A República
Para Kant, um dos
motivos para o incremento do militarismo devia-se à ganância despertada pelas
riquezas descobertas na África, nas Américas e na Ásia. O desejo pelo butim
incentivava a belicosidade que naturalmente já existe nos homens destituídos de
cultura e de ética.
Comportamento beligerante
que lhe causava uma enorme repulsa não só pelo próprio, mas também por
escancarar a hipocrisia daqueles que se autoproclamavam “civilizados” e “religiosos”.
Em suas palavras:
“Se
compararmos os casos bárbaros de inospitabilidade (...) com o comportamento
desumano dos Estados civilizados e, em especial, comerciais de nosso continente,
a injustiça cometida contra eles, mesmo em seu primeiro contato com terras e
povos estrangeiros, nos encherá de horror; a mera visita a esses povos era
considerada por eles como o equivalente a uma conquista. A América, as terras
dos pretos, as ilhas das especiarias, o cabo da Boa Esperança etc., ao serem
descobertos, foram tratados como países que não pertenciam a ninguém, porque os
habitantes aborígines eram considerados como se nada fossem (...). E tudo isso
tem sido feito por nações que fazem um grande alarde sobre a sua piedade e que,
enquanto bebem a iniquidade como se fosse água, consideram-se os próprios eleitos
da fé ortodoxa”.
Ademais, a ambição desmedida
em pilhar também se mostrava ávara, vez que o butim e o resultado da exploração
colonial eram reservados apenas à elite, restando ao homem comum a duvidosa honra
de matar e morrer “por seu Rei ou por sua pátria”.
Para o filósofo, tal
comportamento provinha diretamente da típica forma de governo da época, ou
seja, a Monarquia Absolutista amparada no falacioso argumento do “Direito
Divino”.
Assim sendo, em sua opinião,
seria indispensável substituir esse regime pela República, pois se todos
participassem do Poder Político os espólios das roubalheiras e explorações coloniais
seriam diminuídos substancialmente em nível individual e isto, certamente, também
reduziria a cobiça dos mandatários. Passaria, pois, a ser uma tentação resistível.
A esse respeito, aliás,
o “Primeiro Artigo Definitivo” de sua obra “A
Paz Eterna” proclama que:
“A
constituição civil de todo Estado será republicana e a guerra só será declarada
por um / plebiscito de todos os cidadãos”.
Afinal, quando aqueles
que são forçados a matar e a morrer tiverem o direito de optar, o caminho das
armas será o menos trilhado, ao contrário da situação em que se vivia, quando quem
decidia pela guerra estava livre de lhe sofrer as agruras e as consequências diretas.
E a pregação de Kant revigorou-se
quando em 1795 a Revolução venceu as forças reacionárias e ele pode imaginar
que o Sistema Republicano se espalharia pelo continente, plasmando o seu desejo
de que não mais se privilegiasse o indivíduo por conta de sua origem e nem que
a ele fossem concedidos direitos usurpados aos demais. Uma sociedade que
garantisse oportunidades iguais a todos através de um ensino universal de
qualidade; de melhoras substâncias no atendimento à saúde, nas condições de
infraestrutura e de bem estar alimentar e cultural etc.
Uma sociedade que tendo
atendida as suas necessidades básicas, pudesse praticar a sua natural solidariedade
e generosidade, tornando-as parte integrante do Imperativo Categórico sem o qual a piedade religiosa não passa de
uma triste farsa.
Infelizmente grande
parte de seus sonhos e desejos ainda não se realizaram, mas é importante reconhecer
que alguns passos foram dados no bom caminho, sendo que há, no mínimo, o
crescimento da conscientização da validade dessas aspirações.
Na sequência, para
finalizarmos o capitulo dedicado a Kant faremos algumas observações acerca de
suas ideias.
Rio de Janeiro, 05 de Junho de 2014
Produção e divulgação de Pri
Guilhen, lettre, l´art et la culture, assessora de Imprensa e de RP., do Rio de
Janeiro em Junho de 2014.
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