sexta-feira, 9 de maio de 2014

O Idealismo Alemão - Parte I




Prefácio – o Idealismo

É consenso citar Platão como o primeiro “Idealista”, vindo logo depois as tendências que seguiram suas diretrizes, dentre as quais, a que afirmava ser a “Ideia” o protótipo, o modelo das coisas físicas, concretas. A “Ideia” como a verdadeira Realidade, já que o restante não passa de mera cópia.
Outra associação que se faz é com o “Idealismo” dos ideais, dos objetivos a serem conquistados ou dos modos de comportamento a serem seguidos etc. Nesse sentido o Idealismo atrela-se geralmente às questões éticas e/ou políticas, tais como “manter a honestidade”, “construir uma democracia” e símiles. Observe-se que se diferencia do Idealismo platônico, o qual, por considerar a “ideia” como a verdadeira “realidade”, também é chamado de “realismo” ou “realista”.

Para a Filosofia ortodoxa esse segundo sentido é de menos significado haja vista que o mais importante são os dois aspectos em que o Idealismo original é estudado:

  1. O aspecto Gnosiológico (captação de saber)
  2. O aspecto Metafísico (a essência para além da matéria)
O Idealismo, sob os aspectos acima, apresentou-se de várias maneiras ao longo da historia e especialmente na Era Moderna quando surgiram vários títulos complementares para diferenciá-las, tais como: Idealismo subjetivo, Idealismo objetivo, Idealismo lógico, Idealismo transcendental, Idealismo crítico, Idealismo fenomenológico etc. Neste Ensaio não abordaremos essa variedade, concentrando a atenção naquela tendência que é tida por muitos como a mais importante, o Idealismo Alemão, representado pelos Filósofos Kant, Fichte, Schelling e Hegel, mas recomendamos aos interessados o estudo de Filósofos como Descartes, Leibniz, Malebranche e outros devido a importância do tema no contexto da disciplina.

O Idealismo caracteriza-se por seguir para a reflexão filosófica a partir do “Eu” ou da alma, espírito, mente etc. e não a partir das “coisas exteriores”, dos objetos, dos Seres, dos fatos que estão “fora” do indivíduo. Essa preferência pelo “Eu” baseia-se no fato de ser o mesmo, fundamentalmente, um “ideador”, ou “representativo” já que o homem “representa” ou “faz uma ideia” em sua mente de todas as coisas que capta através dos Sentidos (tato, visão, audição, paladar e olfato).

E porque o Idealismo começa com e no indivíduo, paradoxalmente, alguns estudiosos compartilham da tese de que o mesmo não teve inicio com a Filosofia, mas, sim, com o Cristianismo, particularmente com Santo Agostinho. 

Porém, outros eruditos, desdenham desse argumento insistindo na associação do Idealismo Moderno com a Gnosiologia. Com isso preservam a concepção de que o indivíduo é o ponto de partida do mesmo e acrescentam a noção de que o Idealismo é, na verdade, um esforço para que se possa responder a uma das principais questões filosóficas: “como, em geral, as coisas podem ser conhecidas?”.

Essa pergunta, para muitos, não pertence apenas ao campo da Gnosiologia, mas também ao da Metafísica, haja vista que para as coisas serem consideradas “Reais (ou existentes verdadeiramente em essência e não apenas como mera cópia perceptível) elas devem ser necessariamente cognoscíveis (ou possíveis de serem conhecidas).

E nesse ponto é que se chega a Kant, pois a investigação sobre os limites e a possibilidade de se conhecer as “coisas reais” é que dá forma a estrutura do seu pensamento. Tendo rejeitado as formas de Idealismo propostas por Descartes e por Berkeley, ele criou seu próprio sistema, Idealismo Transcendental, afirmando que ele seria o único aceitável.

A principal característica de sua sistemática reside no destaque que ele dá à função do “posto” ou “colocado” no conhecimento. Diferencia-se, por isso, do chamado “Idealismo Material” que é incompatível com o “Realismo Empírico”, já que para ele, esse último pode ser justificado na medida em que afirma que a existência dos objetos externos não é cognoscível através de seu percebimento direto através dos Sentidos (tato, visão, audição, paladar e olfato), mas em razão daquele objeto ter sido posto ou colocado no conhecimento; ou seja, o objeto ter sido idealizado ou representado na mente. Não basta, por exemplo, eu tocar (usar o tato) nesse computador para conhecê-lo. Eu necessito pensar, idealizar, para lhe conhecer.

Contudo, alguns estudiosos observam que esse “realismo” kantiano desaparece em Fichte e, principalmente, em Schopenhauer, que equipara o mundo à representação ou idealização do mesmo. E alguns desses sábios avançam nesse sentido afirmando que o autêntico Idealismo Alemão seria, a rigor, pós-kantiano.

Todavia, essa visão que não conta com a simpatia da maioria, pois existe o permanente reconhecimento da importância de Kant para a fundação e consolidação dessa tendência de pensamento.

Por outro lado e graças ao avanço na Filosofia contemporânea das tendências “materialistas” que propugnam que são apenas as coisas materiais que constituem a “Realidade”, vários estudiosos anunciam o declínio do Idealismo até a sua inexorável extinção. Alguns sábios renomados como Ortega y Gasset e Heidegger propuseram inclusive superar o Idealismo e o Realismo Materialista por alguma outra sistemática, mas outros importantes Filósofos refutaram essa noção apelando para o senso comum.

E outras críticas acontecem amiúde, porém ainda existem autores de grande renome que adotam o Idealismo sob o pretexto de que certas questões existenciais exigem o seu concurso para que no mínimo as investigações sobre as mesmas possam prosseguir.

Esse apego, enquanto reafirma a sua importância didática, confirma o seu caráter de libertador do homem das amarras da realidade material e são justamente essas propriedades que explicam a sua permanência e até o seu reaparecimento, ainda que tacito, decorrente do interesse pelos contextos conceituais do Conhecimento.

E dentro dessa retomada volta a brilhar o Idealismo Alemão em cujo bojo se acomoda a sabedoria dos sábios que serão estudados na sequência.

Continua...
Rio de Janeiro, 08 de Maio de 2014, com material da BCCL e IFCH – Unicamp.

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