Ouvi
há poucos dias, entremeio a uma entrevista da candidata à Presidência da
República, Dilma Rousseff, a seguinte afirmação: “não tenho nada contra a Filosofia nem contra a Sociologia... (...) O currículo
é muito extenso (sic)... (...) Desestimula o aluno (sic)... (...) é preciso
alterar o currículo do Ensino Médio (sic)”.
Num
primeiro momento julguei ter entendido mal e para não cometer um julgamento
injusto escrevi um email ao escritório de campanha da Senhora Candidata
indagando se aquela proposta era real, mas não tiveram sequer a delicadeza de
me responder. Confesso que não me recordo doutros detalhes de sua fala naquele
momento, mas devido ao silêncio de sua assessoria e a menção sobre alterações no
currículo que passou a ser feita nos programas seguintes, não me restou dúvidas
acerca da realidade daquela ameaça às disciplinas do Pensamento, da Reflexão,
da Análise, da Iluminação e, principalmente, da Libertação das vetustas superstições
e das sórdidas dominações praticadas com o uso e o abuso do amedrontamento físico
e celestial, como instrumento de coerção.
Sabemos
todos que o mundo em geral, e o Brasil em particular, vive uma crise sem
precedentes de declínio cultural e artístico, com os seus indefectíveis
reflexos no comportamento ético das pessoas. Uma situação dramática que se
revela de forma nua e crua na violência juvenil, no culto desenfreado ao
material e no completo descaso pela vida e pela realização das pessoas. O
chamado “funk ostentação” sintetiza com perfeição essa quadra tenebrosa do
Presente e as horrorosas perspectivas para o Futuro, aumentando o drama de um
povo que durante toda a sua história não foi capaz de produzir uma obra
literária, cinematográfica etc., tampouco uma pesquisa cientifica (talvez com exceção
do avião de Santo Dumont) que merecesse o
reconhecimento das outras nações. O fato de não termos, por exemplo, um único
Prêmio Nobel (ainda que muitos aleguem seu caráter comercial e
antiético) é uma amostra clara do
nosso déficit no campo das ideias, ao contrário de países vizinhos, como o Peru,
a Colômbia, o Chile, a Argentina e o México que também sofreram processos colonizadores
deploráveis e enfrentam situações tão adversas quanto as que nos afrontam.
Países
vizinhos que produziram e produzem Arte, Cultura e Ciências que são reconhecidas
pelo mundo, não porque sejam mais capazes que nós outros, mas, sim, porque
foram e são estimulados a pensar, tanto pelo hábito da leitura, quanto pelo
aprendizado nas escolas das disciplinas do Pensamento, como parte indissociável
da grade regulamentar. Exatamente o que nunca ocorreu no Brasil, salvo na época
da ditadura burguesa e militar que implantou o doutrinamento da “Direita” através
do famigerado curso de OSPB.
Pois
bem, agora, quando as primeiras gerações começam a se beneficiar desses novos
conhecimentos, eis que surge essa sombra no horizonte.
É
claro que é importantíssimo e até vital que se aprenda a construir um trator
robusto; que se aprenda como ampliar o cultivo da soja ou que se ensine como se
fabrica uma roupa barata e de boa qualidade. Isso é inquestionável, pois sem
essas coisas básicas não se vive, inclusive para pensar, criar. Mas sei que é
desnecessário prosseguir nessa argumentação, pois a inteligência do amável
leitor (a) dispensa-me desse fardo de lugares-comuns.
O
que me causa perplexidade, apreensão e medo é o avanço das trevas que se
projeta no horizonte. Essa ameaça Fascista, com ranços da Inquisição religiosa
e traços do Stalinismo mais tacanho, que caminha sub-repticiamente com o
intuito único de cercear, de limitar a Liberdade
e o consequente Crescimento pessoal,
obtidos através do aprendizado de como raciocinar, analisar, julgar; e não por
meio do adestramento que ensina decorar regras, leis, fórmulas e quejandos.
Se
é importante, como dissemos acima, o avanço e desenvolvimento material, não é
menos importante que esse avanço seja repartido com quem o produziu; e para que
tal divisão seja equânime, equilibrada, justa é preciso que a capacidade intelectual
não seja privilégio de uma Elite que parece ter esquecido suas raízes e suas
lutas anteriores.
Em
razão do exposto é que eu conclamo a todos e a todas para que repilamos essa
tentativa de limitar o aprendizado escolar da Arte de Pensar, pois os outros
meios de instrução (TV. radio, web etc.) que poderiam estimular a reflexão e a criatividade,
demonstram à exaustão a sua despreocupação com o assunto, haja vista que sua única
preocupação é aumentar a audiência e os lucros auferidos, ainda que a custa da
exibição de um bizarro circo de horrores.
Não
enaltecerei um candidato em detrimento de outro,
tampouco farei apologia de determinada opção política, pois respeito à vontade
soberana de quem paga os salários e as outras vantagens daqueles que disputam uma vaga no quadro de Servidores Públicos.
Mas pedirei aos
eleitores e eleitoras de qualquer um dos candidatos que se unam na luta em prol da rejeição de qualquer tentativa de diminuir a Liberdade que conquistamos a tão duras penas. Que não
permitamos que a Liberdade de Pensar não seja estimulada através do ensino,
pois só somos livres quando podemos sonhar.
De minha parte, deixo aqui, de público,
o meu repúdio a essa suja intenção, que, se concretizada, certamente condenará
as novas gerações a permanecerem no eterno ciclo de ignorância e abjeta dependência.
Rio
de Janeiro, 13 de Outubro de 2014.
Fabio Renato Villela
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