quinta-feira, 7 de agosto de 2014



Spinoza e o Panteísmo - Parte VII - A Ética - Preâmbulo e Livro I

Preâmbulo

Escrevemos anteriormente sobre a complexidade que é atribuída a essa obra e que a mesma poderia ser atenuada a partir da aceitação de que Spinoza comungava com a ideia platônica acerca da “Ideia” e “Cópias” ou, segundo seu linguajar, a “Ordem Eterna” e a “Ordem Temporal”. Reafirmamos o dito, mas é justo considerar que além das dificuldades já apontadas, o vocabulário empregado pelo filósofo não contribui para a fluidez do texto, que também peca por abrigar trechos que aparentemente são desconexos; termos com significados invertidos e outras dificuldades. Assim, recomendamos que o interessado (a) se valha de outros auxílios, como, por exemplo, o Tratado “Spinoza”, de Pollock (His life and Philosophy – Sir Frederick Pollock, 1845/1937) e/ou “Study of Spinoza”, de Martineau (James Martineau, 1805/1900). Será, certamente, um esforço de que o leitor não se arrependerá, pois a obra spinoziana é imprescindível a todos que anseiam pelo Pensamento superior.
Isso dito, prosseguiremos, com a exposição da estrutura básica da obra, e, na continuidade, com a descrição dos capítulos.

1) Livro (capitulo) I – DE DEOS (Deus), contendo a teologia do filósofo.
2) Livro II – DE MENTE – O espírito humano, homem integral, isto é, corpo e alma.
3) Livros III – IV e V – (Moral) o estudo das paixões, a escravidão aos desejos, a liberdade conquistada pelo gênio.
Livro I – De Deos
Nesse primeiro capítulo, Spinoza aglutinou as suas considerações sobre o divino, buscando demonstrar de modo absolutamente racional (lógico, geométrico) que a “realidade última” ou a “essência, a coisa em si” é Deus, já que Ele é a “substância (ou essência)” única, a “causa única” ou o “motivo primeiro”, o “impulso inicial” que faz tudo acontecer.
Segundo o filósofo, a Substância divina é eterna e infinita* e se desdobra em um número infindo de “Atributos (ou perfeições)”. Em outros termos, pode-se dizer que a Essência divina se apresenta em infinitas facetas.
Porém, o homem só tem capacidade intelectual para conhecer dois desses Atributos divinos: o Espírito (a mente, a alma) e a Matéria (o corpo físico, os objetos etc.). O cogitatio e a extensio.
Deus (a natura naturan), portanto, constitui-se da Substância “dividida” em infinitos “Atributos”; sendo que Dele provém o Mundo das Coisas (a natura naturata), o universo físico, que Spinoza chama de “Modos”, que são aqueles Atributos divinos, devidamente modificados.

Em resumo:

1) Deus = Substância ÷ em infinitos Atributos ou Perfeições.
2) Atributos modificados = Modos.
3) Modos = o universo físico “O Mundo das Coisas”.

Esses Atributos modificados, os Modos, dividem-se em:

1) Primitivos, que representam os aspectos universais (geral, para todos), infinitos e eternos dos atributos, como, por exemplo, o “intelectus infinitus” que é um Modo Primitivo do Atributo do Pensamento; e o motus infinitus que é um Modo Primitivo do Atributo Extensão (material).
2) Derivados, que representam os aspectos superficiais, captáveis pela sensibilidade e inerentes ao mundo concreto.

Embora os Atributos sejam distintos, as chamadas “Leis do Paralelismo” – uma das pedras angulares do pensamento de Spinoza – atuam perpetuamente e com isso fazem com que a governança do “Mundo dos Atributos” seja a mesma que rege o “Mundo dos Modos”, sejam eles os primitivos ou os derivados. Em outros termos, pode-se dizer que cada corpo tem uma alma e que ambos são regidos pelas mesmas Leis.
Para cada maneira de ser e de agir na “Extensão (ie. na matéria)” existe uma maneira correspondente de ser e de agir no “Pensamento (ie. na alma)”, embora não exista qualquer possibilidade de interação entre o Corpo e a Alma, como, aliás, também já dissera Descartes.
Dessa sorte, embora exista distinção entre a Matéria (a Extensão) e o Abstrato (a Alma) a Essência ou Substância de ambas é única e representada pela unidade das Leis que regem as duas.
E porque a Essência é “Necessária**” na natura naturan (Deus) é óbvio que também o seja na natura naturata (ie. a natureza concreta, os rios, as montanhas, os vegetais, os animais, os humanos etc.). O que equivale dizer que: Deus e a natureza são a mesma coisa.
Concluindo, ressaltamos novamente a similaridade entre o ideário de Spinoza e o de Platão, donde a nossa sugestão para que seja conservada a tese sobre “a Ideia” do último como facilitador para o entendimento.
Em seguida discorreremos sobre o Livro II da “Ética” onde o filósofo traça suas considerações acerca do Ser humano.

Nota do Autor* – de onde Spinoza concluiu que a Essência divina seja eterna e infinita? Concluiu racionalmente ou intuiu que assim seria? Não nos olvidemos da grandeza da Filosofia que, como agora, permite-nos questionar até um sábio como o holandês.

Nota do Autor ** - Necessária ** - no sentido filosófico do termo, isto é, não pode ser de outra maneira.

Produção e divulgação de Pat Tavares, lettre, l´art et la culture, assessora de Imprensa e de RP., do Rio de Janeiro em Junho de 2014.

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