O Tratado Político
Agora, completaremos as
considerações sobre o primeiro livro de Spinoza, Tratado sobre a Religião e o Estado
(Tractatus
Theologico-Politicus), no quesito
relativo aos Estados e aos Governos.
Nesse
trecho o filósofo revela-se totalmente amadurecido em seus argumentos e
conclusões, os quais, ainda hoje, são plenamente válidos e verdadeiros,
revelando, assim, o quão pouco o homem progrediu em sua jornada.
Lamentavelmente
continuamos a ser apenas uma mera cópia mal feita de um Ser que insistimos em deturpar ao lhe conferir traços antropomórficos
e ao utilizá-lo como justificativa para a ganância excessiva e para a violência
bestial.
Ler
as considerações de Spinoza sobre o tema é um exercício que nos choca pela
fidelidade de nosso retrato, mas, também é a oportunidade de saborearmos a
profundidade de seu ideário e magnitude de sua inteligência.
O “Tratado” foi escrito quando o autor já tinha certa idade e ficou
incompleto devido à morte prematura do filósofo, mas, ainda assim, seu conteúdo
é tão pleno de significação, que embasa vários outros Sistemas políticos e
filosóficos.
Membro da mesma geração
de Hobbes, que não se furtou em
exaltar a monarquia absoluta e a execrar a rebelião dos súditos ingleses; de Milton, que, ao contrário, defendeu
vigorosamente o povo rebelado e de Jan
de Witts, que foi um ardoroso
defensor da república e seu amigo dileto, Spinoza concebeu uma “Filosofia
Política” de tal porte, que as suas ideias liberais e democráticas serviram de
embasamento para o filósofo Jean Jacques
Rosseau e para a ideologia da Revolução Francesa, entre outros.
Para ele, toda
Filosofia Política deve ser gerada a partir da diferenciação existente entre a Ordem
Natural e a Ordem Moral; ou seja, entre a existência primitiva, anterior à
formação da Sociedade; e a existência a partir do acordo entre os indivíduos
que formou o primeiro agrupamento social. O famoso Contrato Social de Rosseau.
Segundo Spinoza, no
inicio dos tempos, os homens viviam isolados, exceto, talvez, pelas presenças
do cônjuge, da descendência e de outros membros da família ou do clã. Viviam
sem outra lei que não fosse a “do mais forte” e, obviamente, inexistiam conceitos
como “Bem”, “Mal”, “Certo”, “Errado”, “Justo”, “Injusto” etc.
O Poder e o Direito constituíam
uma coisa apenas, sendo a força física, guerreira, o único lastro para ambos.
Nas palavras do filósofo:
“Em
um estado natural, nada pode existir que possa ser chamado de bom ou mau* de
comum acordo, já que cada homem que está em estado natural consulta apenas a
sua vantagem e determina o que é bom ou mau segundo a sua própria imaginação e
na medida em que só leva em consideração a sua vantagem e não se acha
responsável para com ninguém, exceto para consigo mesmo, perante lei alguma;
portanto, o pecado não pode ser concebido em estado natural, mas apenas em um
estado civil, onde aquilo que é bom ou mau* é decretado de comum acordo e cada
indivíduo é responsável perante o Estado. (...) A lei e os regulamentos da
natureza sob os quais todos os homens nascem e na maior parte vivem não proíbem
coisa alguma a não ser aquilo que ninguém quer ou pode fazer, e não se opõem à
rivalidade, ao ódio, à raiva, à traição ou, de modo geral, a nada que o apetite
sugira”.
Atualmente, esse “Estado
de Natureza” pode nos parecer muito remoto, distante e superado; mas, um
olhar mais atento nos revela que ele ainda vigora fortemente em nossos dias,
embora já não seja praticado pelos indivíduos e, sim, pelas Nações
ou Estados.
Nações que agem sem
qualquer outra motivação que não seja o seu interesse próprio, direto e imediato,
o qual, geralmente, refere-se ao aumento de riquezas, de terras, de recursos
minerais e/ou energéticos etc. Aumento de seu Poder, em resumo. Aliás, a esse
respeito, tornou-se célebre a sentença do marechal e presidente alemão Bismarck: “Não existe altruísmo entre as nações”.
E com a devida licença
do amável leitor (a), eu acrescento: nem
decência!
Com efeito, entre os
países só existe rivalidade, inveja, preconceito e rancor, do que não resulta
um número proporcional de guerras, apenas pelo medo da autodestruição, pois o
mesmo instinto de autopreservação que há em todos os seres vivos, também se faz presente em todos os outros organismos
ou organizações.
É certo que existem
casos de auxilio, bem como se tem alguns órgãos supranacionais, como a ONU, que
tentam exercer algum tipo de governança, mas, em essência, a relação entre os
países é marcada por disputas e hostilidades, declaradas ou escamoteadas, que
reproduzem fielmente a primitiva ordem
natural onde o único critério é a força bruta.
E isso acontece porque
só é possível existirem a Lei e a Moralidade se também existir uma autoridade
que tenha poder efetivo para implantá-las e mantê-las. E como se sabe, essa
autoridade mundial inexiste.
Os chamados “Direitos
de Estado” são, em verdade, “Poderes (econômico, bélico etc.)”,
sendo que quanto maior forem esses últimos, maiores serão aqueles primeiros.
Um comportamento muito
próximo, aliás, daquele que se verifica entre os animais, pois como entre as
espécies não há qualquer organização, Lei ou regras morais, cada uma se impõe
às outras na proporção direta de sua força. Faz, portanto, o que quer, dentro
de suas possibilidades.
Em relação aos
indivíduos, como se sabe, em certo momento o homem viu que precisava unir-se
aos outros para conseguir sobreviver e prosperar em um mundo tão hostil. Dessa
sorte, a ordem natural foi
substituída pela ordem moral e com
isso o poder natural foi sufocado,
mas não extinto totalmente; e é por essa razão que o homem continua a agir de
acordo com o mesmo, enquanto não é impedido pelas Leis ou até que lhe seja impossível
manter o disfarce sob o qual vinha agindo, pois é muito mais comum que o
indivíduo dê vazão aos seus instintos primitivos de forma dissimulada e sob uma
capa de moralidade, do que enfrentar diretamente as proibições, já que isso
poderia causar-lhe efeitos deletérios.
Exceto em casos
raríssimos, os homens não são, por natureza, dotados de solidariedade, bondade
etc. Embora as manifestações dessas características sejam relativamente comuns,
a verdade é que o seu real motivo é apenas a hipocrisia, a covardia e/ou o desejo
de manipular outrem ou todo o grupo social.
É uma fraude tão
corriqueira que se tornou inconsciente; e de tão comum, acaba sendo esperada e,
às vezes, até considerada genuína. Espera-se que aparentando bondade,
honestidade, coragem etc. a recíproca seja verdadeira e que tais qualidades possam
ser cobradas dos demais.
Mas, ainda que não seja
naturalmente talhado para a convivência social, o homem se vê obrigado a tolerá-la,
pois depende de outrem para sobreviver. E já que essa imposição é inelutável, o
indivíduo é adestrado pela família, pela escola e pela sociedade para
dissimular seus reais sentimentos e com isso parecer “amistoso”, “agradável” e
tornar-se “querido” pelo agrupamento social. Nas palavras de Spinoza: “o homem não nasceu para a cidadania, mas deve ser preparado para
ela”.
Esse preparo, segundo o
filósofo, tem inicio tão logo a criança demonstre possuir um mínimo de capacidade
de compreensão e prossegue por toda a vida do sujeito, sendo variável apenas o
tipo de coerção que o obriga a sufocar seus instintos básicos.
Porém, inobstante, a
presença constante desses freios, a maioria da população é constituída por
rebeldes contra a Lei e/ou contra o subproduto das mesmas: os “Costumes”.
É uma situação quase
irreversível por uma questão de antiguidade e de enraizamento na mente humana,
haja vista que os Instintos surgiram
muito antes que a capacidade de racionalização, de compreensão das convenções
sociais, como, aliás, se pode ver em toda criança que nasce, pois antes de
poder compreender qualquer coisa, o bebê age movido apenas pelos instintos.
Assim sendo, ao contrário
do que acreditava Jean Jacques Rosseau,
seus adeptos e outros, o homem não é “bom
por natureza”.
Contudo, a união com
outros homens possibilita o surgimento de alguns sentimentos mais brandos,
decodificados como “senso de família”, de “clã” etc., pois, segundo Spinoza, o
homem desenvolve a capacidade de gostar daquilo que se parece consigo1 e, dessa forma, surge o
que ele chamou de “imitação de emoções” e, até, alguma estima verdadeira.
Processo que auxilia a
continuidade do estado de “Ordem Moral”, da qual resulta o “Poder Legal e
Moral” da sociedade, já que parte da soberania individual é transferida para a
Comunidade em troca do auxilio e da defesa que ela pode oferecer. O indivíduo
abdica, por exemplo, do “poder” ou do “direito” de surrar quem lhe incomoda,
para ter a “garantia (ou a sua presunção)”
de que não será surrado por quem ele incomoda.
O “Poder (a capacidade de
influenciar, de interferir, de comandar etc.)” ainda continua
sendo o lastro do Direito, mas o
Poder do “Todo”, da Sociedade, limita o do indivíduo, do homem físico; ao
contrário do que acontece entre as Nações, como se disse anteriormente. Essa
visão ácida que Spinoza faz do homem parece destoar de sua proverbial docilidade,
mas é importante conservar em evidência a natureza belicosa do Ser humano, a qual, per si, justifica a
sua tese de que é imprescindível que a Sociedade viva sob o império das Leis,
para que os instintos sejam mantidos em níveis toleráveis.
Conforme o seu ideário,
a Lei tem para com os indivíduos uma relação semelhante a da Razão para com as
paixões; ou seja, é a governança que evita a ruína da Sociedade e, por
consequência, a do próprio indivíduo, vez que, sozinho, ele não terá meios para
sobreviver.
Na Metafísica a Razão é
o percebimento, ou a percepção, da Lei que cuida do ordenamento das coisas; na
Ética é o estabelecimento da ordem entre os desejos e na Política é o
estabelecimento da organização entre os indivíduos. Mas, se a Lei da Metafísica
é perfeita, o mesmo não acontece com a que regula a Política e a Ética, pois o
que ela disciplina são valores relativos, mutáveis e transitórios; ao contrário
da Lei que atua na Metafísica, onde os valores são absolutos, eternos e
inalteráveis, como, por exemplo, os da matemática (2+2=4 é uma ordem eterna e
invariável, sejam lá quais forem as circunstâncias em que se dê a equação).
Sendo, então,
imprecisas, as Leis que regulam a convivência entre os homens deverão ser
constantemente aperfeiçoadas, para que no futuro o Estado atinja o seu ponto
ideal; isto é, limitando os poderes individuais só até o ponto em que eles
possam comprometer a liberdade de outrem3,
o Estado se torna um agente eficaz para o desenvolvimento físico e espiritual
dos cidadãos. Nas palavras do filósofo:
“O
objetivo supremo do Estado não é (ou não
deveria ser – na.) dominar os homens nem contê-los pelo medo, é, isso sim,
livrar cada um deles do medo, permitindo-lhe viver e agir em plena segurança e
sem prejuízo para si ou seu vizinho. O objetivo do Estado, repito, não é
transformar seres racionais em feras e máquinas. É fazer com que seus corpos e
suas mentes funcionem em segurança. É levar os homens a viver segundo uma razão
livre e a exercitá-la; para que não desperdicem suas forças com o ódio, a raiva
e a perfídia, nem atuem uns com os outros de maneira injusta. Assim, o objetivo
do Estado é, realmente, a liberdade”.
Mas, e se o Estado
sufocar a liberdade e o desenvolvimento do indivíduo? O que deverá fazer o
cidadão se o Estado, com a intenção de se fortalecer para se perpetuar,
tornar-se uma fonte de opressão? O homem deverá sujeitar-se e obedecer a leis
injustas, infames?
Para Spinoza, sim.
Mas, desde que sejam
permitidos protestos e discussões razoáveis e se houver liberdade de expressão
para assegurar uma mudança pacífica. Nos casos em que tais aberturas
inexistirem, ele deixa subentendida a inevitabilidade da sedição. Segundo ele:
“Quanto
mais um governo se esforça por limitar a liberdade de expressão, mais obstinada
é a resistência a ele; não, de fato, por parte dos avarentos (de inteligência, os incultos) (...),
mas por parte daqueles a quem a boa educação, a moralidade íntegra e a virtude
tornaram mais livres. Os homens, de maneira geral, são constituídos de tal
forma, que não há nada que suportem com tão pouca paciência do que o fato de os
pontos de vista que acreditam ser verdadeiros serem considerados crimes contra
a legislação. (...) Nessas circunstâncias, não acham vergonho, mas, sim,
muitíssimo honrado, repudiar as leis e não deixar de agir contra o governo.
(...) As leis que podem ser burladas sem nenhum dano para o vizinho são
consideradas apenas motivo de galhofa; e essas leis, longe de restringirem os
apetites e a concupiscência da humanidade, só fazem aumentá-los.”.
Spinoza reconhece a
importância do Estado, porém não confia no mesmo, pois tem consciência de que o
“Poder” corrompe a todos os homens. Além disso, ele não via equilíbrio entre o
tamanho da autoridade conferida ao Governo e a “alma” do homem.
E nesse desequilíbrio é
que ele buscou os motivos para discordar de que a Educação fosse uma prerrogativa
do Estado, mormente nas universidades, por acreditar que o controle
governamental restringe os dons naturais do homem, ao invés de estimulá-los.
Para ele, a Educação deve ser entregue a particulares4 como já ocorria na Grécia Clássica com Sócrates, Platão e Aristóteles e,
até, com os Sofistas.
Em relação à forma de
governo, Spinoza não faz uma declaração aberta de sua afeição à Republica, mas
deixa sinalizada a sua preferência por regimes liberais, constitucionais. Para
ele, qualquer forma de Política pode ser constituída “de modo a que todo homem (...) passe a preferir o “Direito Público” à
“vantagens particulares; esta é a
tarefa do legislador”.
Nesse ponto, aliás, ele
descreveu magnificamente as vantagens do Regime que permite a liberdade, mesmo
que nele existam conflitos. Em seus termos:
“Supõe-se
que a experiência ensine que é bom para a paz e concórdia atribuir toda a
autoridade a um só homem. Porque nenhum domínio ficou tanto tempo sem qualquer
alteração significativa a não ser o dos turcos; e, por outro lado, nunca houve
um que durasse tão pouco como aqueles que eram populares ou democráticos, nem
qualquer outro em que houvesse tantas sedições. No entanto, se a escravidão, o
barbarismo e a desolação devem ser chamados de paz, o homem não poderia ter
infortúnio pior. Não há dúvida de que, de modo geral, há discussões mais
frequentes e mais violentas entre pais e filhos do que entre senhores e
escravos; no entanto, não representa um avanço da arte da administração domestica
a transformação do direito de um pai em um direito de propriedade, e considerar
os filhos simples escravos. A escravidão, então, e não a paz, é a favorecida
com a atribuição de toda a autoridade a um só homem”.
O Regime, pois, que
permite ao indivíduo a maior liberdade de expressão e de pensamento é a melhor
forma de governo, pois nele os indivíduos submetem ao controle social apenas as
suas ações e não as suas ideologias. Racionalmente o cidadão controla os seus
atos segundo os preceitos da Lei, mas conserva a liberdade de pensar, de
estudar, de aprender, de divagar, de sonhar.
Esse Regime deve ter
forças capazes de defendê-lo contra os inimigos externos e, principalmente, contra
os adversários internos; ou seja, contra as classes de lumpens sociais (herdeiros,
agiotas, sonegadores, aproveitadores, vagabundos, manipuladores da fé, do desespero
etc.) que por serem adeptas da exploração de outrem para
manterem seus privilégios espúrios, necessitam de que a ignorância da população
seja ampla, para exercerem o seu jugo com mais facilidade. E para tanto, o
“Serviço Militar” deve ser universal; isto é, obrigatório para todos, independentemente
de classes sociais, origens, gênero, etnia etc.; sem qualquer tipo de favorecimento.
Em relação aos
tributos, Spinoza propõe que haja um imposto único, originário do pagamento que
o cidadão faz a titulo de aluguel da casa onde reside e do campo onde trabalha,
posto que todas as casas e solos sejam de propriedade estatal5.
Aqui chegados, o leitor
(a) já percebeu que o ideário spinoziano possui uma faceta voltada para o
liberalismo, mas, também, que não comunga inteiramente com a Democracia Capitalista que vigora em
nossa época.
E, de fato, para ele a
Democracia é um Regime muito suscetível, frágil, haja vista que, via de regra,
é tomada por medíocres, obtusos ou mal carateres. Essa preocupação, diga-se,
não lhe foi original, pois Platão já
a expressara em “A República”. Posteriormente, ela voltou à baila por obra do
filósofo Toquecville (Alexis de,
França, 1805/1859) em sua obra “Da Democracia na América”.
Segundo Spinoza e
outros (inclusive esse escrevinhador), o homem medíocre, mas ardiloso, após
assumir algum cargo representativo, torna-se corrupto, exceto, claro, as raras
exceções. Em consequência, as suas ações limitam-se a serem desonestas e/ou
equivocadas em prejuízo do “Todo”.
Por isso, para o
filósofo, seria imperioso fazer-se uma seleção rigorosa dos postulantes a membros
do governo, mas essa seleção esbarra no principio de que aqueles que fazem tal
julgamento – via eleições – são semelhantes aos candidatos em termos de
ignorância (não
necessariamente em termos de desonestidade) e sem a
necessária capacidade racional para uma escolha de tamanha importância.
Geralmente optam movidos por sentimentalismos, por simpatias superficiais etc.
Não é raro que se deixem seduzir por hediondas manipulações, por promessas
fantasiosas, por discursos apelativos e quejandos.
Para nós, brasileiros
(as), não é difícil concordar com a visão de Spinoza, pois vivenciamos essa
nefasta situação em praticamente toda a nossa história; porém, é preciso
reconhecer que esse problema aflige a todos os países, mesmo aqueles que se
gabam de ter uma população de melhor nível cultural. Também é preciso
reconhecer que a Democracia, apesar dos pesares, ainda é a melhor forma de
regência que um grupo social pode ter.
No entanto, em razão
das dificuldades ocasionadas pela mediocridade e desonestidade que terminam por
contaminá-lo, o regime democrático acaba sendo questionado pelos “homens
sábios” que, em certo momento, rebelam-se ou se desinteressam pelo processo
político e pela coletividade. É quando se observa, por exemplo, o afastamento
dos intelectuais.
Então, segundo o
filósofo:
“Por isso é que eu penso que as
democracias se transformam em aristocracias e, estas, em monarquias (absolutistas,
ou hodiernas tiranias - NA.)”.
O populacho, a se ver
sem orientação, acaba optando pela Tirania, a qual prefere em relação ao caos.
A Ditadura, ademais, traz-lhe o conforto de não ter que pensar (sic).
De poder delegar a outrem a responsabilidade pela própria felicidade ou desventura
e desfrutar da condição de “pobre vitima” do regime (sic).
Assim sendo, resta aos homens
de bem pagar o preço de se lutar contínua e tenazmente para minimizar a
mediocridade e a desonestidade associadas à Democracia e rogar aos deuses que
as luzes de gênios como Spinoza espalhem-se e iluminem as consciências, já que
é sempre preciso selecionar os melhores homens e mulheres que se disponham a
governar os demais.
Por fim, deve-se dizer
que as ideias de Spinoza foram, posteriormente, consideradas antagônicas já que
sugeriam alguma forma de Comunismo e de Democracia simultaneamente. Mas essa
opinião crítica carece de valor, haja vista ser resultante de mentes boçais
predispostas apenas à dicotomia rasteira. Em seu espírito superior, Spinoza via
conceitos como Democracia e Comunismo como se fossem complementares
e nunca divergentes, pois ambos visam o mesmo: a felicidade do homem.
Infelizmente ele não
pôde explicitar essa síntese porque a morte prematura o alcançou antes de terminar
o seu trabalho. Com ele morreu, talvez, a solução do impasse.
No próximo capitulo
teceremos as considerações finais sobre o gênio holandês.
Nota
do Autor 1 - essa capacidade de gostar do semelhante
seria a explicação para o maior apego que sentimos pelos mamíferos do que pelas
serpentes, por exemplo?
Nota
do Autor 2
– mau*, mantida a grafia original.
Nota
do Autor 3 – posteriormente esse princípio chegou ao grande
público através da seguinte sentença: “o seu Direito termina, onde começa o
meu”.
Nota
do Autor 4 – observe-se a extensão do pensamento de Spinoza,
que em uma época na qual sequer se cogitava em “Livre Iniciativa”, ele já a propunha. Pode-se concordar ou
discordar de seus argumentos, mas não há como deixar de admirar a sua
presciência.
Nota
do Autor 5 – observe-se, aqui, a origem do preceito de Karl Marx e da prática comunista que
ainda persiste em algumas sociedades, como a cubana, por exemplo.
As Considerações
Finais.
Spinoza influenciou
diretamente aos mais importantes Pensadores que lhe sucederam e apenas essa
constatação já é suficiente para demonstrar claramente a importância de seu
ideário para o desenvolvimento do pensamento humano. Segundo Will Durant, ele não fundou nenhuma
seita nem qualquer Escola filosófica e, ainda assim, toda a Filosofia posterior
partiu de sua ideologia.
Contudo, como é de
praxe, durante a sua vida o brilho de sua inteligência não recebeu a mesma
consideração que nos tempos posteriores. Figuras importantes questionaram suas
ideias, sendo que até o grande filósofo Hume
considerou a sua sistemática como uma “teoria hedionda”.
A reabilitação só teve
inicio quando o célebre crítico Leasing
(Gotthold
Ephraim – 1729/1781 – Al.) declarou-se, em 1780, um “spinozista durante toda a sua vida madura”
porque “não existe outra Filosofia que
não a de Spinoza”. Algum tempo depois, Herder
(Johann
Gottfried Von – 1744/1803 – Al.) chamou a atenção dos
teólogos liberais para a “Ética”, através de sua obra “Einige Ges Prache Uber
Spinoza´s System”; e o poeta católico Novalis
(pseudônimo
de Georg Philipp Friedrich Von Hardenberg – 1772/1801 – Al.),
chamou-o de “o homem bêbado de Deus”; ou seja, embriagado pelo poder divino.
Simultaneamente, Jacobi (Carl Gustav
Jakob Jacobi – 1804/1851 – Al.) apresentou a obra de
Spinoza para o grande escritor, poeta e pensador Goethe (Johann Wolfgang Von – 1749/1832 – Al.)
que logo na primeira leitura de “A Ética” tornou-se admirador do filosofo
holandês e passou a fazer constantes referências às ideias do mesmo, em seu
trabalho.
Posteriormente, Fichte, Schelling e Hegel combinaram
a Filosofia spinoziana e a kantiana e da fusão retiraram as suas versões
panteísticas. Em seguida, Schopenhauer
retirou do spinoziano “esforço de preservar a si mesmo” a sua teoria sobre a
“Vontade (de viver)” e Nietzsche
idem, com sua tese sobre a “Vontade (de poder)”. Mas adiante, foi à vez de Bérgson utilizar a doutrina de Spinoza
para embasar o seu “elã vital”.
Nos países de língua
inglesa, a influência de Spinoza surgiu com o movimento revolucionário de jovens
intelectuais rebeldes como os poetas românticos Coleridge (Samuel Taylor – 1772/1834 – GB.)
e Wordsworth (Willian –
1770/1850 – GB.), Shelley
(Percy
Bysse – 1792/1822 – GB.), Byron (George Gordon – 1788/1824 – GB)
que passaram a citá-lo nas próprias obras. Posteriormente George Eliot (pseudônimo da romancista Mary Ann Evans – 1819/1880 – GB) chegou a
traduzir “A Ética”, mas não publicou o seu trabalho; e o jornalista, político e
socialista Belfort Bax (Ernest –
1854/1926 – GB) disse: “Não existem, nos dias de hoje, homens proeminentes que não declarem
que em Spinoza está a plenitude da ciência moderna.”.
Com efeito, deve-se a
Spinoza o mérito de ter resgatado e atualizado a ancestral sabedoria hindu,
filtrada por Platão, e, com isso, ter dado ao homem um valiosíssimo instrumento
para combater o bom combate contra a obscuridade religiosa e política que
campeou por toda a Idade Média e que, ainda hoje, em pleno século XXI, nega-se
a perecer no lixo da história.
Nada mais justo,
portanto, que as palavras que disse o filósofo e historiador Ernest Renan (Joseph –
1823/1892 – Fr.) em 1822, na inauguração de uma estátua
de Spinoza em Haia, Holanda:
“(...)
Pobre daquele que, ao passar, lançasse um insulto a essa cabeça delicada e
pensativa. Seria punido, como são punidas todas as almas vulgares, pela
vulgaridade e pela incapacidade de conceber o que é divino. Este homem, de seu
pedestal de granito, apontará a todos os homens o caminho da bem-aventurança
que ele encontrou; e, daqui a gerações, o viajante culto, ao passar por este
local, dirá em seu coração: ‘a mais
verdadeira visão de Deus que já se teve talvez tenha acontecido aqui’”.
Assim, encerramos o
capitulo relativo à Spinoza. No próximo, discorreremos sobre o grande Voltaire e o Iluminismo Francês.
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