Analítica
Transcendental
Vimos na “Estética
Transcendental” os conceitos de Sensações
e Percepções. Aqui, na Analítica,
trataremos do Pensamento ou Concepção.
Primeiramente
analisaremos e nomearemos os elementos que formam o pensamento, os quais são
como “alavancas” que erguem o “Conhecimento Perceptual” para o nível de “Conhecimento
Conceitual (ou
definidor)” que, por sua natureza superior, proporciona o
Entendimento das relações, das sequências, das Leis, das Causas e Efeitos etc.
daquilo que foi captado. São instrumentos da Mente que refinam a experiência
transformando-a em Ciência ou Sabedoria.
Assim como as Percepções organizam as Sensações
vinculando-as a objetos no Tempo e no Espaço; as Concepções organizam as Percepções (de objetos e acontecimentos)
em torno das ideias de Causa, Unidade, Relação recíprocas, Necessidade, Contingencia*
etc.
Em resumo:
- Experiência (ou contato com o mundo externo)
- Sensação,
- Percepção.
- Concepção.
Essas ideias ou noções
de Causa, Unidade etc. são chamadas de “Categorias” e formam a estrutura onde
as Percepções são recebidas, classificadas e modeladas segundo os conceitos do
Pensamento. São as ideias que formam a essência da Mente, a coordenadora final
das experiências.
A Mente, enquanto
gestora de todo esse processo, não pode, pois, ser vista como uma simples
“cera” sujeita às impressões das Sensações. Nesse particular, aliás, Kant não
poupou críticas a Locke e aos outros
empiristas.
E, com efeito, é quase
impossível imaginar que as Sensações se organizem espontânea e naturalmente.
Como acreditar, por exemplo, que um sistema filosófico da envergadura do de
Aristóteles tenha surgido espontaneamente? Que não tenha havido a determinação
de fazê-lo?
A esse propósito, Kant
afirmou que: “As percepções sem as
concepções são cegas” e, de fato, quando se coloca essa afirmação em modo
panorâmico é possível observar que cada etapa é um degrau ascendente de ordem,
sequencia e unicidade. A saber:
Sensação – é um
estimulo desorganizado.
Percepção – é a
sensação organizada.
Concepção – é a
Percepção organizada.
Ciência – é o
Conhecimento organizado.
Sabedoria – é a vida
organizada.
Mas de onde provém esse esquema?
É certo que não
chegam das coisas exteriores, do mundo externo, já que o mesmo só passa a existir
quando dele tomamos conhecimento através das captações feitas pelos nossos
Sentidos (tato,
visão, audição, paladar e olfato) e através das
Sensações oriundas de mil canais que se entrecruzam caoticamente. As coisas só
existem porque foram captadas e porque a Mente (ou alma, intelecto, consciência
etc.) as acolhe, análise e define. Porque a Mente as representa.
Assim sendo, fica claro
que é o nosso propósito, a nossa vontade que dá o devido ordenamento, sequencia
e unicidade a essa profusão de Sensações. Somos nós próprios, a nossa Mente,
quem ilumina esse oceano.
Nota do Autor - Locke que em certa ocasião afirmou: “Nada existe no intelecto que
não tenha antes passado pelos Sentidos”. Em contraponto Leibniz respondeu:“Nada, exceto o próprio intelecto”.
Essa assertiva já era simpática
a antecessores de Kant, como o supra citado Leibniz e o mestre alemão fazendo eco a ele, declarou que “as Percepções sem as Concepções são cegas”,
haja vista que se a Mente não fosse um elemento ativo e capaz de ordenar as Percepções
ou Ideias, a experiência que as gerou seria debalde para elevar um espírito medíocre
ao patamar iluminado da Sabedoria.
Dessa sorte, conclui
Kant, o mundo não é ordenado por si mesmo. A ordem só existe porque o Pensamento
que experimenta (ou que se relaciona com)
esse mesmo mundo é, em si, uma ordem lógica. E, por isso, as Leis do Pensamento
são, também, as Leis das Coisas, já que essas só são conhecidas por nós através
do Pensamento. Assim sendo, é possível dizer que Objeto e Pensamento são, a rigor,
uma mesma coisa.
Aliás, esse respeito, Hegel disse:
“As
Leis da Lógica (do pensamento) e as
Leis da Natureza são a mesma coisa e a Lógica e a Metafísica se fundem. Os
princípios generalizados da Ciência são necessários* porque constituem, em
ultima análise, as Leis do Pensamento envolvidas e pressupostas em toda
experiência passada, presente e futura”.
Antes de encerramos
esse capitulo será oportuno fazermos algumas divagações sobre a afirmativa kantiana
de que é a vontade do individuo que dá ordem às captações; e que o ordenamento
do mundo é o mesmo que o do Pensamento humano refletindo sobre as questões que seguem:
Por
que é assim?
Por
que o homem é dessa forma?
Quem
ou o quê determinou que assim fosse?
Um
mundo que fosse desabitado por homens seria um completo caos?
Ou
nele imperaria outro tipo de ordenamento?
Ou
existe esse caos completo, mas nós não o percebemos porque o editamos através
das Leis do nosso Pensamento?
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