A
princípio, Rousseau não deu muita importância à ameaça de prisão e foi com
certa relutância que ele atendeu ao apelo da Mme. De Luxemburgo para que
fugisse de Paris com a maior urgência.
Inicialmente
pensou em ir para Genebra, mas devido à má recepção que lá foi dada ao seu
livro “Discurso sobre a desigualdade
entre os homens”, ele desistiu da ideia e passou a considerar a hipótese de
mudar-se para o território de Berna, também na Suíça, na cidade de Yuerdum. E,
assim, rumou para essa localidade e se abrigou na casa do amigo, M. Roguin, contando, segundo alguns,
com a conivência dos oficiais franceses que deveriam prendê-lo antes que
fugisse.
Sentindo-se
confortável e seguro na nova vivenda, Rousseau começou a providenciar a sua instalação
definitiva, mas o Congresso de Berna também o condenou e ordenou que fosse
preso.
Teve,
então, que empreender nova fuga e aceitou o convite de Mme. Boy de La Tour e se
refugiou em Motiers, Condado de Neuchâtel, sob a proteção do Imperador Frederico, o Grande. Ali, trabalhou na revisão
de seu “Dictionnaire de Musique” e no
esboço de “Memória”, enquanto travava
relações com o Mal. George Keith, refugiado escocês, e com outros intelectuais
perseguidos que se ocultavam sob o manto do Imperador filósofo.
As
condenações, as ordens de prisão, a queima de seus livros em praça pública e as
outras manifestações hostis que foram realizadas, mostraram-lhe a magnitude do
sentimento negativo que a Suíça lhe dedicava. Um conjunto nefasto que lhe
causou certa amargura, mas que, também, deu-lhe o material necessário para
escrever uma de suas obras mais célebres “Le
Levite d´Éphraim”.
E
foi por conta dessa mágoa que ele escreveu, em 1763, ao Conselho de Genebra
renunciando à sua cidadania. O órgão oficial respondeu-lhe através de um Artigo
intitulado “Lettrés de la Champagne”,
ao qual, ele, ironicamente, retrucou com outro Artigo que chamou de “Lettré de la Montagne”.
Ainda
em 1763 ele sofreu nova condenação, dessa feita ordenada pelo Arcebispo de Paris;
e em 1764 a campanha difamatória prosseguiu e ele passou a ser hostilizado através
de um panfleto anônimo1, “Les
Sentiment des Citoyens”, que o acusava de ser um pai desnaturado, um hipócrita
e um amigo ingrato.
Ao
contrário dos anteriores, esse novo insulto causou-lhe muita mágoa e foi, então,
que ele decidiu escrever a sua autobiografia, “Confissões”, para se defender dos ataques que sofria, apresentando
a sua versão dos fatos. Ele já tentara algo parecido quando redigiu um pequeno
livro chamado de “Vision de Pierre de la
Montagne, dit le voyant”, mas sem obter a repercussão que desejava.
Entretanto,
não obstante os ataques que sofria, Jean Jacques continuou sendo requisitado
por pessoas das várias classes sociais, econômicas e intelectuais que nele
buscavam as respostas para as suas questões.
Todavia,
nem esse apreço foi suficiente para minorar o seu sofrimento e ele decidiu
aceitar o conselho de uma amiga para mudar-se para um novo país, como veremos
no próximo capítulo.
Nota do Autor1 - Soube-se
depois que a autoria do panfleto era de Voltaire.
Lettré, l´art et la culture. Rio de Janeiro, Primavera de 2014.
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