A Ópera chegou ao Brasil na primeira metade do século XIX graças à vinda da Corte Portuguesa, em 1808, exilada pelas tropas bonapartistas.
Aqui,
continuou a ser um espetáculo voltado para a elite e para a nobreza e, por isso,
a primeira composição nacional do gênero aconteceu por encomenda de Dom João VI ao Padre carioca José Mauricio Nunes Garcia (1767-1830),
que compôs a peça “Le Due Gemelle (as duas pequenas gêmeas)” para ser apresentada no “Real Teatro São João do
Rio de Janeiro”. Porém, infelizmente, não ficaram registros dessa audição e nem
se sabe se de fato ela aconteceu. Tampouco restaram dados da composição. Dessa
sorte, coube à outra obra do mesmo autor, “Zelmira”, de 1803, a glória de ter
ficado como o primeiro registro operístico do país, mesmo que tal documentação
limite-se à “Abertura” da peça, na qual, aliás, é possível observar a enorme
influência europeia que sofreu.
Contemporâneo
do Padre brasileiro, Marcos Portugal
(1762-1830
- falecido do Rio de Janeiro),
nascido em Lisboa e chegado com a comitiva real, foi o segundo artista a compor
obras dessa natureza, sendo que algumas obtiveram boa aceitação no exterior,
como, por exemplo, a chamada “O Basculho da Chaminé”, que foi aplaudida em
Lisboa, em Veneza e até no grande Palácio da Ópera Imperial de São Petersburgo,
na Rússia.
Ambos
foram os mais importantes compositores daquela fase embrionária da Ópera nacional,
que, curiosamente, era cantada em português, ao contrário do padrão mundial.
Todavia, essa situação pouco durou por iniciativa dos compositores que os
sucederam (talvez
já vigorasse o famigerado “complexo de vira-latas”) e assim permaneceu até que em fins do século XIX
uma nova leva de músicos passou a se interessar pela modalidade; e essa nova
geração não hesitou em enfrentar uma dura luta para, enfim, repor o idioma
nacional na manifestação artística.
Um
dos expoentes dessa plêiade foi o compositor Alberto Nepomuceno (1864-1920, Ceará)
que compôs a Ópera chamada “Abul”, cuja estreia aconteceu em Buenos Aires,
Argentina, sob a regência do grande Gino
Marinuzzi. Usando como tema, a história dos Caldeus, o cearense criou uma
longa e sofisticada história musicada e alcançou um êxito enorme. Contudo, a
sua contribuição ao gênero parou nessa primeira composição, já que ele se
rendeu à sua verdadeira paixão: a música de Câmara.
Felizmente
a sua retirada pôde ser suprida pela mocidade que estudava o gênero no Teatro
Real São João (onde hoje se localiza o Teatro João Caetano) na atual Praça Tiradentes, ex Largo do Rocio, no Rio de Janeiro.
Ali,
anexo à casa de espetáculos, fora fundada com o patrocínio do Imperador Pedro II, em março de 1857, a
Imperial Academia de Música e Ópera
Nacional, da qual brotaram os gênios de Elias Álvares Lobo, Henrique Alves
de Mesquita, Luiz Inácio Pereira, Domingos José Ferreira e, especialmente, Antonio Carlos Gomes (1836-1896), o maior compositor brasileiro do gênero.
Paulista
do interior
(A sua Campinas natal dista cerca de cem km da Capital do Estado), aos trinta e quatro anos de idade, ele já estreava
no imponente Alla Scala de Milão, Itália, a sua obra “O Guarani (Il Guarany)”, cuja temática é a história de amor entre os indígenas
Ceci e Peri, conforme a pena literária de José de Alencar.
E
não foi apenas a “sua” estreia, mas, em verdade, foi a estreia da Ópera
brasileira nos palcos do mundo. As suas outras óperas, também encenadas na
Itália, consolidaram o país no cenário internacional, numa época em que
florescia o talento de ninguém menos que G.
Verdi, entre outros gênios.
Assim,
nunca serão demasiadas as homenagens que forem prestadas ao ilustre campineiro.
Ele fez por merecê-las.
Contudo,
não foi apenas ele quem brilhou nessa seara, pois outros compositores
brasileiros também se destacaram como, por exemplo, Heitor Villa Lobos que compôs, entre outras, “Izaht” e “Aglaia” que
obtiveram pleno êxito em nível mundial; o maestro Mozart Camargo Guarnieri, autor de “Um homem só” e, na atualidade, Jorge Antunes com “Olga”; Ronaldo Miranda com “A Tempestade”; Silvio Barbato com “O Cientista”; Elomar Figueira Mello com os célebres
“Auto da Catingueira” de 1983 e “Árias Sertânicas” de 1992 e João Macdowell com sua obra bilíngue
“Tamanduá” que teve calorosa acolhida em New York e New Jersey, nos EUA.
Dessa
sorte, vê-se que a Ópera no Brasil continua a florescer, embora ainda esteja
distante do grande público. Assim, espera-se que as visitas de companhias
estrangeiras para apresentações pontuais e que os grandes festivais que
acontecem no norte do país, nas cidades de Belém, no Pará, e Manaus, no Amazonas,
popularizem cada vez mais essa forma de cultura e de arte.
Será
um caminho árduo até que tal aconteça, mas a realização, principalmente, do
esplêndido Festival manauara (com a presença dos melhores cantores e cantoras e
dos mais talentosos cenógrafos, coros e diretores do gênero), sinaliza a real possibilidade de que não tardará o
tempo em que o público em geral possa se deleitar com a grandiosidade dessa
sublime manifestação do gênio humano.
§§§
Na
sequência, publicaremos um quadro sinótico e um curto glossário com os termos
mais usados no meio operístico.
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