Ética – Livro II – O
Homem (Da Mente)
Neste capitulo, Spinoza
traça as suas considerações sobre o “espírito humano”, sobre o homem integral,
constituído pelo corpo e pela alma. Corpo e Alma que, como já se disse, não
interagem diretamente, mas que sofrem em paralelo os efeitos das Leis que lhes
dirigem e/ou das vicissitudes que lhes sucedem. A cada alteração no estado da
alma, corresponde uma mudança no estado do corpo, ditado pelo paralelismo
psicofísico que o filósofo adota como uma viga de seu arcabouço.
Para ele, o homem não é
uma Essência ou Substancia, sendo a Alma apenas um conjunto de modos derivados provenientes do
“Atributo (divino)
Pensamento”; enquanto que o Corpo é um conjunto de modos derivados do “Atributo Extensão* (ou matéria)”
de Deus.
A única Substância ou
Essência que existe efetivamente é, portanto, a divindade. Essa conclusão spinoziana,
na verdade, é um resgate da ideologia de Platão,
pois, em resumo, para ele, a Mente e o Corpo do homem são meras “cópias” da Ideia Deus.
Contudo, embora afirme
que a Mente não passe de um simples simulacro, Spinoza admite que ela tenha
algumas atividades importantes tanto no campo prático, quanto no teorético (ideias,
teorias, imaginações etc.), principalmente no tocante a
aquisição de conhecimentos, saber.
E na questão do
Conhecimento, Spinoza antecipa-se a Kant
e afirma que o “Conhecimento Sensível (imaginatio)”
é inteiramente subjetivo, pessoal, já que é incapaz de representar “a coisa em si mesma”, limitando-se a
fornecer os dados que permitem ao indivíduo formar uma ideia, uma concepção,
sobre aquilo que conheceu. Uma simples representação (mental)
em que se fundem as características ou propriedades do objeto (a cor, a forma,
o peso etc.) com as disposições mentais do sujeito.
Já em relação ao
“Conhecimento Racional”, Spinoza afirma a existência de dois tipos. A saber:
1)
Conhecimento Racional Universal (universal =
geral, para todos).
2)
Conhecimento Racional Particular.
O segundo tipo, o “Particular”,
provém diretamente da Essência ou Substância divina e abrange os infinitos
“Atributos”, graças ao que dele derivam necessariamente a paz de espírito, a
felicidade efetiva e a virtude. É o Saber que vem do chamado “Mundo Superior”
ou “Mundo das Ideias” que está acima e além das meras aparências, das simples
cópias e que por isso está isento das paixões humanas.
Porém, o Conhecimento
Racional Universal provém do que foi captado sensorialmente (através da
Sensibilidade**) e racionalizado pelo intelecto humano;
e por conta dessa condição, dele, só deriva a escravidão imposta pelas paixões,
como, posteriormente, Schopenhauer
esmiuçou. É um tipo de Saber que se origina naquilo que está ao alcance de
“todos” e, justamente por isso, voltado para o mundo dos fenômenos; ou seja,
das coisas aparentes, superficiais.
Ademais, voltando a se
utilizar da noção do paralelismo psicofísico, Spinoza afirma que os dois tipos
de Conhecimentos não são formados pela relação direta do individuo com o
objeto, mas sim pela relação entre a “mens” do indivíduo e a “mens” da coisa, o
que implica reconhecer que é a qualificação dessa última (a coisa, o objeto)
que define qual o tipo de Saber alcançado. Sendo assim, quando o Objeto do
Conhecimento for a Substância ou a Essência ou Deus, o resultado é a plena
ventura, enquanto que no caso inverso, só se pode esperar pela desventura.
No próximo tópico, veremos
as considerações do filósofo sobre a Moral.
Nota
do Autor* – Talvez, aliás, tenha sido essa a ideia de quem
escreveu no Antigo Testamento que o homem seria feito “à imagem e semelhança de
Deus”.
Nota
do Autor – Sensibilidade* no sentido filosófico, ou seja, a
capacidade de captar informações através dos Sentidos (tato, visão, audição,
paladar e olfato). Não confundir com a significação atual que remete a certa
predisposição ao sentimentalismo.
Produção e divulgação de Pat Tavares, lettre, l´art et la culture, assessora de Imprensa e de RP., do Rio de Janeiro em Junho de 2014.
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