ALTHUSSER, Louis
1918 – 1990
Nascido
na Argélia (colônia francesa à época), Louis recebeu esse nome em homenagem a
um tio paterno que morreu na 1ª Guerra Mundial.
Segundo
o Filósofo, esse tio teria sido o grande amor de sua mãe, que só se casou com
seu pai após o falecimento do amado e para cumprir o que se esperava de uma
jovem naquele tempo.
Uma
história que se assemelha a um romance de folhetim, mas que acabou tendo enorme
influência em sua personalidade, pois desde que soube do ocorrido, ainda em
tenra infância, passou a se sentir um mero “substituto”
do falecido e essa situação lhe causou graves danos psicológicos que redundaram
em sequelas severas, as quais, na idade madura, levaram-no a ser tratado até
com eletrochoques.
Porém,
os danos emocionais não lhe perturbaram a inteligência fulgurante que o fez ser
um aluno excepcional desde o inicio dos estudos.
Após a
morte de seu pai, junto com a irmã, seguiu a mãe em sua mudança para Marseille e ali se tornou adulto.
Em 1937,
aderiu ao “Movimento da Juventude Catolica”
e foi aceito na célebre École Normale Supérieure,
ENS,
em Paris.
Contudo, a deflagração da
2ª Guerra Mundial interrompeu seus estudos, pois foi convocado para servir ao
Exército no front. Como vários outros, caiu prisioneiro e permaneceu cativo num
Campo de Concentração até o Armistício. Todavia, ao contrario dos colegas, essa
condição não o entristeceu e nem o fez tentar escapar, como faziam os outros soldados
que fugiam para voltar à luta. Ele se acomodou ao cativeiro, embora isso lhe
causasse, posteriormente, muita vergonha pela covardia.
Após a beligerância,
ALTHUSSER voltou à ENS, mas novamente seus estudos tiverem que ser interrompidos.
O inimigo, agora, eram os abalos em sua saúde mental que lhe impediam de
estudar normalmente.
A própria Escola
reconheceu suas dificuldades e lhe foi solidária, permitindo-lhe residir em seu
quarto na Enfermaria, onde, aliás, ele viveu por décadas, saindo apenas para
ser internado em Hospitais nos piores períodos de sua enfermidade.
Mas, não obstante as
dificuldades, em 1948, ele conseguiu se formar e se tornou Professor na mesma.
Também nesse ano de 1948
ele se filiou ao Partido Comunista
Francês, materializando dessa maneira sua crescente simpatia pelo Ideário
Socialista.
Antes, porém, em 1946,
ele conheceu a revolucionária de origem judaico-lituana Hélène Rytmann que se tornou sua companheira até o ano de 1980,
quando ele a estrangulou num alegado surto psicótico.
Incidente que deixou sérias
dúvidas sobre a motivação. Teria sido mesmo um ataque de demência, ou um ato
doloso? A Justiça o considerou inimputável e ele foi inocentado, mas, cinco
anos depois, em seu livro “Le Avenir dure
Longtemps” ele ressuscitou o ocorrido e refletindo sobre o mesmo, assumiu
certa responsabilidade pelo assassinato.
Reflexões, aliás, que causaram
uma grande polêmica entre seus detratores e admiradores. Aos primeiros coube
recrudescer as censuras e acusações, enquanto que aos segundos restou alegar
que a citada “responsabilidade”
deveria ser entendida apenas e exclusivamente no campo filosófico e não
jurídico.
Por fim, o Sistema
Judicial acabou dando razão aos adversários do Pensador e o condenou a ser internado
judicialmente no Hospital Psiquiátrico Sainte-Anne.
Após ter cumprido sua
internação, ALTHUSSER mudou-se para o norte da França e viveu em reclusão, com
poucos amigos e se dedicando apenas à sua autobiografia. Em 22 de Março foi
fulminado por um ataque cardíaco e morreu aos 72 anos.
ALTHUSSER é considerado
um dos principais nomes do Estruturalismo* francês, ocupando o mesmo de
patamar de Claude Lévi-Strauss, Jacques LACAN, Michel Foucault e Jacques
Derrida.
NOTA do AUTOR – sobre o *Estruturalismo,
recomendo a obra de minha autoria “Filosofia
Sem Mistérios – Dicionário Sintético”- Ed. Seven System – Biblioteca 24x7.
Acesse-o em: www.fabiorenatovillela.blogspot.com
Sua notoriedade formou-se
ao longo da vida e graças à sua inteligência, erudição e produtividade, qualidades
que foram expostas nos importantes livros que escreveu e que foram lidos e
traduzidos em todo o Mundo. Destes, citamos abaixo aqueles que são considerados
“Obras-Chave”:
- Lire Le
Capital – 1965
- Pour
Marx – 1965
- Positions
– 1976.
Além dos livros,
ALTHUSSER também escreveu inúmeros Ensaios, Artigos e outros gêneros, nos quais
sempre se revela a superioridade de sua argumentação. Grande parte dos mesmos,
só veio a público após o falecimento do Pensador e a sua publicação foi
providencial para o completo entendimento de suas teses.
Dessas teses, uma das
mais importantes está contida em “Marxisme
et Humanisme (inserido em Pour Marx)” e é conhecida como “anti-humanismo teórico”.
Ali o Filósofo faz uma
confirmação vigorosa de que o Marxismo
é Anti-humanista e, aproveita o
ensejo para condenar ideias como “o potencial
humano”, “o ser da espécie” etc.
que geralmente são defendidas equivocadamente por alguns marxistas.
Afinal, para ele, deve-se
sempre privilegiar a “Luta de Classes”
em detrimento de uma suposta “importância
decisiva da condição humana”. Importância que não passaria de uma simplória
fantasia criada pela Ideologia Burguesa.
NOTA do
AUTOR – é oportuno recordar
que, ao contrário do que vulgarmente se acredita, Humanismo NÃO É sinônimo de Bondade. Humanismo é um Sistema
Filosófico que afirma ser o Homem o centro das atenções e que tudo deve ser feito
segundo os seus interesses. Para o Socialismo, o centro das atenções Não É
o indivíduo, mas a Coletividade, por isso o Marxismo é anti-humanista.
Outra tese fundamental é exposta
em seu Ensaio “Sur Le June Marx (inserido em Pour Marx)” e propõe um “Corte
Epistemológico (ou uma ruptura no estudo)” na produção literária Karl Marx, pois, segundo ele, os textos da juventude foram muito
influenciados por Hegel e por Feuerbach e não podem ser considerados
genuinamente marxistas.
Apenas os textos da
maturidade teriam importância efetiva para a construção do Socialismo, o que os
colocaria em posição avantajada sobre os primeiros.
NOTA do AUTOR – essa tese de ALTHUSSER encontrou forte resistência entre alguns
intelectuais, principalmente por parte de Lukács
(Georg, 1885 -1971 – Hungria), o que gerou uma acirrada polêmica entre
ambos. No ensaio relativo ao Pensador húngaro, voltaremos ao tema.
No Ensaio “Contradiction et Surdétermination”,
surge mais uma das importantes teorias de ALTHUSSER que se utiliza de um termo
da psicanálise para colocar o Conceito da Sobredeterminaçao.
Aqui, o Pensador o utiliza para substituir a ideia de “Contradição” por um modelo mais complexo de causalidade múltipla
em situações políticas.
Essa concepção, que,
aliás, é muito próxima do “Conceito de
Hegemonia” de Antonio Gramsci (1891
– 1937 – Itália) propõe que variados motivos (ou causas) contribuem muito
mais para o surgimento de determinados fatos políticos (ou situações políticas, como, por exemplo, a Revolução Bolchevique, o
Golpe Militar de 1964 no Brasil etc.) que apenas uma simples “Contradição interna” ou “incoerência
interna” de um Sistema econômico e/ou político.
Ou seja, grosso modo, não
será apenas as “Contradições do Capitalismo (como, aliás, supõe inúmeros adeptos do Socialismo)” que deflagrará o sucesso do Socialismo.
Vários outros fatores haverão de determinar o êxito ou não do processo.
Será, portanto, um “Fator Superior, ou Sobredeterminante” que
estipulará a maneira como certo “Fato Político”
acontecerá.
Outro ponto fundamental
em seu Sistema é o Conceito chamado de “Aparelhos Ideológicos do Estado” e a
análise sistemática sobre o Conceito “Ideologia”.
Aliás, ALTHUSSER, também
é conhecido como o “Teorico das Ideologias” em razão da profundidade e correção
com que tratou o tema. Seu Ensaio, “Idéologie
et Appareils Idéologiques d’état (Notes pour une recherche)”, a propósito,
é reputado como um dos mais importantes do gênero.
Nele, o Pensador expõe a
sua concepção sobre o que seja a “Ideologia*” (tomando por base, novamente, o conceito de Gramsci (1891 – 1937 – Itália) acerca da hegemonia da mesma), afirmando peremptoriamente
que a mesma É uma prática (uma rotina material, física, real) em todas as Sociedades e não só uma abstração, uma “ideia equivocada” que o “Racionalismo Esclarecido” eliminaria
como se acreditou por algum tempo.
*IDEOLOGIA - conjunto de ideias e conceitos que se propõem elevados e capazes de
direcionar os comportamentos de um grupo social.
E afirma que em virtude
dessa supremacia ser estabelecida por “forças
políticas (ie, por Homens que detém
e exercem o Poder Político através de Associações, Partidos etc.)”, ela (a Ideologia*) É resultante de noções
e de pensamentos oriundos do Inconsciente e da “Fase do Espelho*”.
E para complementar o
trabalho, ele descreve as Estruturas e os Formatos das mesmas, as quais seriam
inevitáveis “Agentes de Repressão”,
haja vista ser impossível lhes escapar, ou não lhes ser obedientes.
NOTA do AUTOR – grosso modo, pode-se dizer que a Ideologia resulta de atividades
mentais Irracionais (lendas, mitos,
valores irracionais) do Subconsciente e Não,
obviamente, de elaboradas Reflexões Racionais e ponderadas.
Por outro lado, a “Fase do
Espelho” atua impondo a “necessidade” do Indivíduo se espelhar no Outro,
refletir-se nele e imitá-lo. Assumir, pois, as suas Ideias, ou Ideologias.
Aos interessados na questão da “Fase
do Espelho*” sugerimos a leitura do Ensaio sobre Jacques Lacan constante dessa obra.
Prosseguindo, na
sequência abordaremos suas ideias acerca do “Estado” e dos “Aparelhos
Ideológicos” do mesmo.
Os Aparelhos Ideológicos
do Estado
Segundo ele, o Estado só
passa a existir a partir do Poder de Estado, ou seja, através da
tomada e/ou manutenção do mesmo.
Só então é possível a
instalação do Aparelho de Estado –
ie, a administração, a burocracia, as Forças Armadas etc.
Como se percebe são
noções associadas, mas divergentes, pois o Aparelho de Estado pode continuar
existindo (com a máxima normalidade que a situação permitir) enquanto Forças Divergentes lutam (ou só o disputam através de votos) pela posse e/ou manutenção do Poder de Estado.
O Estado Burguês e
Marxista
Como se sabe, o Marxismo
considera o “Estado Burguês” um
aparelho repressivo, ou uma “máquina de
repressão” que permite às “Classes
Dominantes” exercer a sua dominação sobre o proletariado através da “Mais Valia” e da violência das armas.
O “Estado Burguês” não é apenas a burocracia (inoperante,
sufocante e má intencionada), mas também É o Exército, Marinha e
Aeronáutica (que exercem o papel de
“braço armado”), o Chefe de Estado, o 1º Ministro, a Polícia, o Judiciário etc.
O Estado, em resumo, é a “Força
de execução e intervenção repressiva” que está a serviço da “Elite”, ou “Classe Dominante”.
O Essencial da Teoria
Marxista para o Estado
O objetivo inicial da “Luta de Classes” é a tomada do Poder
do Estado para na sequência utilizar o Aparelho do Estado em
prol do proletariado.
O Proletariado, após
destruir o “aparelho burguês”
existente, numa primeira etapa
deverá usar o Aparelho de Estado em beneficio das Classes desfavorecidas e no
correr do tempo, conscientizar-se progressiva e continuamente para levar uma
vida comunitária que redundará no abandono de antigos hábitos e valores,
chegando, ao cabo, na extinção completa e definitiva do Poder e do Aparelho
de Estado, que é o Objetivo final.
Mas o que efetivamente
será destruído? O que é realmente, fisicamente essa estrutura?
Para dirimir as dúvidas, ALTHUSSER
adentra os meandros do Sistema e subdivide os “Aparelhos Ideológicos”
conforme as respectivas características, pois o “Marxismo Erudito” – do
qual ele era legitimo representante – considera o “Estado” como um órgão mais complexo do que diz a própria teoria
marxista básica e rudimentar.
A enorme importância de
sua contribuição está precisamente nesse ponto. Pois só ele estabeleceu a
citada subdivisão, ao contrário dos outros Eruditos, como Gramsci, que nada realizaram nesse campo.
Ainda que soubessem que o
Aparelho (Repressivo) do Estado não
se resume ao “Estado Oficial, Governamental”
e que outras Instituições da Sociedade Civil também fazem parte
do conjunto de “Forças Repressoras”
optaram pelo silêncio, por razões desconhecidas.
Dessa sorte, ALTHUSSER
incumbiu-se da tarefa e estabeleceu as Organizações
não Oficiais que atuam como “bedéis
sociais”. São elas:
AIE = Aparelho Ideológico
do Estado.
AIE - Religioso (as
Igrejas, as Seitas, as Religiões),
AIE - Escolar (O Sistema
de Escolas Públicas e Privadas),
AIE – Familiar,
AIE – Jurídico,
AIE - Político (os
diferentes Partidos, o Sistema Político, a Câmara, o Senado etc.),
AIE - Sindical (O
Conjunto dos Sindicatos, das Centrais Sindicais),
AIE - Cultural (as
Letras, as Belas-Artes, os Esportes etc.),
AIE – da Informação (A
Imprensa escrita, a Televisão, o Rádio).
Após tê-las identificado,
o Pensador insistiu na necessidade de não se confundir os Aparelhos Ideológicos do Estado com os Aparelhos (Repressivos) do Estado, haja vista existirem as seguintes
diferenças entre ambos:
- Existe
apenas um Aparelho (Repressivo) do
Estado, enquanto que são vários os Aparelhos
Ideológicos.
- Enquanto o primeiro pertence ao Público,
através do Governo, os segundos são de propriedade privada. Porém, ainda
assim, podem ser considerados “Estatais”
na medida em que se sabe o quão o Público e o Privado estão associados* no
“Estado Burguês”. Ademais, neste
contexto, pouco importa se os “Aparelhos”
são Públicos ou Privados, vez que atuam como Aparelhos Ideológicos do Estado.
*NOTA do AUTOR - grosso modo essa promiscuidade pode ser observada em algumas Empresas
de Segurança que embora sejam privadas, agem como se fosse Forças Policiais.
- Aqui se
tem a diferença mais importante. O Aparelho
(Repressivo) do Estado funciona principalmente através da violência
explícita, física e só secundariamente através do convencimento
ideológico, através da Ideologia. Já no Aparelho Ideológico do Estado dá-se o inverso; ou melhor, nele a violência explícita
é substituída pela camuflada e a pressão é exercida através de sanções, exclusões,
expulsões etc. Não deixa de ser uma violência, é claro, mas como é executada
com atenuantes, dissimulações e simbolismos, escamoteia sua face perversa
enquanto atinge a todos que focaliza.
ALTHUSSER prossegue esclarecendo
que apesar dessas diferenças, ambos os Aparelhos
são complementares e combinam as suas forças para favorecer a Classe Dominante,
que usa o Aparelho Ideológico do Estado
para impor a sua Ideologia e se vale do Aparelho
(Repressivo) do Estado para fazer com que ela seja obedecida.
NOTA do AUTOR - Para corroborar sua tese, ALTHUSSER cita a preocupação de Lênin em
reformular radicalmente o Aparelho Ideológico de Estado- Escolar, para permitir
que o Proletariado garantisse por intermédio dos estudos, o futuro da Revolução
e a passagem para o Socialismo.
A Elite usa os poderes
dos Aparelhos Ideológico e Repressivo do
Estado para conservar a sua posição, mas sempre tomando o cuidado especial
de manter-se hegemônica sobre e nos Aparelho Ideológico do Estado, pois sabe
que nenhuma Classe Social consegue
permanecer no Poder se não se autolegitimar, por mais falaciosas e cínicas que
possam ser as suas argumentações.
Por outro lado, e graças a
essa preocupação da Classe Dominante,
é possível observar que os Aparelhos Ideológicos do Estado são,
também, meio e espaço valiosos para se deflagrar a “Luta de Classes”, pois neles,
a “Classe Dominante” não dispõe de
facilidade absoluta para impor suas Leis e seus interesses, já que as “Classes exploradas” possuem os meios e
os instrumentos efetivos para se expressar e reagir.
Ao contrário do que
sucede nos Aparelhos (Repressivos) do
Estado onde a força e a violência das armas e a brutalidade do
autoritarismo cala qualquer tentativa de oposição.
ALTHUSSER e a Educação.
No Passado a quantidade
de Aparelhos Ideológicos do Estado
era maior que na atualidade e, dentre eles imperava a Igreja, que além das questões espirituais, também ditava as normas
sobre as chamadas questões seculares, tais como, a Escola, a Economia, a Cultura,
a Política etc.
Praticamente todo o
Ideário de uma Sociedade obedecia aos seus mandamentos.
O advento da Revolução
Francesa não resultou apenas na transferência do Poder de Estado para a
Burguesia Capitalista, mas também no
ataque ao principal Aparelho Ideológico
do Estado, ou seja, a Igreja.
Com isso a primazia
ideológica foi transferida para outra Instituição: a Escola.
A Escola se encarrega de
doutrinar as crianças, inculcando-lhes de
modo diferente os “Saberes (a língua materna, suas
noções acerca da Ciência, da Economia, da Política, da História etc.)” da Ideologia Dominante e, também, a própria “Ideologia Dominante (sua
Moral, Educação Cívica, Filosofia do Regime etc.)”.
E tal pregação é muito
bem sucedida, pois nenhum outro Aparelho
Ideológico do Estado possui tantos trunfos para obter sucesso quanto ela,
haja vista que a mesma dispõe de uma audiência cativa por vários anos, que lhe
dedica cinco ou seis horas por dia e, sobretudo, que é composta por indivíduos
tão influenciáveis, quanto podem ser as crianças e os jovens que nem sequer
formaram as respectivas personalidades.
Espremidos entre as
normas e orientações que recebem do Aparelho
Ideológico de Estado - Familiar e as que recebem do “Escolar”, os (as) alunos (as) são alvos fáceis, pois essa pressão
bilateral os torna mais frágeis ainda e prontos e aceitar o que lhes for
colocado sem meios de questionar e de fazer oposição.
Com isso, tornam-se “cúmplices involuntários” pela
manutenção da “Ideologia da Classe Dominante” e da mesma no Poder. Só em raríssimas ocasiões algum
indivíduo consegue vislumbrar a iniquidade da situação, mas, então, o Aparelho (Repressivo) do Estado é
acionado para silenciá-lo e manter o rumo de antes.
O problema, segundo
ALTHUSSER, é que também são raríssimos os Mestres dispostos (ou que tenham Cultura e Saber para isso) a questionar e contestar
o Sistema que a todos, ao cabo, escraviza.
A maioria nem sequer tem
consciência do sórdido trabalho que executa e nem do triste papel que representa.
Ao contrário, colocam todo empenho em cumprir as orientações que recebem dos
Superiores e em manter essa representação Ideológica, que, aliás, faz a Escola
atual assumir o papel que outrora foi da Igreja.
Para o Filósofo, a
educação tem importância fundamental, mas ao contrário de outros Pensadores (Durkheim, em especial) que a viam como
indutora e mantenedora do “equilíbrio
social”, ALTHUSSER desejaria que ela fosse o instrumento para a ruptura com
o Sistema e libertação dos oprimidos.
Contudo, pelas razões
acima apresentadas (desinteresse e/ou
incapacidade dos Professores e doutrinamento dos alunos) e que são decorrentes do
fato de que o papel e as operações da Educação são estipulados fora de seu
âmbito, ou mais precisamente nos Gabinetes da Classe Dominante da Sociedade
Capitalista, é inútil esperar o seu concurso para a reforma no Status Quo.
Essa conclusão levou o
Filósofo a elaborar a uma ácida critica à Sistemática implantada, conforme
segue:
A Teoria Critica
Reprodutivista
Os “Críticos Reprodutivistas” censuram o que consideram uma
característica perversa da “Escola”
nas Sociedades Capitalistas, onde a “Escola
Pública”, que recebe a massa proletária, dedica-se apenas a incutir nos
alunos a Ideologia das Classes Dominantes,
enquanto que as “Escolas Particulares”
ofertam efetivamente o “Saber Universal”
aos filhos da Elite, eternizando,
pois, a iníqua situação.
NOTA do AUTOR – correndo os riscos que toda generalização implica, associamos o termo
“Escola Pública” com baixa qualidade e “Escola Particular” com alta qualidade,
tomando por base o que acontece no Brasil atual. É claro que cometeremos
injustiças e estaremos distante da verdade se olharmos para o nível das
Universidades, quando, então, os conceitos se invertem. Pedimos desculpas aos
que forem atingidos injustamente e contamos com a compreensão de todos.
A “Crítica Reprodutivista” também enfoca o “aspecto político” do que
é dado aos alunos, em detrimento dos “aspectos
técnicos” que deveriam ser oferecidos;
e alerta para a óbvia consequência de que no Futuro essa deficiência se revelará
um filtro poderoso para impedir ou dificultar o acesso aos melhores empregos e
oportunidades.
É, pois, essa oferta equivocada
ou má intencionada que faz com que a “Escola”
destinada ao proletariado seja vista como uma mera “Reprodutora de um Proletário submisso”
na medida em que lhe ensina (sic) apenas conceitos que legitimam a Ideologia da
Classe Dominante.
Assumida por ALTHUSSER e
logo encampada por vários outros Intelectuais alinhados à Esquerda no espectro
Político, a Teoria Critica Reprodutivista floresceu significativamente
durante o célebre Maio de 1968 e a
partir daí tornou-se “peça de resistência”
para todos que se opõem aos ditames na área educacional, impostos pela
Sociedade Capitalista.
NOTA do AUTOR – merece destaque nesse quesito a obra de Jean – Claude Passeron e
Pierre Bordieu, “La Reproduction”, que ambos escreveram em 1970.
Porém, mesmo quem lhe
reconhece a propriedade e a correção, observa-lhe a falha de se limitar a expor
a situação caótica, sem propor qualquer alternativa substituta.
Uma das criticas mais
lúcidas à mesma partiu do Filósofo brasileiro Dermeval Saviani (1946 – Professor Emérito da Unicamp SP.) que a
taxou de equivocada por afirmar que a Educação não tem poder para
determinar, ou estipular, como devem ser as relações sociais e por aceitar
passivamente o jugo dessas relações iníquas.
Saviani ainda argumenta
que a mesma julga erroneamente que na Sociedade
Capitalista a Educação limita-se a resguardar os interesses do Capital, impedindo o surgimento de
qualquer proposta pedagógica e deixando os “Educadores
de Esquerda” sem perspectivas.
Mas, ele prossegue, se
tal fato fosse real, o que restaria a esses “Educadores
de Esquerda” senão abandonar o ofício (?); o quê, como se sabe, não é o que acontece.
Epilogo
De todo modo, as objeções
e oposições que são colocadas contra o Pensamento de ALTHUSSER, neste
particular e no geral, são naturais e até previsíveis, posto que a Filosofia seja
exatamente isso: a dialética em
busca da melhor compreensão.
São pontos de vista divergentes que em nada ofuscam o brilho de sua Filosofia
e a coragem em criticar conceitos arraigados e ultrapassados.
É sempre um prazer e uma aprendizagem ler estes teus posts
ResponderExcluirDevias reunir tudo em livro
Abraço