Autoria – Wagner (Wilhelm Richard – 1813-1883 – Alemanha)
Libreto
– idem.
Personagens:
Parsifal – Protagonista – interpretado por um Tenor.
Kundry – Interpretada
por uma Soprano.
Gurnemaz – Interpretado
por um Baixo.
Amfortas – interpretado
por um Barítono.
Klingsor –
interpretado por um Baixo.
Titurel
– interpretado por um Baixo.
Cavaleiros – sem
participação musical.
Escudeiros – idem
Donzelas das flores –
idem
Jovens e crianças –
idem.
Local e Época:
Espanha,
Idade Média.
Enredo
O
cenário do primeiro ato reproduz uma clareira na floresta.
Desde
há muito tempo, o Santo Graal* e a Espada* do Centurião romano que feriu Cristo
durante a crucificação, estavam sob a guarda de uma Ordem de Cavaleiros
espanhóis, liderada por Titurel, um
nobre e valente guerreiro que nunca deixou de bem desempenhar o seu papel de
protetor das sacras relíquias.
Porém,
o avançar da idade subtraiu-lhe a força necessária para continuar em seu posto
de comando e, por isso, a liderança do grupo foi passada ao seu filho e
herdeiro, Amfortas; um jovem generoso,
mas impetuoso em demasia.
E
justamente por ser impulsivo, de caráter ligeiramente falho e de temperamento
oscilante, ele não foi fiel aos ritos prescritos e logo cedeu às tentações, o
que lhe causou a perda da “espada sagrada” e uma ferida incurável, como se verá
adiante.
Essa
triste condição levou-o a buscar alivio em vários tipos de terapêuticas, mas os
resultados foram sempre negativos. Nessa ocasião, a conselho de amigos, pediu
para ser banhado em um lago próximo ao castelo, cujas águas teriam o poder de
cura.
Ao
chegar, e antes que se inicie qualquer rito, avista uma figura estranha, de
cabelos revoltos e olhar ensandecido. Após o impacto inicial a reconhece e se
acalma, pois se trata de Kundry, uma
figura fabulosa que serve voluntariamente aos Cavaleiros, como se isso fosse
uma penitência que devesse cumprir.
Apesar
de amedrontadora aparência, ela é uma generosa amiga que sempre demonstra
afeição aos guardiões do Graal, como bem demonstra a sua busca incansável por
um balsamo que alivie as dores de Amfortas, mesmo que ele desdenhe dos supostos
objetos milagrosos que ela lhe traz.
Apenas
a profecia de que “um tolo inocente” poderá lhe curar, parece-lhe crível.
Noutro
ponto, dois cavaleiros perguntam ao mais antigo dos cavaleiros, Gurnemanz, sobre a enfermidade de seus
Comandantes e sobre a sua relação com Kundry.
O
decano lhes conta que Amfortas impediu que Klingsor entrasse na Ordem devido à
sua condição de bruxo. Então, para se vingar, o feiticeiro criou, por meio de
sua magia, um bosque fronteiro ao castelo e povoado pelas mais belas e
licenciosas mulheres que seduziam a todos os guerreiros, impedindo-os de
exercerem as suas funções.
Indignado,
Amfortas tomou a “espada sagrada” e
partiu para confrontar o bruxo, mas ele próprio não resistiu às tentações e
acabou sendo seduzido, dando chance para que Klingsor roubasse-lhe a espada e o
ferisse com a mesma. E a chaga resultante, desde então, nunca mais cicatrizou
nem deixou de doer.
Enquanto
faz esse relato, Gurnemanz nota que um jovem atira uma flecha e mata um cisne em
pleno voo. Irado, abandona seus ouvintes e recrimina rispidamente o rapazola,
por seu ato cruel.
Em
seguida, pergunta-lhe o nome e a procedência, mas o jovem nada sabe responder,
revelando-se um parvo completo.
Nessa
hora, como se brotasse do solo, Kundry aparece e diz que o jovem se chama Parsifal. Em seguida, põe-se a contar a
história do garoto, relatando que ele é órfão, tendo o pai morrido em batalha e
a mãe, pouco depois. É um pobre imbecil que vaga pelo mundo, sem eira nem
beira... E mais iria dizer; mas, sente de súbito o chamado mágico de Klingsor,
cuja influência nefasta a mantém aprisionada, e desaparece num arbusto sem ser
percebida.
O
pouco que ouviu fez com Gurnemanz passasse a olhar o jovem com certa compaixão
e ele decide levá-lo ao “Oficio Solene do Santo Graal”, no castelo, com a
esperança de que ele seja o “tolo ingênuo” que haverá de curar Amfortas.
E
dessa forma encerra-se a primeira cena.
A
segunda cena é ambientada na reprodução do castelo onde fica guardado o Santo
Graal.
Sentados
à mesa semicircular da comunhão, os Cavaleiros aguardam que Titurel ordene
solenemente que seu filho desvele o “Cálice Sagrado”.
O
ato é um momento de extremo júbilo para todos, exceto para o executante, já que
aquela ação reabre a sua ferida e aumenta a sua dor; por isso ele protesta
contra a ordem paterna, mas, por fim, obedece-a e o véu é retirado.
Nesse
ponto, a plateia presencia um belíssimo momento de engenharia teatral, pois uma
engenhosa penumbra envolve o castelo e em meio da mesma um facho de luz desce
do alto do Templo e banha o Graal fazendo com que brilhe majestosamente.
Então,
Amfortas, ergue o vinho e o pão rituais e os consagra para a comunhão dos
Guardiões. Logo em seguida, o brilho da relíquia vai enfraquecendo e o dia
volta a clarear o recinto, sendo o Santo Graal devolvido ao seu nicho.
Um
sentimento de muita paz e de benção se instala e não é raro que se espalhe para
o público que reage com lágrimas e soluços.
Enquanto
os Cavaleiros terminam a refeição ritual, Amfortas tenta refazer-se da exaustão
e do sofrimento que experimentou e, para isso, é levado em solene procissão
para fora do recinto.
Gurnemanz
e o jovem ficam a sós e o cavaleiro pergunta-lhe se ele compreendeu o sentido
da cerimônia, mas o rapaz nada diz e se limita a colocar a mão no coração e a
expressar uma enorme tristeza pelo olhar.
A
resposta dúbia e silenciosa irrita o ancião, mas, enquanto ele se ajoelha para
fazer uma oração, uma voz vinda do alto repete a profecia sobre o “tolo
inocente” que se tornará sábio através da piedade (ie. da fé religiosa)
e redimirá os Cavaleiros da aflição em que vivem.
É
o fim do primeiro ato.
§§§
O
cenário do segundo ato mostra o sombrio castelo do bruxo Klingsor.
No
alto de uma das torres, o feiticeiro invoca Kundry, a pobre acompanhante dos
Cavaleiros que não consegue libertar-se da maléfica influência do “Mestre do
Mal”.
Como
se estivesse sendo parida pelo chão, lentamente ela se materializa e com um
grito arrepiante apresenta-se a Klingsor, que, de chofre, censura-a
grosseiramente por sua devoção aos Guardiões do Graal, nos momentos em que
consegue escapar de seu poder nefando. Em seguida, ordena-lhe que se transforme
em uma mulher belíssima e que seduza o jovem que está sob a guarda de
Gurnemanz.
Ela
protesta, mas é debalde a sua argumentação, pois logo é jogada em uma espessa
escuridão, da qual emergirá tão sedutora que facilmente arrebatará todos os
Cavaleiros, ocasionando, assim, o fim da Ordem.
E,
assim, encerra-se a primeira cena.
A
segunda cena é ambientada nos jardins mágicos das “mulheres sedutoras”.
Expulso
do Templo por Gurnemanz, que o julgou incapaz de compreender a cerimônia do
Graal, o jovem passeia distraído pelas alamedas do parque até que um grupo de
“donzelas das flores” o cerca e tenta encantá-lo. Porém, suas tentativas fracassam
e, depois, cessam, quando entra em cena uma mulher muito mais bela que elas.
É
Kundry, já transformada, quem chega para cumprir as ordens de Klingsor.
Aborda-o suavemente e quando lhe chama de Parsifal,
nota que a fisionomia do rapaz se altera visivelmente, pois do fundo de sua
memória, voltam-lhe as recordações de como a sua mãe o tratava há muito tempo
atrás.
Percebendo
essas recordações o atingem, Kundry faz-lhe um longo relato de sua vida,
contando, inclusive, que a sua mãe morreu quando o filho a deixou. Parsifal
sente uma imensa culpa, mas é consolado por Kundry que se diz portadora do perdão
e do carinho materno. Em seguida, beija-o, mas não de forma familiar e sim de
modo sensual.
Surpreso,
o jovem reage e ao invés de ceder ao apelo erótico, toma consciência de que tem
uma missão a cumprir, começando por curar a ferida de Amfortas.
Kundry,
atônita pela rejeição e surpreendida pela fortaleza moral do rapaz, faz várias outras
tentativas, mas todas são frustradas. Por fim, ainda tenta uma última artimanha
e lhe diz que quando Jesus era conduzido ao calvário, ela zombou de sua desgraça
e por isso foi condenada a vagar pela Terra por toda a eternidade (o leitor (a),
certamente, não deixou de perceber a similitude com a história de “O Judeu Errante”),
mas que nele, Parsifal, havia encontrado, enfim, alguém que poderia absolvê-la
do terrível castigo.
Ele,
contudo, não lhe acredita e a repele, partindo em seguida em busca de Amfortas,
pois sabe que este, sim, é o seu dever.
Kundry,
sem esconder a sua decepção e raiva, amaldiçoa-o profetizando que ele nunca encontrará
o caminho de volta ao castelo do Graal. Além disso, invoca Klingsor e o bruxo,
de sua janela, atira contra o jovem a “Espada Sagrada”.
Todavia,
por um milagre, a arma estaca ante Parsifal, permitindo que o jovem a apanhe e
faça com ela o “sinal da cruz”, que destroi completamente o castelo do
feiticeiro, seca o jardim das “donzelas das flores” e arremessa Kundry para
dentro da terra, de onde ela lança um grito assombroso.
É
o fim do segundo ato.
§§§
O
terceiro ato é encenado na réplica de um bosque, nas proximidades do castelo do
Graal.
Muitos
anos já passaram desde a última cena em que Parsifal recuperou a “Espada
Sagrada” e destruiu o reino maldito de Klingsor.
É
o início da primavera e Gurnemanz, já bastante idoso, caminha em direção à
cabana onde vive isolado. Segue absorto, desfrutando da beleza da nova estação
e do silêncio do lugar, até que um gemido angustiado interrompe a tranquilidade
de sua caminhada.
Após
uma breve procura, encontra atrás de um arbusto uma velha e andrajosa mulher.
Sem vacilar apressa-se em socorrê-la e vê, após algum esforço, que se trata de
Kundry, totalmente diferente da bela sedutora que era desejada por todos os Cavaleiros,
pois se findou o encantamento que Klingsor lhe colocara.
Reanimando-a,
ele percebe comovido que a mudança não foi apenas física, pois a mansidão e placidez
de seu olhar e a sublimação de sua face e de suas palavras, indicam a
transformação ocorrida em sua alma. De seus lábios, ele só escuta: “meu destino é servir”.
Nesse
momento, chega um cavaleiro de negra e reluzente armadura e poderosa espada.
Gurnemanz pede-lhe que deixe a arma, pois ali é o “Sitio Sagrado do Santo
Graal”. O cavaleiro não demora em lhe atender e enterra profundamente a espada
no solo, antes de iniciar uma longa prece.
Finda
a reza, ele ergue o visor de seu elmo e Gurnemanz reconhece o jovem que no
passado expulsara do castelo por considerá-lo incapaz de qualquer coisa. Logo
depois, reconhece que a espada enterrada é a “Sagrada” que, agora, voltava para
a Ordem.
Rever
o jovem e a espada estimulam Gurnemanz a falar e ele conta da morte de Titurel,
dos dias terríveis que Ordem vive e de como Amfortas piorou até o ponto de nem
fazer mais a “Cerimônia do Santo Graal”.
São
tristes noticias que Parsifal lamenta com sinceridade. Pesa-lhe a culpa pelos
longos anos que passou longe, em solitária peregrinação.
É
um momento tenso no espetáculo e geralmente a plateia reage com lágrimas e
comoção.
Então,
o velho cavaleiro traz-lhe água de uma “Fonte Sagrada” e Kundry coloca-se aos
seus pés, suplicando-lhe o perdão. O carinho de ambos e a energia a “água
santa” revigoram-lhe e ele decide ir imediatamente ao castelo para assumir a
direção da Ordem. Antes, porém, batiza a velha serva para que nenhum outro mal
possa atacar-lhe.
Logo
em seguida, os três partem ao som dos sinos que celebram a Sexta-Feira da Paixão.
É
o fim da primeira cena.
A
segunda cena volta a ser ambientada no interior do castelo do Graal.
A
conhecida mesa semicircular já não está mais ante o altar, pois há muito tempo
que a “Cerimônia Solene” deixou de ser executada. Agora, ali, serão realizados
os rituais fúnebres de Titurel, para os quais Amfortas é trazido para prestar
as últimas homenagens ao pai falecido.
Em
vão os Cavaleiros pedem-lhe que realize a “Cerimônia do Graal”, mas a sua
recusa é inflexível e ao invés do rito, ele clama à alma do pai que interceda
por ele no céu, para que suas dores sejam aliviadas e seu sofrimento seja
amenizado. Visivelmente perturbado, mostra a ferida incurável e implora que o
matem, para espanto e consternação dos que lhe ouvem.
É
um trecho da Ópera em que a dramaticidade e tensão atingem o auge e o ambiente
só volta a ser ventilado com a chegada de Parsifal que lhe encosta a “Espada Sagrada”
na chaga, a qual, por milagre, é curada no mesmo instante.
Surpreso
e emocionado, o filho de Titurel experimenta, após tanto tempo, a ausência do cruel
sofrimento. E o fim da tortura faz com que ele compreenda e se arrependa de seu
comportamento volúvel no passado e dos pecados que cometeu. Sente-se, então,
livre, perdoado. Foi, com efeito, uma dura lição, mas ele aprendeu a seguir o
caminho correto.
Nesse
momento, Parsifal coloca a espada junto ao altar e desvela o Santo Graal, repetindo-se
o maravilhoso efeito de penumbra e de brilho concentrado. As luzes e sombras
que a maquinaria teatral realiza, enleva e transporta o público para o cerne do
drama.
Pouco
depois, esse mesmo público assiste à morte pacífica e redentora de Kundry, cuja
alma abençoada pelo batismo, livra-se de toda escravidão ao Mal.
Logo
em seguida, uma pomba branca sobrevoa Parsifal enquanto ele ergue a Santa
Relíquia e todos sabem que o vaticínio se cumpriu: o “tolo inocente” derrotou a
tudo e a todos, usando apenas a piedade, a humildade e a resignação. De suas
virtudes resultou o resgate da Ordem dos Cavaleiros do Santo Graal.
É
o fim da Ópera e a renovação da esperança de que o Bem sempre triunfa.
Nota do Autor – segundo a tradição, a arma do
Centurião, chamado Longino, não era
uma espada, mas uma lança. Ainda segundo a tradição, ele teria golpeado Jesus
num gesto de benevolência, já que antecipando a sua morte, poupava-o de longas
e angustiantes horas de dor e sofrimento. Wagner chama a “lança” de “espada” e
vice-versa sem prejuízo para a ideia original e apenas por questões de ordem
teatral.
Histórico
Para
criar essa obra, Wagner valeu-se de lendas medievais existentes desde os
primórdios da Idade Média.
Lendas
e histórias que também foram utilizadas por Chrétien de Troyes, em c. 1190, na sua obra “Percival le Gallois (o Galês)”
e pelo poeta alemão Wolfram von
Eschenbach, do mesmo século, em seu poema épico chamado “Parzival”.
O
protagonista, Percival, em todas as
versões é o “tolo inocente”, simplório, ingênuo, que graças à pureza de seu
coração consegue resgatar a “Espada Sagrada” e com ela libertar a Ordem dos
zeladores do Santo Graal. Posteriormente, seu filho, Lohengrin (protagonista de
outra Ópera wagneriana) continua a sua saga, desde o
castelo sediado em Montsalvat, Espanha.
A
beleza majestosa da obra de Wagner foi reconhecida desde a sua primeira
apresentação e ainda hoje continua a ser deveras apreciada; contudo, pesa-lhe um fardo incômodo, haja vista ter sido a Ópera preferida
do sanguinário Hitler, que em seus
delírios paranoicos equiparava-se ao herói Parsifal e se via como o “salvador
da pátria e da cultura cristã germânica e europeia” contra o perigo
representado pelos judeus e pelas “raças inferiores”.
Essa
predileção do ditador nazista trouxe alguns percalços à obra, principalmente em
razão dos preconceitos e dos juízos estúpidos daqueles que não conseguem
separar a obra de arte das paranoias políticas. Felizmente tais situações são
cada vez mais raras, permitindo que o deleite que a Ópera proporciona possa ser
desfrutado com muito mais frequência.
Por
outro lado, é necessário destacar que os variados motivos musicais em Parsifal
remetem a temas bem anteriores ao modelo operístico que se produzia na época.
Wagner
inclusive chamou a sua obra de uma “peça festiva ou votiva - Buhnenwihfestpiel”
para diferenciá-la do que ele chamava de “drama lírico”.
Outra
singularidade – talvez decorrente da intenção de torná-la diferente – foi a
determinação do autor de que a obra fosse encenada apenas no teatro do
“Festival de Bayreuth”, até o último dia de 1913.
Porém,
felizmente, essa vontade de Wagner não foi atendida e, assim, na véspera do
Natal de 1903 o Metropolitan de New York – EUA – apresentou-a em formato de
concerto; e, em 1913, a Cia Italiana de teatro “Constanzi”, atual “Ópera de
Roma”, encenou-a em sua totalidade no teatro “Cólon” em Buenos Aires,
Argentina, e, depois, no Rio de Janeiro.
Adendo
Wagner
chama de “Santo Graal” não só o tradicional cálice que teria sido usado por
Jesus na “última ceia”; mas, também, o conjunto de relíquias formado pelo
próprio, mais a espada – ou lança – que o teria ferido na crucificação. Além
disso, também assim denomina o vaso de esmeralda que teria sido usado por José de Arimatéia para recolher o sangue
do Messias, após a crucificação.
São
versões que pertencem à tradição religiosa de vários povos e que o compositor
utilizou em sua máxima extensão, sem se preocupar com o rigor teológico, já que
a “liberdade poética” é um direito que não lhe pode ser questionado.
As
relíquias, falsas ou verdadeiras, foi uma obsessão durante toda a Idade Média,
possuindo um alto valor simbólico e financeiro, além de acenar com a
transferência de seus poderes a quem as possuísse. Por isso eram tão disputadas,
como no caso presente em que Klingsor busca com tenacidade doentia apoderar-se
dos bens da Ordem.
Já
a existência do personagem “ingênuo, puro e isento de pecados”, como Parsifal,
representava a crença na vitória final do Bem sobre o Mal, pois o despojamento
implicava na ausência de sentimentos de posse, de cobiça e de violência.
É,
na verdade, um princípio que remonta ao mais antigo Hinduísmo, que, como se
sabe, é a fonte de todas as outras religiões, cristãs ou não. Graças às suas
excelsas virtudes e ao amparo que recebe do Deus cristão ou dos deuses hindus, africanos,
indígenas etc.; o “tolo inocente” é capaz de resistir às tentações e seduções
da matéria. Apenas eles vencem o “corpo físico”, como propõe a ancestral religião
dos Sadus indianos.
Esse
arquétipo, repetido na lenda de “Excalibur” e do Rei Artur, acabou sendo
atualizado em nossa época através da genialidade de Charles Chaplin que com
sua personagem “Carlitos”, encarnava o triunfo da pureza sobre a arrogância dos
ricos e poderosos.
Rio
de Janeiro, 29 de abril de 2015.
Lettré,
l´art et la Culture. Rio de Janeiro, outono de 2015
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