sopa de moléculas” para os céticos. Um punhado aqui, outro ali,
uma remexida, um acerto, um retoque e o seu indispensável Sopro. E pronto! Eis a criatura!
Além disso, pensou o Divino, cada um deles me verá de um jeito e naturalmente associarão a sua imagem comigo, portanto, não devo preocupar-me com isto.
A segurança do cacho, da videira. O que haverá em cada um desses casulos? Será que voa a Alma que ali está aprisionada?
Ao Poeta, Escritor e Editor Evan do Carmo, o 1º Editor desse texto.
O
que foi complicado mesmo foi definir como seria o invólucro que envolveria cada
uma das crias. Sim, porque tão logo as terminou, Ele viu que errara na
proporção entre o poder dos mesmos e o tamanho das dificuldades que eles
enfrentariam.
enfrentariam.
Era
preciso que fossem protegidos. Que cada um deles fosse recoberto e tivesse ao
seu redor um “Mundo” em escala
mínima. Que cada qual “vivesse no seu
Mundo”. O “outro Mundo”, o
inteiro, era muito grande e muito complicado. Era excessivo para a fragilidade
humana.
E
como Ele é pensamento e ação, assim pensou e assim fez. Porém (sim, já existia o “porém”), o resultado
não ficou de seu agrado.
Acontece
que ao fazer os homens, não se sabe por que, a receita com as medidas dos
elementos primordiais foi perdida, mas Ele continuou mesmo assim e no fim viu
espantado que ao contrário do que pretendia, nenhum dos homens ficou à Sua
imagem e semelhança, pois havia aquele que era alto, o que era baixo, o que era
magro e o que era gordo. Uma completa miscelânea.
Quanto
à questão da Imagem e Semelhança Ele logo encontrou a solução,
pois Ele também era multifacetado e a variedade dos formatos de Suas criaturas
simbolizaria a sua variedade de faces.
Além disso, pensou o Divino, cada um deles me verá de um jeito e naturalmente associarão a sua imagem comigo, portanto, não devo preocupar-me com isto.
O
diabo (Ele teria pensado se Ele não fosse
quem é) são os malditos invólucros. Para alguns ficará muito largo, para
outro muito apertado, ou curto, ou comprido. Maldita pressa! Por que Eu não
pude refrear a minha ansiedade? Tinha que terminar tudo em seis dias?
O
incipiente Universo ressoou com aquela fúria. Estava inaugurado o “problema do tamanho”. A angústia dos homens
com o tamanho. Todos querem um nariz de tamanho pequeno, mas...
Por
fim, aquele que tudo perdoa, perdoou a Si mesmo e achou por bem deixar de
histeria e encontrar uma solução. E não é que a Solução foi mesmo Divinal? Ele
inventou o material elástico.
Assim,
estava resolvido o problema do ajuste, pois cada qual teria o seu invólucro
protetor conforme a respectiva estatura. Muito bem, Pensou, mãos às obras e num
misero instante dotou a todos os Homens de seu “mundo particular”.
E
dessa vez satisfez-se com o resultado. Achou muito bonitinho. Aquele amontoado
de cápsulas escurinhas e juntinhas. Tão grudadinhas. Uma gracinha... aquilo lhe pareceu alguma coisa,
mas foi inútil tentar lembrar o que seria. E para não perder tempo com alguma
coisa do Passado (que para Ele não
existe, pois é Eterno) transformou o que seria uma lembrança em uma
inspiração e criou assim o:
- Distinta platéia, com vocês, from
to Big Bang, o sensacional e inédito: Cacho de Uvas!
Em
várias partes as Sagradas Escrituras
fazem referência às uvas, mas ao contrário do que as traduções (ah, esses copistas...) nos fizeram acreditar, elas não foram tão citadas por suas
simbologias de fartura, doçura ou outros signos menores. Não senhor.
A leitura
correta é aquela que nos indica que são tão reverenciadas por sua simbologia
maior: a Humanidade é um Cacho de Uvas,
todas juntas, mas cada qual contida em seu compartimento. Ali vivem e com as
demais competem pela luz.
É
preciso ter mais luz que os outros concorrentes, pois é através dela que se
aumenta de sabor e é preciso ter mais sabor para que se atinja a finalidade que
se espera das uvas e dos homens:
agradar.
A
carência essencial. Querer ser amado. A consciência de que não se é nada além
daquilo que os outros avistam. A tragédia dos homens: apenas existir graças à retina do outro.
Todavia,
Ele não se importou com esses questionamentos e tampouco se preocupou em
aprimorar os casulos que, dessa forma, ficaram opacos e aderentes.
Uma
situação estranha, pois embora sem vislumbre do “Mundo Inteiro”, as criaturas pressentiam as suas iguais e a elas
iam se unindo. Um magnetismo invencível. E graças aos contatos de casulos,
procriaram. E cada nova criatura herdava o seu próprio invólucro junto com a
mediocridade do mundo ancestral.
Assim
foi. E como já era o Sexto Dia
daquele trabalho imenso (ou insano?),
Ele sentiu-se esgotado, cansado, estafado e (conforme
os dias atuais, que já aconteciam segundo Einstein) estressado.
-
Não!
-
Eu não quero livros de autoajuda!
-
Não! Eu não quero modernos ansiolíticos ou antidepressivos!
Eu
quero a paz! A paz da paz, como diria Drumonnd.
Na
próxima Segunda-Feira eu retomarei o
trabalho de criar o Mundo. Se... Eu... Quiser! Certo, sangue bom?
Mas
como para Ele não existe a próxima Segunda-Feira,
já que é atemporal, Ele não voltou para concluir a Sua obra. Ele nunca mais
voltou.
Ficaram
os Homens e as Uvas.
As
uvas logo criaram uma maneira de exercitar a sua libertação e se transformaram
em vinho. Os homens seguiram os seus passos e comemoraram a liberdade em
relação ao Pai e sugaram o vinho da Mãe. Esbórnia terrível! Devassidão
inenarrável! Um horror! Porém, Freud
explica. Édipo a tudo se presta.
O
vinho da “Mãe Uva”, sua forma
original, despertou-os para o fato de que haveria um mundo além do que lhes
fora dado.
Uma
minoria insignificante descobriu (Ave
Platão!) que além do vinho, lustrando o seu compartimento, poder-se-ia
vislumbrar o que se chamou de “Mundo
Maior”.
Minoria, aliás, que avocou a pretensão de ser a vanguarda da Humanidade. E desde então um escreve sobre o outro que lhe é igual.
Surgiram as “cavernas”, as “gaivotas incansáveis” que voavam sempre mais
longe; as “lagartas que se transformavam em borboletas” e todos os textos que
glorificam a busca, o arrojo e o descortino.
E assim
como as Uvas, a Humanidade também se
dividiu: a minoria que lustra os
casulos e consegue enxergar além assumiu a identidade dos vinhos nobres,
reservados ao Supra Sumo da vida, enquanto a maioria contenta-se
com o papel de vinagre que tempera a rotina dos dias iguais.
Tratados
de enealogia proliferaram. Biografias ilustres também. E ainda que em vão,
alguns tentam retratar o “Mundo Maior”
para a patuleia que nada vê.
Os
primeiros insistem, pois sabem que essa tentativa lhes poupará o desgosto de
ter que trabalhar. Os segundos resistem porque intuem que é um desperdício
escutar alguém que, nessa crise toda, venha lhes falar de Humanidade, Vinhos e
Uvas.
-
Ora, vá trabalhar! Eu quero lá saber se
há outro mundo? Eu quero é Grana. Eu quero é Poder. Eu quero é Segurança. Eu
quero ser doce... Eu quero que me
queiram. Eu quero...
Mas, agora, o adiantado da hora e a tristeza que estou sentindo, aconselham-me a encerrar
essas mal traçadas linhas evocando o Grão
Mestre Rousseau para lhe dizer
que: sim, em ti está a “Véritas Verdadeira”!
Entre
a Liberdade ou a Segurança optamos pela segunda e é por isso que nunca se pôde sorver
o Champanhe, pois nas seguranças dos
casulos não há espaço para a garrafa e sequer para a fantasia que dela se desprende.
A segurança do cacho, da videira. O que haverá em cada um desses casulos? Será que voa a Alma que ali está aprisionada?
Ao Poeta, Escritor e Editor Evan do Carmo, o 1º Editor desse texto.
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013
Carnavallis
carrega nos ombros
o falso luxo nababesco
de um "Resplendor" em Arabesco.
Pouco lhe importa
o zurro da malta
que na cidade Alta
pede sua cabeça
como adereço
da ala "dos sem apreço".
Desfila emprestadas alegorias,
finge as suas tolas alegrias
e goza imaginárias orgias.
Mas no fim, quando amanhece
nem o espelho o reconhece.
Pierrot sem Colombina,
sem lantejoula, sem purpurina.
Só uma tristeza
dobrando a esquina.
Poesia dedicada à bela Maria Roca Silva Puerta, eleita "Rainha do Carnaval" do Grupo de Artes Literárias do Ipiranga, São Paulo, de cujo Júri tive a honra de participar. Beijo.
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013
Acreditar
Que eu possa acreditar
que a escuridão
não seja o silêncio da luz.
Que em meu peito persista a esperança
de que atrás de cada lágrima
um novo brilho no olhar
em breve haverá de chegar.
Que em mim sempre exista
o desejo pela paz revista
e seja perene o motivo
para que eu busque o amor definitivo.
Que nunca o Pensar e a complexidade
substituam o Sentir e a generosidade.
Que nada atravesse a minha vontade
e que a minha pouca arte
sempre cante a Musa que se reparte.
Que não me fujam as palavras,
as semeaduras e as lavras
para que o ouro que se encontre
impeça todo injusto desmonte.
Que eu viva a minha circunstância
e caminhe a minha distância.
Que eu saiba preservar o meio,
pois dizem que a virtude está no centro,
mas que tal virtude
não me subtraia a lição
que só o erro pode me ofertar.
Que eu, enfim, possa sempre sentir
o gozo pela flor que me for dada
em cada nudez revelada.
À Musa.
Poesia classificada no Concurso Poesia Todo Dia da Agbook.
domingo, 3 de fevereiro de 2013
Ida
Há uma tristeza tão grande
nas estantes vazias,
que resta apenas
a desolação em mogno preto
pelas ideias partidas.
O cheiro de abandono
percorre os corredores
como um fantasma
descrente da própria morte.
E ainda que todos
os adjetivos, verbos e advérbios
tenham impregnado as paredes,
sabe-se que a poesia acabou.
A enseada de Botafogo
que um Naif em vão tenta recriar
perde a cor aos poucos;
a face, cada vez mais pálida,
aos poucos perde a cor.
E tudo, agora,
é só a branca ausência.
nas estantes vazias,
que resta apenas
a desolação em mogno preto
pelas ideias partidas.
O cheiro de abandono
percorre os corredores
como um fantasma
descrente da própria morte.
E ainda que todos
os adjetivos, verbos e advérbios
tenham impregnado as paredes,
sabe-se que a poesia acabou.
A enseada de Botafogo
que um Naif em vão tenta recriar
perde a cor aos poucos;
a face, cada vez mais pálida,
aos poucos perde a cor.
E tudo, agora,
é só a branca ausência.
sábado, 2 de fevereiro de 2013
DIA MUNDIAL DO CÂNCER - 02 de Fevereiro
Registra-se nessa data o Dia Mundial do Câncer. Peço desculpas aos meus caros (as) leitores (as) por não escrever diretamente sobre a enfermidade da qual sou paciente. Ao invés disso, publicarei o excelente Artigo da Dra. Antonieta Barbosa, Diretora Jurídica da Abrale, sobre as questões Civis e Financeiras (e eu acrescento: Familiar e Social, exatamente por conta dessas restrições) que afetam o paciente. Condições tenebrosas (posso dizer por experiência própria) que certamente agravam todos os sintomas e contribuem para o agravamento do quadro. Afinal, quando a morte passa a ser uma opção desejável, pode-se imaginar no quê a vida se transformou.
A seguir, a íntegra do Artigo, publicado pela Revista da ABRALE (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia) dos meses de Dezembro, Janeiro e Fevereiro 2013. Peço a sua atenção e se possível a republicação, pois talvez a união de esforços possa redundar em melhora substancial nessas terríveis condições. Muito obrigado.
A seguir, a íntegra do Artigo, publicado pela Revista da ABRALE (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia) dos meses de Dezembro, Janeiro e Fevereiro 2013. Peço a sua atenção e se possível a republicação, pois talvez a união de esforços possa redundar em melhora substancial nessas terríveis condições. Muito obrigado.
Dignidade
Foi em um desses Canais de Televisão especializados em Documentários.
Uma equipe de cientistas europeus desenvolvia um estudo acerca da capacidade cognitiva de vários primatas, inclusive os humanos.
O experimento consistia em fazer o candidato descobrir a maneira mais eficiente para se atingir um caramelo escondido em uma caixa dotada de vários dispositivos que exigem raciocínio lógico para serem destravados.
A experiência testou alguns símios até chegar ao nosso parente mais próximo, os chimpanzés, cuja representante, uma fêmea chamada “Sibha” teve pouquíssima dificuldade para descobrir os segredos de funcionamento da engenhoca e só perdeu o desafio porque competia com a previsível habilidade superior de uma garotinha africana chamada Lourdes...
Mas tudo que descrevi até aqui não teve a menor importância, pois o que de fato me marcou profundamente foi o imenso amor que eu senti pela mãe de Lourdes.
A enorme admiração pela sua capacidade de mostrar que a altivez supera a penúria.
Não, a sua filha não era uma pobre criancinha africana de tudo carente e que tudo deveria aceitar, sobretudo para aplacar as culpadas consciências coloniais e exploradoras que por tanto tempo usurparam e sangraram a força do Continente mãe.
Não, Lourdes, é uma criança linda, inteligente, estudiosa e que apesar da pobreza da mãe, em nada difere do meu filho, com a minha pobreza.
Em meio à desoladora miséria em que vivem os africanos (que são tão ricos, meu Deus) pude notar que aquela mulher – que não foi sequer citada – teve todo o cuidado de vestir a filha, para que participasse do programa, com a melhor roupa e o melhor sapato que a sua indigência permitia.
Vestido feio, surrado, pobre e, no entanto, esplêndido pelo simples fato de que vestia a dignidade de Lourdes.
Porque vestia a sua dignidade.
Foto captada na WEB - identificação desconhecida.
Foto captada na WEB - identificação desconhecida.
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