terça-feira, 13 de novembro de 2012

Travessia

Atravessa-me o tédio
das vidas pequenas
que veem o Mundo passar
em suas tristes janelas imóveis.
Sinto aproximar-se
a Náusea de Sartre
e o marasmo resignado
das horas e das lutas perdidas.
Em que  voo voa o devir,
a gana de sempre ir
e o antigo desejo de resistir?
Qual umbral atravessou
a alma que animava
o corpo que julgavam
ser eu?
A viscosidade dessa
madrugada insone
cristaliza os fantasmas
e plasma os terrores.
A última dose talvez
tenha sido excessiva,
mas nem assim a dor
sentiu-se expulsa.
Sobrepujou a demasia
e reina à revelia,
como insana deusa fria
nessa noite sem maresia,
sem mar de viajar
e sem porto de chegar.
O Tempo é ficar.

Um comentário:

  1. "a alma que animava o corpo que julgavam ser eu..." o que mais dizer, poeta? Muito amor. LB

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