MARX, Karl Heinrich.
1818 – 1883
A história de todas as
Sociedades até hoje existentes é a história da luta de Classes. A “Luta de
Classes”, “A Dialética Materialista ou o Materialismo Dialético”, “A Mais
Valia”, “O Exército de Reserva”, “a Práxis”, “o Manifesto Comunista”, “O Capital
(Das Kapital)”.
PREFÁCIO
Antes de tudo, pede-se que o leitor não confunda os conceitos
de “meritocracia” com o de “injustiça”, pois se é plenamente aceitável
que cada qual ganhe de acordo com seu talento e com seu esforço, é
profundamente questionável que alguns*
vivam nababescamente apenas por terem nascido em lares ricos (e que por isso,
tiveram boa educação, alimentação condizente, boas condições de moradia etc.) e
disputem com vantagens e trunfos indevidos os empregos, as vagas
universitárias, as posições sociais etc. com aqueles que por infortúnio foram
gerados e criados em lares carentes, perpetuando um trágico “Circulo Vicioso”
de exploração, violência e terror.
Ou ainda pior, que vivam em fausto injusto apenas
porque herdaram a sua fortuna sem terem feito absolutamente nada para merecerem
a vida confortável que levam, ou a conseguiram através de meios ilícitos.
Note-se, pois, que o conceito de “Injustiça Social”
não implica em fazer com que todos sejam nivelados por baixo, mas justamente o
contrário. “Justiça Social” é dar oportunidades efetivas para que todos
possam buscar a própria realização.
E aqui chegados, será oportuno uma palavra acerca da
gênese da citada “Injustiça Social”.
O que leva o homem
a se comportar como um simples animal, cujo interesse é apenas a sua própria
satisfação?
Provavelmente seja, exatamente, essa sua condição de
“animal”. Milênios de civilização não foram suficientes para apagar em nossa
psique alguns instintos animalescos.
Ainda continuamos a preservar com ferocidade o “nosso
espaço”, a “nossa comida” e a satisfação de nossas necessidades mais
básicas, físicas, materiais.
É certo que tais instintos, por força da repressão
social, foram atenuados e que alguns sentimentos mais nobres afloram em algumas
ocasiões.
Mas no intimo ainda somos escravizados por nossas
ambições, por nossa ganância e, principalmente, por nosso medo de sermos rejeitados
socialmente se nada possuirmos.
Somos, ao cabo, escravizados pelo pavor de nos
sabermos frágeis e de que só existimos quando estamos refletidos em posses e propriedades.
A partir, então, dessa constatação é possível ver que
a “Justiça Social” nunca poderia ocorrer de forma voluntaria, espontânea,
pacifica, pois quantos homens se disporiam a abrir mãos de seus bens em favor
da coletividade?
Logo, a “Luta
de Classes” será perene, pois aqueles que possuem os “Bens Materiais”
tudo farão para mantê-los e aumentá-los; enquanto aqueles que não os
possuem, tudo farão para conquistá-los.
É como uma sina da humanidade, permeada por violências
de toda sorte.
Humanidade, que certamente ainda terá um longo caminho
a percorrer até que consiga se libertar da bestialidade de seu comportamento atávico.
Alguns otimistas veem, ou querem ver, um abrandamento
dessa natureza selvagem. Alguns pessimistas, ou realistas, julgam-na em aumento
constante devido ao endeusamento ao Poder Material que a cada dia mais
se consolida em nossa sociedade.
São pontos de vista que derivam e se deixam à escolha,
mas o certo é que os motivos de antes ainda estão presentes e atuantes e com
isso se vê a atualidade da obra marxista.
Aliás, tanto quanto a necessidade de estudá-la sem
pré-julgamentos, ou pré-conceitos, pois talvez a apreensão da nossa verdade
seja o único caminho que poderá nos oferecer alguma perspectiva positiva.
Por fim, pede-se que quando se notar algumas censuras,
explícita ou implícita associadas às citações sobre “Burguesia”, “Elite”
ou “Classe Dominante”, tenha-se em mente que a mesma é dirigida àquelas
pessoas descritas no inicio* e que gozam de luxo e riqueza sem que nada tenham
feito para merecê-los.
O autor conta com o discernimento e a compreensão do
(a) amável leitor (a).
Já se disse que tudo que se escreveu sobre Filosofia não passaria de simples “notas de rodapé” para os textos que Platão redigiu ao expor o seu Ideário.
Subtraindo-se algum exagero nessa afirmativa, resta a
constatação quase unânime acerca da efetiva importância que o sábio grego teve
e tem para a Cultura do Ocidente.
Ressalvando-se as proporções e as circunstâncias, não
será de todo errado dizer o mesmo acerca de KARL MARX.
Novamente subtraindo-se algum exagero, vê-se que o seu
Pensamento embasou o Ideário de praticamente todos os Pensadores Modernos e Contemporâneos.
Seja como adeptos ou como adversários, o certo é que
praticamente todos navegaram em suas águas, ao refletirem, investigarem e
analisarem as questões Políticas, o Mundo e a própria Humanidade.
É inegável, pois, que esse genial alemão, de
elevadíssima erudição, cultura, inteligência e generosidade fez-se eterno nos anais
da história e, mais importante, nos corações de todos aqueles que insistem em
sonhar com um Mundo e com uma Sociedade mais justa e fraterna.
Aprendeu-se com ele que o exercício da “Esperança”
pode e deve ser estudado com o rigor da Ciência
e que a mudança está sempre ao alcance daqueles que conseguem libertar-se do egoísmo
medíocre que a Moral Burguesa forjou como padrão a ser seguido.
A Luta de Classes
Na época em que o Brasil era dado como “oficialmente
descoberto”, florescia na Itália
o gênio de Nicólo Maquiavel (1469
– 1527),
cujas perorações, já c. 1513, aludiam
sobre a questão da “Luta de Classes”
que permeava as antigas sociedades e, especialmente, a Romana, conforme se lê em sua obra “Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio”.
E vários outros exemplos a pena de Maquiavel
poderia relatar com facilidade, pois o embate sempre esteve presente em todos
os Agrupamentos Sociais.
De um lado a “Classe
Dominante” e do outro, a “Classe
Explorada”.
Porém, se antes os antagonistas eram variados*, a
partir da Revolução Industrial ** os
adversários passaram a ser englobados em apenas duas categorias:
- Burguesia
- Proletariado
NOTAS do AUTOR* – nobres x servos; aristocratas x servos; latifundiários x camponeses etc. ** Iniciada no Reino Unido em
meados do século do Século XVIII e difundida mundialmente desde o inicio do
século XIX.
Hodiernamente várias
subcategorias foram estipuladas e outras nomenclaturas foram criadas, mas o
fato é que o litígio continua a ser basicamente o mesmo, pois o que o motiva
permanece intocado: a injustiça social.
Notas Biográficas
Karl foi o segundo a nascer em uma prole de nove filhos.
Veio ao Mundo no seio de uma família
judaica, de classe média, na cidade Tréveris, na Prússia,
então parte do Império Alemão.
Henriette Pressburg, sua mãe, era judia holandesa e seu pai, Herschel MARX, descendia de uma linhagem de Rabinos,
mas teve que abandoná-la e se converter ao Cristianismo
em decorrência das restrições que se faziam ao ingresso de hebreus no Serviço Público, onde ele, advogado por
oficio, exerceu o cargo de Conselheiro de Justiça.
Graças a essa apostasia, o cargo permitiu-lhe oferecer
boas condições materiais ao jovem MARX e aos seus irmãos e irmãs que, assim, desfrutaram de
uma infância confortável e de acesso facilitado às boas escolas.
Iniciando seus estudos no Liceu de Friedrich Wilhelm, na cidade natal, no mesmo ano em
que eclodiram rebeliões em várias nações europeias, pode-se dizer que sua
entrada no “Mundo exterior, ou adulto” foi marcada pela ocorrência
daqueles movimentos políticos
que no Futuro embasariam o cerne de
seu Pensamento.
Posteriormente,
ingressou na Universidade de Bonn
para estudar Direito, mas
logo no ano seguinte transferiu-se para a Universidade
de Berlim onde teve contato com a Filosofia
de Hegel (Georg W. Friedrich, 1770 – 1831 Professor e Reitor da
Instituição) que exerceu
influência decisiva em seu Ideário
posterior.
Na
capital alemã, ingressou no “Clube
dos Doutores”, liderado por Bruno Bauer e abandonou definitivamente
o estudo das Leis para abraçar o de Filosofia.
Também
nessa ocasião participou ativamente de Movimentos
Políticos Filosóficos como “Os Jovens Hegelianos” e começou a
exercitar de maneira sistemática seus dons literários.
Em
1841, obteve o titulo de “Doutor em
Filosofia” após defender a tese sobre “As diferenças da Filosofia da Natureza em Demócrito
e em Epicuro”.
Porém,
tendo sido impedido de seguir a carreira acadêmica devido ao seu ativismo
político, tornou-se em 1842 o Redator-Chefe
da “Gazeta Renana”, um
pequeno jornal da Província de Colônia, Alemanha.
Também
em 1842 conheceu Friedrich Engels (Prússia, 1820-1895) com quem
manteve fraterna amizade e produtiva parceria política e literária por mais de
quatro décadas.
E
que, aliás, chegou a lhe sobreviver, pois foi Engels quem se incumbiu
de editar postumamente as suas obras.
Ainda
sobre a amizade de Engels é oportuno que se diga que em várias ocasiões ele atuou
como um verdadeiro mecenas ao socorrer MARX que vivia em constantes apuros financeiros. Foi
graças à sua generosidade que o brilho maior de MARX não terminou sufocado pelas preocupações menores das
exigências do cotidiano.
Também
se deve ventilar que não são poucos os Eruditos
que lhe creditam um papel essencial no desenvolvimento do Pensamento Marxista, já que além de sua importante colaboração
financeira, ele teve efetiva participação no campo teórico e literário, tendo
sido inclusive o coautor de vários textos.
Envolvimento Político
Em
1843 a Gazeta Renana foi
fechada por ordem do Governo, em
represália a uma serie de artigos que criticavam duramente a Administração Prussiana.
Desempregado,
MARX
e a família emigraram para a França.
Família, aliás, que ele iniciara em junho daquele ano ao se casar com Jenny
Von Westphalen, filha de um barão prussiano, com quem mantivera um noivado
secreto em virtude da desaprovação de ambas as famílias.
Em
Paris, MARX assumiu a
direção da revista Anais Franco
Alemães e manteve contato com diversas organizações secretas de Socialistas.
Na
vida pessoal (primeiro em França e depois
em Londres) as condições
eram dificílimas e em virtude da penúria recorrente na época, o casal perdeu
quatro dos sete filhos que gerou.
Outro
filho de MARX
(fruto de uma relação extraconjugal com uma empregada
da casa e militante socialista chamada Helena Demuth) foi
assumido por Engels, que pagou pensão à criança e a entregou para uma
família Proletária londrina em adoção.
No
terreno da Política, ainda em 1843, MARX fez contato com a Liga dos Justos (depois rebatizada de Liga
dos Comunistas);
e em 1844 iniciou efetivamente a parceria de trabalho com o amigo Engels.
Também
nessa ocasião iniciou uma série de debates com o Filósofo francês Proudhon (Pierre Joseph, 18909 – 1865)
e um proveitoso relacionamento com o Anarquista russo chamado Bakunin (Mikhail Aleksandrovitch, 1814 – 187), ativo militante Socialista
que havia se refugiado do Czarismo russo, na França.
Esses
encontros, debates e relacionamentos completavam os estudos que MARX realizava continuamente sobre a Economia Política,
os Socialistas Utópicos Franceses e a História da França.
E foi desse
conjunto de informações e reflexões que nasceu a sua primeira obra de
reconhecida importância – Manuscritos
de Paris, posteriormente chamados de Manuscritos Econômico Filosóficos.
E,
segundo Engels, foi também nessa época que se consolidou a sua convicta
adesão às Ideias Socialistas.
Ainda
em Paris, MARX ajudou a editar um pequeno jornal – Vorwarts!
– cuja linha editorial era de critica constante ao Governo alemão. E foi por conta dessa postura que MARX acabou sendo expulso do país em 1845, a pedido da Prússia.
Da
França, ele emigrou para a Bélgica e em Bruxelas encontrou-se com Engels que também se mudara para lá.
Ali,
a dupla redigiu o célebre Manifesto Comunista, que traz a
essência do Pensamento Marxista.
Porém,
em 1848 o Governo belga também o
expulsou e junto com amigo e parceiro Engels,
MARX mudou-se para Colônia,
Alemanha, onde fundaram um novo jornal – Nova Gazeta Renana –
que tinha como linha editorial as mesmas críticas dos jornais anteriores, não
poupando de censuras as autoridades locais que em resposta, novamente, os
expulsou no ano seguinte, 1949.
Na
vida pessoal, apesar das mudanças e condenações nos últimos tempos, a maré
havia mudado e MARX vinha conseguindo oferecer boas condições materiais
para a família graças aos rendimentos que auferia com suas publicações e com as
doações que recebia de amigos e aliados, além da herança que recebeu com a
morte do pai.
Mas
ao deixar Colônia, a penúria voltou a
lhe assombrar e só a muito custo a família conseguiu retornar a Paris, porém o Governo francês proibiu a sua permanência.
Foi
necessária uma campanha de arrecadação de fundos, promovida por Ferdinand
Lassalle (considerado
o precursor da Social Democracia alemã, 1825 – 1864) na Alemanha
para que com os recursos obtidos a família pudesse chegar a Londres onde, enfim, se eles se fixaram
em definitivo.
E com relativa tranquilidade ali viveram até que a
partir de 1881, já deprimido pela morte da esposa, MARX viu se agravarem os seus problemas de saúde, até que
em 1883 veio a falecer.
Foi enterrado no cemitério londrino de High Gate,
na condição de apátrida.
NOTA do AUTOR - Ironicamente, porém, o fato de lhe terem negado uma nacionalidade
fez justiça à universalidade de se gênio. Uma inteligência como a sua não
poderia ficar restrita a um só País. Pertence, de fato, a todos os povos.
O Pensamento de MARX
Para não fugir à regra das ideias brilhantes que só
fulguram após a morte de quem as teve, às de MARX tiveram
pouca repercussão enquanto o Filósofo
viveu.
O interesse mais significativo ocorreu na Rússia
que já vinha experimentando uma série de contestações ao Regime Monárquico
dos Czares, mas sem que houvesse
uma ideologia capaz de catalisar todas as insatisfações.
Ali, em 1872, foi publicada a primeira tradução de O Capital – Tomo I.
Na Alemanha,
porém, só em 1879 é que a sua obra começou a ser conhecida graças ao estudioso
de Economia Política Adolph Wagner, que comentou o Ideário
Marxista ao longo de sua obra, Allgemeine Oder Theoretische Volkswirthschafts
Lehre.
Graças a esse impulso inicial, o Pensamento Marxista ganhou fôlego e pouco após a morte do Filósofo, as suas teorias já obtinham
crescente influência intelectual e política entre os Movimentos Operários
que ao final do século XIX tinham no Partido
Social Democrático Alemão a sua principal arena de debates.
Influência que também crescia, embora com menos ímpeto,
entre os círculos acadêmicos ligados aos estudos das Ciências Humanas (Filosofia, Antropologia, Sociologia, Política, História
etc.), principalmente nas Universidades de Viena e de Roma, que foram,
aliás, as pioneiras em ofertar cursos sobre o Marxismo.
Hoje, é um consenso que MARX foi um legitimo continuador da grande Filosofia alemã, ombreando com Kant e
Hegel e aproximando-se de Pensadores
do porte de Aristóteles, de quem era adepto.
E honrando o espírito
contestador dos grandes Filósofos de
todos os tempos, observa-se que embora MARX tenha sido um sincero admirador de Hegel,
dele discordava severamente no tocante à sua Filosofia Idealista, através da qual se afirmava que “da
Realidade se faz Filosofia” (ou seja, a Filosofia é apenas uma reflexão passiva sobre
uma conjuntura colocada).
Afinal, para ele, a “Filosofia deve incidir
sobre a Realidade”; isto é, não basta ela divagar, ou que
especule, ou que pense sobre a Realidade.
Cabe à Filosofia alterar essa Realidade.
Segundo ele, para “mudar o Mundo” é imperioso
vincular o Pensamento, ou a Teoria,
com a Prática, com a Ação Revolucionária (aqui no sentido de
revolucionar, ou mudar drasticamente, completamente, os valores, os costumes,
os padrões etc.).
Vinculação que MARX
conceituou, ou definiu como Práxis, A união entre a Teoria
e a Ação, como veremos adiante.
Com o avanço nos estudos sobre as Ideias de MARX, inúmeras variantes
surgiram e sua Teoria ganhou uma
série de novos conceitos, subconceitos, variantes etc.
Contudo, todos eles sempre orbitaram em torno da ideia
central do pensamento Marxista, que pode ser definido como
o combate contra as injustiças decorrente do Sistema Capitalista.
Assim, a partir da clara definição sobre o quê deve
ser combatido, MARX estabeleceu como condição imprescindível que se abandonasse
qualquer separação entre a Teoria e a
Prática, entre o Pensamento e
a Realidade, pois essa divisão é uma mera abstração, já que o corpo e a
mente estão indissoluvelmente ligados e perfazem uma totalidade complexa.
Para ele, a Revolução
pensada, sonhada e desejada deve ser realizada
concretamente, sob a pena de não ter passado de tola e infantil bravata.
E justamente por conta desse apego aos fatores físicos,
concretos é que o Marxismo baseia-se
na ideia de que a História Humana
é determinada pelas circunstâncias materiais, físicas, concretas.
E Não pelo “progresso do
espírito”, pela “evolução da mente”, pelo “desenvolvimento do
pensamento”, como afirmavam HEGEL e outros Pensadores.
Mas, apesar de conceder essa supremacia à Matéria
em detrimento das Ideias, a Doutrina Marxista rejeita
qualquer noção de Determinismo (ie, a noçao de que os fatos, os objetos, os Seres são
da maneira que são por um desígnio “divino”, ou da “natureza”, independentemente
da vontade e da participação humana).
Dessa sorte, não será possível entender os conceitos Marxistas (por exemplo – “Força
Produtiva”, “Mais-Valia” etc.)
sem se considerar que o Processo
Histórico* é feito pela ação
humana e pelo movimento dos fatos
e circunstâncias concretas. E
Não por ideias, divagações ou conceitos abstratos, já
que estes são apenas o reflexo da realidade física, ou uma “Abstração do Real”.
Para MARX, o Trabalho (intelectual, braçal, primário, complexo etc.) é o centro da atividade humana.
É a base, a fundação sobre a qual se assenta a própria
humanidade, já que é das Relações de Trabalho, ou Relações
de Produção, que surgem todas as outras relações entre os indivíduos (as “Relações Sociais”),
embasando, por sua vez, todo o processo de formação da humanidade.
A História,
pois, é a narrativa das Relações de Produção, ou de Trabalho,
posto que essas que governam todas as demais.
E foi a partir da importância dada ao Trabalho, que o Filósofo desenvolveu sua tese que
identifica a Alienação*
no mesmo como a “alienação básica”
que acontece em todas as outras áreas.
Alienação* - processo cujo objetivo é
ocultar ou falsificar a relação ou ligação entre “Ação e Consciência” e com
isso fazer parecer que o produto, ou a mercadoria produzida, é superior,
independente, indiferente ao homem que a produziu. Mais especificamente, é
a situação resultante de fatores e circunstâncias materiais, concretas que são
dominantes nas Sociedades Capitalistas em que o trabalho do homem é
feito de modo que ele produza coisas (objetos, mercadorias, produtos) que são imediatamente
separadas de seus interesses e colocadas além de seu alcance (o operário que produz um
carro de luxo é um exemplo clássico dessa situação).
A partir, então, dessa base filosófica é que MARX reflete sobre as outras Ciências, cujo estudo,
aliás, foi profundamente influenciado pela sua opinião acerca da Realidade
ser essencialmente física, concreta, material e determinante das Relações
Sociais, ie, das relações entre as pessoas.
As Influências
Para formatar seu Ideário,
MARX sorveu partes dos Pensamentos
de alguns Eruditos. Dentre outros,
citaremos a seguir aqueles de maior importância:
- A Filosofia
alemã de Kant, Hegel e a dos chamados Neo-Hegelianos, com
ênfase em Feuerbach.
- o Socialismo Utópico de Saint-Simon,
Robert Owen, Louis Blanc e Proudhon.
Sobre este último, aliás, paira a dúvida sobre o
acerto de incluí-lo na malta dos Utópicos, haja vista sua posição
favorável à radicalização política.
- a Economia Clássica dos britânicos, Adam
Smith, David Ricardo e mais alguns.
Adiante abordaremos estas influências separadamente,
embora devam ser compreendidas como complementares na formação de seu Sistema Político Filosófico.
A Formação das Classes Sociais
No berço da civilização os indivíduos eram os
responsáveis diretos por produzir tudo de que necessitassem (comida, roupas, armas, utensílios etc.) para si mesmos e para os seus mais próximos.
Quando as primeiras Sociedades começaram a se organizar, as pessoas passaram a contar
com o labor das outras e cada qual passou a fazer aquilo que melhor se lhe
adaptava.
Essa estruturação levou ao surgimento do “escambo”
e/ou das “barganhas” no qual fulano trocava o que produzira por
aquilo de que necessitava e que fora produzido por sicrano.
Uma forma rudimentar de “Relações Comerciais”
que foi magistralmente descrita pelo Economista
Adam Smith (Escócia, 1723 – 1790).
MARX concordava com a afirmativa do escocês de que foi justamente
nesse momento que se iniciou a “Especialização
no Trabalho”, mas ressaltava que essa mesma especialização também
passou a servir como rótulo, ou classificação. Como escala de importância, credibilidade
e atratividade.
Passou a definir as posições dentro do contexto
social.
A especialização, ou ocupação, ou profissão do
individuo (desde
a de um humilde lavrador, ou operário, até a de um iminente Jurista) passou a servir como indicativo de como seria a sua
vida física, material.
Passou a servir para ditar “onde e como” esse indivíduo moraria, o quê comeria, o quê vestiria
etc.
NOTA do AUTOR - e para justificar conceitos e pré-conceitos negativos.
Ademais, impunha com quem o sujeito poderia se relacionar e compartilhar seus interesses. E contra quem esses seus interesses colidiriam.
Passou, ao cabo, a determinar quem seriam os seus
aliados e os seus adversários.
Estava, pois, arquitetado o “Sistema de Classes
Socioeconômicas” que é à base de todo Regime Capitalista, onde o diferencia um indivíduo do outro
é a quantidade de Capital que
cada qual possui.
NOTA do AUTOR – Capital que nem sempre tem origem ética, ainda que seja amparada por uma Legislação viciada.
De acordo com MARX, houve quatro estágios na história humana que se vinculam diretamente com as quatro formas diferentes do Regime de Propriedade.
A saber:
1. Sistema Tribal (a propriedade era comum, da coletividade).
2. Sistema de Propriedade Comunal e Estatal
(onde teve
inicio a Propriedade Privada e a Escravidão).
3. Sistema Feudal de Propriedade (onde a titularidade da propriedade
era de um único Senhor).
4. Sistema Capitalista Moderno (em que a propriedade está
concentrada nas mãos de quem detém o Capital).
Cada um desses estágios representou uma forma diferente de Sistema Econômico, ou de Modo de Produção e as transições entre os mesmos foram marcadas por acontecimentos políticos turbulentos – como guerras, revoluções etc. – que substituíam as Classes Dominantes a partir do evento.
Valores
da Burguesia
Segundo MARX, além das óbvias implicações econômicas oriundas dessas alterações no Regime de Propriedade, outra característica marcante ocorreu quando a última vitoriosa nesse processo, a Burguesia, não deixou sobreviver nenhuma ligação entre as pessoas que Não fosse o “interesse próprio, egoísta e praticado de modo escancarado”.
Instituiu de modo imperativo o egocentrismo absoluto,
onde só importa o interesse individual, com o consequente fim de qualquer tipo
de vida comunitária, solidaria e quejandos.
Forçou a substituição da antiga solidariedade, pela
acirrada competição.
Impôs que doravante só existiria o “desumano pagamento
em dinheiro”, com o consequente fim do escambo, ou da simples troca
de favores.
Anteriormente as pessoas eram valorizadas, estimadas,
queridas pelo que eram e pelo que faziam.
O exercício do trabalho artesanal, aliás, era uma das
principais fontes desse reconhecimento, pois a habilidade do indivíduo ao
prestar o seu oficio e a serventia do mesmo para a coletividade, garantiam a
sobrevivência e a prosperidade daquela Sociedade
e, em contrapartida, o merecido respeito e valorização ao artesão.
Porém com a ascensão burguesa o valor da pessoa
reduziu-se a um mero “valor de troca”.
Valores morais, éticos, religiosos e até os
sentimentais foram eliminados, esquecidos, enquanto ocorria o processo que transformava
a todos (de
Cientistas a Poetas, de Engenheiros a Padres) em simples e anônimos “trabalhadores assalariados”.
Segundo MARX, onde
havia “sentimentos religiosos, místicos
ou de outras naturezas”, a Burguesia os substituiu com exclusividade
pela “exploração descarada, direta, brutal de um homem por outro homem”.
Decretos e Leis que
antes protegiam as “Liberdades Individuais” foram sumariamente
atropelados por uma falsa e irracional “Liberdade de Mercado”,
pela noção de “Livre Comércio”.
Desse modo, para que os antigos valores fossem
resgatados, e com eles a dignidade humana, única solução seria tornar todos os “Meios
de Produção” (a terra, as fábricas, as
máquinas, as ferramentas, o Capital etc.) em “Propriedade Coletiva”.
Cada indivíduo poderia, então, trabalhar conforme a
sua capacidade e habilidade e teria o sagrado direito de consumir conforme a sua real necessidade.
Sem os penduricalhos fúteis que o Capitalismo torna “necessários”
através da “lavagem cerebral” que faz no Proletariado por
intermédio de uma Publicidade
que o comanda e o reduz a mero consumidor, cujo bem estar (tanto físico quanto espiritual)
depende das aquisições que consegue fazer.
Instituições Culturais e o “Espírito da Época”
Segundo MARX, a análise da base econômica de uma Sociedade permite saber que quando o Sistema de Propriedade se altera (quando, por exemplo, as riquezas passam das mãos da nobreza para as da burguesia) também se altera a Superestrutura* da mesma.
NOTAS do AUTOR - *Superestrutura – a política, as leis, a Filosofia, a arte, a religião etc. O conjunto de elementos e valores abstratos pertencentes e diretivos de uma Sociedade.
Observando-se a substituição dos Nobres pelos Burgueses enquanto “Classe Dominante”, vê-se com clareza esse tipo de alteração, particularmente no campo das Artes.
A música, por exemplo, da Nobreza
caracterizava-se por certo requinte, densidade, elegância e outros atributos
considerados superiores.
Já a da Burguesia
expressa em suas “modas populares” a indigência intelectual e artística
que a falta de educação e de Cultura ocasiona no gosto e na
sensibilidade das pessoas.
Ainda que tenha se tornado
a detentora do Poder Econômico, a Burguesia não escapa das censuras e críticas ao seu “mau
gosto” e ao sarcasmo habitual daqueles que zombam dos supostos hábitos dos
considerados “novos ricos”, ou “sem berço” e outras considerações
elitistas.
Como se sabe, a
Superestrutura (enquanto conjunto de
ideias, valores, conceitos etc. que norteiam uma Sociedade) se desenvolve para servir aos interesses da Classe
Dominante, promovendo as “suas verdades” e “legitimando” as
suas aspirações e os seus atos, enquanto desvia a atenção do Proletariado
das efetivas questões socioeconômicas.
Todavia, nem mesmo essa Classe Dominante
é quem, de fato, determina os acontecimentos ou as próprias Instituições.
O que efetivamente controla, organiza e determina os
fatos de uma época é aquilo que Hegel chamava de Zeit, ou “Espírito
da Época”, o qual, ao cabo, seria o resultado da soma, ou da média, das
ideias individuais dos cidadãos daquele lugar e momento.
MARX concordava parcialmente com a ideia hegeliana,
mas onde Hegel via o Zeitgeist como um “Espírito
Absoluto (ie, o predomínio absoluto das ideias, da mente, da abstração)” que se desenvolve ao longo do tempo, MARX enxergava esse “Espírito
da Época” como a resultante das Relações
Socioeconômicas existentes entre os indivíduos daquele momento e local.
Para ele, tais Relações é que formam de
fato o Ideário daquele momento, ou a Consciência
(ou conscientização) de indivíduos e Sociedades.
Segundo MARX, as pessoas Não deixam uma marca pessoal em seu tempo, moldando-o segundo sua vontade.
Ao contrário, é o momento, ou a época, que moldam os indivíduos e os Grupos Sociais.
Essa releitura que MARX fez da Filosofia Hegeliana (do “Espírito Absoluto” para os “Modos de Produção” e as “Relações Socioeconômicas” como a formadora do “Espírito da Época”) foi seguramente influenciada pela Filosofia de outro alemão, FEUERBACH (Ludwig, 1804 – 1872).
Para ele, as pessoas criam “Deuses” ou “Deus”
à sua imagem e semelhança (a ironia do mesmo não era aleatória) e lhes atribuem as grandes virtudes humanas (generosidade, inteligência,
justiça etc.). A partir de
então se apegam a estas Entidades Divinas que inventaram e optam
em viver “sonhos, utopias, delírios” ao invés do Mundo Real.
NOTA do AUTOR – a tese central FEUERBACH consistia na crença de que
a “Religião” é
uma sórdida farsa, que não pode ser amparada por nenhum Pensamento Lógico Racional, e que contribui decisivamente para
manter a miséria humana.
NOTA do
AUTOR
- outro Filósofo, Nietzsche, sobre essas invenções de deuses, ou de
Deus, ou de “Valores Sublimes” disse que eles “são humanos, demasiados humanos”;
ou seja, sua gênese nada tem de Divina, pois não passam de meras criações da
mente humana, cujas origens, com o tempo são esquecidas e, então, atribuídas ao
Divino. As pessoas se alienam de si mesma por meio de uma comparação sempre
desfavorável entre seu próprio “eu”
e o “Deus” que elas criaram.
A Influência do Idealismo (ou do hegelismo)
Dois pontos na Filosofia hegeliana influenciaram deveras o jovem MARX: a Filosofia da História e a Dialética.
HEGEL, como se sabe, adotava o conceito de Devir criado pelo Filósofo pré-socrático Heráclito.
Assim, para ele, nada
no Mundo seria estático, fixo,
imóvel. Ao contrário, tudo está em constante movimento, em perpétuo processo de
vir-a-ser. Logo, tudo é
histórico.
Para HEGEL, o Sujeito
desse Mundo em Movimento é o Espírito do Mundo (ou a Superalma,
ou a Consciência Absoluta)
que, em essência, é a soma ou a média das Consciências Individuais
(ie, a consciência, as ideias, de cada homem).
E essa Consciência Humana Geral, é
pertencente a todos os indivíduos, pois inobstante as diferenças pontuais,
todos os homens possuem uma essência em comum.
Consciência Geral que também é expressa sob o nome de Deus.
Segundo essa teoria, a história é entendida como o desenvolvimento, ou o progresso das Ideias, do Espírito, da Mente.
É o desenvolvimento, ao cabo, da Consciência da Liberdade*, já que após percorrer uma trajetória – ou a sua história – a “Consciência Individual” liberta-se do jugo da matéria e da servidão ocasionada pela ignorância.
NOTA do AUTOR - Consciência
da Liberdade* - este conceito que poderá ser mais bem entendido da seguinte maneira:
a formatação da Sociedade em seus aspectos concretos, físicos, materiais,
obedece às normas ditadas pelas Ideias; ou seja, a Realidade
é formada pelas ideias e concepções humanas que definem como deve ser a Vida
da Sociedade, tentando eliminar, ou pelo menos
suavizar, o conflito existente entre as Ideias de Liberdade
Individual versus as Ideias de Coerção Social, o quê, em
tese, garantirá a sobrevivência do grupo. Com isso, o Ser Humano liberta-se
progressivamente dos baixos instintos animalescos que ainda habitam o seu
espírito, através de um processo de espiritualização, ou de evolução mental.
É Processo que se constitui
de um conjunto de reflexões filosóficas que o leva a perceber que ele, homem, é
o Sujeito efetivo da história (ou da realidade, da sua própria existência) e que, portanto, caberá a ele decidir o seu Destino.
Durante algum tempo, MARX seguiu a Corrente dos hegelianos de esquerda, mas rompeu com o grupo e efetuou uma
severa revisão em seus conceitos baseados nessa Teoria de HEGEL, após se aproximar das teses de Feuerbach*.
NOTA do AUTOR - Ludwig Feuerbach – Filósofo materialista que
gozou de muita popularidade entre os Intelectuais que lhes foram contemporâneos.
Em 1841, publicou a “Essência do Cristianismo” que teve influência decisiva
sobre MARX, sobre Engels e outros “jovens
hegelianos”. Nessa obra, Feuerbach
critica duramente o Ideário de Hegel
e afirma que a Religião não passa de
uma projeção dos desejos humanos e de uma forma de alienação. Foi através de
sua leitura que MARX concluiu que a “Dialética Hegeliana” estaria de “cabeça
para baixo” porque mostra o homem como um atributo do Pensamento, quando
o correto seria ver que é o Pensamento um atributo humano.
MARX conservou, porém, a concepção de que a história é uma marcha, uma
caminhada dialética (ie, o Mundo está em movimento contínuo graças aos atritos entre os
opostos [tese x antítese = síntese] não sendo, portanto, estático), mas passou a rejeitar peremptoriamente a ideia de
que o Espírito ou Mente do Mundo seja a essência, ou o
sujeito do mesmo.
Propôs que a origem da Realidade Social (ou seja, os fatos, as circunstâncias, as situações que comandam o Grupo Social) Não está nas Ideias, na Consciência que os homens têm dessa Realidade.
Está,
na verdade, na ação concreta, física, da humanidade, ou no Trabalho do Homem.
Afinal, a existência material vem antes de qualquer Pensamento e não há a menor possibilidade de se Pensar em algo que não existe concretamente.
NOTA do AUTOR – note-se nesse último
parágrafo uma das sementes do futuro Existencialismo.
NOTA do AUTOR – alguns discordam dessa
afirmativa de que é impossível pensar em algo que não existe concretamente,
pois alegam ser viável pensar sobre um Sentimento como, por exemplo, a “saudade”.
Outros rebatem, dizendo que não se pensa sobre a “saudade em si”, mas apenas
sobre quem ou o quê a causou; reflete-se, portanto, sobre um Ser, um
Lugar etc. que são físicos, concretos, materiais.
Como se disse anteriormente, MARX disse jocosamente sobre a Dialética de Hegel de que ela estaria de “cabeça para
baixo” e que era necessário inverter o eixo da mesma, colocando na Materialidade e não nas Ideias a gênese do Movimento
Histórico que é a natureza e a essência do Mundo.
A partir dessa inversão é que ele elabora um dos conceitos chaves de seu Pensamento: A Dialética Materialista, ou Materialismo Dialético.
A Influência do Socialismo Utópico.
Na época de MARX,
costumava-se chamar de Socialismo Utópico o conjunto de Doutrinas (algumas antagônicas entre si) que tinham em comum as seguintes características:
1 – A base do comportamento humano é determinada pela Moral e pela Ideologia.
2 – O desenvolvimento da Civilização Ocidental já permitia o aparecimento de uma “Nova
Era”, na qual imperariam a harmonia e a Justiça Social.
MARX foi severo em suas censuras aos Socialistas Utópicos (particularmente em relação aos franceses como o Conde
de Saint-Simon de quem, aliás, foi um acirrado polemista), a quem acusava de serem excessivamente ingênuos e
românticos e de serem inertes e omissos pelo pouco, ou nada, que faziam para se
ter um estudo sério e profundo sobre a conjuntura social que permitisse, numa segunda
etapa, a consequente alteração que fosse necessária.
Segundo ele, os Utópicos
eram pródigos em falar sobre como deveria ser a Sociedade Ideal,
porém, eram mesquinhos em apontar as maneiras efetivas que levassem àquela Sociedade harmônica e justa.
Contudo, não obstante suas criticas, MARX adotou (implícita ou explicitamente) algumas concepções desse grupo de Pensadores, das quais se pode citar, dentre
outras, a ideia de que o aumento na oferta de produtos por obra da Revolução Industrial permitiria
maior conforto ao homem; ou, a noção de que as “crenças ideológicas do indivíduo” influem em seu comportamento.
A
Utopia Marxista
O termo Utopia foi criado por Thomas Morus ou More (Inglaterra, 1478 – 1535) e aqui será usado com um significado diferente do pretendido original, mas consagrado pelo uso popular.
Originalmente o termo significava “lugar nenhum”, mas o estilo coloquial transformou-o em
sinônimo de “quimera”, “ideal”; ie, algo
extremamente positivo, desejável, embora inatingível.
E MARX mostrou-se “utópico”, ingênuo, ao supor que o homem poderia evoluir de seu egoísmo
animal para uma solidariedade angelical, ou pelo menos humanitária, que
permitiria o bem-estar geral.
Todavia, essa ingenuidade, para muitos, não deve ser
vista apenas como algo negativo, pois foi esse “sonho idílico”
que embalou – e ainda embala – as aspirações de um vasto número de admiradores
e de adeptos ao “Ideal Socialista”,
permitindo com isso que continue a existir uma alternativa à rudeza do Capitalismo.
E também, apesar de sua insuficiência, por ensejar o
avanço em algumas práticas e costumes que tiveram o mérito de suavizar em
alguma medida os horrores da miséria em vive o Proletariado sob o jugo da Burguesia.
Um dos exemplos mais
recentes dessa suavização pode ser visto no Brasil com a regulamentação da “Profissão de Empregados
Domésticos”, a qual, inobstante seus defeitos, busca tirar desses (as)
profissionais o antigo ranço escravagista.
A Influência da Economia Clássica.
Devido à importância que dava ao aspecto material como
formador e condicionante das relações entre os membros de um grupo de pessoas, MARX não titubeou em estudar com afinco as Teorias Econômicas Ocidentais (desde as da Grécia
antiga até as que lhe eram contemporâneas).
Acertadamente ele intuía a necessidade de conhecer
sobejamente tais fundamentos para, num segundo momento, modificar-lhes, em
consonância com o seu ideal de Justiça
Socioeconômica.
Dentre outros, mostrou-se admirador dos Economistas Políticos britânicos,
Adam Smith (Escócia,
1723–1790) e David Ricardo (Inglaterra, 1772–1823), a quem, aliás, coube a sua predileção e de quem ele
sorveu algumas ideias que posteriormente revisou e reinterpretou.
Dessa reelaboração é que provieram, por exemplo,
conceitos como o da Mais Valia,
do Fetiche (ambas oriundas da “Teoria do Valor”, elaborada pelo
inglês), da Divisão Social do Trabalho, da Acumulação Primitiva etc.
Lisonjeiro, MARX se referia
a Ricardo como “o maior dos Economistas Clássicos”. Elogio que
não estendia a Smith, embora dele também houvesse tomado algumas
concepções.
Contudo, o grau de influência que ambos, especialmente
Ricardo, exerceram sobre o Ideário Marxista nunca encontrou consenso.
Eruditos neo-Ricardianos
consideram que há uma enorme semelhança entre o Pensamento de seu guru e o de MARX, mas os
estudiosos do Marxismo
minimizam essa similitude e apontam diferenças cruciais entre os dois Sistemas.
Metodologia
Uma critica recorrente que se faz à obra de MARX refere-se ao fato de que ele não criou (tampouco seguiu, é óbvio) um Método para expor suas reflexões
sobre seus Objetos de Estudo; ou seja, as Ciências Sociais
(Filosofia,
Política, História, Sociologia etc.).
Com efeito, o Filósofo
nunca se preocupou em seguir um roteiro, preferindo consignar suas dispersas
reflexões em obras variadas.
Com isso, arriscamos dizer, criou o seu próprio método
(tão heterodoxo
e singular quanto suas ideias) através
das criticas que fez ao Idealismo
Especulativo de Hegel e à Economia
Política Clássica.
Como já se disse, segundo MARX, HEGEL e seus seguidores criaram uma Dialética
Mistificada cuja intenção era explicar especulativamente (ie, apenas por meio de
ilações, deduções, divagações, reflexões sem quaisquer dados concretos que apoiassem
essas “operações mentais”) a história
mundial, afirmando que a mesma era uma autodesenvolvimento da Ideia Absoluta (ou do exclusivo desenvolvimento
mental, espiritual da humanidade).
Em relação aos Economistas
Clássicos, a censura se concentrava no fato de fazerem parecer natural
e desapegado do curso da história o Modo
de Produção Capitalista,
enxergando-o como se ele fosse uma imposição inquestionável da natureza;
assim como a exploração que a Burguesia
praticava contra o Proletariado.
Para tanto, apoiavam-se em um conceito abstrato e
absurdo denominado de “Homo
Economicus”. Conceito que além de abstrato
e absurdo era eivado de sérios questionamentos acerca de sua correção.
Por esse motivo, esses Pensadores da Economia Clássica recorriam amiúde a “Robsonadas (de Robson Crusoé e suas narrativas sobre o escambo primitivo
entre caçadores e pescadores)”
para ilustrarem um presumível primarismo econômico do Proletariado,
que justificaria, ao cabo, a sua exploração (sic).
NOTA do AUTOR – essa visão de que seria justificável a dominação e
a exploração de um homem por outro homem é filha do antigo conceito do “Direito
Divino”; ou seja, por razões desconhecidas um suposto “Ser Supremo”
escolhe a seu critério um indivíduo, ou um grupo deles, para dominar e explorar
os outros Seres, mesmo que os “exploradores escolhidos” não tenham a
menor qualificação para tanto. Assim, segundo essa “Lei”, o felizardo não precisaria ser hábil, nem
probo, nem inteligente, nem generoso etc. Bastar-lhe-ia ter tido a sorte de
nascer na “Classe Social Correta (sic)”.
Todavia, inobstante a discordância que mantinha de
suas teses, MARX não considerava os Economistas Clássicos como
mal intencionados.
Afirmava que a mistificação que faziam era oriunda do “Fetichismo
à Mercadoria”, ou da adoração mística a um produto.
Um comportamento irracional, mas tão atrelado ao
espírito humano que acabou sendo considerado normal.
E era em oposição a essa irracionalidade que MARX propunha um estudo aprofundado, sério, objetivo,
sobre a história (ou sobre a trajetória, marcha)
do desenvolvimento das Formas de Produção,
enquanto organizadora das Relações
Sociais, para que através desse conhecimento fosse possível alterar o
que houvesse de errado e se pudesse atingir a justiça e a harmonia desejada.
A Crítica da Religião
Ao contrário do que se pensa habitualmente, MARX não dedicou grande esforço na censura à Religião.
Pode-se até observar que ele a via com mais condescendência
que intolerância.
Basicamente ele seguiu de modo mais atenuado, a
concepção do Filósofo Feuerbach para quem a Religião não expressaria a Vontade, ou a Palavra, de nenhum “Deus”,
ou de qualquer outro Ser metafísico.
Não passaria, portanto, de uma mera criação humana. De
uma fábula inventada pelos homens, que, cônscios de sua fragilidade, buscariam
no “Sagrado” algum consolo para as suas fraquezas e fracassos, bem como “bodes expiatórios” que os
isentasse da responsabilidade por seus atos.
Afinal, é sempre mais fácil culpar a “Vontade de
Deus” que assumir a própria negligência, ou inércia, ou inabilidade
pelos erros cometidos.
Portanto, a ideia difundida de que MARX e os seus
seguidores seriam inimigos ferozes dos Religiosos
originou-se mais da contundência de suas criticas de que da extensão e
insistência das mesmas. Além, é claro, da falaciosa propaganda que a Burguesia
fez sobre o tema, usando esse “falso
perigo” como um instrumento a mais para aterrorizar o inculto populacho que
via na Religião a sua única válvula
de escape, pelas razões acima expostas, e temia perdê-la.
Em relação à contundência referida, é possível ver alguns
exemplos da mesma no texto denominado Crítica
da Filosofia do Direito de Hegel. Afirmativas como: “a Religião é o
ópio do povo”, ou “é o suspiro da criatura oprimida”, ou, ainda, “o coração de um Mundo sem coração”, ou, então, “é o Espírito
de uma situação carente de Espírito”.
MARX acreditava que as pessoas também se apegam à Religião porque desejam um lugar em que o “eu” não seja desprezado, ou alienado (e nada melhor que um “Deus bondoso” para aceitar esse “eu” que noutros campos enfrenta continuas restrições por acharem-no “pobre”, “feio”, “medíocre” etc.), mas alertava que essa fuga é inútil, pois as restrições que a Classe Dominante impõe permanecem inalteradas e a quimera religiosa, ao cabo, acaba servindo apenas para que o Proletariado afunde-se cada vez mais em sua ignorância e na resignada miséria que isso lhe acarreta.
Acaba servindo apenas como pretexto para que o
indivíduo deixe de lutar para sanar as injustiças, resignando-se a uma falaciosa
esperança no além-túmulo.
Todavia, para o Filósofo, o fim puro e simples da Religião não seria a resposta efetiva para os problemas sociais e nunca foi um objetivo precípuo nas lutas Socialistas.
Apenas a mudança total nas questões de ordem Social e Política é que poderiam elevar o indivíduo, após ele ter enxergado a inutilidade daquela crença dogmática e alienante, bem como a necessidade de perseverar nas lutas sociais.
NOTA do AUTOR – o (a) leitor (a) comprova
por essas últimas definições, a sua citada condescendência. Embora ele visse a Religião
como uma reles e tola fantasia, podia compreender a necessidade humana que a
faz existir.
A Revolução
Apesar de ter recebido o epíteto de “Teórico da
Revolução”, MARX não consignou em suas obras
qualquer definição, ou conceito, especifico sobre o tema.
Ofereceu apenas descrições e considerações acerca das Revoluções
Francesa, Inglesa e Estadunidense, bem como projeções e prognósticos para
as eventuais Revoluções futuras.
Um claro exemplo de tais “Prognósticos Históricos”
pode ser encontrado em Contribuição para a Crítica da Economia Política,
onde ele afirma que: “numa certa etapa do seu desenvolvimento, as “Forças
Produtivas” da sociedade entram em contradição com as “Relações de
Produção” existentes (ou, o que é apenas uma expressão jurídica delas) e com as “Relações de Propriedade”, pois,
estas relações transformam-se em grilhões das primeiras ensejando,
então, uma época de revolução social”.
Por isso MARX
considerava que toda Revolução
é violenta, embora o grau e a intensidade dessa violência sejam variáveis, já
que estão em conformidade com a maior ou menor truculência com que o Estado
reage contra quem lhe ameaça.
A existência imperiosa da violência é, pois, uma
decorrência direta do fato de o Estado
tender a sempre usar a coerção e a repressão para salvaguardar os seus
interesses; para manter a organização em que se assenta o seu Poder
Político.
Dessa sorte, não resta alternativa à Insurreição que não seja responder violentamente.
NOTA do AUTOR – e é justamente por conta disso que ocorrem os excessos de ambos os lados.
Para MARX, ao contrário do que imaginavam os “Contratualistas”, o Poder Político do Estado não provem de um “Contrato Social”.
Não emana de um acordo voluntario, ou de um consenso entre os indivíduos de determinado agrupamento.
Na verdade, é uma determinada Classe que o conquista e o mantém através de ardilosidades,
de falcatruas e da violência explicita (via
Policia, Judiciário, Forças Armadas etc.) e da violência implícita (regulações, burocracia
sufocante etc.).
Violências que não hesita em
usar contra as Classes Exploradas,
as quais, quando se rebelam devolvem-na inevitavelmente.
Todavia, para MARX, embora a
violência seja indissociável da Revolução,
essa mesma violência não deve se transformar em um instrumento de aniquilação
total. Não deve ser sinônimo de “reconstrução a partir do zero”.
Em sua obra “Crítica ao Programa de Gotha”,
por exemplo, ele alerta que a instauração de um Novo Regime só é
possível se o mesmo for sustentado pelas Instituições
que já existiam no Regime anterior, com as devidas correções.
Por isso, a Revolução
Proletária ao instaurar um novo Regime Sem Classes só
poderá lograr êxito se concluir satisfatoriamente um período de transição que
ele chamou de Socialismo.
A Crítica ao Anarquismo
Como se sabe, o Anarquismo
é um Sistema Filosófico que prega
o fim do Estado e doutras Instituições
que normatizam a vida do homem (a família, a Igreja, o Partido Político etc.).
Argumentam seus adeptos que todas as formas de governo interferem
negativamente na liberdade individual e devem ser substituídas pela cooperação
entre os cidadãos.
Para MARX, essa visão ingênua de se
acabar com o Estado “por
decreto” não se sustentava por sua própria ingenuidade.
Para ele não se deveria propor o fim do Estado, mas o fim das iníquas
condições socioeconômicas que o fazem ser necessário.
Afinal, o Estado
acaba se tornando um mero instrumento para que a Classe Dominante
possa exercer o seu predomínio e a sua opressão sobre as Classes Exploradas.
Utiliza-o a seu bel prazer, como ferramenta de pressão
com o intuito final de preservar o Poder
e as benesses do mesmo.
O Filósofo Proudhon, em defesa do Anarquismo,
escreveu uma importante obra intitulada “A
Filosofia da Miséria”.
Porém, pelas razões acima, MARX discordou dessa tese e compôs
uma antítese que jocosamente chamou de “Miséria
de Filosofia (em alusão ao “primarismo intelectual” que norteariam as propostas anarquistas)”.
Nela, além de censurar o Pensamento Anarquista de Proudhon,
ele crítica o Blanquismo (de Louis Blanc) por sua visão elitista sobre o Partido
e, também, por sua tendência autoritária e superada.
E ainda nessa linha de contraponto, posicionou-se a favor
do Liberalismo Político e Econômico,
mas tomando o cuidado de esclarecer que tal Regime
não seria a solução definitiva para o Proletariado.
Serviria apenas como sustentação para o processo de
maturação das Forças Produtivas
(ie, os Trabalhadores) e de homogeneização da condição do Proletariado
em todo o Mundo. Homogeneização, ou
uniformização que seria gerada colateralmente pela internacionalização do Capital.
E de fato o seu prognóstico vai se concretizando com a
“Globalização da Economia” e
com as empresas “Multinacionais” que geram a uniformidade no
comportamento de seus empregados (e de seus consumidores) nas mais diversas regiões do Globo.
Não é raro, por exemplo, que um trabalhador hindu
tenha os mesmos desejos que um brasileiro, ou um estadunidense. E não será raro
que num Futuro próximo as demandas dos mesmos sejam tão iguais que não se
poderá mais diferenciá-los pela nacionalidade.
Por linhas não previstas pelos Capitalistas, vê-se que paulatinamente forma-se uma Consciência de Classe no Proletariado internacional.
Como se fosse por ironia da história observa-se que é
o próprio Capital que está promovendo e materializando o slogan marxista: “Trabalhadores
do Mundo, uni-vos!”.
A Práxis
Termo oriundo do idioma grego cuja significação
original remete à ideia de ação, de fazer, de atividade
prática.
No Marxismo, significa o conjunto de ações humanas que tendem
a criar as condições indispensáveis à existência da Sociedade, principalmente no que se refere à produção física,
material. À atividade concreta.
Destarte, a palavra Práxis se torna o
título de um dos fundamentos mais importantes da Doutrina de MARX, haja vista que a mesma afirma categoricamente que é
a ação humana que cria, ou que produz a história.
O Marxismo se baseia no argumento de que
a história é Materialista (ie, feita de fatos concretos e não de ideias
abstratas) e que a realidade Não
se altera por moto próprio.
NOTA do AUTOR - A esse propósito, ele diz em sua obra “O 18 Brumário de Luis Bonaparte” que: “não é a Realidade que move a si mesma, mas comove os atores (ie. sensibiliza os homens, levando-os à ação). Trata-se sempre de um drama histórico...”.
Mas esse Materialismo não deve ser visto como um Determinismo Histórico (ou seja, algo ou alguém que determinou que a história acontecesse de tal modo) que caísse num Materialismo Mecânico, ou Positivista.
Tal hipótese, em verdade, estaria em completa oposição
à concepção Marxista do Materialismo
Dialético, no qual, os atritos (tese x antítese = síntese)
entre os fatos materiais, concretos, físicos é que geram as situações políticas.
Materialismo Dialético ou Histórico que também poderia ser entendido como uma “Dialética Realidade – Idealidade Evolutiva” onde as relações entre a Realidade (concreta) e as Ideias, ou concepções acontecem e se juntam precisamente na Práxis.
Afinal, sendo a
história um produto das ações humanas e sendo as ideias um produto das circunstâncias materiais em que surgiram a meta a ser atingida é fazer com que
a História seja Lógica e Racional.
Que as ações
humanas sejam coerentes e justas e que por isso criem condições
materiais favoráveis; as quais, por
sua vez, proporcionarão o surgimento de ideias também Lógicas,
Racionais e Favoráveis.
Assim, com essas reflexões, MARX encerra suas
teses sobre Feuerbach reafirmando
que a sua proposição não se esgota em
interpretar o Mundo de forma diferente, mas, sim, de transformá-lo efetivamente.
Afinal, a interpretação ocupa-se “apenas” de estudar,
de pensar, de refletir sobre o Mundo
que já existe, enquanto que a pretendida Ação
Revolucionária será
capaz de produzir a transcendência, ou ultrapassagem, desse modelo de Mundo.
A Mais Valia e o Exército de Reserva
O conceito da Mais Valia foi empregado
por MARX
para explicar a obtenção de lucros espúrios no Sistema Capitalista.
Vale lembrar que segundo o Filósofo, Mais Valia é o valor extra da mercadoria,
ou seja, a diferença entre o que o empregado produz e o que efetivamente
recebe.
É aquilo que o patrão deixa de lhe pagar e que ele não
cobra, não exige.
E a partir desse ponto é inevitável que surja a
questão: por que o Proletário não
cobra o que lhe seria de direito?
A resposta a esta indagação vem na forma de um dos
outros pontos importantíssimos da Doutrina Marxista.
O Proletário
não exige o seu direito porque sabe que será prontamente demitido e substituído
por um dos desempregados que lotam constantemente as fileiras do chamado Exército
de Reserva.
Exército de Reserva que nada mais é que um “Estoque de Mão de Obra”
ie, um grande contingente de pessoas desempregadas e desesperadas por qualquer
emprego e qualquer salário, que a Burguesia
mantém para usar como instrumento de coação.
Como não poderia deixar de acontecer, essa sua
proposição encontrou ácidas oposições, dentre as quais a de Benedetto Croce
(1866-1952, Itália) que afirmou ser “O Capital” um texto
que não poderia ser considerado “Científico”, mas apenas uma obra
“Moral” (ou Moralista), cujo único
objetivo seria caracterizar a Sociedade Capitalista como perversa
e injusta, ao contrário da Sociedade Comunista que concretizaria
o Ideal de plena justiça social.
Alegou que essa carência de “cientificidade” poderia ser observada facilmente só pelo
fato de o Ideário Marxista não ter qualquer apoio da “Racionalidade Lógica e Cientifica (sic)”.
GRAMSCI e vários outros
Eruditos saíram em defesa da tese de MARX afirmando
que a opinião de Croce não passaria de reles sofisma, posto que os Conceitos de “Mais Valia” e de “Valor”
são idênticos.
Ou seja, é a diferença
entre o valor da Mercadoria Produzida e o valor pago à “mão
de obra” que a produziu.
E para consubstanciar essa defesa, eles lembraram que a
tese de MARX
derivava diretamente de uma Teoria do
economista Davi Ricardo (1772-1823,
Inglaterra), que não enfrentou qualquer censura ao publicá-la.
Talvez, ou mais provavelmente, porque à época ela não
representasse nenhum perigo à Burguesia,
já que não havia a menor conscientização entre o Proletariado acerca da
exploração que sofria.
Aliás, naquela ocasião, a tese de Ricardo foi considerada como
uma “constatação puramente objetiva e cientifica de uma Realidade
econômica”. Ou seja,
amplamente respaldada pelos rigorosos critérios Racionais, Lógicos,
Científicos e Positivistas.
Dessa sorte, entre críticas e elogios, a tese passou
para a história e se firmou como uma das bases do Pensamento Socialista,
ainda em voga nos dias atuais, apesar da hegemonia atual do Capitalismo.
O Manifesto Comunista
Enquanto estudava Filosofia Acadêmica na Universidade de Berlim MARX conheceu Friedrich Engels (Prússia, 1820-1895), que além de se tornar um amigo fraterno por toda a vida foi, também, o coautor dessa primeira publicação de MARX e seu constante parceiro em outros assuntos literários e políticos.
ENGELS deu suporte
financeiro ao amigo e contribuiu com ideias e com a sua habilidade literária
para o trabalho, mas coube a MARX o maior reconhecimento pela
genialidade do texto.
As ideias que foram expostas nesse livreto, de cerca
de quarenta páginas, já viviam na mente do Filósofo
desde as décadas de 1830 e 1840, que as transcrevia aleatoriamente em
manuscritos privados, os quais, posteriormente, foram compilados pela dupla de Pensadores e embasaram o texto final de O Manifesto.
Nele,
explicitaram os Valores, as Ideias, os Ideais, os Conceitos, os Planos Políticos etc. do Comunismo,
em linguagem coloquial e pragmática (pois, segundo ambos, a
função da Filosofia não era explicar
o Mundo, como fora o objetivo dos antigos, mas sim reformá-lo e por isso qualquer leitor deveria compreendê-lo).
NOTA do AUTOR - Comunismo, diga-se, que à época não passava de um Sistema proposto e adotado por um reduzido número de pessoas, geralmente oriundas de Regimes Socialistas Radicais, que existiam na Alemanha.
Diz o Manifesto que a Sociedade reduzira-se a duas Classes Socioeconômicas e que ambas vivem em perene confronto: a Burguesia* e o Proletariado*:
Burguesia – palavra derivada do francês “burgeois” e que significa etimologicamente “o habitante do Burgo, ou vila ou cidade”. Em Política passou a significar o indivíduo que é proprietário dos “meios de produção”; ou seja, das máquinas, das terras, das fábricas, do Capital etc. O homem que ascendeu socialmente e passou a ocupar, graças à sua fortuna, o espaço que antes era destinado aos nobres, ao alto clero, à elite militar etc.
Proletário – etimologicamente significa o indivíduo que gera uma prole. Em Política essa capacidade de gerar filhos passou a significar a capacidade de gerar mais mão de obra, que seria agregada à força de trabalho do pai. É o indivíduo que não possui “os meios de produção” que são indispensáveis para se produzir algo. Dispõe apenas de sua “Força de trabalho (ie, de sua capacidade de trabalhar)”, que vende em troca de um salário, ou ordenado.
Essa estrutura dividida em apenas duas classes pôde existir com relativa tranquilidade (inobstante algumas revoltas pontuais, localizadas que os Senhores Feudais não tiveram dificuldade para esmagar) até que os seguintes acontecimentos alterassem a Estrutura Social:
1. O descobrimento das Américas.
2. A abertura
dos mercados indiano e chinês aos produtos fabricados em série com o advento da
“Revolução Industrial” e o consequente êxodo rural que esvaziou o Poder da “nobreza feudal” e ensejou o surgimento de um Proletariado urbano, mais aglomerado e cônscio de sua miséria e de sua capacidade de luta.
“Revolução Industrial” e o consequente êxodo rural que esvaziou o Poder da “nobreza feudal” e ensejou o surgimento de um Proletariado urbano, mais aglomerado e cônscio de sua miséria e de sua capacidade de luta.
3. O próprio
desenvolvimento da Indústria e do Comércio (também como consequência do
exposto nos itens acima) que decretou
o fim do trabalho artesanal, pois este modelo já não era capaz de
suprir a demanda sempre crescente.
NOTA do AUTOR: Como por ironia, esse fim causou a primeira das contradições do Capitalismo, pois ao eliminar a presença do Artesão, também eliminou um Capitalista, embora de pequena dimensão, que, então, tornou-se um simples Operário e um membro a mais do Proletariado.
Desse modo, graças à Linguagem acessível e à ênfase dada aos assuntos Políticos e Econômicos que atingiam diretamente os estômagos primeiro e só depois os cérebros abstraídos, o Manifesto tornou-se popular em pouco tempo.
Mais conhecido pelo seu conteúdo de Filosofia Política de que pelo
seu valor literário.
Porém, também no aspecto “Literatura”, a obra não
fica a dever a seus similares, pois além das teses já citadas, também aborda outros
temas paralelos à Sociedade e à Economia com clara e rara erudição, o
quê o torna uma leitura de primeira linha.
Tornou acessível ao público em geral a ideia de que
através da análise do Sistema de
Propriedade (privada, ou coletiva) que uma Sociedade
exerce, é possível entender a forma como seus cidadãos se relacionam.
E, mais importante, alertou para a possibilidade de se
corrigirem os equívocos e as injustiças que vigoram no seio daquelas Relações Sociais, pois não existe nada Predeterminado por um suposto Deus,
ou por uma suposta “Lei da Natureza”.
Que a correção das
iniquidades depende apenas da ação humana.
Destarte, tornou-se um divisor de águas na cena política do Mundo.
Pela primeira vez um texto alardeou de forma clara e
direta que a Burguesia tinha, sim, que temer “o espectro que avança
sobre a Europa”.
E que os antigos conceitos, as velhas noções e os
valores do Passado seriam
irremediavelmente rompidos.
Popularizou a ideia de que seria possível compreender
os mais íntimos meandros da Sociedade,
independentemente da época em que a mesma existiu, ou existe.
Explicou, por exemplo, que o Sistema Capitalista não é apenas injusto e explorador, mas,
é, também, inerentemente instável, o que leva a ocorrência de frequentes crises
comerciais e financeiras (como a que assola a Europa nesses dias, comprovando a atualidade da
versão marxista).
Crises, que serão cada vez mais severas e deletérias,
ocasionando um agravamento na miséria da Classe Explorada e a
consequente radicalização do Ideário
revolucionário em seu meio.
O progressivo empobrecimento da Força de Trabalho, ou Proletariado,
resultará no aumento da agressividade de suas respostas e o configurará como um
efetivo segmento social genuinamente revolucionário. Aliás, as corriqueiras
manchetes dos jornais atuais (desemprego, protestos
populares, aumento na violência etc.),
confirmam novamente o acerto das previsões de MARX.
NOTA do AUTOR – no Brasil atual essa faceta revolucionária ainda não tem qualquer conformação estruturada e se expressa apenas através do aumento crescente no banditismo; mas, já se observa alguns ensaios de organização, ainda que de modo precário, através da criação de grupos como os chamados “Comando Vermelho”, no Rio de Janeiro, “PCC”, em São Paulo, dentre outros.
E, observa MARX, outro aspecto que talvez seja decisivo para a vitória Comunista, pois pela primeira vez na história, essa Classe Revolucionária representará a maioria da humanidade.
Se antes a grande Massa de Explorados não tinha
qualquer Consciência Revolucionária (graças às
pressões físicas que a continham através de fomes, torturas, escravidões,
prisões; e as opressões metafísicas
com o “Inferno” dos Religiosos ameaçando qualquer protesto por Justiça), o Proletariado atual começa a
conquistá-la através das brechas que lhe permitem as incoerências do Capitalismo.
Incoerências que vão da permissão a que mais jovens Proletários estudem (ainda que em condições inadequadas); que mais Proletários comam e vivam por mais
tempo, graças à abundância propiciada pelo desenvolvimento da tecnologia; que mais pessoas se informem e se
comuniquem graças à difusão dos telefones e da Internet e que se uniformizem as
demandas de quase todos os povos da Terra,
fazendo com que a “Concentração da Renda”
seja mais questionada e reprovada, a cada dia.
Para o Filósofo,
outra agravante vem do fato de que a crescente “Complexidade do Processo de
Produção (à medida que a tecnologia
avança)” torna o desemprego mais agudo,
vez que a máquina substitui, com vantagens, inúmeros trabalhadores.
Em consequência, cresce o afastamento das pessoas de
seus “Meios de Produção” que
lhes garantia, bem ou mal, o sustento.
E uma vez perdido esse último recurso, nada mais
restará ao Proletariado que não seja a Revolução.
O Capital – “Das Kapital”
Das
Kapital é seguramente a
criação máxima de MARX, que para realizá-la contou com a inestimável ajuda
de Engels, o coautor da obra-prima.
Nela, os Filósofos
fazem uma extensa, profunda e elaborada análise da Sociedade Capitalista.
É predominantemente um livro sobre Economia Política, mas a sua
abrangência estende-se por outras áreas.
Nessa obra monumental, MARX discorre sobre a Economia, a Cultura,
a Sociedade, a Política e a Filosofia.
É um trabalho tanto analítico quanto sintético, pois
traz análises minuciosas sobre determinados temas, enquanto oferta inspirados
resumos sobre outros assuntos, apresentando vários estilos literários.
É, simultaneamente, uma obra crítica, descritiva,
científica, filosófica e, de certo modo, romântica por embutir entre tantos conceitos
técnicos a esperança de se construir um Mundo
mais justo e harmônico.
Decerto que a sua leitura é difícil, pois é inegável
que a sua linguagem é insípida e complexa, mesmo que não seja tão especulativa
e abstrata quanto nas obras de Hegel,
Não é um livro para ser apenas lido. Deve ser visto
como um objeto de estudo, cuja recompensa vale à pena, pois a sua compreensão
traz um acréscimo de Saber cujo valor
é inestimável.
Em conformidade com o Pensamento Marxista,
“O Capital” é a principal fonte de conhecimento (tanto para a humanidade em geral, quanto para o Proletariado em particular) para que se atinja a desejada Conscientização de Classe.
Só através da análise inovadora, profunda e correta
que MARX e Engels fizeram acerca da realidade
da Classe Subjugada é que a
mesma poderá enxergar além da Ideologia
Dominante que a Elite
lhe impõe.
E só assim é que poderá obter uma base sólida para as
suas reivindicações. Para a sua Luta
Política.
NOTA do AUTOR - Alphonse de Waelhens (Filósofo belga, 1911 – 1981) afirmou sobre a abordagem que MARX faz acerca dos fatores
econômicos para a formação das Sociedades humanas que: “o Marxismo é um esforço para ler, por trás da pseudo-imediaticidade
do Mundo econômico reificado (ou coisificado, ie, tudo é tratado como se fosse uma
simples coisa, inclusive o Ser Humano), as relações inter-humanas que o edificaram e se
dissimularam por trás de sua obra”.
Porém, apesar do sucesso que alcançou e do prestigio
de que ainda goza, “O Capital”
é considerada, por alguns puristas, como uma obra incompleta no que tange à
autoria de MARX, já que apenas o primeiro volume foi publicado
enquanto ele vivia. Os outros Tomos só
foram organizados e publicados por Engels após a morte do companheiro.
Outras Obras de MARX
Além das obras-primas O Capital e O
Manifesto Comunista que vimos com mais acuidade, MARX escreveu outros trabalhos de enorme importância.
Na sequência falaremos brevemente sobre cada um deles.
A saber:
A Ideologia Alemã – nele, MARX apresenta
com minúcias os pressupostos de seu Sistema Político e Filosófico.
Questão Judaica – onde MARX expõe as suas críticas às Religiões, afirmando que não se devem apresentar questões
humanas como se fossem teológicas. Mas justamento o contrário, ie,
mostrar que as questões teológicas não passam de simples questões
humanas. Também afirma que a ótica correta a ser empregada seria ver as Religiões como um mero reflexo do
Pensamento humano sem que
exista qualquer coisa de Sagrado, ou de Divino nas
mesmas, pois, afinal, elas são apenas e tão somente fantasias que o homem faz
de si mesmo, o que, de certo modo, representa a mísera condição a que ele é
submetido.
Crítica ao Programa de Gotha – aqui o Filósofo
faz uma extensa e sistemática apresentação sobre a Sociedade Socialista. No texto, além da excelência
literária, é possível notar o esforço que MARX faz para
se afastar de qualquer ranço de “Futurologia”,
já que ele não a considerava uma Ciência crível por lhe faltar o
embasamento necessário.
A Guerra Civil na França – MARX ultrapassa nesse texto, as
suas tendências jacobinas e defende com vigor a tese de que só
com o fim do Estado é que o Proletariado
ofertará a si próprio as condições necessárias para manter o Poder
recém-conquistado. Também afirma que o fim do Poder Estatal levará à situação do “povo em armas (ie, o próprio povo assegura a ordem pública)”, pois o Monopólio
da Violência, que havia sido delegado ao Estado sucumbirá
com o mesmo.
O 18
Brumário de Luis Bonaparte – aqui MARX desenvolve
uma profunda análise sobre o “terror
da burocracia” e comenta a questão do campesinato como aliado do operariado na Revolução
Comunista
(tese que posteriormente, grosso modo, foi adotada por
MAO TSÉ TUNG, na Revolução
Chinesa). Ademais,
investiga o papel dos Partidos Políticos no âmbito
da Sociedade e comenta com minúcias a
essência do “bonapartismo”.
Epílogo
Em 1954, o Partido
Comunista Britânico construiu uma lápide com o busto de MARX sobre sua tumba, que até então nada tinha como
ornamento.
Na pedra, além de uma citação de Feuerbach, escreveram:
“Proletários de todos os países,
uni-vos!”.
O jargão que se tornou a
marca icônica do Pensamento de um dos
maiores Filósofos que o Mundo produziu e a síntese perfeita para
os sonhos desse gênio alemão que ousou acreditar na humanidade.
DIGITADO E MONTADO POR TAÍS ALBUQUERQUE - CAMPOS, NORTE FLUMINENSE.
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